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Eixo Temático do Programa Bolsa Família: Visão de política social:

1 A MÍDIA E A RELAÇÃO COM A POLÍTICA

5.5 Eixo Temático do Programa Bolsa Família: Visão de política social:

Quando o enquadramento predominante é o Programa Bolsa Família, percebe-se a ênfase na visão de um programa “assistencialista” que não muda a situação de pobreza das famílias, ou ainda, permanece a idéia do programa como um “aliado” de Lula na conquista de votos para vencer as eleições. Alguns textos revelam preocupação com o cumprimento das condicionalidades (Folha de São Paulo) e outros com seus limites para mudar estruturalmente a vida das famílias em maior dificuldade (O Globo). Outros enquadramentos revelam uma preocupação com os “gastos” públicos (O Estado de São Paulo). A análise desses enquadramentos permite identificar que em um contexto fora do embate eleitoral e sem a agenda do estudo sobre a diminuição da pobreza os jornais abordam o Programa Bolsa Família com enquadramentos diversos.

Na Folha de São Paulo, encontra-se uma (1) reportagem publicada no dia 17 de outubro de 2006 (GOIS, 2006, p. C1) que trata sobre o mérito do programa. Nesse texto, baseado em estudo dos dados da PNAD 2005, reportagem mostra que “os filhos das famílias beneficiadas têm um índice de freqüência escolar maior do que as famílias que não têm o beneficio”. Porém, a partir dos 14 anos o percentual de evasão dobra com relação à média dos 7 a 13 anos, revelando a dificuldade de manter os jovens na escola a partir dos 13 anos. Essa reportagem é a única no período das eleições em que as condicionalidades do programa são analisadas (manutenção dos filhos na escola) pela Folha. Não há no texto enquadramento depreciativo em relação a outras políticas sociais (educação e saúde) nem ao próprio programa.

Praticamente no final do processo eleitoral, o jornal Folha de São Paulo abre sua página de “Tendências e Debates” para a discussão sobre o Bolsa Família. O jornal publica dois artigos, um a favor e outro contra, para responder a pergunta: "O Programa Bolsa Família é um programa assistencialista?" (PESARO, e CAMARGO, 2006, A3) Um dos articulistas é Floriano Pesaro (ex-secretário do Bolsa-Escola no governo FHC) que responde à pergunta ("É preciso superar os limites") mantendo o enquadramento na idéia de que o programa é uma “continuidade de 11 anos de programas de transferência de renda", mas deve-se "aceitar os limites dos programas amparados só da distribuição de dinheiro e na cobrança de contrapartidas". Para contrapor, José Márcio Camargo, professor do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), ("Um investimento no futuro") defende que o Programa Bolsa Família "é um programa de investimento nas crianças das famílias pobres" e tem como objetivo investir no futuro. Este é o único momento em que o tema recebe espaço para o debate sobre o mérito do programa. Conforme já visto anteriormente, outros artigos foram publicados sobre o assunto, mas seu enquadramento estava sempre focado na disputa eleitoral.

Ao tratar como enquadramento predominante o Bolsa Família, o Jornal Valor Econômico dedica seu espaço de opinião para reflexões sobre a eficácia do programa. Dos oito (8) registros nesse enquadramento (25% das abordagens identificadas no Jornal Valor Econômico), em três (dois artigos assinados e uma reportagem) percebe-se que, embora o programa não receba um enquadramento de política social estruturante, sua importância para chegar até as camadas mais desassistidas é o principal destaque para o jornal. Há o mesmo enquadramento positivo, como já referido em outros jornais, para a idéia de continuidade dos programas vindos do período FHC. O principal argumento é que só assim será possível aprimorar as ações, como acontece com o Bolsa Família, agora, no período do governo Lula.

Mais preocupado para os gastos públicos, o Estado de São Paulo inicialmente trata o Programa Bolsa Família dentro deste enquadramento. Na edição de 5 de setembro de 2006 (OLIVEIRA, 2006, p. A6), o jornal informa que o Programa Bolsa Família sofrerá uma “desaceleração” nas verbas destinadas ao

programa, em comparação com o Produto Interno Bruto (PIB). Um registro pequeno afirma que as verbas previstas para o Programa Bolsa Família em 2007 “não cobrirá sequer a inflação estimada para o período (3,6% para uma previsão de 4,5% de IPCA)”. O jornal também afirma que a meta de atendimento permanecerá nas 11,1 milhões de famílias. “O maior crescimento do Programa Bolsa Família ocorreu agora, em ano de eleições gerais”, registra o texto. O tema econômico, o orçamento da União e as melhorias das contas públicas permaneceram como enquadramento central para o tratamento do programa.

O enquadramento do Programa Bolsa Família como “assistencialista” teve espaço no Estado de São Paulo a partir da premiação de prêmio Nobel da Paz ao economista indiano que criou o banco de crédito para as famílias pobres. É nesse contexto que o jornal compara os resultados do Programa Bolsa Família sem aprofundar os fundamentos de um programa emergencial, com o de microcrédito. Na edição de 14 de outubro de 2006, há uma ampla reportagem sobre o prêmio Nobel. Em uma segunda matéria, de página inteira, o enquadramento compara os modelos indiano e brasileiro demonstrando a opinião do jornal no título: “O recado: não é caridade que elimina a pobreza” (SHADER, 2006, p. A140. A linha central de abordagem é o “sinal político” dado pelo comitê do prêmio Nobel de que “o combate eficiente [à pobreza] não se dá por meio de assistencialismo ou doações, mas de geração de produtividade, incorporação dos excluídos à economia e criação de postos de trabalho”, o texto não cita o Bolsa Família. Mas a indicação do título com a referência ao “recado”, não deixa dúvida do enquadramento.

A perspectiva “assistencialista” e os desafios do programa para o próximo governo é retratada na edição de 22 de outubro de 2006 (DANTAS, 2006, p. A9). Nessa matéria, fica clara a idéia de que “reforçar o caráter estrutural” do programa significa optar entre a obrigatoriedade de freqüência à escola ou “manter como está, com uma cobrança muito leve e incompleta das contrapartidas”. A última abordagem encontrada sobre o tema Programa Bolsa Família no O Estado de S.Paulo, no período analisado, não deixa de ser uma ironia: a reportagem informa que a prefeitura de Nova Iorque vai adotar um programa de assistência inspirado no Programa Bolsa Família (REEL, 30 de outubro de 2006, p. H10).

Apesar de concentrar seu enquadramento no âmbito da cobertura eleitoral, o Globo apresenta um enquadramento ao Programa Bolsa Família enquanto política social que procura revelar os limites do programa. Na edição de 26 de outubro de 2006 o jornal apresenta dados quantitativos que mostram que 69% dos beneficiários economicamente ativos que participam de programas de transferência de renda trabalham, sendo que 15% desses têm emprego formal. Ou seja, a matéria reconhece a importância de programas para diminuir a desigualdade, mas afirma que não são suficientes (AWI, 2006, p. 9).