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As doenças humanas relacionadas com a poluição atmosférica devemDse à inalação de poluentes que se encontram no ar ambiente em concentrações superiores às da atmosfera natural. O ozono troposférico é um poluente atmosférico secundário com fortes características oxidantes e, como tal, pode reagir com uma grande variedade de componentes celulares e materiais biológicos. A sua presença no ar ambiente afecta tanto os seres humanos como a vegetação e os animais.

2.3.1 Efeitos do ozono na saúde humana

A poluição atmosférica está, normalmente, relacionada com o agravamento de estados de doença préDexistentes, estando também associada a sintomas que se fazem sentir no imediato ou, quando a exposição é frequente a doenças crónicas. A toxicidade do ozono aumenta com o aumento das concentrações e da actividade respiratória durante a exposição (OMS, 2000).

A Agência de Protecção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) enumera uma variedade de problemas que podem decorrer da exposição ao ozono troposférico, como dores no peito, tosse, irritação na garganta e congestão pulmonar, bem como o agravamento de bronquites, enfisemas, asma, diminuição da função pulmonar, inflamação do revestimento dos pulmões e irritação nos olhos (Manahan, 1997;

| Caracterização geral do poluente ozono 35 Ferraz et al.,2005; EPA, 2006). Quando a exposição é prolongada as lesões podem ser irreversíveis, como lesões graves no tecido pulmonar.

A irritação nos pulmões pode causar inflamação dos tecidos como se fosse provocada por uma queimadura solar. Actividades no exterior ou exercício físico em zonas com elevados níveis de ozono agravam a asma, provocam tosse, dores quando se respira profundamente e dificuldades em respirar. A exposição frequente provoca danos nos pulmões, reduz a função pulmonar e aumenta a susceptibilidade a doenças respiratórias, como a pneumonia e bronquites (EPA, 2006). A exposição ao ozono tem sido associada ao aumento das admissões de nos hospitais por causas respiratórias e agravamento da asma (OMS, 2000).

Dados epidemiológicos mostram uma relação entre os efeitos na saúde e a concentração do pico diário de ozono. Esta relação é descrita na Tabela 2.3, aumentos a curto prazo das concentrações de ozono estão relacionados com o aumento dos sintomas respiratórios e com um acréscimo no número de admissões hospitalares por doença respiratória tanto em pessoas saudáveis como em asmáticos (OMS, 2000).

Tabela 2.3 Consequências na saúde em função das alterações na concentração de ozono (OMS, 2000).

Consequências na saúde Diferença na concentração do ozono (Og/m

3)

Tempo médio de 1 hora Tempo médio de 8 horas

Agravamento dos sintomas entre os adultos asmáticos em actividade normal (%)

25% 200 100

50 % 400 200

100% 800 300

Aumento das admissões hospitalares por doença respiratória (%)

5% 30 25

10% 60 50

20% 120 100

Pessoas que são mais sensíveis ao ozono pertencem aos chamados grupos de risco. Nestes grupos incluemDse as crianças e adultos que têm uma vida activa no exterior e pessoas com doenças respiratórias, como a asma. Os efeitos da poluição provocada pelo ozono troposférico têm consequências mais graves nos grupos de risco.

As crianças activas são consideradas um grupo de risco porque, normalmente passam grande parte do verão no exterior, as crianças têm também mais probabilidade de ter problemas de asma. Os adultos activos que fazem exercício ou trabalham vigorosamente no exterior têm uma exposição maior ao ozono. As pessoas com doenças respiratórias têm tendência a sentir os sintomas mais cedo e para níveis mais baixos de ozono. Existem pessoas com uma invulgar sensibilidade ao ozono, não tendo ainda sido encontradas razões para explicar tal facto. Essas pessoas são mais susceptíveis ao ozono

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do que a maior parte da população, e sentem os seus efeitos para concentrações mais baixas. No geral o aumento das concentrações de ozono leva a um aumento no número de pessoas que sentem os efeitos do ozono troposférico e a um agravamento dos danos (EPA, 2006).

O ozono pode também causar lesões sem que para isso existam sintomas. Pessoas que vivam em áreas onde os níveis de ozono são frequentemente elevados podem deixar de sentir os sintomas com o tempo, especialmente quando as concentrações de ozono se mantêm elevadas por muitos dias (EPA, 2006).

A EPA definiu limiares de danos para a população em função das concentrações de ozono (Tabela 2.4).

Tabela 2.4 Efeitos do ozono em função das concentrações de ozono (adaptado de EPA, 2006).

