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Capítulo 2: Considerações metodológicas – um modo de investigar narrativas pessoais sobre

2.2 Plataformas para debate da maternidade

2.2.1 Em busca de mídias sociais sobre a problematização da maternidade

confirmarem a pouca divulgação da “maternidade real”, expunham diferentes aspectos relacionados a ela, gerando reações de apoio, ataque, disputa, identificação, entre outras.

O post “Desafio NÃO aceito”, feito por Juliana Reis em seu perfil pessoal naquele mesmo ano, ampliou a projeção dos debates online sobre a maternidade e serviu de ponto de partida para o projeto de mestrado. Já na pós-graduação, continuei atenta, todos os dias, à emergência de publicações semelhantes, que muitas vezes utilizavam hashtags como #vidademãe, #mãereal, #mãepossível e, claro, #maternidadereal. Passei a utilizá-las para pesquisar páginas e publicações que problematizassem o que entendo por conceito ampliado de maternidade no Facebook, porém obtive mais resultados explorando essas páginas ou em imersões no próprio feed de notícias, sem procurar por termos específicos na barra de busca. Devido ao fato de constantemente acessar essas publicações para fazer capturas de tela, é provável que o algoritmo do Facebook tenha passado a sugerir tais publicações ao meu perfil.

Quando encontrados compartilhamentos de conteúdos que problematizavam a maternidade, eram feitas capturas de tela das postagens e dos comentários que recebiam, salvando os respectivos links em documento específico. Parte desse material foi recolhido graças a marcações de amigos e colegas dos PPGCOM da UFF e da UFRJ. Até o segundo semestre de 2018, coletei material significativo46, com abrangência de fontes e narrativas que,

apesar das diferenças, também possuíam similaridades.

Nesse mesmo ano, reparei que grande parte das páginas que compunham o mapeamento que havia realizado – e que, consequentemente, abrigavam muitos dos comentários que tinha recolhido – derivava de blogs sobre maternidade. Não apenas isso: ao pesquisar por determinadas expressões em sites como Google (“desromantizar a maternidade”, “maternidade dói”, “odeio ser mãe”), era comum que a busca apresentasse ao menos uma publicação de algum desses blogs. Consistiam em textos de cunho pessoal, que se diziam voltados a apresentar às leitoras um tipo de maternidade com que pudessem se identificar. Os sentidos de compartilhamento, criação de rede de apoio e desabafo eram comuns tanto nas publicações e comentários do Facebook quanto nos artigos e respostas dos blogs. Diante da quantidade de exemplares pertencentes à blogosfera materna e sua conexão com as postagens investigadas no Facebook, decidi incluir os blogs na pesquisa.

2.2.1 Em busca de mídias sociais sobre a problematização da maternidade

46 48.694 unidades de análise entre posts e comentários/respostas cujos eixos discursivos acionados passaram a

As primeiras imersões em campo me permitiram verificar que a expressão “maternidade real” era frequente nos conteúdos que se propunham a abordar a maternidade por outros vieses além dos de afeto e realização. Assim, cunhei o método do fluxo de associações derivativas para chegar às páginas que a tensionavam, começando pela pesquisa do termo “maternidade real” na barra de buscas do Facebook com o filtro “Tudo”47 acionado.

Por meio do método, foi possível estruturar o processo de busca e descoberta de, primeiramente, páginas do Facebook e, depois, blogs e demais mídias que problematizavam a maternidade, tanto do ponto de vista das mães quanto de mulheres que não tinham ou não queriam filhos. Inspirado na amostragem em bola de neve, na qual identificam-se informantes que serão usados para levar o pesquisador a outros informantes (HAMMERSLEY e ATKINSON, 1983), o fluxo de associações derivativas admite agentes não humanos para conduzir a demais agentes que exerçam tal função. Nessa pesquisa, as mídias sociais em que se tensionam aspectos da maternidade conduzem a outras que apresentam a mesma proposta.

Albuquerque (2009) organiza o método em bola de neve em três elementos principais. Sementes: indivíduos que iniciam o processo de amostragem por meio de cadeias de referência, escolhidos de forma não aleatória. São selecionados por serem influentes dentro de uma rede de contatos que interessa à pesquisa, sendo capazes de mobilizar novos informantes para compor a amostra. Frutos: indivíduos recrutados pelas sementes. Aqueles que recrutarem também serão chamados de frutos, até que a amostra esteja completa. Ondas de recrutamento: formadas à medida que novas pessoas entram na amostra. As sementes pertencem à onda zero do processo de recrutamento. Os frutos gerados por elas pertencerão à primeira onda, e assim por diante, até a finalização da amostragem. O fluxo de associações derivativas se apropria da funcionalidade dessas categorias, adaptando-as para concretizar o objetivo da busca – encontrar mídias sociais que problematizam a maternidade. No quadro 1, as cinco primeiras mídias constituem as sementes iniciais da amostragem. Ao contrário do que ocorre no método em bola de neve, não são necessariamente as mais influentes do meio, mas as que permitiram chegar, de forma direta ou indireta, a outras mídias que tensionam a maternidade.

