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2.3 Sustentabilidade na Administração Pública Brasileira

2.3.2 Agenda Ambiental na Administração Pública – A3P

2.3.2.1 Eixos temáticos

Para atingir os objetivos propostos e diante da importância que as instituições públicas possuem em “dar o exemplo” para a redução de impactos socioambientais negativos, a A3P foi estruturada em cinco eixos temáticos, a saber:

1. Uso racional dos recursos naturais e bens públicos; 2. Gestão adequada dos resíduos gerados; 3. Qualidade de vida no ambiente de trabalho; 4. Sensibilização e capacitação e 5. Licitações Sustentáveis.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2009, p. 37), “estudos apontam que o consumo dos recursos naturais já excede em 30% a capacidade do planeta se regenerar”. Uma das causas apontadas pelo MMA para o problema é o acúmulo de riqueza e o consumo cada vez maior de bens e serviços, quando a cultura do desperdício passa a ser a marca do nosso tempo.

Em face ao exposto, Cordeiro e Chaptiski (2014) entendem que o momento que vivemos demanda correção de hábitos atinentes ao desperdício e consumo. Sendo assim, torna-se necessário haver mudanças nos procedimentos administrativos em todas as áreas de atuação, independente de cargo ou nível de responsabilidade.

Nesse aspecto, Tinoco e Kraemer (2004) mencionam que, através de uma prática empresarial sustentável, haverá mudança de valores e de orientação em seus sistemas operacionais, bem como haverá mais engajamento à ideia de desenvolvimento sustentável e preservação do meio ambiente.

De acordo com o MMA (BRASIL, 2009), a situação do manejo de resíduos sólidos no país é um tema que tem recebido cada vez mais atenção por parte das instituições públicas, e que os governos federal e estaduais têm aplicado mais recursos e criado programas e linhas de crédito específicas voltadas para a gestão adequada dos resíduos.

Ainda segundo o MMA (BRASIL, 2009), nos últimos anos houve uma melhoria significativa na gestão dos resíduos, mas ainda há muito para ser feito. Os resíduos recicláveis produzidos em maior quantidade são os papéis, plásticos, cartuchos e tonners, lâmpadas fluorescentes, lixo eletrônico, e, em menor quantidade, vidros, metais, pilhas e baterias. Desses materiais, uma parte significativa é gerada nas atividades desenvolvidas na administração pública.

Portanto, é importante que os órgãos públicos definam e adotem mecanismos para destinação adequada dos resíduos gerados pelas suas atividades, a fim de promover a internalizarão do conceito dos 5Rs (Repensar, Recusar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar) nos mais diversos órgãos e instituições da administração pública. A regulamentação sobre a separação adequada e destinação dos resíduos é tratada por meio da Lei nº 12.305/2010 (BRASIL, 2010b), que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos.

No que se refere à qualidade de vida no trabalho, a A3P menciona que as instituições públicas devem desenvolver e implantar programas específicos que possam medir o grau de satisfação da pessoa com o ambiente de trabalho, visando à melhoria das condições ambientais gerais, à promoção da saúde e segurança, integração social e ao desenvolvimento das capacidades humanas, entre outros fatores.

De acordo com o MMA (BRASIL, 2009), trabalhar a qualidade de vida no ambiente de trabalho é importante, uma vez que as pessoas são mais produtivas quando mais satisfeitas e envolvidas com o próprio trabalho. Logo, “a ideia principal é a conciliação dos interesses dos indivíduos e das organizações, ou seja, ao melhorar a satisfação do trabalhador dentro de seu contexto laboral, melhora-se consequentemente a produtividade” (BRASIL, 2009, p. 25).

Nessa mesma linha de pensamento, Fernandes (1996) destaca o alinhamento dos interesses organizacionais com o dos indivíduos, enfatizando que, quando há melhoria da satisfação do trabalhador, consequentemente há melhoria na produtividade da empresa.

Consoante ao exposto, Luiz e Pfitscher (2014) reforçam que a qualidade de vida no trabalho está bastante relacionada à satisfação e ao bem-estar do indivíduo em seu ambiente de trabalho, uma vez que, por ser o local onde ele passa a maior parte de seu tempo, tem interferência direta sobre sua saúde física e psicossocial.

O MMA (BRASIL, 2009) traz à tona a questão de hábitos, comportamento e padrões de consumo de todos os servidores, os quais impactam diretamente a preservação dos recursos naturais. Para isso, destaca a necessidade de contornar esse problema a partir da A3P, que apoia as ações de sensibilização e conscientização dos servidores com o intuito de explanar a importância da adoção de uma postura ambientalmente responsável: “Conscientizar os gestores e servidores públicos quanto à responsabilidade socioambiental é um grande desafio para a implantação da A3P e ao mesmo tempo fundamental para o seu sucesso.” (BRASIL, 2009, p. 45).

Dessa forma, para que essas mudanças sejam possíveis é necessário o engajamento individual e coletivo, pois só assim será possível a criação de uma nova cultura institucional de sustentabilidade das atividades do setor público.

O processo de sensibilização dos servidores envolve a realização de campanhas que busquem chamar a atenção para temas socioambientais relevantes, esclarecendo a importância da adoção de medidas socioambientais e os impactos positivos da adoção dessas medidas para a sociedade. Tais campanhas precisam, além de sensibilizar os servidores, proporcionar uma maior interatividade.

