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eM noMe do espírito santo e da senHora de LoUrdes

No documento Livro Freguesia do DES da Feteira (páginas 85-139)

A religiosidade pode considerar‑se como um dos eixos estruturadores da história e da cultura açorianas. Nos Açores, a implantação da igreja católica e o seu contributo na organização do espaço social insular remontam aos inícios do povoamento.

Ao longo do tempo verificamos que se constitui como uma instituição estruturadora do espaço por força da omnipresença dos seus ministros que em muitas circunstâncias assumiram, devido à relativa demissão social do poder civil, múltiplas iniciativas, que ultrapassaram o sim‑ ples dever da assistência religiosa, tais como a formação, o entretenimento e a solidariedade.

Por conseguinte, todos são batizados, casam na igreja e na hora da morte são assistidos pelo padre, que chegou nos nossos meios rurais a ter um papel de destaque não só como pastor, mas também como conselheiro, como autoridade, como mobilizador da comunidade na criação de filarmónicas, de escolas noturnas e de clubes desportivos, daí a expressão muito popular o

senhor padre-cura. Ou seja, a vivência religiosa das populações é encarada como uma esperança

de melhores dias neste mundo e de salvação eterna, de “salvar a alma do diabo”, numa alusão à expressão popular. Por isso, cumpre os sacramentos – Batismo, Confirmação, Eucaristia, Con‑ fissão e Extrema Unção –, participa nas festas que se realizam ao longo ano litúrgico – Natal, Páscoa, Santa (o) Padroeira (o) e outras dedicadas a diferentes Santos próprios da cada paróquia –, durante muito tempo enterrou‑se nas Igrejas e praticou e pratica a caridade.

Deste modo, o espaço eclesiástico em torno de uma paróquia (freguesia), cujos habitantes eram conhecidos por filhos da Igreja ou por fregueses, foi determinante no plano da existência individual e coletiva

Em suma, a religiosidade açoriana é proclamada de uma maneira incontestável, visível no grande número de igrejas, conventos, capelas, ermidas e nichos existentes em todas as ilhas (daí a estreita ligação entre arte e religião), além das inúmeras festas religiosas, com luzidas procissões e grande número de romeiros/peregrinos, que se realizam ao longo de ano, porque dia de festa era um dia de entusiasmo na freguesia. Ao lado da festa privada e familiar (o batismo e o casamento) e da festa pública, temos a festa religiosa, com as suas romarias e as festas dos oragos (com as missas, e procissões e arraiais).

No caso da ilha do Faial, verifica‑se essa presença, como se comprova através da História

Insulana, do Padre António Cordeiro, na designação toponímica das freguesias faialenses, resul‑

tante do respetivo orago e de uma vivência estruturada em torno das paróquias, porque foram estas que melhor contribuíram para a organização da sociedade insular, uma vez que se identificam com espaços sacralizados detentores de ritos, de culto e de orago protetor, cujas festas oferecem uma profunda interação entre o popular e o religioso: A freguesia do Espírito Santo da Feteira, tendo como titular Nossa Senhora de Lourdes.

A primeira alusão ao “governo eclesiástico” da Feteira remonta à carta de 1568, já referida, o que demonstra o crescimento socioeconómico e populacional da comunidade feteirense. Mas é novamente Frutuoso que nos informa, a este respeito, que nos finais do século XVI a Feteira era uma freguesia de “advocação do Espírito Santo”, que tem uma igreja e uma ermida (São Pedro),

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assunto que será depois retomado, vigário (Pedro Camelo de Sampaio, a mais antiga referência a um sacerdote a pastorear na freguesia) e tesoureiro e uma confraria, a do Santo Sacramento, que afirma ser “a mais rica da ilha”1.

Registamos ainda, em 1928, a criação da Corporação encarregada do culto católico na freguesia Feteira, então presidida pelo Pe. Manuel Moniz Madruga2, formada de acordo com as regras da Constituição da Igreja Católica. Pela análise dos respetivos Estatutos, se é certo que tinha com finalidade promover e sustentar o Culto Católico Público, não é menos verdade que isso lhe permitia “gozar da capacidade jurídica necessária para adquirir e administrar os bens temporais, quer mobiliários quer imobiliários, destinados ao mesmo culto”3.

