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1.° Tubo digestivo.—A atropina ingerida no estô- mago na dose de 1 a 3 milligr. promove com presteza na bocea e na pharyngé uma sensação de seccura e de constricçâo, de tal modo accentuadas quando a dose é elevada ou a administração prolongada, que as paredes boccaes e gutturaes parecem adherir entre si, tornando-se impossíveis a deglutição e a palavra. As mucosas nasal e ocular seccam-se também. Quanto á mucosa intestinal segundo uns (Gubler, Meuriot, etc.) secca-se, e d'ahi a constipação de ventre que acompanha o uso da atropina em pequenas doses; segundo Rabuteau, ha diarrhea, não porque a secreção intestinal sejaaugmentada,mas porque a atropina actuando sobre as fibras lisas dos intestinos fal-os contrahir e opéra d'esté modo a expulsão dos ma- teriaes nutritivos n'elles contidos e que ainda se acham no estado liquido ou semi-liquido.

Em doses ultra-physiologicas apparece então a diar- rhea, em virtude da superactividade geral das secreções.

2.° Pupilla—A instillaçâo no olho d'uma pequena quantidade d'atropina, d'uma gotta d'agua distillada contendo iji de milligr. de sulphato d'atropina, por

exemplo, produz quasi instantaneamente sensação d'ar- dor transitória na conjunctiva, depois dilatação da pu- pilla de tal modo exagerada em poucos minutos que a visão é" quasi de todo abolida. Antes da cegueira o

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olho é muito sensivel á luz e a fixação d'um corpo bri- lhante ou polido determina, dizem, por acção reflexa o espirro; tal phenomeno porém é verosimilmente devido em muitos casos á irritação produzida no canal nazal pela atropina, eliminando-se junctamente com as lagri- mas.

Trata-se aqui evidentemente d'uma acção puramente local, porque só é dilatada a pupilla do olho em que foi applicada a atropina.

A dilatação da pupilla apparece também quando se administra internamente a atropina, e então o pheno- meno é bilateral.

3.° Circulação—A proposição de Schroff «que a atropina causa ao principio um certo retardamento na circulação» é invalidada por innumeras experiências de eximios e conscienciosos physiologistas, taes como Bou- chardat, Cooper, Hunter, Warton Jones, See, Grubler Meuriot, Brown-Sequard, etc.

Com effeito actualmente está assentado que a atro- pina em doses physiologicas, 1 a 3 milligr. ingerida no estômago ou injectada no tecido cellular subcutâ- neo accéléra o coração e augmenta a pressão arte- rial. Quando a dose é toxica aos phenomenos men- cionados presto succedem phenomenos oppostos, isto é, o coração retarda-se e a pressão sanguínea decresce no- tavelmente.

tensão do sangue pendem das notáveis modificações ope- radas na irrigação sanguínea. Vejamos:

Examinada com o auxilio do microscópio a membra- na interdigital d'uma rã, tendo-se applicado directamen- te sobre esta membrana uma solução de sulphato d'atro- pina, ou injectado o veneno em uma parte próxima ou remota do ponto em observação, vê-se immediatamente uma acceleração considerável da corrente sanguínea e uma constricção accentuada das arteriolas, as quaes che- gam a ficar reduzidas a metade e mesmo a um terço do seu calibre primitivo. Se a dose empregada é pequena, tudo volta ao seu estado normal no espaço d'algumas horas; porém se a dose é elevada, os capillares dilatam- se e tornam-se visiveis nos pontos, onde primeiro nem mesmo vestígios de taes vasos podiam ser percebidos, a circulação retarda-se, o sangue oscilla e estagna nos ca- pillares assim dilatados. A stase começada nos capilla- res progride nas veias e artérias, que se dilatam por sua vez.

A exactidão d'estes factos tem sido confirmada re- centemente por différentes experimentadores, entre os quaes merecem menção especial Brown- Sequard, que viu diminuir o calibre dos vasos sanguíneos da pia- mater medullar em cães a que se tinha administrado a belladona, e Meuriot que verificou os mesmos pheno- menos tanto na membrana interdigital da rã como na mucosa intestinal do rato e nas orelhas do coelho.

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Em summa a atropina primeiro contrahe os vasos de pequeno calibre e activa a circulação, depois se a dose é sufficiente, relaxa-os e produz a stase.

4.° Respiração — Esta funcçâo retarda-se ou acce- lera-se segundo os movimentos cardíacos enfraquecem ou se activam, affirmam W. Jones e Rabuteau.

