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CAPÍTULO III ANÁLISE DOS GRUPOS DE DISCUSSÃO

3.1 Grupo Outrora

3.1.5 Eles demoram mais para amadurecer: visões sobre os jovens

Acredita-se que foi relevante considerar como os participantes viam suas relações com os jovens estudantes e o que eles pensam destes jovens. (Linhas 500 – 669).

Y: Vocês poderiam falar sobre essa relação de vocês com os estudantes no CEM 01?

Ef: Minha relação com os alunos era ótima! Pra vocês terem uma ideia, vocês lembram quando o curso de eletrônica veio pra cá? Era da época de vocês? (2)

Am: Eu não lembro, acho que eu já tinha formado...

Bm: Eu vim trabalhar aqui nessa época, junto com o curso de eletrônica! Ef: Pois é, o curso de eletrônica não deu certo lá no 04, com o professor Luciano, eu conversei lá com ele: “Você me cede o material de eletrônica?

Eu vou abrir o curso de eletrônica lá no CG. ” Aí ele disse: “Ah! Pode pegar aquelas carcaças lá! ” Aí levei os professores que eram de eletrônica, que estavam chateados que tinha acabado e eles foram pra lá, fizemos tombamento de tudo, trouxemos pro CG, entramos em contato com a Secretaria de Educação, eu tinha mania de ser independente, muitas vezes a Regional ficava com raiva de mim, a Maria Sônia já me fez chorar de raiva, ela já me fez chorar muitas vezes, porque eu sou assim eu aparento ser calma e boazinha, mas eu sou muito agressiva eu chorava pra não bater nela, porque eu não podia avançar na cara dela!

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Cf: E a gente nem ficava sabendo desses babados Ef! Todos: (@) 3 (@)

Bm: Olha só? A gente sabia sim e até apoiava, os alunos é que não participavam disso, a gente se achava!

Am: E eu que era aluno nessa época, é que não ficava sabendo mesmo!

Ef: A gente tinha mania do CG ser independente e eles cobravam isso de mim nas reuniões, eu dizia que o CG, eles diziam: “A diretora do CG está aqui! O CG gosta de ser uma escola separada! ” Não era separada, é que a gente lutava para ter, as outras ficavam dependendo e a gente não dependia. Não dependia mesmo! O que a gente queria criar, gente criava, tá aqui o Bm que não me deixa mentir, os professores topavam e eu ia também. Um dia a Maria Sônia me convidou, falou pra eu ir e que pra eu ser exonerada e qualquer professor, era só ela ter uma caneta e um papel na mão, aquilo pra mim foi muito humilhante. Eu falei pra ela: “Não, não precisa não, você vai lá no CG, se você tiver coragem e faz uma reunião com os professores e fala que você quer me tirar daqui.” Vê que ela veio?

Am: Meu Deus! Nunca gostei da Maria Sônia! Cf: Pedante demais!

Df: Já briguei muito com a Maria Sônia nessas greves da vida! Acho que ela também não me suporta!

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Ef: Pois é, os professores naquela época eram sempre do meu lado! E aí nós criamos o curso de eletrônica e os meninos de eletrônica, muitos, uns dez, tinham de ficar o dia todo e passavam necessidade financeira, eu aproveitava, era contra, eu sei que é errado, se fosse ver hoje, eu fiz errado, mas não arrependo, eu tirei comida do curso Magistério e dei pros alunos do curso de Eletrônica!

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Am: Essa Ef era danada mesmo gente!

Bm: ⎣ Se não fosse assim, eles não tinham condições de estudar!

Ef: Eu desviei dinheiro! Não foi dinheiro, eu não distribuí dinheiro! Comida! Eu desviei comida! Era frango com arroz demais, não era Bm? (1) Era galinhada, e eu falava: “Dona Zulmira, bota mais três frangos aí para sobrar!” A dona Zulmira: “Dona Maria! ” Eu dizia: “Põe dona Zu! Os meninos estão aí com fome, vão passar o dia todo aí!” @Os meninos começaram a me chamar de mãe!@ Não me chamavam de diretora e nem de Maria! Eu lembro que no dia do meu aniversário, eles ficaram no corredor à noite, meninos, eles, um me passava para o outro assim, eu não andei não, eu andei aquele corredor todo no braço de todo mundo me chamando mãe, mãe, mãe!

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Bm: Quando a gente entrou, o relacionamento entre professor x aluno, era mais formal né? (2) O aluno não tinha a liberdade que tinha hoje embora eu ache que pensasse até mais no futuro em termos de futuro acadêmico. O aluno de hoje ele tem mais opções, tem um leque maior e o mundo globalizado hoje, a internet então... (3) Ele tem mais aonde buscar informações e antigamente o professor era como se fosse uma fonte de tirar as dúvidas para um futuro, né? Hoje o professor é simplesmente um passador de conhecimentos para aquele que quer, nada mais do que isso.

O negócio na mente dele de futuro acadêmico, isso aí não existe mais tanto quanto era. O aluno dava mais importância ao ensino médio. O aluno de hoje ele está aqui porque tem que ter o ensino médio, porque tem que ter para poder cursar... (3) é tão provável que muitos é. fazem, se tivessem idade fazem o EJA só para cursar o ensino médio para tentar uma faculdade. Os alunos antes estudavam mais devido o seguinte: (2) antigamente tinham menos opções, a gente não tinha... (3) hoje, praticamente todo nosso aluno, a nossa clientela tem TV a cabo, internet em casa, então, esse aluno se usasse a internet para estudar, mas não é bem assim, ele usa a internet como um meio social né? (2) Um meio de se comunicar, então, o hoje... (2) Antigamente o jovem ia pra rua para se divertir, para brincar, o jovem hoje fica diante de um computador e isso fez com que o número de horas disponíveis para estudar seja mínima.

Os participantes revelam uma ótima relação com os estudantes tanto no passado como no período atual.

Marcos revela que o relacionamento com os alunos era muito formal e, atualmente, ele acredita que o avanço tecnológico, o acesso aos meios de comunicação, transformou as relações, fazendo com que estudantes e professores tenham um diálogo mais aberto, mais informal, sem pensar em hierarquia, mas isto não é de todo positivo, pois, no passado, a cobrança em se tratando de conteúdos era maior e os jovens respeitavam mais os professores.

Na percepção dos participantes sobre os jovens do tempo presente, destacou-se que os estudantes chegam muito imaturos ao ensino médio, sem condições de fazer escolhas tão importantes para o seu futuro, como a definição profissional e sua atuação na comunidade em que vivem. A asserção feita por Marcos revela que os jovens não entendem a verdadeira função do ensino médio para eles.

3.1.6 Se o passado permanecesse: percepções sobre o ensino médio enquanto