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Direitos dos animais e o impacto ambiental causado em decorrência da exploração animal

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CLAUDIA SANFELICE PERSSON

DIREITOS DOS ANIMAIS E O IMPACTO AMBIENTAL CAUSADO EM DECORRÊNCIA DA EXPLORAÇÃO ANIMAL

Ijuí (RS) 2018

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CLAUDIA SANFELICE PERSSON

DIREITOS DOS ANIMAIS E O IMPACTO AMBIENTAL CAUSADO EM DECORRÊNCIA DA EXPLORAÇÃO ANIMAL

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Dr. Daniel Rubens Cenci

Ijuí (RS) 2018

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Dedico este trabalho a todos os animais, dignos de direitos.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu avô, Rui Humberto Sanfelice, que

sempre apoiou e incentivou meus

estudos. Grande inspiração e exemplo, como pessoa e profissional. E minha avó, Leoni Sanfelice, mulher de sabedoria e

amor imensuráveis. Ambos grandes

amantes dos animais.

Aos meus pais Cláudio Alfredo Persson e Gabriela Sanfelice Persson, que me

deram confiança diariamente, me

ajudando a vencer as batalhas da vida e que não medem esforços para lutar por minha educação.

Ao meu namorado Tom Correa, por ser meu suporte em todos os momentos e por percorrer comigo esta trajetória, que sempre acreditou em minha capacidade e nunca me deixou esquecer disso.

Ao meu amigo Fábio Israel Butignol Mariani, que forneceu um material bibliográfico maravilhoso para que a presente obra pudesse tomar forma, além de compartilhar de suas experiências como ativista animal, com muito carinho e atenção.

Ao meu orientador Daniel Rubens Cenci, que me acompanhou ao longo da faculdade e com quem tive o privilégio de desenvolver este trabalho, sempre com muita dedicação e paciência.

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“Chegará o tempo em que o homem conhecerá o íntimo de um animal e nesse dia todo crime contra um animal será um crime contra a humanidade. ”

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso aborda o tema dos direitos dos animais, a maneira em que tais direitos estão dispostos no arcabouço jurídico brasileiro e a sua efetiva proteção. O tema assume grande relevância social, econômica e ambiental, tendo em vista que o homem, por um lado, viola os direitos dos animais há séculos, tratando os mesmos como mera propriedade em razão de sua percepção antropocêntrica do mundo e, por outro, considera-se que os animais são seres sencientes e passíveis de direitos. Para levar a cabo o desafio da investigação, a metodologia utilizada baseou-se em pesquisa bibliográfica, com o estudo central dando enfoque no contexto histórico que nos trouxe até o momento atual e a formação cultural de nossa sociedade, além de abordar os impactos ambientais causados em decorrência da exploração animal e a efetividade do ordenamento jurídico com relação a proteção destes. Analisa-se a questão ética, buscando a compreensão das ações humanas para com nossos semelhantes e como elas afetam nosso meio. Avança-se nas reflexões acerca das atitudes e preocupações para com o meio que deixaremos para as futuras gerações e as dificuldades enfrentadas na busca contínua do rompimento de determinados ideais que nos foram transmitidos culturalmente, apresentando uma diferente visão de convívio.

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ABCSTRACT

The present work of conclusion of course address the topic of animal rights, the way in which such rights are set forth in the Brazilian legal framework and its effective protection. The theme assumes great social, economic and environmental relevance, in view of the fact that man, on one hand, has been violating animal rights for centuries, treating them as mere property by reason of their anthropocentric perception of the world and, on the other hand, animals are considered to be sentient and susceptible beings. To carry out the research challenge, the methodology used was based on bibliographical research, with the central study focusing on the historical context that has brought us up to the present moment and the cultural formation of our society, in addition to addressing the environmental impacts caused as a result of animal exploitation and the effectiveness of the legal system in relation to the protection of these. We analyze the ethical question, seeking the understanding of human actions towards our fellows and how they affect our environment. It advances in the reflections on the attitudes and preoccupations towards the environment that we will leave for the future generations and the difficulties faced in the continual search for the rupture of certain ideals that were transmitted to us culturally, presenting a different vision of conviviality.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 1 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DOS DIREITOS DOS ANIMAIS... 1.1 O animal a serviço do homem: questões religiosas... 1.2 A filosofia e os direitos dos animais... 1.3 A Declaração Universal dos Direitos dos Animais de 1978 e a evolução

na legislação de proteção animal... 2 ÉTICA E OS DIREITOS DOS ANIMAIS... 2.1 Sexismo, racismo e especismo... 2.2 Animais domésticos, animais de consumo e o mito do bem-estar animal... 2.3 Senciência e Princípio da Igual Consideração de Interesses

Semelhantes... 3 IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS EM DECORRÊNCIA DA EXPLORAÇÃO ANIMAL E A EFETIVIDADE DA LEI DE CRIMES AMBIENTAIS... 3.1 Impactos Ambientais... 3.2 Lei 9.605/1998 e suas disposições... 3.3 Eficiência, eficácia e efetividade... CONCLUSÃO... REFERÊNCIAS... 09 11 12 13 16 19 19 21 23 27 27 30 33 37 39

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INTRODUÇÃO

É de total importância que se discuta a respeito dos direitos dos animais em razão de estarmos nos referindo a uma sociedade que preza por empatia, respeito e que busca um paradigma de igualdade e direitos.

A presente busca é centrada na quebra do ideal antropocêntrico, para que assim, haja reflexão acerca da possibilidade de vivermos em um meio ambiente equilibrado e liberto de crueldade e exploração, além da efetividade do ordenamento jurídico na proteção de nossos semelhantes.

É uma questão ética, focada principalmente na proteção animal, onde os animais não-humanos são dignos e merecedores do mesmo respeito que os animais humanos, devendo ser incluídos na comunidade moral, em uma busca contínua pelo equilíbrio ambiental, sem que haja constante exploração.

A defesa dos direitos dos animais constitui um movimento que luta contra o uso de animais não-humanos, em qualquer forma, desconstruindo o ideal de tratamento dos mesmos como fins humanos, garantindo assim seus interesses e igual consideração em relação aos interesses humanos, não sendo tratados como mera propriedade.

O presente trabalho, no capítulo 1, procurou entender o contexto histórico da formação cultural de nossa sociedade, baseando-se em questões religiosas, visões filosóficas e a evolução dos direitos dos animais. No capítulo 2, sobre ética e os direitos dos animais, questões como o especismo, o bem-estar animal, a senciência e o princípio da igual consideração de interesses semelhantes. E, por fim, no

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capítulo 3, os impactos ambientais causados em decorrência da exploração animal, a Lei de Crimes Ambientais e sua efetividade, baseando-se em pesquisa bibliográfica.

É preciso focar o direito em algo além do ser humano, atribuindo valor moral às demais criaturas e a natureza como um todo ou a parte dela. É de se espantar que vivemos em um meio no qual é necessário tanto sofrimento para satisfazer mero prazer humano. Animais que nascem com um único destino, sem um mínimo de dignidade em seu curto período de vida, em que vivem como objetos para consumo ou para produção contínua, tratados como máquinas fornecedoras de produtos para o homem.

Resta saber até quando a sociedade agirá com ideais antropocêntricos,

sendo especistas com relação aos demais seres da natureza, focando não apenas

na utopia do bem-estar animal, mas nos seus direitos como indivíduos que são. Nesse contexto, a proposta deste trabalho é indagar o que nos é culturalmente imposto e refletir acerca de nossas atitudes para com os nossos semelhantes e para com o meio em que vivemos, através de pesquisa bibliográfica.