4.1. igrEja paroquiaL do divino Espírito santo

Ernesto Rebelo considerava, em 1890, a igreja paroquial da Feteira, virada a poente, com sineira pontiaguda à esquerda, como uma das mais antigas da ilha do Faial, localizada no centro de uma fértil planície por onde se estende a freguesia, construída no mesmo local onde existira uma pequena capela ou ermida erigida pelos primeiros habitantes que se colocaram sob a proteção do Divino Espírito Santo, o que significa que o atual templo é o resultado de profundas e/ou de pequenas reparações que foi sofrendo na sua estrutura arquitetónica ao longo dos séculos, devido à degradação natural por falta de meios de conservação, ao aumento da população e à cadência das crises sísmicas e ciclónicas, o que não deixou de merecer o cuidado das juntas de paróquia, das populações e das autoridade locais, regionais e nacionais. Certamente que esta alternância entre (re) construção e destruição foi responsável pela perda de um valioso espólio sacro.

De acordo com a tradição, a localização da igreja junto ao mar, numa freguesia que se estende de forma tentacular do litoral para o interior e em várias direções, justifica‑se por uma lenda em torno de uma singular pombinha, extraordinariamente mansa, em que as pessoas julgaram ver nela uma manifestação do Espírito Santo.

Reza a lenda que o templo se deveria construir no sítio da Atalaia, na parte alta do centro da freguesia. Mas precisamente no lugar onde a viriam edificar apareceu a tal pombinha. Apanharam‑ na e sem nenhum custo levaram‑na para a Atalaia. Porém, a mesma ave voltava sempre ao local onde havia sido apanhada. Situação que se repetiu por três vezes. Então a população decidiu que a igreja deveria ser construída no sítio que ela mostrava preferir. Depois de iniciada a obra a pombinha desapareceu e nunca mais foi vista. É nesta conformidade que se há de entender a lenda, isto é, a igreja ocupou sempre o mesmo local, sendo de invocação do Divino Espírito Santo. 1 Gaspar Frutuoso (c. de 1590), “Saudades da Terra”, in Mário Viana [coord.], História a Ilha […], já cit., p. 58 [49‑67].

2 O padre Madruga foi um dos onze sacerdotes que no concelho da Horta, na sequência dos artigos 113 e 114 da Lei de Separação da Igreja e do Estado, viria a receber uma pensão – daí a designação de padres pensionistas – atribuída pelo regime republicano. Aquela vinha substituir a anterior côngrua. Tinha como objetivo resolver o problema de subsistência do clero que o constitucionalismo monárquico não resolvera de forma satisfatória. Sobre o assunto, veja‑se Vítor Neto, “A questão religiosa na 1.ª República. A posição dos padres pensionistas”, Revista da História das Ideias, Coimbra, Instituto de História e Teoria das Ideias, 1987, pp. 137‑157; Sérgio Ribeiro Pinto, “O clero paroquial e a I República. Nova abordagem à querela das pensões (1910‑1917)”, Lusitânia Sacra, 2014, julho‑dezembro (30), pp. 99‑134

3 BPARJJG, Estatutos da Corporação encarregada do Culto Católico na freguesia do Espírito Santo, Feteira da ilha do Faial, 1928. Idêntica corpo‑ ração seria criada nas outras freguesias faialenses.

Apesar de não sabermos a data da sua construção, as fontes apontam que já estava cons‑ truída em 1568, pois a ela se refere D. Sebastião na sua provisão de 30 de julho daquele ano, na qual a côngrua do respetivo vigário subiu de 10 para 20 mil réis, e que não devia ser muito diferente daquela que é referida por Gaspar Frutuoso, cerca de 1590, nas Saudades da Terra, quando alude que a igreja na freguesia da Feteira é dedicada à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade [Espírito Santo]4. Mas o cronista micaelense são se fica por aqui. Ou seja, adianta‑nos que a freguesia tinha uma igreja constituída por “três naves, com cinco colunas sobre as quais 4 “Celebrou‑se a festividade do Divino Paráclito, orago da freguesia, com missa cantada e sermão, pregado pelo respetivo pároco. Foi precedida da

sua competente novena” “FREGUESIAS RURAIS. Feteira”, O Faialense, 1889, maio 30 (49), pp. 2‑3.

Gravura 51: Igreja paroquial, finais do século XIX

Gravura 52: Igreja paroquial depois das obras de reconstrução do sismo de 1998

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está a armação de madeira e teto e duas capelas aos lados direito e esquerdo”5. Por isso, a única certeza que os documentos consagram é que teria sido edificada ao longo do século XVI.

