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CONHECIMENTO DECLARATIVO

4.3. Em função dos anos de prática

No quadro 6 podemos observar a relação existente entre o Protocolo de Conhecimento Declarativo e os anos de prática. Como podemos constatar, a relação é negativa e significativa, com valores próximos de -1, ou seja, com um nível elevado de correlação. Assim, quanto maior o número de anos de prática de um atleta, menos serão os erros encontrados no teste de CD (maior o nível de CD).

Quadro 6 – Relação entre o conhecimento declarativo e os anos de prática de Futsal.

* Diferença estatisticamente significativa (p < -0,05).

CONHECIMENTO DECLARATIVO

Anos de Prática -0,6 *

Mais uma vez, estes resultados estão em sintonia com estudos analisados durante a execução deste documento, pois vem corroborar outros autores (Helsen e Pauwels, 1987; Rippol, 1987; Tavares, 1993; Tenenbaum et al. 1993; Mendes, 1999) que sugerem que a qualidade de decisão está correlacionada com a experiência e anos de prática.

Numa perspectiva de anos de prática, Helser e Pauwels (1987), num estudo com jovens praticantes de futebol, mostram claramente que os praticantes com mais de 10 anos de experiência podem tomar decisões tácticas em maior quantidade e de forma mais rápida e no momento mais propício, em comparação com os praticantes com menos de 10 anos de experiência. Mangas (1999) conclui também que a qualidade de acção está correlacionada com a experiência e anos de prática. Em consonância, Mendes (1999), num estudo com basquetebolistas, dividiu a amostra em 2 grupos em função dos anos de prática. O grupo de atletas com 4 ou mais anos de prática apresentam um CD superior em relação aos

colegas com menor número de anos de prática. Para Ericsson (2003), um indivíduo para ser especialista dentro de um qualquer contexto (desportivo ou não) tem que estar sujeito a pelo menos dez anos de prática intensiva para adquirir as capacidade e a experiência necessárias.

Na mesma linha, Correia (2000) também encontra diferenças na variável anos de prática, mas sem diferenças estatisticamente significativas. Já Fontinha (2004) afirma que o CD correlaciona-se positivamente com o nível e o tempo de prática.

Remetendo-nos ao presente estudo, os atletas mais experientes são expostos a um número significativamente superior de anos de prática em relação aos seus colegas principiantes. Esta superior exposição leva a que os expertos tenham já interiorizado os conceitos inerentes ao jogo de um modo mais aprofundado e linear, reflectindo-se isso na superior qualidade de tomada de decisão. Estes resultados estão em sintonia com os encontrados na variável anterior (especialização), pois os atletas profissionais (com um maior nível de CD em relação aos amadores) têm também um maior número de horas de prática semanal, ambos com diferenças significativas sob o ponto de vista estatístico.

Williams e Hodges (2004) referem que os jogadores passam a maior parte do seu tempo de prática com a intenção de melhorar as suas capacidades técnicas, facto apontado como errado, pois muitas vezes a prática é dirigida de acordo com a tradição e intuição que o treinador possui. Prática Deliberada e instrução bem orientada são ingredientes da receita para o sucesso (Ericsson, 1993).

Uma consistente observação em jogadores de elite mostra que estes, com o passar dos anos, acumulam cerca de 10 mil horas de prática antes de atingir níveis internacionais (Williams e Hodges, 2004). Apesar disto, não basta apenas acumular horas de prática. Temos de saber como dirigir o processo de treino para os objectivos de jogo.

Sobre a mesma temática, Chi e Glasser (1992) referem que os especialistas em determinada área acumulam ao longo dos anos conhecimentos específicos, que são originados pela experiência e são transformados em padrões de reconhecimento para as soluções serem mais eficazes. Para que a resolução de problemas seja bem sucedida, é necessário que os conhecimentos estejam bem

organizados e estruturados, pois só assim é que o atleta é capaz de responder ás solicitações do jogo de um modo eficaz e correcto.

Mahlo (1980) estudou basquetebolistas e sustentou que os jogadores experientes, quando comparados com colegas menos experientes, com menos anos de prática, apresentam um sistema perceptivo mais aperfeiçoado para reproduzir a organização de jogo e, ao mesmo tempo, descodificam mais profundamente a informação que os rodeia.

Também French e Thomas (1987) efectuaram um estudo com atletas de Basquetebol, avaliando a relação entre o CD e o rendimento em jogo. Concluíram que na generalidade, os jogadores com mais anos de prática demonstraram maior conhecimento da modalidade, aliado a um rendimento superior. Os resultados indicaram também que o conhecimento de jogo estava relacionado directamente com a capacidade de tomar decisões. McPherson e Thomas (1989), num trabalho semelhante, mas com uma amostra constituída por jovens praticantes de Ténis, encontraram resultados semelhantes aos do Basquetebol.

William e Davids (1995) efectuaram um estudo com futebolistas. O objectivo era saber até que ponto o CD de atletas de alto nível é resultado da experiência acumulada, ou característica intrínseca aos melhores jogadores. Os resultados demonstraram um maior conhecimento específico por parte dos jogadores de alto nível. Na opinião dos autores, o seu elevado conhecimento de base, permitiu-lhes descodificar e processar a informação de forma mais eficiente.

Assim, se o conhecimento da modalidade praticada for vasto, com elevado número de anos de prática, o jogador sente uma correcta percepção do que é realmente importante, o que vai espelhar-se numa qualidade de tomada de decisão. Os JDC implicam uma solicitação importante das capacidades cognitivas, sendo por isso importante centrar a formação no desenvolvimento cognitivo, para que os atletas estejam prontos para responder às situações de jogo.

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