Se na metodologia em bola de neve o ponto de saturação da amostragem dá-se quando o conteúdo das respostas dos informantes começa a se repetir (HUDELSON, 1994), no fluxo de associações derivativas isso ocorre quando as mídias encontradas se repetem. Finaliza-se a onda de recrutamento, iniciando um novo fluxo até que as mídias achadas se extingam ou até não mais encontrar mídias adequadas aos critérios de seleção para compor a amostra.

47 Com esta seleção, o Facebook procura pelos termos digitados na barra de buscas em conteúdos dispostos em

Entre os resultados obtidos, selecionaram-se as páginas com maior número de curtidas. Foram elas Maternidade Real, Real Maternidade e Maternidade na Real, primeiros itens da amostra relativa ao mapeamento de mídias sociais brasileiras que problematizam a maternidade e, consequentemente, do quadro 1. Nessa mesma busca, a página Mãezice por Ananda Urias apareceu na aba “Tudo”. Esta havia curtido a página Infância e Maternagem, que passou a integrar a amostra da pesquisa. Ainda com a expressão “maternidade real” selecionada, abri a aba “Páginas”, encontrando A Maternidade na Vida Real (descartada pelo baixo engajamento48 das publicações) e Mãe na Real, anexada à amostra.

A partir de então, replicou-se o nome das páginas na barra de busca selecionando a aba “Tudo”. Surgiram postagens de diferentes páginas – por exemplo, ao pesquisar “Mãe na Real”, encontrou-se uma publicação da Orgulho de ser Mãe –, que por sua vez interagiam ou curtiam outras páginas, gradativamente adicionadas à amostra conforme cumpriam os requisitos de a) se propor a problematizar a maternidade; b) estar ativa; c) possuir mais de dez mil curtidas; d) conter publicações com engajamento significativo do público e, neste caso, exemplares com poucas curtidas seriam considerados. Para averiguar tais características, empreendi breve análise exploratória das seções “Página Inicial”, “Sobre” e “Publicações” de cada página. Para tornar o método mais claro, tem-se a seguir um esquema simplificado de seu funcionamento.

Figura 6 – Esquema simplificado do fluxo de associações derivativas

Por fim, perguntei às mães entre meus contatos se conheciam ou recomendavam alguma mídia que discutisse a maternidade. Entre as indicações inéditas, nenhuma se qualificou para integrar a amostra, visível no quadro 1. As colunas são divididas entre o nome

48 Entende-se engajamento como a existência de comentários, curtidas, reações e compartilhamentos na maioria

da mídia, a data de sua criação (com a plataforma específica em que foi criada entre parênteses) e demais suportes que possui: blog; página (com a respectiva classificação entre colchetes) ou grupo (com o respectivo tipo) no Facebook; canal no YouTube; perfil no Instagram; outras mídias. Os retângulos coloridos ao final do nome de algumas mídias indicam aquela à qual se associam. Por exemplo, a Vida Materna foi encontrada entre as páginas curtidas pela Maternidade Real, e assim por diante.

Quadro 1 – Problematização da maternidade nas mídias sociais brasileiras

Nome Criação Blog/Site Facebook YouTube Instagram Outras

Maternidade Real 2012 (blog) Blog Página [site]

Grupo fechado

Não Não E-mail

Real Maternidade 2012 (blog) Site Página

[comunidade] Grupo fechado

Não Sim Pinterest, E-mail

Maternidade na Real 2016 (blog) Blog Página [blog

pessoal]

Sim Sim E-mail

Mãezice por Ananda Urias 2015 (página)

Site Página [autor] Grupo fechado

Não Não E-mail

Mãe na Real Não

informada

Blog Página

[comunidade]

Não Não Nenhuma

Orgulho de ser Mãe Não

informada

Não Página

[entretenimento]

Não Não Nenhuma

Quartinho da Dany 2008 (blog) Blog Página [artigos

para

bebês/crianças] Grupo fechado

Não Sim E-mail

Vida Materna 2011 (blog) Blog Página [blog

pessoal]

