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3. METODOLOGIA

4.3 EFEITOS NO JORNALISMO DESPORTIVO

Apontadas algumas das funções dos departamentos de comunicação, talvez um dos pontos mais importantes desta reflexão seja o de tomar o pulso aos efeitos práticos no jornalismo e no trabalho prático do dia-a-dia dos jornalistas desportivos da profissionalização dos clubes na área da comunicação.

Começando por um indicador adiantado no quadro teórico por Manuel Pinto (2000:281), a interferência na agenda dos jornalistas é uma das formas de os clubes ganharem terreno. “Salvo qualquer imprevisto noticioso, num dia normal um diretor de comunicação pró- ativo consegue facilmente interferir na rotina dos jornalistas e estabelecer uma agenda” refere o diretor adjunto do Record António Magalhães. Visão complementada por Luís Sobral que acrescenta a progressiva perda de meios das redações para deixar os jornais ainda mais reféns

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da agenda dos clubes: “As fontes oficiais dominam a comunicação, é um facto. A perda crescente de meios nas redações torna mais difícil escapar da agenda programada pelas fontes oficiais”. Vítor Serpa não leva tão à letra este delimitar de agenda por parte dos clubes, assumindo-o como um factor natural em que os clubes têm o direito de “não aceitar a agenda dos jornalistas”.

Por parte do jornal O Jogo, o diretor José Manuel Ribeiro partilha a opinião de que definitivamente os jornalistas estão à mercê da agenda dos clubes e introduz outro dos indicadores identificados como avaliativos do efeito da profissionalização das fontes: “É óbvio que acabam sempre por nos condicionar, de alguma maneira. Os jornais têm essa noção e por isso temos que ir para além da agenda dos clubes, e ter matéria fora do âmbito deles”.

Com este discurso José Manuel Ribeiro fala dos conteúdos dos jornais e da necessidade de ir além daquilo que os clubes fornecem. Compreender se a profissionalização da comunicação nos clubes interfere nos conteúdos apresentados nos jornais foi um dos temas abordados nas entrevistas. O diretor do jornal O Jogo refere que “é mais difícil manter os jornais interessantes” e que os mesmos eram “mais interessantes quando os clubes eram abertos e podíamos falar com quem quiséssemos.”

Luís Sobral concorda que “é difícil fugir aos efeitos da profissionalização dos clubes nos conteúdos do Maisfutebol”. O diretor daquele jornal online atesta que para fazer face a essas dificuldades procuram conteúdos alternativos: “Procuramos contar histórias, valorizar o futebol internacional, os vídeos divertidos e os portugueses que jogam no estrangeiro”. Por parte do Record, António Magalhães admite que os conteúdos sofrem alterações, mas não de forma preponderante. “A nível de produção noticiosa, obrigatoriamente também interfere, mas não de forma tão vincada. É certo que cada vez mais é complicado obter exclusivos, mas com mais ou menos trabalho, as notícias acabam sempre por ser dadas”.

Apesar de a unanimidade ser quase conseguida neste ponto dos conteúdos produzidos como que se poderem considerar alternativos, Vítor Serpa do jornal A Bola não é da opinião que os departamentos de comunicação dos clubes têm interferência nos conteúdos publicados no jornal A Bola. Os diretores dos jornais não acreditam que a profissionalização e a interferência nos conteúdos produzidos tenha qualquer efeito nas vendas de jornais. A exceção é José Manuel Ribeiro. O diretor do jornal O Jogo segue o seu raciocínio dizendo que face ao facto de os

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conteúdos produzidos serem “menos interessantes” antes da profissionalização das fontes “era mais fácil vender jornais”. Por sua vez Vítor Serpa, António Magalhães e Luís Sobral não encontram qualquer influência da profissionalização dos clubes na queda das vendas de jornais. De acordo com a experiência adquirida no estágio, de facto é notório o trabalho dos clubes ao nível dos conteúdos dos jornais, neste caso no Maisfutebol, empresa onde realizei o estágio. Antever um jogo de futebol nos dias que correm é uma tarefa extremamente difícil. Por norma, os clubes promovem a conferência de imprensa do treinador e declarações de um jogador no início da semana; normalmente as declarações do jogador em questão, por se realizar no início da semana tendem em debruçar-se sobre o jogo passado e não o que está ainda para vir. Tirando isso, tem de se fazer uso da imaginação e fazer peças sobre jogos anteriores, contactar intervenientes de jogos antigos entre as mesmas equipas. Recorrer a fontes próximas dos jogadores, como familiares ou amigos, é uma constante. Num jogo da Taça de Portugal, onde normalmente jogam equipas de menor nomeada, é relativamente fácil falar com os jogadores, obter a perspectiva do presidente e ter vários pontos de vista do treinador.

As medidas e políticas adoptadas pelos departamentos de comunicação dos clubes, assinaladas no ponto anterior, dificultam o trabalho jornalístico e acentuam o conflito de interesses entre aqueles que são os objectivos dos clubes e os objectivos dos jornais, na medida em que os clubes tentam esconder notícias do interesse dos jornais em detrimento de notícias do seu próprio interesse.

António Magalhães, diretor adjunto do jornal Record, admite que “há um conflito de interesses e é cada vez mais difícil obter um exclusivo e obter notícias, embora o que procuramos passar para as páginas do Record não seja o mesmo que os responsáveis dos clubes gostam e querem pôr no site”. O diretor de O Jogo concorda e afirma que “há um conflito entre o interesse dos clubes e o interesse dos jornais. Haverá sempre porque no fundo, uma notícia é sempre algo que alguém não quer que saiba”. De resto, as opiniões dos quatro entrevistados coincidem em absoluto, Vítor Serpa de A Bola consideram que muitas vezes existe o referido conflito de interesses porque “uns querem mostrar o que outros querem esconder”, opinião idêntica à de Luís Sobral.

Resumindo, a profissionalização dos clubes na área da comunicação tem efeitos nos jornais desportivos a nível de agenda e nos conteúdos produzidos na medida a que obrigam os

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jornais a procurar fontes alternativas às tradicionais acentuando o conflito de interesses entre jornais e clubes.