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2. PROFISSIONALIZAÇÃO DAS FONTES DE INFORMAÇÃO NO FUTEBOL

2.1. MEDIA NO FENÓMENO SOCIAL DO FUTEBOL

No epicentro deste trabalho está o futebol; não na vertente desportiva, mas sim na componente mediática e social atingida por este jogo, ao ponto de ser considerado como atividade central por Coelho: «hoje em dia, não há muitas actividades que ocupem um lugar tão central no universo do desporto e do lazer como o futebol» (Coelho, 2001:36).

A influência e a preponderância do futebol nas sociedades atuais, e de uns tempos a esta parte, dispensa por isso qualquer tipo de apresentações. Cresceu enraizando-se nas mais diversas culturas e estilos de vida ao mesmo tempo que se tornou um fenómeno de massas à escala planetária. As suas géneses são tão antigas quanto os mais remotos registos existentes dos primeiros passos da vida humana, conforme relembra o jornalista do Jornal Record João Querido Manha: «o futebol tem origens antigas. Há mais de 2000 anos atrás, as culturas chinesa, japonesa, grega e romana possuíam jogos que envolviam jogadores a chutar ou tocar a bola com a mão fazendo a entrar numa baliza» (Manha, 2011:4).

Os seus primórdios estão estabelecidos paredes meias com a vida civilizacional humana e a sua implementação na sociedade extravasou todas as fronteiras, sendo um desporto e um fenómeno de massas, como refere o jornalista e investigador Radnedge: «A popularidade do futebol é evidente em todos os sectores da sociedade e em todos os continentes e nações do mundo. Não conhece fronteiras políticas, raciais ou religiosas – e no seu coração está uma estrutura simples que funcionou de forma efectiva durante bem mais de um século» (Radnedge, 2010:10).

Radnedge lembra que mesmo quando as vias de comunicação e os meios de comunicação não se muniam das funcionalidades de hoje, já o futebol era transportado pelo

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continente europeu, considerado pelo autor o “berço do futebol moderno”: «A europa foi o berço do futebol moderno. As regras foram compiladas em Inglaterra em meados do século XIX, mas bastaram poucos anos para serem transportados por todo o continente, por estudantes, engenheiros, soldados e homens de negócios – despertando a paixão dos adeptos, evidente todos os dias em todos os países» (Radnedge, 2010:13).

A expressão “todos os dias em todos os países” não é ingénua, e de facto exprime aquela que é uma das principais características do futebol atual. Vai muito para lá do tempo de jogo e toda a sua envolvência é vivida a cada instante.

O crescimento atingido pelo futebol transbordou as fronteiras desportivas e competitivas, tendo passado para além do terreno de jogo profissionalizando-se a vários níveis: «o desporto, nomeadamente o «rei» (futebol) deixou de ser limitado por quatro linhas. Os clubes tornaram-se empresas, o jogo espetáculo, os adeptos grupos organizados; o público virtualiza-se, trocando estádios por televisores, a publicidade também dita regras ao jogo (…) o amadorismo de dirigentes, juízes, árbitros, e outros agentes passa à história; a televisão, digitalizando-se, não mostra apenas o jogo, desconstrói os lances, com todas as suas consequências técnicas e sociais» (Sobral e Magalhães, 1999:8).

Grosso modo, o futebol é hoje muito mais do que um simples desporto. Praticado, reconhecido e veiculado por todo o mundo, envolve vários quadrantes sociais. A este nível, o futebol como fenómeno mediático de massas cresceu alicerçado no trabalho desenvolvido pelos media como agentes de reprodução social, ao ponto de serem considerados por Neves e Domingos na sua “História do desporto em Portugal” como «agentes primordiais da transformação do desporto num eixo dominante da cultura popular contemporânea» (Neves e Domingos, 2011:25).

Aliás, é comum em histórias do desporto e do futebol, com maior ou menor densidade, encontrar-se referências ao papel dos media no processo de implementação do desporto enquanto fenómeno social e de massas. Manha vê a exposição mediática do futebol como uma das razões para paixão demonstrada pelos adeptos e pela sua atitude ativa enquanto pertencentes ao quadro do futebol espetáculo: «A exposição mediática do futebol fez explodir à escala mundial um fenómeno popular de participação no espectáculo, motivando os

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espectadores a uma atitude mais activa na demonstração das suas paixões desportivas» (Manha, 2011:24).

Estas paixões e emoções desportivas manifestam-se de variadíssimas formas, e «o vínculo entre e o seu clube é poderoso e apaixonado (…), muitos adeptos viajam pelo mundo fora para demonstrarem o apoio eterno à sua equipa» (Manha, 2011:8).

Percebe-se então que o futebol atingiu proporções elevadíssimas quer a nível social, quer a nível histórico e por consequência uma janela aberta para os media e pelos media, como veremos no capítulo seguinte. Isto no sentido em que é nos dias de hoje um inequívoco fenómeno social de massas e amplamente seguido pelos órgãos de comunicação social.

Aquando da comemoração dos 50 anos de existência do jornal A Bola, o jornal desportivo mais antigo do país em atividade, o referido jornal publicou um livro dando conta dos cinquenta anos do desporto português em que esteve operacional. Nessa publicação, António Simões, então editor do jornal, relembra os meandros dos primeiros passos do futebol na Grécia Antiga e referindo-se a uma “explosão do fenómeno mediático” aponta a importância do futebol na sociedade:

«A essência do desporto como fenómeno marcante das sociedades é historicamente reconhecida, pelo menos, desde a Grécia Antiga, mas é de admitir que o «conluio» entre o despertar mágico do desporto, como grande espectáculo do nosso tempo, e a explosão do fenómeno mediático se tornou responsável por um dos mais importantes fenómenos sociais do século XX, talvez ainda demasiado actual para ser entendido em toda a sua verdadeira dimensão» (Simões, 1995:contracapa).

“Talvez ainda demasiado actual para ser entendido em toda a sua verdadeira dimensão”, são as palavras de Simões (1995:contracapa), e que espelham bem a preponderância e o estatuto atingido pelo futebol nos dias de hoje.

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