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CAPÍTULO II – REFORMA DO ESTADO E POLÍTICAS PÚBLICAS

2.4 EIXOS NACIONAIS DE INTEGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

Em 1999, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, foi realizado o Estudo sobre os Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento, o que segundo palavras do então Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Martus Tavares resumem-se em:

Nesse trabalho, a forma de abordar a realidade brasileira também é diferenciada, compreendendo os aspectos do desenvolvimento social e econômico, da infra-estrutura, do meio ambiente, da informação e do conhecimento. Exatamente para dar aquele caráter de sustentabilidade. (apud VELLOSO, 2000, p. 286).

Foram elaborados portfólio de projetos estruturantes e dinâmicos de crescimento que visavam o desenvolvimento nacional, regional e local, no qual o governo foi buscar parcerias com o setor privado. A Reforma do Estado também foi postas em marcha com o Programa Nacional de Desestatização, retirando do Estado diversas ações ligadas ao setor produtivo, dentre eles, o setor siderúrgico e petroquímico, a concessão de serviços públicos ao setor privado, como as telecomunicações, transportes e energia elétrica. De acordo com Campolina: “Ao longo da década de 1990, o país assistiu a um dos mais rápidos e abrangentes processos de privatização de que se tem notícia na história econômica mundial. Incluídos vários segmentos de infra-estruturas”. (CAMPOLINA, 2000, p.342).

As parcerias público-privadas marcam os 365 programas do Avança Brasil, bem como a busca por parcerias com os governos estaduais e municipais. Na construção do plano não faltou discussão com a sociedade, com a realização de 27 reuniões em todos os estados brasileiros, apresentando os resultados dos Estudos dos Eixos para empresários, sociedade civil organizada e governos estaduais, buscando-se norte de integração entre todos os envolvidos (governos locais,empresariados, universidades, entre outros). De acordo com o então Ministro da Integração, Fernando Bezerra:

O Ministério da Integração Nacional nasce sob inspiração desta nova visão, em que se sobressaí a inadiável necessidade de que seja restaurado o papel do poder público na concepção e implementação de políticas dirigidas para a retomada do processo de redução das disparidades inter e intra-regionais, através da redefinição e aperfeiçoamento dos instrumentos

de intervenção e orientação de caráter espacial, bem como a elaboração de programas de investimentos que envolvam a participação conjunta do estado e da iniciativa privada em setores estratégicos e de elevado poder germinativo. (apud VELLOSO, 2000, p. 292).

O Estudo dos Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento é resultado de uma parceria entre BNDES e foi construído a partir de quatro conceitos fundamentais:

1) Ações integradas nas áreas de energia, transportes, telecomunicações, saúde, educação, saneamento, habitação, meio ambiente, informação e conhecimento;

2) Abordagem econômica apoiada no conceito de território, pois segundo o ex-ministro Martus Tavares “o território é o grande referencial de integração que leva ao desenvolvimento sustentável amplo”. (apud VELLOSO, 2000, p. 296).

3) Projetos Estruturantes de Desenvolvimento Nacional que desencadeiem investimentos, crescimento e desenvolvimento; e 4) Investimentos públicos e privados, com sociedade em planos

articuladores com a demanda atual e futura.

Salienta-se também a alcance do incremento tecnológico sobre o desenvolvimento regional e as oportunidades concebidas pelas aptidões locais. Tais Eixos se cruzam em quatro amplas dimensões: os ecossistemas, os domínios econômicos, a conexão das redes de cidades e a malha multimodal de transportes. Lança-se um aspecto estratégico e qualitativo para 2020, consentindo apreender as tendências, oportunidades e as transformações admissíveis nos distintos eixos. Sendo possível a partir disto identificar os gargalos e as faltas de ligações nos setores citados de infra-estruturas, desvelando o desenvolvimento dos eixos na efetivação de investimentos em infra-estruturas econômicas. Assim, nas palavras de Martus Tavares, “Repensar o Brasil é também repensar o modo de agir em políticas públicas” (apud VELLOSO, 2000, p. 302).

Os Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento foram anunciados no governo Fernando Henrique Cardoso como o iniciar da caminhada para remoção dos gargalos estruturais do desenvolvimento brasileiro, espacialmente

na implementação e melhorias das infra-estruturas fundamentais para a redução do Custo Brasil12. De acordo com Campolina (2000):

As propostas anunciadas no estudo denominado Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento trarão um grande avanço ao superar a idéia de pólos ou regiões isoladas e procurar estabelecer diretrizes de desenvolvimento de forma que se criem efeitos complementares e sinérgicos entre infra-estruturas físicas e sociais e atividades produtivas, públicas e privadas, integrando e potenciando espaços econômicos e buscando a integração da economia nacional. (CAMPOLINA, 2000, p. 345).

A diminuição dos equilíbrios regionais e a inserção competitiva do país nos mercados globais foi discurso recorrente no período d implantação dos Eixos de Integração. Na prática, a integração nacional pouco avançou. O Programa dos Eixos Nacionais de Integração e Desenvolvimento, embora anunciado a revalorização da temática territorial e o desenvolvimento das regiões, reforçou os corredores de exportação.

Algumas novidades foram implementadas, como da definição das vertentes logísticas de cada eixo e no desenvolvimento de um ambiente centrado nos multimodais de transportes de cargas disponíveis, com seus respectivos espaços de alcance. Ao longo de décadas o Brasil investiu pesado em infra- estruturas, porém não necessariamente de maneira correta, por falta de uma visão global. Entretanto, o caráter extrovertido das redes de transportes ainda não foi revertido, nem a anunciada abordagem geo-econômica do país foi implementada.

Os investimentos em infra-estruturas previsto no PAC13 (Programa Nacional do Crescimento) visam abolir os principais gargalos que podem diminuir o desenvolvimento da economia, apontando para a redução de despesas e

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O Custo Brasil refere-se ao conjunto das dificuldades estruturais, sejam burocráticas ou de infra- estruturas que elevam os custos de produção e dificultam os investimentos privados no país.

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O PAC almeja aplicar até 2010 em infra-estrutura um total de R$ 503 milhões de reais, espacialmente nas áreas de transportes, energia, saneamento, habitação e recursos hídricos, com meta a atingir o crescimento anual de 5% do PIB. Visa promover o crescimento econômico através de um conjunto de medidas destinadas a incentivar o investimento privado e aumentar os investimentos públicos em infra-estruturas, visando remover os obstáculos para concretizar o crescimento econômico acelerado. As medidas do PAC estão centralizadas em cinco blocos: 1- Investimentos em Infra-estruturas; 2 – Estímulo ao Crédito e ao Financiamento; 3 – Melhora do Ambiente de Investimentos; Desoneração e Aperfeiçoamento do Sistema Tributário e Medidas Fiscais de Longo Prazo. Disponível em: https://www.pac.gov.br/. Acesso em 21 de Agosto de 2009.

crescimento da produção das empresas, instigando o acréscimo de investimentos privados. A questão da redução das disparidades regionais volta à tona, mas parecendo ainda mais utópica diante da meta de realização dos investimentos do Governo Federal sem comprometimento do equilíbrio fiscal.

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