No entanto, note‑se que o bispo de Angra D. Francisco José Ribeiro Vieira e Brito [1892‑ 1901], no seu relatório elaborado na sequência da visita AD SACRA LIMINA de 1900, às dife‑ rentes ilhas dos Açores, ao referir‑se à Feteira, depois de constar que era uma freguesia extensa em área e que, por isso, muitas pessoas não podiam ir à “igreja por esta ficar junto ao mar, no extremo sul da povoação”, logo adiantava que seria de toda a utilidade a construção de uma er‑ mida em lugar mais central. Vai mesmo mais longe ao indicar onde a mesma se deveria construir – Atalaia – porque “há quem ofereça terreno”, embora não diga quem. Neste contexto, não tem quaisquer dúvidas quando afirmava: “Um curato ali era muito necessário, porque muita gente fica sem poder concorrer à Igreja paroquial, especialmente quando as chuvas pondo os caminhos em atoleiros lamacentos, os torna intransitáveis”6.

A igreja paroquial da Feteira, como refere Frutuoso, desde sempre foi de invocação ao Di‑ vino Espírito Santo, o que significa que, desde os inícios do povoamento das ilhas, a devoção à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade se mantém incólume, ou seja, “apesar de alguma diver‑ sidade na origem dos povoadores das ilhas, a crença na fé católica foi um fator unificador dos mesmos”7. No fundo, na Feteira os seus habitantes não se ficaram pela devoção, dedicaram a sua “igreja” à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, o que nos permite afirmar que esta invocação é original, uma realidade distinta no conjunto dos oragos faialenses.

Ao longo do tempo a igreja sofreu reparações cuja natureza deriva das circunstâncias do momento.

Assim, em 1824 sofreu a sua maior reedificação8, ficando uma inscrição sobre a porta prin‑ cipal com aquela data e com as letras VICR localizadas no avental da janela central.

Anos depois, em 1864, seria concluída a sua torre sineira, situada no lado esquerdo da igreja. Dizem as fontes, que esta deve ter sido começada em 1846, porque pela leitura da ata da sessão ordinária da Câmara de 20 de maio do mesmo ano, então presidida por Francisco Garcia do Rosário, esta concedia à Junta de Paróquia da Feteira, na sequência de dois ofícios um da mesma e outro do regedor, licença para extrair pedra para a construção da Torre da Igreja. Pela leitura de um ofício – resposta – enviado pela Câmara à Junta, verificamos que a pedra necessária para a construção devia ser extraída do lugar da Lajinha. E a razão era muito simples: evitar mais despesas, “as quais decerto se excederão do orçamento feito”. Porém, como vimos referindo, na dita licença chamava‑se ainda a atenção para que a extração de pedra não causasse quaisquer prejuízos tanto ao público como aos logradouros existentes na Lajinha9. Pela aproximação das duas datas pode concluir‑se que a construção da dita torre levou cerca de 18 anos.

5 Cf. Gaspar Frutuoso, “Saudades da Terra”, já cit., in Mário Viana [coord.], História da Ilha […], p. 58.

6 D. Francisco José Ribeiro Vieira e Brito, Relatório da Diocese de Angra por Ocasião da Visita Ad Sacra Limina, Angra do Heroísmo, Boletim Eclesiástico dos Açores, 2014, pp. 118‑119.

7 Susana Goulart Costa, Açores: Nove Ilhas, Uma História, Ponta Delgada, Presidência do Governo Regional dos Açores/Direção Regional da Cultura/ Centro de Conhecimento dos Açores, 2008, p. 232.

8 Hélder Fonseca Mendes [dir. e coord.], Igrejas Paroquiais dos Açores, Suplemento do Boletim Eclesiástico dos Açores, vol. 60, Angra do Heroísmo, Diocese de Angra, 2010, pp. 7‑8.

9 BPARJJG, Câmara Municipal da Horta, Livro de Vereações, 18413‑1847 (25), fls. 97 v.‑98: ”Sessão da vereação de 20 de maio de 1846”; Idem, Livro de Registos, 1842‑1846 (23), fls. 131 v.‑132: “Registo do Ofício ao presidente da Junta de Paróquia, Regedor da Feteira, em resposta a outro dos mesmos, concedendo‑lhe licença para extrair pedra para construção da torre da Igreja [22 de maio de 1846].

Sete anos depois – 1871 –, é descrita por Silveira Macedo como um belo templo de arquite‑ tura e escultura singela, mas elegante. Releva ainda que a paroquial da Feteira tem 13,64 metros de largura e de 35,64 metros de comprimento, com três portas e em correspondência janelas. Tal permite acreditar que daquela reedificação resultou uma igreja que passou a constituir um grande e magnífico edifício, como se pode ver, em 1890, na ilustração da primeira página da folha diária hortense O Açor10.

