• Nenhum resultado encontrado

Recentemente têm surgido evidências de que, combinações específicas de fitoquímicos, podem ser de longe mais protectoras contra o cancro do que os compostos isolados. Numerosos estudos têm vindo a salientar o efeito quimiopreventivo de misturas de compostos fenólicos(11) provenientes do chá verde ou de outras fontes alimentares. Foi descrito que a epicatequina aumentou a indução da apoptose pela EGCG e inibiu a libertação do TNF-α. Os resultados deste estudo indicam que, em resultado dos efeitos sinérgicos entre os compostos fenólicos do chá verde, o chá é uma mistura mais eficiente para a prevenção do cancro do que a suplementação de EGCG. Curiosamente, observou-se que a catalase bloqueou o efeito sinérgico da epicatequina e da EGCG, sugerindo que a produção de peróxido de hidrogénio e das ROS estão envolvidas no mecanismo de sinergia. Os potenciais efeitos sinérgicos entre os compostos fenólicos e outros fitoquímicos também foram investigados.

Estudos sobre o efeito da combinação de isotiocianatos e indóis (fitoquímicos presentes nos vegetais crucíferos), demonstraram que os efeitos sinérgicos podem depender das condições experimentais e das concentrações. A combinação de outros dois fitoquímicos das crucíferas, o indol-3-carbinol e o crambe, foi estudada em ratos, tendo sido observado que o grupo experimental submetido a uma dose elevada ficou protegido contra a toxicidade induzida pela aflatoxina B1, mostrando efeitos sinérgicos, enquanto que no grupo submetido a uma baixa dose não foram observados efeitos. Também têm sido registados efeitos sinérgicos de alimentos e de outras misturas complexas. Em recentes

estudos com animais, nos quais se avaliou o efeito da ingestão de vegetais na modulação da expressão de genes, foi descoberto que a maioria dos genes que foram expressos de forma distinta antes e depois da ingestão dos vegetais, representaram alterações na expressão que poderiam ser interpretadas como um efeito preventivo contra o cancro. Além disso, os resultados destes estudos indicaram que, o efeito de quatro vegetais isolados nas alterações da expressão de genes no cólon e pulmão de ratos, diferiu do efeito da mistura dos quatro vegetais. Adicionalmente, a mistura dos vegetais apresentou capacidade de modular genes que não foram significativamente modulados por um dos específicos vegetais presentes na mistura. (31) Portanto, a associação de várias moléculas (como naturalmente acontece nos alimentos) poderá ser mais eficaz na prevenção do cancro do que compostos isolados. Estes aspectos originaram o desenvolvimento da “quimioprevenção combinada” no sentido de que, baixas doses de agentes quimiopreventivos, diferindo no modo de acção, podem aumentar a eficácia e reduzir a toxicidade, gerando um efeito sinérgico.

Discussão e Conclusões

O tema desta monografia é com certeza uma área de estudo complexa e sinuosa, porém motivadora e aliciante. A pesquisa realizada permitiu-me indagar diversos ramos da ciência, concretamente, Biologia celular, Genética, Patologia, Bioquímica, Toxicologia, Fisiologia, etc. Reafirmei a minha convicção de que conseguir atingir novas etapas no conhecimento é gratificante.

Neste trabalho foram apresentados apenas alguns dos mecanismos biológicos geralmente mais observados em determinados fitoquímicos. Contudo, esses exemplos ilustram o enorme potencial destes compostos na modulação do processo carcinogénico.

Da mesma forma que muitos estudos demonstram claramente que os fitoquímicos são altamente eficazes a impedir o desenvolvimento do cancro em cada fase da carcinogénese, também se constata que estes agentes são protectores para as células ditas “normais”. O exacto mecanismo do efeito diferencial entre células “normais” e “anormais” que os fitoquímicos evidenciam, não está completamente esclarecido, mas pensa-se ser o resultado da capacidade destes compostos de induzir ou suprimir de forma diferenciada certos eventos celulares, assim como de regular através da transcrição, a actividade de vários genes de defesa.

O conhecimento dos mecanismos moleculares subjacentes aos efeitos sinérgicos dos fitoquímicos ainda é limitado, mas parece que muitos fitoquímicos agem sinergicamente, o que poderá explicar a razão pela qual alguns alimentos mostram efeitos preventivos contra o cancro que não são explicados com base nos compostos bioactivos individuais.