A discussão torna-se de total relevância no meio acadêmico para que se entenda que além dos direitos humanos, temos também os direitos dos nossos semelhantes a defender.

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1 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS DOS DIREITOS DOS ANIMAIS

O histórico da espécie humana é um complexo sistema, o qual está em constante evolução em questões éticas e morais, buscando o entendimento mais profundo de sua existência, com bases filosóficas e teóricas.

Podemos afirmar que, desde os primórdios, o homem vem sendo doutrinado a se entender como superior perante as demais espécies existentes e o meio em que circula, como sendo único e exclusivo ser capacitado intelectualmente, utilizando deste fato para explorar e usufruir os considerados inferiores, tratados como propriedades ou produtos.

A relação entre o homem e o animal foi tratada na Bíblia Sagrada e por filósofos renomados como Pitágoras e Aristóteles, assim como tantos outros, sendo tema de discussão até o momento atual.

Existe uma luta contínua em prol da libertação animal, que almeja quebrar os parâmetros estabelecidos pela superioridade humana de classificação das espécies, o especismo. Assim como o racismo ou o sexismo, o especismo também sofre com a atribuição errônea de valores ou direitos a seres dependendo de sua filiação.

Há uma movimentação que busca o não uso de animais não-humanos como suas propriedades, uma inclusão na sociedade moral, que trate os mesmos com igualdade de direitos, como seres dignos de respeito que são, que também sentem dor e angústia.

Feitas essas primeiras colocações, esclarece-se que o presente capítulo tem por objetivo analisar a temática historicamente, ou seja, a origem dos direitos dos animais, histórica e culturalmente, em especial na Declaração dos direitos dos Animais e na Constituição de 1988, com a finalidade de possibilitar reflexão acerca da formação da nossa cultura em relação às práticas abusivas para com os animais, além de aplicações reais almejando mudança e concretização dos direitos.

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1.1 O animal a serviço do homem: questões religiosas

É de tamanha complexidade introduzir um assunto que consiste em uma ruptura cultural, por assim se dizer. Os animais são mencionados desde a Bíblia Sagrada, no Antigo Testamento, introduzidos de forma submissa ao homem.

Temos a Bíblia Sagrada como objeto doutrinador, podemos atribuir grande parte de nossa cultura e formação aos ensinamentos da mesma. Deus disse aos humanos que “tivessem em sujeição os peixes do mar, as criaturas voadoras dos céus e toda criatura vivente que se move na terra“, no livro de Gênesis, 1:28, deixando entendido os humanos como “superiores” aos animais da terra, sendo o homem criado a imagem e semelhança de Deus, logo, um ser com sabedoria, valores, justiça, amor e poder.

Esse ideal de superioridade foi confundido no decorrer dos séculos, sendo mal interpretado. Ainda sobre as escrituras, Deus permite que os animais sirvam de vestimentas e proteção, conforme os livros de Êxodo e Marcos. Diz Gênesis 9:3 que, “todo animal movente que está vivo pode servir-vos de alimento”. Considerando o contexto em que foram escritas, não podemos aplicar perfeitamente nos dias atuais. Atualmente possuímos tecnologia e meios suficientes para nos fornecer alimentação e vestimentas sem auxílio de animais, diferentemente da época em que foi escrito o Antigo Testamento.

O que muito se preza inclusive, é o respeito. A Bíblia confirma que Deus “odeia quem ama a violência” conforme trata Salmo 11:5, sendo assim, podemos concluir que não se quer que nos aproveitemos de animas por mero prazer ou esporte, caso não seja necessidade. O que muito nos afronta são os casos de crueldade, em abatedouros principalmente, onde nos fornecem a carne animal como mero produto e os tratam com tamanha violência e desdém.

Outro fato que ainda se deve mencionar é o Dilúvio, onde Deus preservou oito pessoas, além de animas de todos os tipos, comprovando sua total importância para com o ecossistema e vivência em harmonia.

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A Bíblia e seus ensinamentos possuem grande influência perante a nossa sociedade, servindo como forma regulamentadora e doutrinadora da mesma. Suas passagens, muitas vezes, colocam o homem acima do animal, com um lugar especial em meio a natureza, sempre enfatizando o respeito e abominando a violência. É necessário que se traga para o contexto atual, onde não há necessidade do uso dos animais em forma de produtos para consumo para nossa sobrevivência, como nos datados, em decorrência das tecnologias e métodos que suprem nossas necessidades. É de total importância que haja uma avaliação individual a respeito da temática, para que haja uma caminhada justa para com todos seres da natureza.

1.2 A filosofia e os direitos dos animais

Além da questão bíblica, é relevante a compreensão dos fundamentos filosóficos a respeito da temática. Usando como base a cronologia imposta por Mendes (2010), podemos analisar, desde o século VI a.C, momento em que Pitágoras era defensor dos direitos dos animais e seu sucessor Aristóteles alegava irracionalidade dos mesmos, os colocando a serviço do homem. Pode-se notar, com isso, que não houve uma lógica linear, assim como nos dias atuais, existe grande disparidade de ideias.

Muito se equivoca na fundição dos ideais de domínio, como descrito nas escrituras sobre o domínio do homem para com os demais seres, como propriedade. O homem acabou por fazer uso dos animais como sua propriedade e assim, abusando dos mesmos, como meros produtos, desrespeitando e ferindo sua dignidade como indivíduos que são.

No decorrer dos séculos, o direito animal foi deixado para trás por intelectuais, permanecendo a concepção bíblica como única doutrina. Em 1641 surgiu então reflexões que impulsionaram o início dos ideais. René Descartes foi a maior influência na época. Ele propôs uma teoria mecanicista do universo, onde afirmava que o mundo poderia ser entendido sem partir de uma observação subjetiva, que foi estendido até a questão da consciência dos animais.

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Para Mendes (2010):

Mente, para Descartes, era algo separado do universo físico, uma substância à parte, que ligava seres humanos à consciência de Deus. O não-humano, por outro lado, não seria nada mais que um autômato complexo, desprovido de alma, mente ou razão. Segundo o filósofo francês, eles poderiam enxergar, escutar e tocar, mas não eram conscientes, portanto incapazes de sofrer ou mesmo sentir dor.

Apesar da questão de o direito animal ter origem dos tempos mais longínquos, reais atitudes tomadas sobre o tema demoraram em se consolidar na civilização atual.

Conforme Mendes (2010), em 1641 foi aprovado na Colônia da Baía de Massachusetts, o primeiro código legal que protegia os animais domésticos na América, proibindo tirania ou crueldade para com criaturas mantidas para uso humano, porém mantendo-se o ideal de que o homem tem poder sobre o animal. Em 1654, durante a República Puritana, houve proibição das brigas de galo, de cachorros e as touradas.

Jeremy Bentham, conhecido como o “pai” do utilitarismo, traz em pauta que a referência para tratamento de um ser deveria ser sua capacidade de sentir sofrimento, e não a de raciocínio, pois, se fosse considerada a racionalidade como critério, humanos, bebês e pessoas portadoras de deficiências também haveriam de ser tratadas como meros objetos, como propriedades humanas. Apesar dos muitos esforços para a defesa de que os animais são possuidores de direito e respeito, no século XVIII essas ideias ainda não eram aceitas e, muitas vezes, ridicularizadas.

O interesse na defesa dos animais tem início a partir do século XIX, quando idosos, necessitados, crianças e portadores de deficiência começavam a ser vistos como sujeitos de direitos, isso se estende também aos animais.