De acordo com o autor que vimos citando, ao entrar‑se no seu interior, verifica‑se que a capela‑mor é dedicada ao Espírito Santo, e que os dois altares laterais são dedicados respetivamente ao Bom Jesus – direito – e à Sagrada Família – esquerdo – respetivamente.

10 O Açor, 1890, janeiro 23 (378), p. 1.

Gravura 52: Igreja paroquial, em 1890

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Em 1882, a ilha do Faial seria assolada, sobretudo de forma mais intensa na parte leste da ilha, na madrugada de 3 de maio, por quatro abalos de terra, considerado o penúltimo, ocorrido às 2h15, como devastador.

Como é natural, nestas ocasiões, e perante algo que ocorre, muitos vezes, de forma repen‑ tina, o susto provocado levaria as pessoas a saírem das suas moradas, “vestidas com o que mais de pronto puderam alcançar”, como se pode ler na imprensa faialense. Seguiram‑se nos dias subsequentes pequenas réplicas, mas de fraca intensidade, que passaram ao lado da maioria dos faialenses, sendo mesmo alguns rotulados pela imprensa como “filhos da imaginação” de uma população inquieta e intranquila11.

A análise dos estragos, embora não caiba neste trabalho fazê‑la, contudo permite referir que se verificou alguns desmoronamentos em pequenas habitações e alguma destruição em edifícios de maior volumetria, sobretudo em várias igrejas, entre elas a da Feteira. Embora não se identi‑ fique que tipo de destruição se verificou na estrutura da igreja, um documento do Governo Civil adianta que o custo das reparações a efetuar rondaria os 298$000 réis12.

Nestas circunstâncias, verificamos que, em 1888, o correspondente da Feteira do semanário

O Faialense, escrevia que “na igreja paroquial, de há quatro anos a esta parte, tem‑se feito e

continuam a fazer‑se, muitos melhoramentos materiais”. Mas não se fica por aqui, ou seja, diz‑ nos que melhoramentos, de maior monta, eram esses:

“Pintura e douramento dos altares: estofamento de todas as imagens; púlpitos novos, também pintados e dourados, sendo de um gosto muito simples, mas elegante.

As colunas estão caiadas, e já podiam estar pintadas, se não fossem as questões políticas na Junta de Paróquia, questões em que quase tudo sempre transparece a arrogância e a pouca polidez dos que por vias tortas querem conseguir os seus fins. Felizmente os ânimos estão mais serenados13”.

Mas este cuidado com a igreja paroquial levou o correspondente a salientar o papel im‑ pulsionador do reverendo Pires de Matos, a quem apelida de “saudosíssima memória”, para logo exclamar que encontrou âncoras de suporte nas oferendas dos paroquianos e na Junta de Paróquia que consignou nos seus orçamentos grandes verbas para os melhoramentos da mesma. Mais ainda, chega mesmo a afirmar, de forma taxativa, que aquela “não se tem esquivado em dar as doações que lhe é possível despender em benefício do templo”, lembrando em nome da verdade “o seu respeitável e muito digno presidente” Manuel Silveira de Lemos, pela maneira como tem sabido aplicar os rendimentos da paróquia14.

11 Cf. Sobre o assunto, veja‑se BPARJJG, Governo Civil do distrito da Horta, Relação dos edifícios públicos e privados que sofreram prejuízos, no concelho da Horta, por ocasião do terramoto do dia 3 de Maio de 1882, Horta, 5 de Julho de 1882.

12 Idem; “Noticiário [Tremores de Terra]”, O Faialense, 1882, maio 7 (40), p. 4. 13 “Freguesias Rurais. Feteira. Julho 18 de 1888”, O Faialense, 1888, julho 22 (52), p. 3.

14 Idem. Pela leitura dos orçamentos da Junta de Paróquia verificamos que a esta em relação à igreja tinha como despesas obrigatórias: aquisição de livros para o registo Paroquial e rol de confessados, incenso e santos óleos; festa do orago: novenas, sermões, música ‑ Capela e de Filarmónica ‑, fogo e iluminação; guarda e limpeza do cemitério; lavagem das roupas e da igreja; pinturas interiores (altares) e exteriores, cf. BPARJJG, Junta de

Paróquia da Feteira, Orçamento da Junta de Paróquia para o 1882 [aprovado a 12 de março de 1882]; Idem, Junta de Paróquia da Feteira, Orça‑

mento da Junta de Paróquia para o 1897 [aprovado a 11 de outubro de 1896]. Ainda no vasto rol de arranjos, verificamos a remodelação e limpeza do adro e pintura dos muros do cemitério e respetiva limpeza, AJFF, Junta de Freguesia da Feteira, Livro dos Orçamentos Gerais e Ordinários da Comissão Administrativa da Junta de Freguesia da Feteira, concelho da Horta, 1938‑1962.