Paradoxalmente, a preparação quimiopreventiva mais eficaz é a alimentação. As várias centenas de compostos presentes nos alimentos diferem na estrutura molecular, na estabilidade, na solubilidade, no metabolismo e na absorção. Eles são submetidos a actividades sinérgicas e/ou competitivas que não podem ser simplesmente reproduzidas num fármaco.

Embora os modelos de culturas celulares in vitro e de animais têm demonstrado a eficácia quimiopreventiva de numerosos fitoquímicos, o efeito protector desses agentes no risco de cancro nos seres humanos ainda não está estabelecido de forma conclusiva. Estas inconsistências parecem reflectir a natureza complexa dos alimentos e dos sistemas biológicos (i. e., os seres humanos).

Do mesmo modo que os efeitos benéficos destes agentes estão muito bem estudados, os possíveis efeitos tóxicos estão a ser destrinçados a passos largos. Desta forma, uma predição bem sucedida das consequências do consumo destes fitoquímicos por parte do ser humano só irá ser possível depois de se traçarem doses apropriadas e de se atenderem às questões da segurança. Portanto, deparam-se muitas pedras no caminho que têm de ser transpostas antes do uso bem sucedido dos putativos agentes quimiopreventivos no ser humano. Contudo, entender os mecanismos de acção dos fitoquímicos será um auxílio para esse esforço, uma vez que a maior parte desses compostos são uma parte integral da nossa alimentação. Em termos de saúde pública, a erradicação do cancro nos países ocidentais representa uma das missões científicas do novo milénio.

Uma pequena história da medicina: Eu tenho uma otalgia… 2000 A.C. – Toma, come esta raiz.

1000 D.C. – Essa raiz é paganismo. Toma, diz esta reza. 1850 D.C. – Essa reza é superstição. Toma, bebe esta poção.

1940 D.C. – Esta poção é banha da cobra. Toma, engole este comprimido. 1985 D.C. – Esse comprimido é ineficaz. Toma, ingere este antibiótico. 2000 D.C. – Esse antibiótico é artificial. Toma, come esta raiz.

Referências Bibliográficas

1. Oleszek W. Dietary phytochemicals and human health. Phytochemistry Reviews. 2002; (1):163-66.

2. Russo GL. Ins and outs of dietary phytochemicals in cancer chemoprevention. Biochem Pharmacol. 2007; 74(4):533-44.

3. Manach C, Hubert J, Llorach R, Scalbert A. The complex links between dietary phytochemicals and human health deciphered by metabolomics. Mol Nutr Food Res. 2009; 53(10):1303-15.

4. Johnson IT. Phytochemicals and cancer. Proc Nutr Soc. 2007; 66(2):207- 15.

5. Manson MM. Cancer prevention -- the potential for diet to modulate molecular signalling. Trends Mol Med. 2003; 9(1):11-8.

6. Kwon KH, Barve A, Yu S, Huang MT, Kong AN. Cancer chemoprevention by phytochemicals: potential molecular targets, biomarkers and animal models. Acta Pharmacol Sin. 2007; 28(9):1409-21.

7. Nerurkar P, Ray RB. Bitter melon: antagonist to cancer. Pharm Res. 2010; 27(6):1049-53.

8. Mehta RG, Murillo G, Naithani R, Peng X. Cancer chemoprevention by natural products: how far have we come? Pharm Res. 2010; 27(6):950-61.

9. Leite JPV. Fitoterapia - Bases científicas e tecnológicas

São Paulo, Rio de Janeiro, Ribeirão Preto, Belo Horizonte: Atheneu; 2009. p. 47- 97.

10. Nichenametla SN, Taruscio TG, Barney DL, Exon JH. A review of the effects and mechanisms of polyphenolics in cancer. Crit Rev Food Sci Nutr. 2006; 46(2):161-83.

11. Liu RH. Potential synergy of phytochemicals in cancer prevention: mechanism of action. J Nutr. 2004; 134(12 Suppl):3479S-85S.

12. Cunha PA, Silva PA, Roque RO. Plantas e Produtos Vegetais em Fitoterapia. In: Gulbenkian FC, editor. 3ª ed.; 2009. p. 31-52.