5.° Calorificação —Posto que no homem não se te- nham feito com precisão observações relativas ás varia- ções de temperatura que a atropina possa determinar, alguns medicos, fundando-se em que a pelle se torna secca e é algumas vezes a sede de um tal ou qual ery- thema, e também em que os animaes envenenados por altas doses d'esta substancia apresentam manifestos si- guaes de frio, opinam que a atropina produz elevação de temperatura quando ha acceleração da circulação, e diminuição notável quando os movimentos circulatórios se retardam.

A emittirmos opinião apenas guiados pelas nossas observações, diríamos que a atropina na dose de 1 a 2 milligrammas, longe de fazer augmentar a temperatu- ra, fal-a diminuir.

6.° Secreções — Em doses physiologicas ou thera- peuticas a atropina diminue todas as secreções, á exce- pção da secreção renal que é augmentada. Esta hyper- crinia renal pode ser attribuida com alguns fundamen- tos por um lado ao augmento da pressão sanguínea e por outro lado á eliminação do medicamento pelos rins,

eliminação que se opéra instantes depois da atropina entrar na torrente circulatória.

Em doses toxicas activam-se as secreções em geral e particularmente o suor. Diminuída a pressão sanguí- nea deve apparecer a hypocrinia da secreção urinaria, e é realmente o que acontece, a não ser que a irritação produzida pela substancia, eliminando-se pelos rins, com- pense o abaixamento de pressão, e n'este caso a urina é quantitativamente normal.

7.° Músculos e nervos — Ingerida no estômago na dose de 4 a 5 milligrammas ou injectada no tecido cel- lular subcutâneo em menor dose, além dos pbenomenos que deixamos descriptos, a atropina produz formiguei- ros e certa sensação de prurido, cephalgia, delirio, o qual pode ser alegre, estúpido ou furioso, allucinaçôes e preversões da visão; assim os objectos apresentam dif- férentes cores, nas quaes predomina a côr vermelha; insomnia, ou então somno comatoso, se as doses foram toxicas; sonhos phantasticos, eróticos, erecções frequen- tes e poluições nocturnas.

Em pequena dose a atropina diminue a sensibilidade, em dose elevada abole-a completamente.

Opéra também sobre os nervos motores e músculos submettidos ao império da vontade e paralysa-os mais ou menos segundo a dose.

Emquanto aos músculos de fibras lisas ou da vida orgânica, e ao grande sympathico, já vimos que os pe-

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quenos vasos sanguíneos se contrahiam debaixo da in- fluencia de pequenas quantidades d'atropina, e se dila- tavam pelo contrario quando a dose empregada era grande. Mas a acção da atropina exerce-se nas fibras lisas só? no grande sympathico exclusivamente? ou em ambos os tecidos?

Esta ultima hypotbese parece a mais provável por isso que, se fossem destruídos todos os ramos sympathi- e s que ennervam uma região qualquer, os effeitos vas- culares da atropina ainda se manifestam posto que n'um grau incomparavelmente menor, e ainda lia contracção dos músculos lisos.

E haverá a certeza de terem sido destruidos todos os cordões e ganglios nervosos que punham a região em relação com o grande sympathico?

Rabuteau opina também que a atropina actua não só sobre o sympathico, mas ainda sobre as fibras muscu- lares da vida orgânica. Ouçamos a este propósito o ins- pirado mestre e denodado reformador da materia me- dica :

«Se a atropina excita os cordões sympathicos que se distribuem na iris, excita também as fibras da iris, por- que, se a pupilla se dilata menos arrancando o £an<dio cer- vical superior, dilata-se todavia. Assim, se praticarmos em um animal a ablação do ganglio cervical superior, do lado esquerdo, por exemplo, e depois injectarmos n'este animal a atropina, veremos a pupilla do olho direito com-

pletamente dilatada, e a do esquerdo pouco dilatada. Acontece o mesmo se em logar de extirparmos o gan- glio cervical superior, cortarmos o cordão sympathico que une este ganglio ao ganglio cervical inferior. Gal- vanisando então o nervo cortado, apparece a dilatação completa d'esté mesmo lado. Poderia objectar-se que a dilatação da pupilla era devida a uma paralysia do ner- vo do 3.° par que anima as fibras circulares da iris. Ora, excitando no craneo o nervo do 3.° par no animal enve- nenado pela atropina, produz-se a contracção da pupil- la; o que demonstra que o alcalóide não exerce uma acção importante sobre o próprio nervo que tão bem conserva a excitabilidade. Demais, se o nervo estivesse já paralysado pelo veneno, a secção não acarretaria uma dilatação mais accentuada da pupilla, como tem logar quando o cortamos em um animal, ao qual se adminis- trou a atropina. »

Como opéra o sulphato d'atropina para diminuir os suores?—Sabendo nós que este agente dado em peque- nas doses estreita os vasos sanguíneos de pequeno cali- bre e faz contrahir os músculos lisos, responderemos que é muito razoável admittir que a atropina diminue os suores — primo, porque produzindo a olighemia vas- cular, priva as glândulas sudoríparas das matérias que lhes eram destinadas — secundo, porque contrahindo as

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fibras lisas dos duetos excretores, estreita-os e impede assim a sahida do suor.