Não Sim E-mail

Mãe Solo 2013

(página)

Site Página [causa] Sim Sim E-mail, Twitter

Tudo Sobre Minha Mãe Não

informada

Blog Página [site] Não Sim Twitter, Google

Plus

Cientista Que Virou Mãe 2012 (blog) Site Página [site de

sociedade e cultura]

Grupo fechado

Não Sim E-mail, Twitter

Macetes de Mãe 2013 (blog) Blog Página [site

educacional]

Sim Sim E-mail, Twitter,

Pinterest

Mamatraca 2011 (blog) Blog Página [blog

pessoal]

Sim Sim E-mail, Twitter

Padecendo no Paraíso 2011(grupo secreto Facebook)

Site Página [site] Grupo secreto

Sim Sim E-mail, Twitter,

Pinterest, Flickr, Google Plus

Lagarta Vira Pupa 2012 (blog) Blog Página [blog

pessoal; escritor]

Sim Sim E-mail

potencial gestante 2009 (blog) Blog Página [blog pessoal]

Sim Sim E-mail, Twitter,

Pinterest

Soul Mãe 2016 (canal

YouTube)

Nenhum Página

[blog pessoal;

blogueiro] Grupo fechado Infância e Maternagem Não

informado

Blog Página

[blogueiro] Grupo público

Não Não E-mail

Mãe Real 2018

(Instagram)

Nenhum Página [blog

pessoal]

Não Sim E-mail

Entre Mamães 2012 (blog) Blog Página

[comunidade]

Sim Sim E-mail, Twitter,

Pinterest

O Lado V da Maternidade Não

informado

Não Página

Grupo fechado

Sim Não E-mail

A mãe preta 2014 (blog) Blog Página [blog

pessoal]

Não Não E-mail

Elisama Santos 2015

(página)

Site Página [blog

pessoal; causa] Grupo fechado

Sim Sim E-mail

Uma Vez Mamífera 2010 (blog) Blog Página [blog

pessoal]

Não Não E-mail

Carol e suas baby-boseiras 2009 Blog Página [blog

pessoal]

Não Não Nenhuma

Do Ventre Nasce Um Novo Coração

2013 (blog) Blog Página [comunidade]

Não Não Nenhuma

Temos que falar sobre isso 2015 (blog) Blog Página [ONG] Grupos fechados

Sim Não E-mail

Vegana é a sua mãe 2015

(página)

Não Página [causa]

Grupo fechado

Não Sim E-mail

Plantão Materno 2015 Não Página

[comunidade, figura pública, clínica de saúde da mulher]

Não Não E-mail

Mamãe Cansada 2011 Blog Página [blog

pessoal]

Não Não E-mail

Senta que lá vem história Não

informado

Blog Página [blog

pessoal]

Não Possui E-mail

Maternidade Feliz 2012

(página)

Blog Página [blog

pessoal]

Não Não E-mail

Dadadá 2012

(página)

Blog Página [blog

pessoal]

Não Não E-mail

Cenas da Maternidade 2015 (página)

Não Página

[blogueiro]

Não Não Não

Mães que escrevem 2017 Blog Página [causa]

Grupo fechado

Não Sim E-mail, Twitter

Mães de peito por Giovanna Balogh

2015 (site) Site Página [site de notícias e mídia]

Sim Sim

Memezinho da Mamãe 2011

(página)

Blog Página [site] Não Não E-mail

NaNa - Maternidade Preta Não informada (blog)

Blog Página [blog

pessoal]

Não Não E-mail

informada (página)

[comunidade]

Pra falar de filho 2014 (blog) Blog Página [blog

pessoal]

Não Não Nenhuma

Cartas para Helena 2014 (blog) Blog Página [blog

pessoal]

Sim Não E-mail

MilDicas de Mãe 2012 (blog) Site Página [site

educacional]

Não Sim E-mail, Twitter,

Pinterest, Google Plus

Mundo Ovo 2012 (blog) Blog Página [blog

pessoal] Grupo fechado

Não Sim E-mail, Google

Plus, Twitter, Pinterest

Baby Dicas 2010 (blog) Blog Página [site

pessoal] Grupo fechado

Sim Sim E-mail, Twitter,

Pinterest, Google Plus Diário de uma mãe polvo 2010

(página)

Nenhum Página [blog

pessoal]

Não Não E-mail

Maternidade Colorida Não informada

Blog Página [blog

pessoal]

Sim Sim E-mail, Google

Plus, Twitter, Pinterest

Aprendizados de Mãe 2013 (blog) Blog Página [blog

pessoal]