Concentração de ozono no ar ( g.mD3)

Índice descritor da

qualidade do ar Efeitos na população

0D126 Boa Sem efeitos

127D165 Moderada Pessoas com maior sensibilidade ao ozono podem

sentir efeitos na respiração resultantes da exposição prolongada durante exercício físico no exterior.

166D204 Perigoso para os

grupos de risco

Redução da função pulmonar que pode causar desconforto ao respirar. Sintomas respiratórios, como tosse ou dor ao respirar profundamente, podem ser sentidos pelos grupos de risco.

205D243 Perigoso Os grupos de risco podem sentir agravamento dos

sintomas acima referidos, com estes níveis de ozono todas as pessoas podem sentir efeitos na respiração.

244D791 Muito perigoso Membros do grupo de risco sentem intensamente o

agravamento dos sintomas e a respiração é débil. Metade das pessoas expostas sofrerão redução da função pulmonar.

Um quinto sofrerá uma grave redução na função pulmonar.

Cerca de 10 a 15% da população sentirão os efeitos dos sintomas respiratórios, como tosse e dor ao respirar profundamente.

Pessoas com asma ou problemas respiratórios serão seriamente afectadas, podendo os efeitos levar ao aumento de medicação e á procura de atendimento nas urgências.

| Caracterização geral do poluente ozono 37 2.3.2 Efeitos do ozono na vegetação e nos ecossistemas

A poluição atmosférica não é apenas prejudicial à saúde humana, ela tem efeitos negativos nas plantas e ecossistemas provocando danos e lesões. O ozono afecta principalmente as folhas mais velhas provocando manchas descoloradas, queda prematura das folhas, pigmentação e, no caso das coníferas (por exemplo Pinus alepensis existente na Serra da Arrábida) (http://www.qualar.org), as pontas das agulhas ficam castanhas e com necroses. Algumas espécies, como o espinafre, o tomate e as sementes de leguminosas, são especialmente sensíveis (Boubel et al., 1994).

O ozono troposférico está relacionado com a redução da capacidade, das plantas sensíveis ao ozono, para produzir e armazenar energia reduzindo as taxas de crescimento (Pereira, 1999). Os efeitos deste poluente têm sido associados também ao aumento da susceptibilidade a doenças, insectos e outros poluentes, competição e condições meteorológicas adversas. Anualmente, o ozono pode causar danos económicos em resultado de culturas perdidas pois provoca uma redução na produtividade das colheitas e no crescimento das florestas levando, em última analise, a um impacto negativo na biodiversidade dos ecossistemas. As montanhas San Bernardino a noroeste de Los Angeles, na California, sofreram uma alteração na composição da vegetação e na susceptibilidade às pestes provocada por oxidantes fotoquímicos (Boubel et al., 1994). A vegetação urbana, os parques nacionais, e as áreas de recreio podem sofrer danos na aparência devido a danos nas folhas das árvores e arbustos.

2.3.3 Efeitos do ozono nos materiais

Os materiais também podem ser afectados pelas elevadas concentrações de ozono no ar ambiente. O ozono e os outros oxidantes químicos reagem com os materiais diminuindo o seu tempo útil de vida e alterando a sua aparência estética. Materiais como os elastómeros (moléculas orgânicas insaturadas de cadeia comprida, por exemplo a borracha), fibras e tintas são susceptíveis ao ozono. A borracha é especialmente sensível ao ozono. Este quebra a dupla ligação carbonoDcarbono, conferindoDlhe um aspecto quebradiço e diminuindo a sua elasticidade. O ozono pode afectar os têxteis de maneira semelhante à da borracha. No geral, as fibras sintéticas são menos afectadas do que as fibras naturais, de qualquer maneira a contribuição do ozono para a degradação dos têxteis não é considerada significativa (EPA, 1996). O ozono provoca o esbatimento das cores nos têxteis, a rapidez com que a cor desaparece depende da natureza química da fibra. As moléculas de ozono quebram os anéis aromáticos dos corantes, oxidandoDos (EPA, 1996). O facto de as tintas serem afectadas pelo ozono, leva a que existam recomendações para os limites de ozono em museus, livrarias e arquivos. O limite recomendado nestes espaços é de aproximadamente 20D25.5 OgmD3. O ozono está também associado

com a corrosão dos metais (Perreira, 1999), pois juntamente com outros poluentes aumenta a corrosão no aço, no zinco, no cobre, no alumínio e no bronze (Leeuw, 2000).

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