Vulpian não acceita tal modo de vêr—primo, por- que duvida da acção constrictiva da atropina sobre os vasos sanguíneos — secundo, porque as modificações cir- culatórias não promovem sempre modificações secreto- rias, como demonstram as experiências de Heidenhain relativas á glândula submaxillar:

«Heidenhain repetiu estas experiências (Keuchel) em cães curarisados injectando na veia jugular uma dose d'atropina sufficiente para paralysar completamente os filetes cardíacos do nervo vago. A excitação da corda do tympano não determinava então a menor secreção; havia comtudo uma acceleração da corrente san<minea venenosa que não differia essencialmente da que se observava antes do envenenamento pela atropina.

Este facto fornece a prova mais concludente que a secreção produzida pela excitação da corda do tympano é inteiramente independente das modificações que teem logar na circulação da glândula e que, por consequência, fibras nervosas différentes são affectadas na secreção e circulação d'esté órgão. 0 que demonstra que não são as cellulas proprias da glândula que são atacadas n'este caso, como poderia objectar-se, é que a excitação do nervo sympathico provoca então uma secreção inteira- mente similhante á que elle determinaria em um animal não envenenado. São pois as extremidades das fibras

secretorias da corda do tympano que são as únicas ata- cadas; e torna-se indubitável que o modo de relações das fibras nervosas da corda com as cellulas da glândula é différente do das fibras sympatkicas. )> (Archivos de physiologia).

Para Vulpian a producção exagerada do suor seria devida a uma excitação dos nervos que presidem á se- creção das glândulas sudoríparas. A atropina posta pela circulação em contacto com estes nervos paralysaria as extremidades terminaes e os impossibilitaria assim de transmittirem uma excitação ás glândulas secretoras do suor. A exageração funccional mórbida das glândulas sudoríparas que determina os suores pathologicos, tor- nar-se-hia pois mais ou menos impossível.

Tal explicação é realmente engenhosa, mas estará ella ao abrigo da critica? Cremos que não.

Estava já quasi concluída a impressão d'esté traba- lho, quando fomos obsequiados pelo snr. dr. Azevedo com as duas observações que se seguem:

Maria Antónia, 40 annos, solteira, constituição de- teriorada, temperamento lymphatico, tuberculose pul- monar no principio do 3.° periodo, suores copiosíssimos, uso dos gramulos de 5 decimilligram. de sulphato d'atro- pina (dous por dia) durante vinte e cinco dias — dimi-

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nuição considerável dos suores — continua no uso d'a- quella medicação.

Antonio Fernandes, 16 annos, solteiro, marceneiro, constituição deteriorada, temperamento lymphatico, af- fectado de tuberculose pulmonar no fim do 2.° período — suores matutinos copiosos, usou dos gramulos de sul- phate d'atropina (5 decimilligram.) por dose durante 30 dias, a dous por dia — suspensão completa dos suores sem que reapparecessem no fim de 15 dias em que não usou d'aquella medicação.

Estas observações confirmam a efficacia do sulphate d'atropina no tratamento dos suores na phthisica.

PROPOSIÇÕES

A n a t o m i a — A corda do tympano não termina na

glândula submaxillar.

P ù y s i o l o g i a — Os nervos vaso-dilatadores operam

por acção suspensiva sobre os vaso-constrictores.

Materia m e d i c a — O sulphate d'atropina é um

excellente anti-sudorifico.

Pathologia geral — A homcepathia não é abso-

lutamente falsa.

Medicina operatória—De todos os meios cirúr-

gicos, attinentes ao tratamento palliativo ou curativo do carcinoma, a extirpação é o principal.

Patûologia interna —Não ba antagonismo entre

a phtbisica e as febres intermittentes.

Anatomia pathologica — A melhor classifica-

ção de tumores será aquella que se basear tanto nos ca- racteres anatomo-pathologicos, como nos caracteres clí- nicos.

Partos — Para provocar o parto prematuro e o

aborto, preferimos a esponja preparada pelo metbodo Joulin.

H y g i e n e — A inbumação dos cadáveres deve ser

substituída pela incineração.

Approvada. Pode imprimir-se.

n. 0 conselheiro-director,

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