Neste mesmo século em que houve interesse no ideal de que não-humanos também eram detentores de direitos naturais, ou mesmo legais. O desenvolvimento na Inglaterra do conceito de direitos animais foi intensamente apoiado por Arthur

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Schopenhauer, quebrando o ideal de que o reino animal existe unicamente para o mero prazer e benefício humano.

Nazistas, no século XX, aprovaram uma série de leis de proteção animal na Alemanha. Foi considerada a primeira tentativa governamental de quebra da barreira das espécies, deixando de lado a visão que se resumia à pura distinção entre humanos e animais. Pouco tempo depois a lei de proteção animal foi aprovada por Adolf Hitler declarando que nenhuma crueldade contra os animais fosse permitida. Uma das informações que decorrem é que diversos líderes nazistas eram adeptos a formas de vegetarianismo, incluindo Adolf Hitler, que bania a carne de sua alimentação diária. Além da lei de proteção animal, havia também a proibição da caça, regulamentação do transporte de animais e restrição a vivissecção.

Após 1945, seguido da Segunda Guerra Mundial, houve um crescimento absurdo da demanda de produtos de origem animal, principalmente devido ao aceleramento da produção, que visava provocar o consumo e alimentar os países devastados no período pós-guerra. Em conjunto com o aumento populacional no século XX, houveram mudança nos hábitos alimentares da sociedade, elevando o consumo de carne pelos seres humanos.

Além do ocorrido, houve também uma mudança significativa na forma em que a carne era “produzida”, passando do sistema tradicional de pequenas fazendas ao industrial, onde existem mortes em grande escala de animais, buscando inclusive, novas formas de utilização animal, em pesquisas e testes.

Logo na década de 60, um grupo de intelectuais da Universidade de Oxford passou a defender que o crescimento do uso de animais como uma exploração era inaceitável. O psicólogo Richard Ryder, que passou a fazer parte do grupo, ficou incomodado com incidentes como pesquisador que testemunhou em laboratórios animais no Reino Unido e nos Estados Unidos, o que ele chamou de “erupção espontânea de pensamento e indignação”.

Ryder cunhou o termo “especismo”, em 1970, para descrever os interesses de seres com base na sua condição de membros de determinada espécie. Essa

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palavra criou um abrangente conceito dentro dos estudos sobre os direitos animais, em que atribui valores ou direitos diferenciados a seres baseado em sua espécie, no caso, a discriminação existente entre as mesmas, relacionando inclusive o especismo com o racismo e sexismo.

O livro que causou inquietação devido ao esclarecimento acerca do abuso constante de animais, lançado em 1975 por Peter Singer, inspirou movimentos que visavam abolir a experimentação com animais, cruel e desnecessária e, além disso, denunciar as práticas terríveis das unidades de criação intensiva. Seu livro “Libertação Animal” ficou conhecido como a bíblia do vegetarianismo, apelou à consciência, justiça e moral.

Singer (2008, p. 231) indaga ainda, afirmando que a resposta vem a ser de nossa compreensão individual:

Os animais são incapazes de exigir a sua própria libertação ou de protestar contra a sua condição através de votações, manifestações ou boicotes. Os seres humanos têm o poder de continuar a oprimir as outras espécies eternamente ou até tornarem este planeta impróprio para seres vivos. Continuará a nossa tirania, provando que a moral de nada vale quando entra em conflito com os interesses próprios, como sempre disseram os mais cínicos poetas e filósofos? Ou mostraremos estar à altura do desafio, provando a nossa capacidade de altruísmo genuíno ao pôr fim à exploração cruel das espécies que estão sob nosso domínio, não por sermos forçados a fazê-lo por rebeldes ou terroristas mas por reconhecermos que nossa posição é moralmente indefensável?

Houve um grande crescimento na área de direitos animais logo após a década de 70, tanto por parte governamental, quanto por parte da sociedade. Diversas pessoas em todos os lugares do planeta estão aderindo ao vegetarianismo como estilo de vida em razão de suas convicções e na busca por uma sociedade mais empática. Existem grandes expectativas para que o tema venha conquistar mais espaço e ganhar adesão.

1.3 A Declaração Universal dos Direitos dos Animais de 1978 e a evolução na legislação de proteção animal

Em decorrência da necessidade de dar voz aos Direitos dos Animais, em 27 de janeiro de 1978, em Bruxelas, foi assinada a Declaração Universal dos Direitos

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dos Animais, proclamando a respeito dos direitos de existência dos mesmos, tais como direito à vida, ao respeito e à proteção do homem.

O objetivo principal era dar um fim ao desrespeito e crueldade sofridos pelos animais, sendo um grande passo para com a luta. Não apenas animais domésticos, muitas vezes vistos com valores diferentes, mas também selvagens e silvestres.

Os direitos dos animais são debatidos há séculos e, apesar dos diversos esforços, ainda é cultural que se atribua valores inferiores aos animais não-humanos, por assim se dizer. Um grande avanço que podemos considerar é o texto constitucional sobre a temática.

No inciso VII do artigo 225 da Constituição Federal de 1988 foi determinado que ao Poder Público cabe “proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetem animais a crueldade”. Conforme Teixeira (2006, p. 115):

O ponto principal da vinculação do Poder Público e das entidades privadas ao direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado pode ser considerado a efetiva aplicabilidade e eficácia das normas constitucionais ambientais. Tal política decorre do dever fundamental do Poder Público e da faculdade dos particulares para defenderem o meio ambiente, preservando-o às gerações do presente e do futuro.

Ainda, conforme Rodrigues (2016, p. 109):

Assim, cuidou de proteger a fauna não apenas a partir de sua condição de microbem ambiental essencial na manutenção do equilíbrio ecológico (isso é, proteger sua função ecológica), mas também se preocupou expressamente com práticas que submetam os animais a crueldade.

É claro que o bem-estar dos animais nada tem a ver com a função ecológica por eles desempenhada. Ainda assim, porém, mereceu expressa proteção constitucional essa perspectiva, altamente alinhada com uma visão biocêntrica do meio ambiente, que respeita a vida em todas as suas formas.

O Supremo Tribunal Federal inclusive, vem se posicionando perante tal questão, privilegiando a proteção ambiental, se mostrando contrário às chamadas “rinhas de galo” e “farra do boi”, reiterando diversas vezes que determinadas

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manifestações culturais que submetem animais a crueldade, são inconstitucionais. Conforme decisão do STF, trazida por Rodrigues (2016, p. 110):

COSTUME – MANIFESTAÇÃO CULTURAL – ESTÍMULO –

RAZOABILIDADE – PRESERVAÇÃO DA FAUNA E DA FLORA – ANIMAIS – CRUELDADE. A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos culturais, incentivando a valorização e a difusão das manifestações, não prescinde da observância da norma do inciso VII do artigo 225 da Constituição Federal, no que veda prática que acabe por submeter os animais à crueldade. Procedimento discrepante da norma constitucional denominado ‘farra do boi’”.

Podemos notar uma disparidade entre os valores constitucionalmente protegidos, sejam eles, de um lado, o direito de livre manifestação cultural (artigo 225 da CF), e de outro, o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado e, ainda, a proibição de submeter os animais a crueldade (artigo 225, caput e § 1º, VII).

O Superior Tribunal de Justiça também contribuiu para entendimentos na questão, se manifestando em relação a festa do peão de boiadeiro e aos petrechos utilizados, adotando posicionamento segundo o qual não é possível aferir se a dor ou sofrimento físico suportado por animais é suficiente para impor que o sedém e os petrechos utilizados no evento devam ser vedados, que causam desconforto ou dor.