13. Goswami SK, Das DK. Resveratrol and chemoprevention. Cancer Lett. 2009; 284(1):1-6.

14. Prawan A, Khor OT, Li W, Kong TA. Application of Pharmacogenomics to Dietary Cancer Chemoprevention. Current Pharmacogenomics. 2007; 5:190-200.

15. Surh YJ. Cancer chemoprevention with dietary phytochemicals. Nat Rev Cancer. 2003; 3(10):768-80.

16. Chen C, Kong AN. Dietary chemopreventive compounds and ARE/EpRE signaling. Free Radic Biol Med. 2004; 36(12):1505-16.

17. Kaefer CM, Milner JA. The role of herbs and spices in cancer prevention. J Nutr Biochem. 2008; 19(6):347-61. 2771684.

18. Abdulla M, Gruber P. Role of diet modification in cancer prevention. Biofactors. 2000; 12(1-4):45-51.

19. Rock CL, Lampe JW, Patterson RE. Nutrition, genetics, and risks of cancer. Annu Rev Public Health. 2000; 21:47-64.

20. Gopalakrishnan A, Tony Kong AN. Anticarcinogenesis by dietary phytochemicals: cytoprotection by Nrf2 in normal cells and cytotoxicity by modulation of transcription factors NF-kappa B and AP-1 in abnormal cancer cells. Food Chem Toxicol. 2008; 46(4):1257-70.

21. Ewan S. Cancer prevention a step nearer. Drug Discov Today. 2005; 10(14):950-1.

22. Lau A, Villeneuve NF, Sun Z, Wong PK, Zhang DD. Dual roles of Nrf2 in cancer. Pharmacol Res. 2008; 58(5-6):262-70. 2652397.

23. Beliveau R, Gingras D. Role of nutrition in preventing cancer. Can Fam Physician. 2007; 53(11):1905-11. 2231485.

24. Nair S, Li W, Kong AN. Natural dietary anti-cancer chemopreventive compounds: redox-mediated differential signaling mechanisms in cytoprotection of normal cells versus cytotoxicity in tumor cells. Acta Pharmacol Sin. 2007; 28(4):459-72.

25. Pan MH, Ghai G, Ho CT. Food bioactives, apoptosis, and cancer. Mol Nutr Food Res. 2008; 52(1):43-52.

26. Hu R, Kong AN. Activation of MAP kinases, apoptosis and nutrigenomics of gene expression elicited by dietary cancer-prevention compounds. Nutrition. 2004; 20(1):83-8.

27. Owuor ED, Kong AN. Antioxidants and oxidants regulated signal transduction pathways. Biochem Pharmacol. 2002; 64(5-6):765-70.

28. Dulak J. Nutraceuticals as anti-angiogenic agents: hopes and reality. J Physiol Pharmacol. 2005; 56 Suppl 1:51-67.

29. Ohga N, Hida K, Hida Y, Muraki C, Tsuchiya K, Matsuda K, et al. Inhibitory effects of epigallocatechin-3 gallate, a polyphenol in green tea, on tumor- associated endothelial cells and endothelial progenitor cells. Cancer Sci. 2009; 100(10):1963-70.

30. Nijveldt RJ, van Nood E, van Hoorn DE, Boelens PG, van Norren K, van Leeuwen PA. Flavonoids: a review of probable mechanisms of action and potential applications. Am J Clin Nutr. 2001; 74(4):418-25.

31. de Kok TM, van Breda SG, Manson MM. Mechanisms of combined action of different chemopreventive dietary compounds: a review. Eur J Nutr. 2008; 47 Suppl 2:51-9.

Índice de Anexos

Anexo 1 – Principais classes de fitoquímicos nos alimentos ... 39 Anexo 2 – Subclasses de terpenóides ... 42 Anexo 3 - Via de sinalização do factor de transcrição Nrf2 ... 44

Anexo 1 – Principais classes de fitoquímicos nos

alimentos

Buy SmartDraw !- purchased copies print this document without a watermark . Visit www.smartdraw.com or call 1-800-768-3729.

Subclasses de terpenóides provenientes de unidades precursoras isoprénicas Nº de unidades isoprénicas C5 Nº de átomos de carbono da cadeia principal Nome da subclasse 2 10 Monoterpenos 3 15 Sesquiterpenos 4 20 Diterpenos 5 25 Sesterpenos 6 30 Triterpenos 8 40 Tetraterpenos n n Polisoprenos

Documentos relacionados