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97 Em 1999, foi criada a RedLAC com a missão de “Construir um sistema efetivo de

A CONTRIBUIÇÃO DA REDE BRASILEIRA DE FUNDOS SOCIOAMBIENTAIS PARA

97 Em 1999, foi criada a RedLAC com a missão de “Construir um sistema efetivo de

aprendizagem, fortalecimento, capacitação e cooperação através de uma rede com a finalidade última de contribuir para a conservação dos recursos naturais de América Latina e do Caribe”. No rastro dessa experiência, surge no ano de 2000 a primeira iniciativa

de se constituir a Rede Brasileira de Fundos Ambientais a partir de um levantamento que identificou a existência de 11 fundos que se reuniram naquele ano em Vitória (ES). Coordenada pelo FNMA, a iniciativa teve o apoio da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (ABEMA). Entretanto, a ausência de respaldo social e institucional inviabilizou o amadurecimento da proposta.

Até então, o FNMA dedicava-se quase que exclusivamente ao atendimento de demandas. Sem menosprezar sua importância, o fato é que essas demandas não eram concebidas na perspectiva de políticas e programas nacionais de Meio Ambiente, o que restringia a atuação do fundo. Alguns esforços foram determinantes para mudar tal orientação. O primeiro e mais sensível deles foi à definição de uma nova missão: “Atuar

como agente financiador da Política Nacional do Meio Ambiente por meio da participação social”. Um segundo ponto de inflexão foi a implantação da Demanda Induzida. Isso

viabilizou uma perspectiva macroeconômica na atuação do FNMA, que passou a financiar temas até então excluídos de suas carteiras, tais como a gestão de resíduos sólidos, por exemplo. Essa escolha permitiu o aumento de escala e inspirou a operação dos outros fundos no Brasil.

Em 2004, a proposta da Rede Brasileira de Fundos é resgatada, passando a incluir o aspecto socioambiental, incorporado ao nome definitivo da rede. Diversos fatores contribuíram para seu sucesso. O primeiro elemento da proposta tratou da diretriz estratégica do Ministério do Meio Ambiente (MMA) referente ao fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA). Um segundo aspecto foi o seminário interno sobre fomento, realizado no MMA em 2003, quando houve uma sinalização para a necessidade de mecanismos financeiros de gestão ambiental, incluindo a criação de um Departamento de Fomento, que coordenasse o tema no ministério. As Conferências Nacionais de Meio Ambiente foram o terceiro elemento a compor o cenário propício para o surgimento da rede brasileira. Nas conferências, a sociedade teve a oportunidade de se manifestar pela necessidade de rever seus instrumentos de financiamento da política ambiental.

Respaldada social e institucionalmente, a nova investida começou com a realização de um diagnóstico de fundos estaduais, cujos resultados foram apresentados no Seminário de Fortaleza, que também teve como um de seus desdobramentos o lançamento do Edital de Fundos em 2005.

A Rede Brasileira de Fundos Socioambientais foi criada em 06 de junho de 2006 por meio de uma portaria ministerial5. A rede guarda semelhanças com a sua inspiradora

RedLAC, sobretudo no que se refere ao fortalecimento de capacidades e à troca de experiências, uma vez que pretende estimular o funcionamento e contribuir para o fortalecimento dos fundos socioambientais do país. Todavia, a rede brasileira incorpora

um novo componente: o co-financiamento da PNMA, que tem como fonte de inspiração não mais a RedLAC, mas os sistemas públicos nacionais de financiamento como o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

Ressalte-se que essa perspectiva se fortalece pela sinergia com as ações de outros programas de governo, como o Programa Nacional de Capacitação de Gestores Ambientais (PNC) e as Comissões Tripartites e pelo protagonismo de atores-chave como a ABEMA e a Associação Nacional de Orgãos Municipais de Meio Ambiente (ANAMMA). Também é um ponto de fortalecimento a proposta de regulamentação do Art. 23 da CF, que estabelece as competências comuns entre União, estados, Distrito Federal e municípios, o chamado pacto federativo, que considera os fundos ambientais como instrumentos da gestão ambiental.

O processo histórico de construção das redes de fundos na América Latina traz alguns ensinamentos. A RedLAC nasceu em 1999 com uma estrutura centralizada a partir de um comitê que se aglutinaria com base em núcleos regionais e foco temático na conservação da biodiversidade. Tal estrutura centralizada está sendo revista de modo a acolher e facilitar conexões parcerias regionais, bilaterais ou transnacionais que dialoguem com as diretrizes de toda a rede.

A missão da RedLAC precisou ser revista para incorporar um viés político- estratégico, qual seja: “Promover a inter-relação e o fortalecimento dos fundos ambientais

da América Latina e do Caribe em um sistema de aprendizagem contínuo em prol da conservação do patrimônio cultural e do desenvolvimento sustentável da região”.

Uma das ações que refletiram a mudança de comportamento da RedLAC foi a incorporação da perspectiva de representação “política” dos fundos ambientais por meio de uma carta enviada em 2001 aos fóruns de ministros com vistas à reunião de Johannesburg (África do Sul) em 2002. Essa iniciativa reascendeu durante a 8a Conferência

das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP-8), realizada no Brasil em 2006, ao se solicitar que fosse analisado pela convenção o pleito de que os fundos ambientais fossem considerados instrumentos da implementação da Convenção sobre Diversidade Biológica. A proposta foi apoiada por oito países, inclusive o Brasil.

Outro elemento foi a substituição do termo “conservação” por “desenvolvimento sustentável”. O fato reflete a perspectiva de atuação dos fundos de meio ambiente da América Latina e do Caribe no financiamento socioambiental da região.

De todo esse processo, restou para a Rede Brasileira de Fundos Socioambientais a lição de se organizar como uma rede flexível, capaz de acolher as demandas conforme as mudanças de temáticas ambientais e cenários políticos.

À luz dessa experiência, foi concebida a estrutura da Rede Brasileira de Fundos Socioambientais, que tem como norte o aprimoramento do desempenho do financiamento ambiental no país. Assim, mesmo seus primeiros rascunhos incorporaram um arranjo descentralizado, buscando fortalecer novos “nós” que reconhecessem os regionalismos e

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