Rodrigues (2016, p. 111) ainda confirma:

A rigor, a solução do STJ, concessa maxima vênia, deveria ser diversa, pois, em caso de dúvida, especialmente probatória, presume-se o dano ao meio ambiente, aplicando-se a máxima in dubio pro ambiente. A crueldade contra o animal não deve ser exclusivamente enxergada sob a matiz antropocêntrica, como se fez no presente caso.

A temática está cada vez mais frequente em nosso Estado de Direito, que será ainda tratada no decorrer deste trabalho. Ainda é necessária conscientização e mudança cultural para que possamos adentrar nos mais diversos meios e colocar em prática a nossa lei, que em muitos lugares ainda é apenas teoria.

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2 ÉTICA E OS DIREITOS DOS ANIMAIS

Os animais estão presentes no mundo com suas próprias razões e não para servir os seres humanos. Consumimos uma variedade de espécies e usufruímos de seres sencientes sem a real consideração de que são merecedores de dignidade, respeito e consideração moral.

Pretende-se aqui entender a nossa formação ética, causando reflexão e debate acerca de como estamos convivendo para com os demais seres da natureza e a busca contínua pelo equilíbrio em nossa sociedade, agindo em prol dos interesses dos animais não-humanos, que, sendo seres que dispõe de status moral.

Quanto maior a compreensão ética de nossa condição como seres humanos maior é a nossa responsabilidade moral. Quando atingimos determinado nível de consciência a respeito do que nos é imposto, o que se espera á a ação de acordo com a consciência.

2.1 Sexismo, racismo e especismo

Uma questão que é de se espantar e fazer refletir é a respeito da análise do sexismo, racismo e especismo. Nota-se um padrão entre as três diferentes situações, não apenas gramatical: todas elas são fadadas como preconceito de determinada parte para com os considerados “inferiores” perante a sociedade, uma discriminação baseada em gênero, raça ou espécie.

O sexismo em si, presente na sociedade ainda no século XXI, é o ato de discriminação que reduz o indivíduo em razão de seu gênero ou orientação sexual. Uma de suas formas é a que associa a posição que o machismo determina para as mulheres, uma construção social imposta pelo sexo masculino, por serem, desde a pré-história, os provedores do lar, a sustentação.

O racismo, tal qual o sexismo, não passa de uma concepção imposta como verdade, trazido então pela Constituição Federal de 1988 como crime inafiançável e imprescritível. Consiste, assim, em discriminação com base em diferenças biológicas

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existentes entre os povos, tratando membros de diferentes raças de forma distinta. Não apenas essas duas formas de discriminação, mas muitas outras que conhecemos na sociedade, bastam para tentarmos compreender o que se passa no especismo, sendo importante a presente comparação para que haja melhor entendimento e compreensão.

O termo especismo foi criado em 1970 pelo psicólogo Richard Ryder, na função de estabelecer um paralelo entre nossas atitudes frente as das demais espécies. A forma de pensamento grego, romano e cristão é profundamente especista, onde excluí os animais da consideração moral, sendo o especismo uma forma de preconceito e discriminação entre espécies, mais comumente de animais humanos para com animais não-humanos. Em sua obra, Peter Singer (2008, p. 207) traz:

Efetivamente, é enorme a coincidência que existe entre líderes de movimentos contra a opressão dos negros e das mulheres e os líderes dos movimentos contra a crueldade para com os animais; esta coincidência é tão grande que fornece uma forma inesperada de confirmação do paralelismo que existe entre racismo, sexismo e especismo.

Com o passar dos anos, o homem construiu uma ideologia moral para a justificativa de ser o mais importante dentre os seres vivos e não-vivos. É necessário pesar os interesses dos demais seres, o que não é feito com frequência, sendo desconsiderados, afim de usufruir de seus recursos. Transformamos animais em comidas, roupas, artistas, meios de transporte, ferramentas, etc, tratados como meros objetos para realização de desejos e vontades, deixando de se observar que os mesmos possuem consciência de mundo, sendo seres sencientes, assim como os humanos.

Animais não devem ser utilizados como meios para atingir um fim. É de se reconhecer que em épocas remotas animais para caça eram a única forma de subsistência humana, sendo necessária, porém, aplicado aos dias de hoje, em que possuímos recursos e meios de adquirir nossa subsistência sem o uso animal, é egoísta que esta prática continue de forma desenfreada.

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Animais possuem uma complexidade psicológica e uma identidade, porém é necessário combater mais de dois mil anos do pensamento ocidental relativo aos animais, cuja história remete à Bíblia e aos gregos clássicos.

No entendimento de Singer (2008, p. 205):

Entre os fatores que dificultam o despontar da preocupação pública relativamente aos animais, talvez o mais difícil de ultrapassar seja o pressuposto de que “os seres humanos vêm em primeiro lugar” e que qualquer problema relativo a animais não pode ser comparado, enquanto questão moral ou política grave, com problemas dos seres humanos. Pode dizer-se muita coisa sobre este pressuposto. Em primeiro lugar, ele constitui, em si mesmo, um indicador de especismo. Como pode alguém que não efetuou uma análise séria da questão saber que o problema é menos grave do que os problemas do sofrimento humano? Só se pode afirmar que se sabe isto se se supuser que os animais não interessam verdadeiramente e portanto, por muito que eles sofram, o seu sofrimento é menos importante do que o sofrimento de um ser humano. Mas dor é dor, e a importância de evitar a inflicção de dor desnecessária não diminui só porque o ser que sofre não pertence à nossa espécie.

Temos a considerar ainda, além da discriminação entre animais humanos e não humanos, a relevante diferença de tratamento dentro do reino animal entre animais domésticos e os considerados para abate, em que ao invés de atitudes uniformes, existe contradição.

2.2 Animais domésticos, animais de consumo e o mito do bem-estar animal

Melanie Joy (2013) trouxe uma abordagem interessante e inovadora, causando reflexões em quem leu sua obra intitulada “Por que amamos cachorros, comemos porcos e vestimos vacas – Uma introdução ao carnismo”. Há uma lacuna enorme entre animais domésticos e animais criados para o abate, onde a regra aplicada para com o primeiro acaba não sendo considerada ao segundo, por se tratar de um produto destinado a satisfação do homem.

Melanie traz no primeiro capítulo de sua obra uma experiência a ser mentalizada pelo leitor. Se, em um jantar, a anfitriã traz um prato maravilhoso e, sendo questionada a receita, responde ser um Golden Retrivier (raça canina), causando um espanto e repulsa, mas logo em seguida o alívio em saber que na verdade era carne de vaca. Usamos uma distinção cultural, fruto de nosso

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aprendizado, de que comer determinados animais é normal, enquanto outros é repugnante. Qual o motivo dessa distinção?

O carnismo, como a autora chama os “comedores de carne”, faz a sociedade ignorar o fato de que a indústria da carne mata cerca de 10 bilhões de animais por ano, com exceção dos marinhos (nos Estados Unidos). Isso porque está enraizado em nossas famílias e em nossos pratos, sendo tratado de forma natural. Uma ideologia violenta e repulsiva, afinal, não se pode obter a carne sem que haja o abate. O que sustenta essa indústria é a invisibilidade do processo que transforma um ser em mero produto para consumo, assim como traz a autora: ”comemos animais sem pensar no que e por que estamos fazendo pelo fato de o sistema de crenças que está por trás desse comportamento ser invisível. Esse sistema de crenças invisível é o que chamo de carnismo. ”. (JOY, 2013, p. 31)

Acabamos por considerar um estilo de vida dominante como um reflexo para os valores universais, porém não passa de uma construção formada pelas gerações anteriores que se arrastou até nós, não sendo, necessariamente, normal e sim, questionável.