Aceitando os dados do correspondente, pode mesmo admitir‑se que aqueles melhoramentos decorreram na sequência do sismo de maio de 1882.

Em 1889, ainda pela leitura do dito correspondente, pode mesmo admitir‑se que a oferta de um “grande e elegantíssimo lustre” à igreja e um quadro para o pórtico do altar vinham na sequência dos “melhoramentos que se têm feito na nossa igreja”.

Assim, em maio daquele ano, reportava que o “benemérito e respeitável cavalheiro desta freguesia”, Francisco Urbano da Silva, solicitou a uns amigos que “tem na república norte‑ americana para promoverem uma subscrição para este fim”, tendo também contribuído com uma avultada soma para a aquisição do supracitado lampadário (lustre). É nesta conformidade que se há de entender a “importante quantia” que deu para a compra de outros dois lustres mais pequenos, “que brevemente serão colocados na igreja”.

Na correspondência pode ler‑se ainda a respeito daquele lustre:

“Foi a Exma. família Dabney que se encarregou de mandar vir da Alemanha o dito lustre, não querendo pelo seu incómodo a menor remuneração. Louvores a tão simpática família, e bem assim ao zelosíssimo Sr. Urbano, por ser incansável em querer abrilhantar o nosso templo, que já muito lhe deve”15.

Volvidos dois meses, informava que a Junta de Paróquia havia solicitado ao “habilíssimo e distinto artista” José Nunes Sobrinho que desenhasse e pintasse um quadro a óleo – descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos – para colocar no pórtico do altar‑mor, tendo o mesmo custado 50$000 réis. A propósito conclui: “É digno dos maiores encómios a atual Junta de Paróquia, por ter feito na nossa igreja mais este importante melhoramento16.

Para entendermos o alcance dos melhoramentos na igreja por parte da Junta de Paróquia, a leitura de uma correspondência de janeiro de ano seguinte, permite perceber que muitos tinham sido os melhoramentos materiais que havia feito no templo. Se por um lado, se alude que se pretendia realizar outros e que a dita Junta havia mandado vir muitas jarras para flores, grande número de castiçais, e uma “bonita umbela” – pequeno pálio; por outro, notamos que a sua inter‑ venção não deixaria de contar com a “oposição dos que deviam ser os primeiros a aprovar‑lhes as suas sensatas deliberações”17.

Ainda em 1890, podemos adiantar que se colocou a necessidade de comprar um harmónio, o que viria a acontecer. A propósito, a Irmandade do Santíssimo não mandou celebrar o ofício fúnebre, em comemoração dos fiéis defuntos, para que a verba a gastar nessa cerimónia fosse usada naquele sentido. Porém, a pena do correspondente, que já aludimos, não deixa de salientar que o “povo daqui também contribuiu com alguma coisa para a ajuda da compra do dito harmónio”18. Por conseguinte, com o correr do tempo da aliança entre a Junta de Paróquia, os beneméritos e o povo nasceu a ideia de que a igreja possuía os meios necessários para a sua sustentabilidade e manutenção:

15 “FREGUESIAS RURAIS. Feteira”, O Faialense, 1889, maio 30 (49), pp. 2‑3. 16 “FREGUESIAS RURAIS. Feteira”, Ibidem, 1889, julho 21 (52), pp. 2‑3.

17 “FREGUESIAS RURAIS. Feteira. Janeiro, 7 de 1890”, Ibidem, 1890, janeiro 12 (25), pp. 2‑3. 18 Idem.

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“Para falarmos com franqueza a nossa igreja não precisa que se implore a caridade pública para a compra de qualquer alfaia para o seu adorno porque não é pobre, sendo os seus rendimentos de sobejo para o que ela necessitar. Só as oferendas que se fazem à imagem da Senhora de Lourdes chegam para o seu custeio, e ainda há de restar muito. / Graças a Deus que este ano não pediram esmolas para as novenas do Menino Jesus!

No documento Livro Freguesia do DES da Feteira (páginas 85-139)

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