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S EGUNDA E TAPA : S UJEITOS , I NSTRUMENTO E P ROCEDIMENTOS D E A NÁLISE D OS D ADOS

CAPÍTULO 3 3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.4 S EGUNDA E TAPA : S UJEITOS , I NSTRUMENTO E P ROCEDIMENTOS D E A NÁLISE D OS D ADOS

Após a primeira etapa, foram selecionadas as equipes de saúde da família que possuíam maior regularidade e estrutura na realização dos grupos de educação em saúde. Os critérios utilizados para esta definição foram: diversidade de categorias profissionais envolvidas, reuniões sistemáticas, maior diversidade de atividades desenvolvidas, temas diversificados e participação ativa dos usuários. As equipes selecionadas foram as duas que pertenciam à UBS 3.

Feita a seleção, foi realizada, em conjunto com os enfermeiros das equipes, a indicação de usuários para a participação na entrevista. Durante a seleção, foram respeitados os seguintes critérios de inclusão: participar do grupo há pelo menos um

ano e ter capacidade cognitiva para responder às questões. O processo de seleção dos usuários resultou em 30 sujeitos, contudo nem todos foram entrevistados, uma vez que se utilizou o critério de saturação de respostas para a finalização das entrevistas, resultando em 17 entrevistados. A amostragem ocorreu de forma intencional (THIOLLENT, 2004).

Gaskell (2004) afirma que na pesquisa qualitativa o propósito não é contar pessoas e suas opiniões, mas a diversidade de informações sobre um assunto. Sendo assim, a realização de mais entrevistas não é garantia de melhor qualidade e de uma compreensão mais apurada sobre determinado fenômeno. Isso porque, segundo o mesmo autor, existe um número limitado de opiniões acerca da realidade, uma vez que as representações não surgem exclusivamente dos indivíduos; essas são também produtos de processos sociais.

A entrevista foi realizada pela autora da pesquisa com o auxílio de um roteiro de entrevista semiestruturado, contendo variáveis de caracterização (sexo, idade, estado civil, escolaridade, doença e tempo de participação no grupo) e cinco questões geradoras de discurso:

1. O que fez você participar do grupo de educação em saúde?

2. Que atividades e assuntos são apresentados no grupo de educação em saúde?

3. Quais mudanças ocorreram em sua vida a partir do momento que começou a frequentar o grupo de educação em saúde?

4. Você acha que as atividades poderiam ser realizadas de forma diferente? Como?

5. O que significa para você participar do grupo de educação em saúde?

Durante a elaboração das questões, foram seguidas as orientações de Martins e Bicudo (2005), evitando palavras contendo juízo de valor, tais como: bom, ruim, gosta mais, gosta menos.

A entrevista é o procedimento mais usual do trabalho de campo. Nela as palavras são o meio principal de troca (GASKELL, 2004). Para Martins e Bicudo (2005) e Haguette (2003), a entrevista é um momento de interação social entre dois sujeitos. Por meio dela, o pesquisador busca obter informações a respeito de um determinado assunto, contidas na fala dos sujeitos de pesquisa (MINAYO et al, 2000). A entrevista não é um processo de informação de mão única, mas, ao contrário, trata- se de um momento de troca de ideias e de significados, em que tanto o entrevistado como o entrevistador estão, de maneiras diferentes, envolvidos na produção de conhecimento (GASKELL, 2004). Nesse sentido, Schraiber (1995) afirma que a entrevista, além de permitir ao pesquisador conhecer o outro, isto é, explorar uma temática a partir do olhar do outro, permite também ao pesquisado se conhecer.

Minayo (1996) salienta que a entrevista é um instrumento privilegiado de coleta de dados, pela possibilidade de a fala revelar condições estruturais, sistemas de valores, crenças, maneira de pensar, opiniões e por transmitir as representações dos grupos determinados em condições históricas, socioeconômicas e culturais específicas.

Neste estudo, foram utilizadas algumas diretrizes para a realização das entrevistas e estas são descritas por Sousa (1998). A primeira consistiu no contato inicial para conhecer o entrevistado, bem como o local da entrevista. Nesta fase, foram explicados ao participante o objetivo da pesquisa, a liberdade para interromper a entrevista e sobre o caráter sigiloso de suas informações. A segunda fase correspondeu à coleta dos dados de identificação (nome, endereço, sexo, idade, entre outros). E, a terceira, às regras que determinam o procedimento do entrevistador na condução da pesquisa, tais como: ouvir o entrevistado, respeitar os momentos de silêncio, não discutir com o entrevistado e manter um ambiente de respeito e cordialidade.

As entrevistas foram realizadas no domicílio dos usuários no período de janeiro a fevereiro de 2011, tendo o cuidado para selecionar um local com o mínimo de ruídos externos que pudessem prejudicar o entendimento posterior durante a

transcrição. As entrevistas foram gravadas com um aparelho específico para gravação de áudio e transcritas na íntegra.

Segundo Gill (2004), a transcrição não pode sintetizar as falas, ela deve ser realizada de forma literal, preservando todas as características possíveis. Foi realizada a correção ortográfica na fala dos participantes para proteção dos mesmos.

Após o processo de transcrição, foram atribuídos códigos nas falas dos usuários para a manutenção do sigilo. Utilizou-se a letra U (Usuários), numerada conforme a ordem de realização das entrevistas.

Foi utilizado o método de análise de discurso proposto por Martins e Bicudo (2005), que abrange dois momentos: O primeiro consistiu na análise individual ou ideográfica. Neste, foram realizadas leituras das descrições, ou seja, dos discursos dos entrevistados, sem buscar ainda qualquer interpretação. O objetivo dessas leituras é fazer com que o pesquisador se aproprie do conteúdo dos discursos. Nesse momento, é fundamental que o pesquisador situe diante de si o fenômeno que está sendo estudado e que tente se colocar no lugar do sujeito a fim de viver a experiência. Para Martins e Bicudo (2005, p.95), o pesquisador não deve ser “[...] um mero espectador, mas alguém que procura chegar aos significados atribuídos vivencialmente”. Para tanto, é preciso que conceitos preconcebidos e idealizações do pesquisador não influenciem no momento de análise.

Após as leituras, foram discriminadas as unidades de significado. As unidades de significado são palavras ou frases que possuem algum sentido na perspectiva do fenômeno em questão. Elas não estão prontas no texto; na verdade, são percebidas pela atitude, disposição e interrogações do pesquisador. Assim, é possível que diferentes pesquisadores identifiquem diferentes unidades de significado.

Depois de identificadas, elas foram interpretadas, isto é, as expressões cotidianas do sujeito foram transformadas em uma linguagem mais clara e compreensiva a fim de tornar evidente o sentido transmitido. Ainda neste momento,

são feitas as convergências das unidades de significados dentro do discurso de cada entrevistado.

No segundo momento, foi feita a análise geral ou nomotética, que consiste na compreensão e articulação dos diversos casos individuais, como exemplos particulares, em algo mais geral. Nesta etapa ocorreu a releitura das entrevistas; em seguida, tomando as unidades de significados interpretadas dos discursos individuais, foram realizadas aproximações e as convergências e divergências presentes. Esta aproximação, buscando as evidências entre as unidades de significado, possibilitou a construção de categorias que configuram a estrutura do fenômeno estudado.