Uma das grandes problemáticas trazidas é o desconhecimento do processo de produção da carne, mostrando a invisibilidade do assunto. Só se conhece o pedaço de animal pronto para consumo, havendo a propagação de informações referente a animais criados com amor, livres e bem alimentados, as chamadas “vacas satisfeitas” e as “galinhas felizes”, uma distorção do que realmente acontece. A produção de carne, assim como de qualquer outro produto, gira em torno do objetivo de manufaturar seu produto ao custo mais baixo e com o maior lucro possível, sendo assim, são absurdas as condições em que os animais criados para o abate são submetidos. Não possuímos acesso as reais informações para que não as questionemos.

A produção da carne não só afeta os animais como também os envolvidos nesse processo. Os envolvidos a que me refiro são os trabalhadores dos frigoríficos, submetidos a péssimas e perigosas condições de trabalho, violando declaradamente os Direitos Humanos e os dos Consumidores. Há riscos para todos os envolvidos.

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Existem muitos mitos para justificar a ingestão da carne, por este motivo se torna de total importância o entendimento sobre como é o processo de produção e as condições em que são submetidos animais inocentes e dignos de direitos e respeito, a cultura em que estamos imersos e a forma como lidamos com isso.

Melany Joy (2013) traz em sua obra uma verdade indubitável, o bem-estar animal é uma barreira ao lucro da indústria da carne. É contraditório nos referirmos ao bem-estar animal quando sabemos que o destino do mesmo será o abate. Manter uma vida digna ao animal, proporcionando alimentação, cuidados e qualidade de vida é uma proposta de grande potencial, porém apenas temporária, sendo que estará sendo preparado para uma morte não natural.

O bem-estar animal refere-se à qualidade de vida de um animal, levando em consideração saúde, aspectos psicológicos e formas em que possa expressar sua natureza. Temos a ideia errônea de que atribuímos o bem-estar ao animal, mas como definido por Donald Broom (1991), o bem-estar é uma qualidade inerente a estes. O que se procura entender é, como pregar o bem-estar sendo que o animal em questão estará refém da indústria?

Prezamos por um bem-estar animal quando sabemos que a realidade em que vivem os animais criados para consumo, desde sua criação, até o transporte e abate. Embora a indústria da carne mantenha sua postura de confirmar que o abate é “humanitário”, devemos ter plena consciência de que o caminho que levou o animal até este momento foi repleto de sofrimento e angústia. Ainda resta muita discussão a respeito do assunto em questão, pois não há de se falar em bem-estar quando o destino é o abate.

2.3 Senciência e Princípio da Igual Consideração de Interesses Semelhantes

Animais são, de certa forma, excluídos da comunidade moral, havendo assim uma consequente ausência de amparo legal enquanto seres capazes de sentir. Francione (2013), apresenta como forma de inclusão dos animais em nossa comunidade moral, a então conhecida como senciência.

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A senciência é a capacidade dos seres de sentimentos de forma consciente, tais quais dor, agonia, medo ou ansiedade, sentimentos estes reconhecidos tendo a consciência de mundo ao seu redor, característica presente apenas em seres do reino animal. Ainda existe a discussão se a forma de sentir é a mesma para com humanos e animais, havendo ou não formas de percepções diferentes nos acontecimentos.

Há de se falar na abordagem utilitarista defendida por pensadores, tais quais Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873), como explica Lourenço (2008), que trazem o princípio de que as ações são boas quando nos propiciam a felicidade e más quando promovem o oposto a isso, sempre agindo de maneira a produzir a maior quantidade possível de bem-estar. O utilitarismo rejeita o egoísmo, sendo oposto ao ser que busca apenas seus próprios interesses, mesmo às custas de outros indivíduos, sendo assim, não há de ter uma justificativa moral para causar sofrimento a qualquer outro indivíduo se isso for desnecessário.

Conforme trata Felipe (2014, p. 250):

A capacidade de sentir dor e de sofrer tem sido, para os filósofos ingleses utilitaristas, desde o final do século XVIII, a linha divisória que distingue moralmente os seres vivos em espécies que devem ser incluídas no âmbito da consideração moral por sua capacidade de sentir dor e de sofrer e em outras espécies que, apesar de vivas, por serem destituídas de sensibilidade não entram na comunidade moral como pacientes morais, isto é, com direitos que obriguem os seres humanos, na condição de agentes morais, a deveres diretos. A sensibilidade à dor determina que os seres humanos considerem membros da comunidade moral, com interesses a serem respeitados, todos os seres capazes de ter a qualidade de vida ameaçada pela carência ou pela violência. Em relação a tais seres, os humanos têm deveres morais, entre os quais o dever de não causar ferimentos, danos, dor e morte, em outras palavras, o dever de respeitá-los em seus “interesses”.

Singer (2008), como utilitarista, partilha da convicção de que animais possuem status moral e que o mesmo exige reformas amplas de nossos costumes, sendo que as diferenças constatadas entre animais humanos e não humanos não justificam a maneira pelo qual os tratamos.

Uma temática interessante a ser abordada também é a respeito do Princípio da Igual Consideração de Interesses Semelhantes (PICIS), onde o enfoque principal

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seria de reconhecer que uma vida ética deverá ser vivida sendo considerado, além de interesses individuais, os interesses de todos os demais afetados por determinada situação. Traz Singer (2008, p. 16):

A aplicação do princípio de igualdade à inflicção de sofrimento, pelo menos em teoria, é bastante evidente. A dor e o sofrimento são maus em si mesmos, devendo ser evitados ou minimizados, independentemente da raça, do sexo ou da espécie que sofre. A dor é tanto mais má quanto maior for a sua intensidade e mais tempo durar, mas as dores que têm a mesma intensidade e duram o mesmo tempo são igualmente más, quer sejam sentidas por humanos quer o sejam por animais.

Temos Peter Singer como grande defensor do princípio, para fundamentar a igualdade entre os seres sencientes humanos e não humanos, havendo reflexões acerca de tal pensamento e suas implicações práticas.

Conforme ainda abordado por Singer (2008, p. 210):

Nunca fiz a afirmação absurda de que não existe uma diferença significativa entre seres humanos adultos normais e outros animais. O que pretendo dizer não é que os animais são capazes de agir moralmente, mas que o princípio moral da consideração igual de interesses se aplica a eles como se aplica aos humanos. Frequentemente é correto incluir na esfera da consideração igual de interesses seres que não são capazes de efetuar escolhas morais, como se vê pelo tratamento que damos às crianças pequenas e a outros humanos que, por uma ou outra razão, não possuem a capacidade mental para compreender a natureza da escolha moral. Como Bentham teria dito, o que interessa não é saber se eles podem escolher, mas saber se eles podem sofrer.

A senciência torna-se um pré-requisito para que se tenha interesses, afinal, afirmar que uma criatura tem interesses significa supor que a mesma tem consciência do que lhe acontece, assim como se importa, evitando sentir dor ou sofrimento. Conforme Singer, o princípio de igual consideração de interesses deve, então, ser aplicado tanto a humanos quanto animais, devendo ser abandonadas práticas que desconsiderem ou desvalorizem os interesses das partes.

