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3 IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS EM DECORRÊNCIA DA

3.3 Eficiência, eficácia e efetividade

Em se tratando da aplicação da lei, o que se espera de fato é que ela seja eficiente, eficaz e efetiva. Buscamos amparo legal com a finalidade de resolução de conflitos em sociedade de acordo com os princípios da mesma, mas nem sempre obtivemos o resultado esperado.

Eficiência, eficácia e efetividade podem ser tratados como sinônimos, mas existe uma pequena diferença entre os termos. Temos por eficiência a ideia de aproveitamento, com a melhor utilização dos recursos disponíveis, enquanto a eficácia se preocupa com os objetivos a serem atingidos, ou seja, podemos considerar que enquanto a eficiência se preocupa com os meios, a eficácia tem o foco centrado nos fins. Sempre temos como ideal algo que seja igualmente eficiente e eficaz, porém nem sempre este resultado é obtido. Uma lei é eficaz quando cumprida a sua função social.

Temos por efetividade, então, um conceito mais amplo, tendo como foco a averiguação de resultados que atinjam os objetivos traçados, utilizando, para isso, dos recursos disponíveis, sendo eficiente e eficaz ao mesmo tempo.

Deve-se colocar em prática os conceitos acima citados na aplicação da lei, tendo dito isso, o que se espera é um resultado utópico de que as leis possuam tamanha efetividade e atinjam os resultados esperados.

Um dos problemas enfrentados atualmente em nossa sociedade é o grande número de crimes ambientais que vêm ocorrendo, em especial aqueles relacionados a proteção animal, o que muito acontece é que, estes citados, tornam-se mais frequentes e menos puníveis.

Embora a Lei 9.605/1998 seja clara em sua abordagem e um grande avanço no quesito da preservação ambiental, criada com o objetivo de criminalizar condutas nocivas ao meio ambiente, existem muitas divergências na aplicação das penas e sua efetividade, direito contido na Constituição Federal. A função do Estado na proteção dos animais, infelizmente, não tem sido plenamente eficaz.

Os crimes e sanções devem ser estabelecidos conforme legislação, assim como confirma a Constituição Federal, em seu art. 5º, XXXIX, que não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal, conceituando também, conforme já citado anteriormente, em seu art. 225, caput, a respeito do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Ao tomar como referência a Lei 9.605/98, no que concerne às sanções penais, houve uma significante preocupação no quesito de adaptar-se às diretrizes traçadas pela política criminal e ambiental aplicadas no país, tratando de formas alternativas de sanção ao condenado, para que, apenas em último caso, seja imposto o encarceramento, dando ênfase na busca pela prevenção. Deve-se assim ocorrer sempre uma avaliação acerca das circunstâncias do caso concreto e efetiva periculosidade da situação, existindo assim a repressão às infrações penais ambientais, no caso, com penas privativas de liberdade, restritivas de direito e multa.

O que se observa com nitidez é que, em sua maioria, as penas cominadas aos crimes da Lei 9.605/98 não ultrapassam 4 (quatro) anos, tendo a possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade em praticamente todos os casos. A referida lei torna-se ineficiente e precária, havendo uma burocracia excessiva e morosidade no processo, tendo a criminalização das condutas ambientais um padrão adequado à realidade brasileira, país de grande território e frágil fiscalização ambiental.

Na referida lei está previsto, por exemplo, em seu artigo 32, já citado anteriormente, os maus-tratos de animais, em que, para o infrator, imputa multa ou pena de três meses a um ano de prisão. Para que se proceda, basta que seja realizada denúncia para os órgãos competentes, no caso: Delegacia do Meio Ambiente, Ibama, Polícia Florestal, Ministério Público, Promotoria de Justiça do Meio Ambiente e Corregedoria da Polícia Civil. Além dos órgãos competentes, podemos contar com o apoio de diversas ONGs e grupos, tais como a Sociedade Vegana, a Frente de Ações pela Libertação Animal (FALA), o Instituto Abolicionista Animal (IAA), entre outros. A questão colocada em pauta é se tal sanção é efetiva para que o crime não venha a ocorrer novamente.