Segundo o MMA (BRASIL, 2009), essa sensibilização deve ser acompanhada de iniciativas para a capacitação dos servidores, tendo em vista tratar-se de um instrumento essencial para a construção de uma nova cultura de gerenciamento dos

recursos públicos, provendo orientação, informação e qualificação aos gestores públicos, além da permissão a um melhor desempenho das atividades implantadas. Desse modo,

A formação dos gestores pode ser considerada como uma das condicionantes para efetividade da ação de gestão socioambiental no âmbito da administração pública. A capacitação é uma ação que contribui para o desenvolvimento de competências institucionais e individuais nas questões relativas à gestão socioambiental e, ao mesmo tempo, fornece aos servidores oportunidade para desenvolver habilidades e atitudes para um melhor desempenho das suas atividades, valorizando aqueles que participam de iniciativas inovadoras e que buscam a sustentabilidade (BRASIL, 2009).

Essa mobilização deve ser permanente e contínua, uma vez que para assumir uma postura responsável mediante a sociedade e meio ambiente é necessária uma mudança de atitudes e hábitos, o que depende da reflexão sobre as questões ambientais e sociais e do envolvimento de cada pessoa.

Quanto à questão das licitações, a partir do ano de 2010, em decorrência das pressões em favor da sustentabilidade, as licitações ganharam um novo aspecto com a instituição da Lei nº 12.349 (BRASIL, 2010a), a qual, além de garantir a observância ao princípio da isonomia e a seleção da proposta mais vantajosa para a administração nos processos licitatórios, passou a observar o desenvolvimento nacional sustentável. Nesse sentido, surgiu o conceito Compras Públicas Sustentáveis ou Licitações Sustentáveis, definido como “um processo por meio do qual as organizações, em suas licitações e contratações de bens, serviços e obras, valorizam os custos efetivos que consideram condições de longo prazo, buscando gerar benefícios à sociedade e à economia e reduzir os danos ao ambiente natural” (SANTOS, 2015, p. 22).

De acordo com o MMA (BRASIL, 2009), a utilização de recursos públicos para aquisição de produtos ou contratação de serviços gera impactos significativos na economia. As compras e contratações públicas são realizadas através de licitação, que conforme preconiza o art. 3º da lei nº 8.666/1993,

destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia, a seleção da proposta mais vantajosa para a administração e a promoção do desenvolvimento nacional sustentável e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhes são correlatos (BRASIL, 1993).

As compras públicas sustentáveis são compreendidas pelo MMA (BRASIL, 2009) como aquelas em que o uso dos recursos materiais é o mais eficiente possível. Isso inclui os aspectos ambientais em todos os estágios da compra, desde evitar compras desnecessárias até a identificação de produtos mais sustentáveis que cumpram as especificações de uso requeridas.

Dessa forma, as compras públicas sustentáveis têm a finalidade de incentivar a aquisição de produtos e serviços que utilizem critérios ambientais, econômicos e sociais, de modo a possibilitar o atendimento das necessidades específicas dos consumidores finais por meio da compra do produto que oferece o maior número de benefícios para o ambiente e a sociedade.

Como se pode observar, a legislação influencia as compras públicas de maneira que elas ocorram respeitando critérios de sustentabilidade. Moura (2010) afirma que o Estado, por ser um grande consumidor de bens, serviços e obras, ao adotar critérios de sustentabilidade em seus processos de compras, dará um exemplo positivo, sensibilizando os demais consumidores sobre as implicações ambientais e sociais associadas aos diferentes tipos de compras e reafirmando o comprometimento com empresas que possuam boas práticas em relação ao meio ambiente.

Diante do contexto, verifica-se que o projeto busca conscientizar os gestores públicos para as questões ambientais, estimulando-os a incorporar critérios de gestão ambiental em suas atividades, por meio da adoção de ações que promovam o uso racional dos recursos naturais e dos bens públicos, do manejo adequado dos resíduos gerados, de ações de licitações sustentáveis e, ainda, da melhoria da qualidade de vida dos servidores públicos.

Assim, nota-se a importância da adesão à A3P por parte da administração pública, uma vez que, ao implementar em suas práticas administrativas ações que visem à sustentabilidade, promover-se-á, além da eficiência na atividade pública, a preservação do meio ambiente. O Quadro 4 apresenta, de forma resumida, a relação dos cinco eixos temáticos da A3P:

Quadro 4 – Eixos temáticos da A3P EIXO TEMÁTICO AÇÕES Uso racional dos bens naturais e bens públicos.

Utilizar bens naturais e públicos com racionalidade e de forma econômica evitando desperdício, uma vez que o modelo econômico é baseado em padrões de produção e consumo insustentáveis. Engloba o uso racional de energia, água e madeira, além do consumo de papel, copos plásticos e outros materiais de expediente

Gestão adequada dos resíduos gerados

Passa pela adoção da política dos 5Rs: Repensar, Reduzir, Reutilizar, Reciclar e Recusar. Dessa forma, deve-se primeiramente pensar em reduzir o consumo e combater o desperdício para só então destinar o resíduo gerado corretamente.

Qualidade de vida no ambiente de trabalho

Facilitar e satisfazer as necessidades do servidor ao desenvolver suas atividades na organização através de ações para o desenvolvimento pessoal e profissional.

Sensibilização e capacitação dos servidores

Criar e consolidar a consciência cidadã da responsabilidade socioambiental nos servidores. O processo de capacitação contribui para o

desenvolvimento de competências institucionais e individuais fornecendo oportunidade para os servidores desenvolverem atitudes para um melhor desempenho de suas atividades.

Licitações sustentáveis

Promoção de responsabilidade socioambiental da Administração Pública em suas compras. As licitações sustentáveis são importantes não só para a conservação do meio ambiente, mas também apresentam uma melhor relação custo/benefício a médio ou longo prazo quando comparadas às que se valem do critério de menor preço.

Fonte: Ministério do Meio Ambiente (BRASIL, 2009, p. 37-47).