Conforme já citado no presente trabalho, o bem-estar animal dentro das unidades de criação intensiva é um mito, mas ainda há um longo caminho a ser percorrido para que, de fato, possamos atingir a abolição da exploração animal de todas as suas formas, não significando que os mesmos seriam imediatamente

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devolvidos as suas condições naturais. Conforme segue a abordagem na obra de Singer (2008, p. 213):

De qualquer forma, a comparação entre as condições das unidades de criação intensiva e as condições naturais é completamente irrelevante para a justificação da necessidade de existência de tais unidades, uma vez que não é esta a escolha que somos chamados a fazer. A abolição das unidades de criação intensiva não significaria devolver ao meio natural os animais que se encontram no seu interior. Os animais que se encontram ali foram criados por seres humanos para crescerem nessas instalações e serem vendidos como comida. Se o boicote aos produtos de criação intensiva a que se faz apelo neste livro for eficaz, conseguir-se-á uma redução da procura destes produtos. Isso não significa que, da noite para o dia, se vá passar da situação atual para uma situação em que ninguém adquire os produtos.

Os seres humanos possuem a capacidade e o poder de protestar contra as atrocidades cometidas para com os animais não-humanos, demonstrando altruísmo genuíno e reconhecendo que tal posição é moralmente indefensável.

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3 IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS EM DECORRÊNCIA DA EXPLORAÇÃO ANIMAL E A EFETIVIDADE DA LEI DE CRIMES AMBIENTAIS

Os animais fazem parte do nosso sistema social, sendo plenamente merecedores de dignidade e direitos. O ser humano, com seu sentimento de superioridade e ideais antropocêntricos, possui atitudes profundamente enraizadas em seu modo de pensar que acabaram por se tornar verdade absoluta. O que se busca é uma reflexão acerca do homem em harmonia com os demais seres da natureza, trazendo argumentos que comprovem como a exploração dos mesmos para proveito humano acaba por prejudicar o meio ambiente em que vivemos e, por consequência, nosso bem-estar e qualidade de vida.

3.1 Impactos Ambientais

É necessária a compreensão da origem histórica para assim entender o que nos trouxe a atual situação. A nossa sociedade é formada por preconceito e discriminação, e o especismo, nada mais é que a combinação de ambos aplicada na totalidade dos seres vivos, no qual o homem se impôs como superior e no direito de explorar dos menos favorecidos.

A “produção” de animais causa efeitos massivos em nosso meio ambiente. Acabou por tornar-se o maior consumo de massa terrestre, sendo que aproximadamente 2/3 (dois terços) da terra utilizada pelos humanos é usada para os rebanhos, pastagens e forragens, consistindo em uma das principais causas de dano ambiental, entre eles a perda da biodiversidade, poluição, erosão, desmatamento e a emissão de gases que aumentam o efeito estufa.

É importante ressaltar que cada indivíduo possui impacto sobre o meio ambiente em que vive, desde o nascimento até a morte. Nossos atos irresponsáveis para com a natureza acabam por causar danos, e um dos fatos que é ignorado por grande parte da sociedade é a degradação ambiental decorrente da agropecuária e constante exploração de recursos.

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Atualmente possuímos em nossas mãos ferramentas incríveis e capazes de nos trazer as informações necessárias, sendo a ignorância não mais tolerada. Através de um documentário de fácil acesso, chamado Cowspiracy: O Segredo da Sustentabilidade, de Kip Andersen e Keegan Kuhn, é possível analisar denúncias referentes aos danos causados pela exploração animal ao nosso ambiente, que são alarmantes e aterrorizantes.

Temos que, enquanto a população humana, que seria de aproximadamente 7 bilhões de pessoas, bebe em média 20 bilhões de litros de água e consome 10 bilhões de quilos de alimentos, os 1,5 bilhão de vacas no mundo bebem 170 bilhões de litros de água e consomem 61 bilhões de quilos de alimentos todos os dias, sendo as mesmas “produzidas” para o consumo humano, ou seja, é basicamente um problema criado pelos consumidores de carne. Enquanto isso, há cerca de 1 bilhão de pessoas em situações drásticas de desnutrição. Cerca de 50% dos grãos plantados são utilizados na alimentação dos animais criados para abate, pensando nesta linha, uma dieta baseada em vegetais acaba por ser a forma mais sustentável.

Através de informações obtidas no documentário citado e em dados da Organização das Nações Unidas (ONU), é possível identificar que a pecuária possui emissões de gases superiores a todo o setor de transportes (carros, caminhões, navios, trens e aviões). Estas emissões ocorrem devido a devastação necessária para o espaço de pastagem, cultivo de grãos para alimentar os animais criados para o abate, gastos exagerados de água para a produção e emissão de metano pelos animais.

Conforme dados do Worldwatch Institute, apresentados por Chiapetta (2016), a pecuária e seus subprodutos são responsáveis por aproximadamente 32,6 bilhões de toneladas de dióxido de carbono anualmente, ou seja, 51% de todas as emissões de gases de efeito estufa do mundo. Além do dióxido de carbono, outro gás extremamente poluente, podemos observar também a emissão do óxido nitroso, no qual a pecuária é responsável por 65% de todas as emissões humanas relacionadas com o mesmo.

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Importante ressaltar também que o metano expelido nos gases dos ruminantes possui mais impacto na mudança climática do que podemos imaginar, com um potencial de aquecimento global 86 vezes superior ao do dióxido de carbono, em um prazo de 20 anos, conforme indicam pesquisas.

Além das emissões provocadas pelo sistema digestivo dos animais (metano e óxido nitroso emitidos pelas fezes), existem as emissões de dióxido de carbono nas diferentes fases da produção de carne, da queimada para geração de pastos até o consumo. Os impactos para com o planeta no decorrer dos anos tornam-se alarmantes.

Desfocando da questão da emissão de gases causados em função da exploração animal, podemos analisar também o elevado consumo de água em razão de plantas cultivadas para alimentação animal de animais exclusivamente para o abate. Grandes florestas, como o exemplo da floresta amazônica, estão sendo destruídas a cada minuto, literalmente, em vantagem da indústria agropecuária. A exploração agrícola acaba por gerar muitos resíduos que produzem toneladas de excrementos descartados na água, na maioria das vezes, acabando por gerar a contaminação da mesma.

É de conhecimento geral que a agropecuária necessita de muitos recursos, entre eles, o de manter a alimentação dos animais para o abate, que é imensa. Enquanto lidamos com a fome em todos os cantos do mundo, lidamos também com o excesso de grãos produzidos para alimentação do gado, por exemplo, além das inúmeras formas que prejudica nosso meio. Como traz Chiapetta (2016):

A indústria agropecuária reflete diretamente as contradições do capitalismo e seus abismos sociais. Alimentos que poderiam retirar milhões de pessoas da fome são utilizados para alimentar gado. Gado que é consumido em excesso e, segundo muitas visões, sem necessidade fisiológica. Dentre os muitos impactos ambientais da pecuária, ela também se encontra como a principal causa da extinção de espécies, zonas mortas nos oceanos, poluição da água e destruição de habitats. Ela contribui para a extinção de espécies de muitas maneiras. Além da destruição do habitat causado pelo desmatamento de florestas e conversão da terra para o cultivo de alimentos para animais e para o pastejo dos animais, predadores e espécies de "concorrência" são caçados por causa de uma ameaça ao gado e aos lucros que eles proporcionam. O uso disseminado de pesticidas, herbicidas e fertilizantes químicos utilizados na produção de culturas para alimentação animal interfere nos sistemas de reprodução dos animais e na saúde do

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consumidor final. A exploração excessiva de espécies selvagens por meio da pesca comercial, do comércio da carne de caça, bem como o impacto da pecuária sobre as alterações climáticas... todos contribuem para o esgotamento global das espécies e recursos.

Ou seja, novamente, mero egoísmo humano. Apenas para uma apreciação superficial, podemos analisar as informações obtidas através de matéria publicada no Center for Science in the Public Interest1, (apud JOY, p. 85):

Os custos ambientais da carne:

– As Nações Unidas apontaram o setor dos frigoríficos como “um dos dois ou três principais responsáveis pelos mais sérios problemas ambientais, em todos os níveis, da escala local à global. O impacto é tão significativo”, eles advertem, “que precisa ser enfrentado com urgência”.