Não Sim E-mail, Google

Plus, Twitter, Pinterest

Blog diiirce 2010 (blog) Blog Página [blog

pessoal]

Sim Sim E-mail, Google

Plus, Twitter, Pinterest

MMA - Militância Materna Ativa

2017 (blog) Blog Página [blog

pessoal] Grupo fechado

Não Não E-mail, Twitter

Maternagem Nerd 2009 (blog) Blog Página [blog

pessoal]

Sim Sim E-mail

Mãe de 04 2015 (canal

YouTube)

Nenhum Página

[blogueiro]

Sim Não E-mail

Mamãe Musa por Musa Magalhães

Não informada (página)

Nenhum Página [blog

pessoal]

Não Sim Nenhuma

Diário de uma mãe de dois Não

informada (blog)

Blog Página [blog

pessoal]

Não Não Nenhuma

Psi Mama Não

informada

Blog Página

[comunidade] Grupos fechados e públicos

Sim Não E-mail

Vida de Gestante e Mãe 2011 (blog) Blog Página [blog pessoal]

Sim Sim E-mail, Google

Plus, Twitter

Os Trigêmeos da Michele 2013 (blog) Blog Página [blog

pessoal]

Sim Sim E-mail, Pinterest,

Google Plus, Twitter

Mãe Fora da Caixa Não

informada (blog)

Blog Página [blog

pessoal]

Sim Não E-mail

Violência obstétrica é violência contra a mulher

2011 (página)

Nenhum Página

[organização]

Não Não Nenhuma

Não pule da janela Não

informada

Blog Página [blog

pessoal]

BabyCenter Brasil Não informada

Site Página [site de saúde e boa forma]

Grupo fechado

Não Não E-mail, fóruns

de discussão no site

Que mãe sou eu? 2015 (blog) Blog Página [blog

pessoal]

Não Sim E-mail, Pinterest,

Twitter Diário da mãe da Alice 2014 (blog) Blog Página [blog

pessoal]

Não Não E-mail

Bossa Mãe 2012 (blog) Blog Página [blog

pessoal]

Não Sim E-mail

Mãe Diferentona Não

informada (página)

Nenhum Página

[comunidade]

Não Não Nenhuma

A Favor da Despenalização do Aborto

Não informada (página)

Nenhum Página [causa] Não Não Nenhuma

Mágicas de Mãe 2015 (blog) Blog Página [blog

pessoal] Grupo fechado

Sim Não E-mail

Crônicas de uma Mãe de Gêmeos

2013 (página)

Nenhum Página

[comunidade]

Não Não Nenhuma

Just Real Moms Não

informada (blog)

Blog Página [site

educacional]

Não Não E-mail, Seção

“Confessionário” no blog

Antes que Eles Cresçam 2012 (blog) Blog Página [site de adolescentes e crianças]

Não Não Nenhuma

Mulher childfree - A original 2012 (página) Nenhum Página [comunidade]

Não Não Nenhuma

Eu não quero ter filhos Não informada (página)

Nenhum Página

[comunidade]

Não Não Nenhuma

Laqueadura sem filhos Não informada (página)

Nenhum Página [site

pessoal]

Sim Não Nenhuma

Mulher sem filho 2014

(página)

Nenhum Página [blog

pessoal]

Não Não Nenhuma

Vida sem filhos 2013 (blog) Blog Não Não Não Talvez haja

grupo no

Whatsapp

Hel Mother 2016 (canal

Youtube)

Nenhum Página

[comunidade]

Sim Sim E-mail

Ninguém Quer Ser mãe! 2018 (canal Youtube)

Nenhum Não Sim Não Google Plus

Não me chamo Mãe 2017 (site) Site Página [site] Não Não E-mail

Diário de uma mãe solo Não informada (página)

Nenhum Página [blog

pessoal]

Não Não E-mail

Uma mãe como você 2012

(página)

Nenhum Página

[comunidade]

Não Não Nenhuma

Rotina de mãe Não

informada

Nenhum Página

[comunidade]

Não Sim E-mail

Drops de Mãe 2013 (blog) Blog Página [blog

pessoal]

Tchulim 2016 (canal Youtube)

Nenhum Página [blog

pessoal]

Sim Sim E-mail

A melhor mãe do mundo não sou eu

Não informada

Não Página [blog

pessoal] Grupo fechado

Não Não Nenhuma

Deborices, por Debora Camargo 2012 (página) Nenhum Página [blogueiro] Grupo fechado

Não Não Nenhuma

Uma Mãe Feminista 2014 (blog) Blog Página

[blogueiro; blog pessoal]

Não Não E-mail