Levai (2004, p. 35) faz uma análise as penas impostas, onde traz que:

Apesar desse avanço legislativo, o problema referente à dosagem de pena – muito favorável ao infrator – continua o mesmo. Aquele que incorre em delito contra a fauna, embora teoricamente sujeito à prisão e multa, costuma ter a reprimenda substituída por medida restritiva de direitos ou prestação de serviços à coletividade. Isso é fruto da política criminal da despenalização, uma tendência crescente no sistema penal brasileiro. Caso que gerou comoção no Rio Grande do Sul, conhecido como “caso da Cadela Preta”, é um exemplo em se tratando das penalidades impostas em crimes contra animais. Tal fato ocorreu em 9 de março de 2005, dia em que 3 jovens universitários amarraram uma cadela, que estava prenha, no para-choque de um carro e a arrastaram por aproximadamente 5 quadras. No dia seguinte, moradores da rua em questão encontraram o corpo dela despedaçado junto aos filhotes.

Dentre os 3 acusados, o que recebeu a maior pena, já com antecedentes criminais, foi condenado a apenas um ano de detenção em regime aberto no Presídio Regional da cidade em que ocorreu o fato, além do pagamento de multa. Os outros 2 estudantes aceitaram a transação penal com o Ministério Público e cumpriram um ano de trabalhos comunitários em instituições com ligação ao meio ambiente, além de multa aplicada individualmente, de R$ 5.000,00 ao canil municipal. Por fim, em 2010, o dono do carro foi condenado ao pagamento de indenização de R$ 6.035,04 por danos morais coletivos.

O fato narrado trata-se de uma barbárie, como referido pelo desembargador Arminio José Abreu Lima da Rosa, o relator do processo, um crime que ofende os sentimentos de compaixão e piedade, mas que ainda assim, possui penas brandas.

Baseando-se no contexto apresentado conclui-se facilmente que é de extrema necessidade que as leis se adequem a criminalidade exposta, tratando tais crimes com maior rigidez e garantindo assim a sua eficiência, eficácia e efetividade, além de assegurar a aplicação da justiça ambiental, prevenindo nosso ambiente de futuros danos e garantindo um meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações.

CONCLUSÃO

A presente pesquisa foi iniciada, no primeiro capítulo, com um entendimento histórico e cultural que buscou, principalmente, entender como foi construída moralmente a sociedade em que vivemos e nossa relação para com os demais seres presentes na natureza. Logo, no segundo capítulo, uma análise ética e moral sobre como estamos convivendo com os nossos semelhantes para que houvesse assim a compreensão de nossas relações e o mundo que estamos deixando para as futuras gerações. E, por fim, no terceiro capítulo, buscou-se compreender como o uso dos animais como propriedade prejudica nosso ambiente, além de analisar a Lei de Crimes Ambientais e sua real efetividade, o que, claramente, não vem trazendo o resultado esperado.

A diferença está na cultura enraizada e aplicada desde os primórdios, no moralmente aceito ou não. A aceitação cultural não significa, necessariamente, que tal prática é correta. Quando se trata de outro ser humano, tendemos a ter empatia devido a identificação com o próximo, e é isso que nos falta perante os demais seres vivos, nos identificarmos como seres que somos. Seres capazes de sentir e expressar.

É complexo tratar da questão em tela devido ao fato de ainda ser considerada como normal e natural. Ao defendermos que o abatimento de animais deve ser de forma diversa da atual, existe um reconhecimento de que determinados animais nasceram para servir de consumo e que possuem uma forma correta de abatê-los, uma ideia errônea, admitindo que o animal não possui direitos.

O que é intrigante, é a diferença de tratamento entre animais domésticos e animais para o abate. O que diferencia aquele digno de amor e cuidados daquele que será servido na próxima refeição é uma questão que fica em aberto. O que nos falta é um espirito de humanização, pois de nada adianta debatermos a respeito dos direitos dos animais em um país que encontra dificuldades em respeitar o próprio ser humano, que tolera a desigualdade, racismo, preconceito e homofobia, dentre tantas outras coisas.

Se o homem passar a analisar suas próprias atitudes perante os demais, e dentro delas, buscar a igualdade, simultaneamente passará a reconhecer que o animal é como um de nós, porém ainda desprotegido e desvalorizado. O que se espera após a resolução do presente trabalho é que se abram portas para o debate, principalmente dentro da universidade, local no qual se formam mentes pensantes e aptas para mudanças que, de fato, não serão imediatas, mas um processo que se inicia em cada indivíduo e assim faz a diferença.

O sentimento de empatia e identificação não é recebido da mesma forma para com todos, cada indivíduo é culturalmente diferente, criado de maneira diversa, formado e estruturado conforme o local onde nasceu, a família e ambientes. Não podemos exigir que todos tenham o mesmo foco e pensamento, mas precisamos assumir uma posição e lutar frente as atrocidades cometidas diariamente, conscientizando cada vez mais pessoas.

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