– A pecuária é provavelmente a maior fonte de poluição de água do mundo. As principais fontes de poluição vêm dos antibióticos e hormônios, das substâncias químicas dos cortumes, dos resíduos animais, dos sedimentos dos pastos erodidos, dos fertilizantes e pesticidas usados na produção de alimentos.

– Setenta por cento das terras anteriormente cobertas de florestas na Amazônia são agora pastagens para alimentação do gado.

– O agronegócio causa 55% da erosão e dos sedimentos produzidos nos Estados Unidos. Além disso, 37% de todos os pesticidas e 50% de todos os antibióticos utilizados nesse país são usados pela indústria pecuarista. – Trinta por cento da superfície terrestre do planeta agora é usada para pastagens era antigamente habitat para a vida selvagem.

– Sessenta a setenta por cento da captura de peixes do mundo é feita para alimentar o gado.

– Estima-se que o uso de antibióticos nos confinamentos adicione 1,5 bilhão por ano aos custos da saúde pública.

– São necessários 900 quilos de grãos para produzir carne e outros produtos de origem animal em quantidade suficiente para alimentar uma pessoa durante um ano. Contudo, se essa pessoa consumisse o grão diretamente, não através de produtos de origem animal, seriam necessários apenas 180 quilos desse alimento.

– O metano produzido pelo gado e seu esterco tem um efeito sobre o aquecimento global equivalente ao de 33 milhões de automóveis.

– Gases de efeito estufa produzidos pelo gado constituem 37% de todo o metano, 65% do óxido nitroso e 64% da amônia na atmosfera.

Como observado acima, estamos destruindo e poluindo nosso ambiente, sem levar em conta as consequências e o planeta que estaremos deixando para as futuras gerações.

3.2 Lei 9.605/1998 e suas disposições

Foi criada em 12 de fevereiro de 1998 uma das mais importantes legislações de área ambiental, a Lei de Crimes Ambientais – LCA (Lei 9.605/1998), trazida por

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Tagore (2014, p. 166) como a lei que buscou unificar os delitos ambientais e as infrações administrativas em um único documento. Já citada anteriormente, a lei dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.

Antes de adentrarmos na referida lei, há de se reconhecer o longo caminho percorrido para que o assunto em questão fosse levado em consideração. A primeira legislação que visou proteger os animais, em âmbito federal, foi o Decreto nº 16.590 de 1924, que regulamentava as chamadas Diversões Públicas, havendo assim amparo para corrida de touros, garraios e novilhos, além de outras formas.

Logo adiante, o reconhecimento da proibição de maus-tratos contra animais ao ser promulgado o Decreto-Lei nº 24.645, no qual estavam estabelecidas medidas de proteção animal, tanto na esfera civil quanto penal. A crueldade contra os animis passou a ser considerada Contravenção Penal em 1941, inclusa na Lei Federal nº 3.688.

A Política Nacional do Meio Ambiente definiu acerca do que seria o meio ambiente e seus recursos ambientais, além de disciplinar acerca da ação governamental e as responsabilidades civil e administrativa em decorrência aos danos à natureza, presente então a Lei nº 6.938/81, instrumento este utilizado pelo Ministério Público em defesa da fauna.

Um grande marco ocorrido na legislação brasileira que demonstrou de fato o interesse do Poder legislativo face aos direitos dos animais ocorreu em 1988, ao passar a caracterizar crimes inafiançáveis os atentados aos animais silvestres nativos, com a efetiva alteração dos artigos 27 e 28 da Lei Federal nº 5.197/1967.

Devido insatisfação para com o fato de os maus-tratos aos animais se tratarem apenas de contravenção penal e não um crime em si, houveram mudanças significativas, que resultaram na inclusão da proteção animal na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 225.

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Seguindo a ordem cronológica, há de se falar então na LCA, onde temos o seguinte:

Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:

Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.

§ 2º A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal. (BRASIL, 2012)

É de conhecimento geral que praticar atos de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos é um crime contra o meio ambiente, mais especificamente, contra a fauna, sendo penalizado conforme o descrito acima, porém torna-se contraditório o fato de mantermos a indústria da carne, onde animais sofrem constantemente em seu curto período de vida, tornando-se justificável em razão de mera satisfação humana. Como podemos analisar a forma em que a mesma lei traz a seguir:

Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado:

I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família;

II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade competente;

III - (VETADO)

IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente. (BRASIL, 2012)

Animais são dados para o abate diariamente sem se considerar seus interesses ou garantir seus direitos. Como podemos analisar os incisos do artigo 37 da LCA, não se considera crime quando o abate é realizado em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família, sendo que a grande produção da indústria da carne não satisfaz casos em estado de necessidade e sim mero capricho humano, prova disso é o fato de que em nossa população de aproximadamente 6,5 bilhões de pessoas, que necessita, em média 6 quadrilhões de calorias por ano para viver, possui uma produção mundial de grãos de 1,86 bilhões de toneladas por ano, ou seja, cerca de 7,5 quadrilhões de calorias, havendo assim, sobra das mesmas, conforme dados obtidos pela Sociedade Vegetariana Brasileira. O que acontece, como já descrito anteriormente, é a falta de distribuição,

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considerando a grande quantidade de grãos destinados, justamente, aos animais para o abate.

No inciso segundo, analisamos o fato de não se considerar crime o abate para proteção de lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que legal e expressamente autorizado por autoridade competente e por fim, não sendo considerado crime o abate por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente. Com relação ao descrito acima, resta esperar uma avaliação real e consciente com relação a autoridade competente para que mais atrocidades não sejam cometidas para com seres inocentes e sem reais possibilidades de defesa para com as armas humanas.

A exploração constante de animais impacta nosso ambiente de forma extremamente negativa e vai de encontro ao que está previsto no arcabouço jurídico brasileiro. Não há de se negar o avanço no âmbito das leis que protegem os direitos dos animais, porém ainda há um longo caminho a ser percorrido, principalmente na constatação de que as penas aplicadas a tais crimes são, de certa forma, insignificantes, o que compromete a sua real efetividade.

3.3 Eficiência, eficácia e efetividade

Em se tratando da aplicação da lei, o que se espera de fato é que ela seja eficiente, eficaz e efetiva. Buscamos amparo legal com a finalidade de resolução de conflitos em sociedade de acordo com os princípios da mesma, mas nem sempre obtivemos o resultado esperado.

Eficiência, eficácia e efetividade podem ser tratados como sinônimos, mas existe uma pequena diferença entre os termos. Temos por eficiência a ideia de aproveitamento, com a melhor utilização dos recursos disponíveis, enquanto a eficácia se preocupa com os objetivos a serem atingidos, ou seja, podemos considerar que enquanto a eficiência se preocupa com os meios, a eficácia tem o foco centrado nos fins. Sempre temos como ideal algo que seja igualmente eficiente e eficaz, porém nem sempre este resultado é obtido. Uma lei é eficaz quando cumprida a sua função social.

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Temos por efetividade, então, um conceito mais amplo, tendo como foco a averiguação de resultados que atinjam os objetivos traçados, utilizando, para isso, dos recursos disponíveis, sendo eficiente e eficaz ao mesmo tempo.

Deve-se colocar em prática os conceitos acima citados na aplicação da lei, tendo dito isso, o que se espera é um resultado utópico de que as leis possuam tamanha efetividade e atinjam os resultados esperados.

