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Elementos inspiradores na arquitetura das vinícolas estrangeiras

3 A VITIVINICULTURA E A REGIÃO VITIVINÍCOLA DA SERRA GAÚCHA

4.1.1 Elementos inspiradores na arquitetura das vinícolas estrangeiras

As sete (7) vinícolas apresentadas - Cantina Manincor (Itália), Cantina Antinori (Itália), Bodega Baigorri (Espanha), Adegas Bell-lloc (Espanha), Adega Mayor (Portugal), Vinha Holística Vik (Chile) e Dominus Estate Winery (EUA) - foram selecionadas porque são contemporâneas e usam elementos arquitetônicos, técnicas ou recursos, considerados importantes para a definição de novas vinícolas e de seus espaços de produção, que podem influenciar na qualidade do vinho, que foram elementos inspiradores na estruturação de projetos arquitetônicos em variáveis como sustentabilidade, funcionalidade, preservação da cultura, etc.

Segundo Chiorino & Maroni (2007), nos últimos anos, verificou-se em todo o mundo novas maneiras de valorizar os espaços dedicados à produção e conservação do vinho. No caso das vinícolas analisadas pelos autores, em regiões de climas mais secos que os da Serra Gaúcha, os edifícios que antes eram de um só pavimento, aumentaram para baixo e, a parte soterrada, passou a ser usada para o envelhecimento do vinho. Houve uma combinação entre a evolução tecnológica e a exploração arquitetônica, não somente na sua estrutura, pois o edifício vinícola se tornou um componente da estratégia de marketing aplicada à estrutura da indústria, na produção, no lugar, nos rótulos e nos sites (CHIORINO; MARONI, 2007).

Tomando em consideração aspectos dos conceitos estruturadores do capítulo 2, com exceção do item relativo à legislação brasileira, é possível destacar que as vinícolas estrangeiras usaram recursos projetuais para terem uma construção mais sustentável e um desempenho das atividades de forma menos onerosa.

Um dos destaques comum às vinícolas elencadas é a importância dada a paisagem, tanto considerando a vista geral criada a partir de pontos especialmente destacados para conquistar o cliente, como pelas vistas específicas de vinhedos que formam uma paisagem marcante criando elementos identitátios (FALCADE, 2011), como na Manincor, por exemplo. Nesse sentido, destaca-se a valorização de diferentes escalas da paisagem.

Em ambientes como o vitivinícola, onde a estruturação da própria construção promove alterações da natureza, entre outros aspectos, os elementos naturais do entorno dificilmente estão mantidos, tal qual eram em um passado mais longínquo. Na construção de uma vinícola estrutura-se uma paisagem vitícola, portanto humana, cultural, que mantém elementos da natureza na composição paisagística,

como são observadas nas imagens das vinícolas analisadas. Há evidências da ação intencional das vinícolas citadas com a paisagem, de preocupar-se com o entorno, buscando menor impacto paisagístico, mas, ao mesmo tempo, propiciando belos visuais, sendo uma forma de cultura em um sentido amplo, criando uma identidade do local, pois é fruto do trabalho do vitivinicultor.

Outro elemento inspirador entre as vinícolas estrangeiras foi o projeto da Vinícola Vik, do Chile, que buscou incorporar elementos da cultura indígena ancestral, isto é, do território, na forma e nos materiais, que resultaram em uma edificação que permite ver as formas da natureza, seja nas encostas da cordilheira, seja na cor.

Mas, é possível o equilíbrio entre natureza e atividade e pode ser conquistado na paisagem vitícola? Como é possível a conservação do patrimônio e a valorização da paisagem vitícola? As vinícolas selecionadas apresentam algumas evidências de formas, de estratégias, que respondem a essas questões.

O uso do declive na planta arquitetônica é um elemento comum a todas as vinícolas como, por exemplo, nas vinícolas Manincor e Antinori (Figura 30). Essa forma de uso do fator natural contribui com a vinificação por gravidade, o que reduz o consumo de energia, promovendo implicações no menor custo de produção, que também é fator de sustentabilidade ambiental. Nesse caso, o projeto deverá levar em conta a ordem dos processos internos de uma vinícola na elaboração de cada tipo de produto (Figuras 1 e 2) e das tecnologias necessárias para essa finalidade.

Figura 30 - Corte transversal da Cantina Antinori, Bargino, Toscana.

Como consequência da edificação implantada em um terreno com declividade, ocorre que parte ou a totalidade da vinícola fica soterrada, favorecendo a criação de espaços que mantém a temperatura e a luminosidade com menos variação e mais ideais para a guarda e afinamento do vinho. Ou seja, quando a vinificação e a guarda do vinho no processo de maturação, ocorrem na parte subterrânea, essas etapas são realizadas em ambientes frescos, com menor interferência humana, contribuindo com a sustentabilidade do edifício.

No caso da Manincor, as bombas estão a uma profundidade que permite o uso de calor geotérmico, fornecendo um ambiente adequado para o interior da vinícola, oferecendo um menor consumo energético. No caso da vinícola Dominus Estate, o uso de gabiões mantém a temperatura mais constante, contribuindo com a economia de energia para no resfriamento no funcionamento da vinícola, o que está relacionado a sustentabilidade ambiental. Outro aspecto comum às vinícolas que tem parte da construção soterrada é a entrada de luz por claraboias, que possibilitam economia de energia, tanto na iluminação, quanto na temperatura.

Em síntese, a declividade do terreno foi usada na organização dos setores, a favor do processo de vinificação, para mais funcionalidade e atendimento às necessidades de produção, bem como para a sustentabilidade com economia de energia artificial, tanto para a iluminação, como para a temperatura ideal na vinícola.

Na Vinícola Antinori, um dos elementos de sustentabilidade do projeto foi que todo o solo retirado do local foi transformado em revestimento, aplicado no interior da vinícola, o que reduziu o impacto na geração e no destino dos resíduos construtivos.

Vinícolas de países mediterrâneos, como França, Espanha ou Itália, mantêm forte tradição na construção de adegas subterrâneas. Considerando as características ambientais de muitas das regiões vitivinícolas desses países, tanto do clima com menor pluviosidade e umidade, como da geologia com solos mais permeáveis, possivelmente as condições e o uso do subsolo seja menos complexo do quem em regiões onde o clima seja de maior pluviosidade e umidade e com mais tero de argila. No entanto, o desenvolvimento de melhorias nas técnicas de escavação e nas tecnologias construtivas, permitiu a construção de novas vinícolas com esse uso do subsolo em novas áreas de produção no mundo (MAZARRÓN, 2012).

A produção vitivinícola é grande consumidora de água, mas nas fontes consultadas sobre as vinícolas estudadas, não há citação sobre o modo como ocorre o abastecimento ou se há reuso. Nesse sentido, a variável água, embora fundamental na construção e na sustentabilidade da atividade, não foi possível ser analisada.

Além de elementos da sustentabilidade ambiental, não foi possível evidenciar referências sobre a sustentabilidade social e econômica, intensamente relacionadas ao tema do território. Considerando os projetos arquitetônicos, é possível inferir que a sustentabilidade econômica dessas vinícolas, não está apenas na produção de uvas e vinhos, mas em tudo que esse mundo interconecta, como o enoturismo e a hospitalidade.

Embora tenham sido consideradas estruturas arquitetônicas de vinícolas modernas neste estudo, as vinícolas já consolidadas também atraem o público para um outro tipo de enoturismo, ligada aos costumes e história locais. No entanto, as novas construções, modernas e conceituais, apresentam a irreverência do novo, e causam impacto e curiosidade ao enoturista que anseia por explorá-la.