Um dos problemas enfrentados atualmente em nossa sociedade é o grande número de crimes ambientais que vêm ocorrendo, em especial aqueles relacionados a proteção animal, o que muito acontece é que, estes citados, tornam-se mais frequentes e menos puníveis.

Embora a Lei 9.605/1998 seja clara em sua abordagem e um grande avanço no quesito da preservação ambiental, criada com o objetivo de criminalizar condutas nocivas ao meio ambiente, existem muitas divergências na aplicação das penas e sua efetividade, direito contido na Constituição Federal. A função do Estado na proteção dos animais, infelizmente, não tem sido plenamente eficaz.

Os crimes e sanções devem ser estabelecidos conforme legislação, assim como confirma a Constituição Federal, em seu art. 5º, XXXIX, que não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal, conceituando também, conforme já citado anteriormente, em seu art. 225, caput, a respeito do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Ao tomar como referência a Lei 9.605/98, no que concerne às sanções penais, houve uma significante preocupação no quesito de adaptar-se às diretrizes traçadas pela política criminal e ambiental aplicadas no país, tratando de formas alternativas de sanção ao condenado, para que, apenas em último caso, seja imposto o encarceramento, dando ênfase na busca pela prevenção. Deve-se assim ocorrer sempre uma avaliação acerca das circunstâncias do caso concreto e efetiva periculosidade da situação, existindo assim a repressão às infrações penais ambientais, no caso, com penas privativas de liberdade, restritivas de direito e multa.

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O que se observa com nitidez é que, em sua maioria, as penas cominadas aos crimes da Lei 9.605/98 não ultrapassam 4 (quatro) anos, tendo a possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade em praticamente todos os casos. A referida lei torna-se ineficiente e precária, havendo uma burocracia excessiva e morosidade no processo, tendo a criminalização das condutas ambientais um padrão adequado à realidade brasileira, país de grande território e frágil fiscalização ambiental.

Na referida lei está previsto, por exemplo, em seu artigo 32, já citado anteriormente, os maus-tratos de animais, em que, para o infrator, imputa multa ou pena de três meses a um ano de prisão. Para que se proceda, basta que seja realizada denúncia para os órgãos competentes, no caso: Delegacia do Meio Ambiente, Ibama, Polícia Florestal, Ministério Público, Promotoria de Justiça do Meio Ambiente e Corregedoria da Polícia Civil. Além dos órgãos competentes, podemos contar com o apoio de diversas ONGs e grupos, tais como a Sociedade Vegana, a Frente de Ações pela Libertação Animal (FALA), o Instituto Abolicionista Animal (IAA), entre outros. A questão colocada em pauta é se tal sanção é efetiva para que o crime não venha a ocorrer novamente.

Levai (2004, p. 35) faz uma análise as penas impostas, onde traz que:

Apesar desse avanço legislativo, o problema referente à dosagem de pena – muito favorável ao infrator – continua o mesmo. Aquele que incorre em delito contra a fauna, embora teoricamente sujeito à prisão e multa, costuma ter a reprimenda substituída por medida restritiva de direitos ou prestação de serviços à coletividade. Isso é fruto da política criminal da despenalização, uma tendência crescente no sistema penal brasileiro. Caso que gerou comoção no Rio Grande do Sul, conhecido como “caso da Cadela Preta”, é um exemplo em se tratando das penalidades impostas em crimes contra animais. Tal fato ocorreu em 9 de março de 2005, dia em que 3 jovens universitários amarraram uma cadela, que estava prenha, no para-choque de um carro e a arrastaram por aproximadamente 5 quadras. No dia seguinte, moradores da rua em questão encontraram o corpo dela despedaçado junto aos filhotes.

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Dentre os 3 acusados, o que recebeu a maior pena, já com antecedentes criminais, foi condenado a apenas um ano de detenção em regime aberto no Presídio Regional da cidade em que ocorreu o fato, além do pagamento de multa. Os outros 2 estudantes aceitaram a transação penal com o Ministério Público e cumpriram um ano de trabalhos comunitários em instituições com ligação ao meio ambiente, além de multa aplicada individualmente, de R$ 5.000,00 ao canil municipal. Por fim, em 2010, o dono do carro foi condenado ao pagamento de indenização de R$ 6.035,04 por danos morais coletivos.

O fato narrado trata-se de uma barbárie, como referido pelo desembargador Arminio José Abreu Lima da Rosa, o relator do processo, um crime que ofende os sentimentos de compaixão e piedade, mas que ainda assim, possui penas brandas.

Baseando-se no contexto apresentado conclui-se facilmente que é de extrema necessidade que as leis se adequem a criminalidade exposta, tratando tais crimes com maior rigidez e garantindo assim a sua eficiência, eficácia e efetividade, além de assegurar a aplicação da justiça ambiental, prevenindo nosso ambiente de futuros danos e garantindo um meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações.

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CONCLUSÃO

A presente pesquisa foi iniciada, no primeiro capítulo, com um entendimento histórico e cultural que buscou, principalmente, entender como foi construída moralmente a sociedade em que vivemos e nossa relação para com os demais seres presentes na natureza. Logo, no segundo capítulo, uma análise ética e moral sobre como estamos convivendo com os nossos semelhantes para que houvesse assim a compreensão de nossas relações e o mundo que estamos deixando para as futuras gerações. E, por fim, no terceiro capítulo, buscou-se compreender como o uso dos animais como propriedade prejudica nosso ambiente, além de analisar a Lei de Crimes Ambientais e sua real efetividade, o que, claramente, não vem trazendo o resultado esperado.

A diferença está na cultura enraizada e aplicada desde os primórdios, no moralmente aceito ou não. A aceitação cultural não significa, necessariamente, que tal prática é correta. Quando se trata de outro ser humano, tendemos a ter empatia devido a identificação com o próximo, e é isso que nos falta perante os demais seres vivos, nos identificarmos como seres que somos. Seres capazes de sentir e expressar.

É complexo tratar da questão em tela devido ao fato de ainda ser considerada como normal e natural. Ao defendermos que o abatimento de animais deve ser de forma diversa da atual, existe um reconhecimento de que determinados animais nasceram para servir de consumo e que possuem uma forma correta de abatê-los, uma ideia errônea, admitindo que o animal não possui direitos.

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O que é intrigante, é a diferença de tratamento entre animais domésticos e animais para o abate. O que diferencia aquele digno de amor e cuidados daquele que será servido na próxima refeição é uma questão que fica em aberto. O que nos falta é um espirito de humanização, pois de nada adianta debatermos a respeito dos direitos dos animais em um país que encontra dificuldades em respeitar o próprio ser humano, que tolera a desigualdade, racismo, preconceito e homofobia, dentre tantas outras coisas.

Se o homem passar a analisar suas próprias atitudes perante os demais, e dentro delas, buscar a igualdade, simultaneamente passará a reconhecer que o animal é como um de nós, porém ainda desprotegido e desvalorizado. O que se espera após a resolução do presente trabalho é que se abram portas para o debate, principalmente dentro da universidade, local no qual se formam mentes pensantes e aptas para mudanças que, de fato, não serão imediatas, mas um processo que se inicia em cada indivíduo e assim faz a diferença.

O sentimento de empatia e identificação não é recebido da mesma forma para com todos, cada indivíduo é culturalmente diferente, criado de maneira diversa, formado e estruturado conforme o local onde nasceu, a família e ambientes. Não podemos exigir que todos tenham o mesmo foco e pensamento, mas precisamos assumir uma posição e lutar frente as atrocidades cometidas diariamente, conscientizando cada vez mais pessoas.

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