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Movimento de nascimentos, óbitos e emigrados no concelho da Horta nos anos de 1883,1884, 1885, 1886,1887, 1890,

No documento Livro Freguesia do DES da Feteira (páginas 47-56)

nascimentos óbitos emigrados

ano Feteira total Faial Feteira total Faial Feteira total Faial

1883 62 711 43 489 44 351 1884 59 702 46 456 28 302 1885 65 689 38 461 27 207 1886 64 705 44 447 16 178 1887 72 696 41 447 27 251 1890 74 607 69 613 33 343 1893 63 575 39 422 38 346 1894 51 593 31 391 28 213 1896 52 601 48 518 18 213 1900 68 588 61 522 39 315 1902 63 593 40 441 58 454 1904 63 582 31 391 47 394 1907 37 553 47 415 51 352 1910 50 554 55 479 24 342

Fontes: pOrtugaL, Censos de População de 1890 e de 1900; BparJJg, Mapas estatísticos do movimento da população no Concelho da Horta de 1883,1884, 1885, 1886,1887, 1890, 1893,1894, 1896, 1900, 1902, 1904, 1907 e 1910.

Apurou‑se, na nossa dissertação de doutoramento, que compreendia o período de 1880‑1926, que do concelho da Horta saíram no mesmo lapso de tempo em direção a vários países de destino 12 231 naturais e/ou residentes das 13 freguesias da ilha, cabendo à freguesia da Feteira 1 258 indivíduos (10,2%).

Como já se se referiu, registamos que, e de acordo com os censos de 1930, 1940 e 1950, a população da ilha do Faial volta a crescer, ultrapassando até os números dos censos de 1900, 1911 e de 1920.

Esta situação deveu‑se ao facto de os EUA, na década de 1920, terem dado início a uma política de restrições à emigração, ao estabelecerem um sistema de quotas por nacionalidade (Quota Act ou Emergency Restriction Act of 1921, o Johnson Read Act of 1924 e o The Immigra-

tion and Nationality Act of 1952 ou Mcarran-Walter Act of 1952.

Finalmente, na decorrência do Vulcão dos Capelinhos o decréscimo da população faialense viria a acentuar‑se. Primeiro, na sequência da concessão de facilidades de acolhimento de sinis‑ trados por parte do governo dos Estados Unidos fora do âmbito restritivo do sistema de quotas (a Public Law 85-892, de 2 de setembro de 1958 e a Public Law 86-648, de 14 de julho de 1960, vulgarmente conhecidas por Azorean Refugee Act of 1958 e Azorean Refugee Act of 1960; depois,

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na sequência do Hart Cellar Act of 1965, assinado pelo presidente Johnson a 13 de outubro, que tinha, entre outros, os seguintes objetivos: eliminar o sistema de quotas com base na nacionali‑ dade e contribuir para a união das famílias, fomentando a sua reunião em território americano. De acordo com as leis de 2 de setembro e de 14 de julho, seriam atribuídos respetivamente 1500 e 500 vistos. No termo da concessão, 30 de junho de 1962, seriam abrangidos 4 874 sinis‑ trados do vulcão dos Capelinhos, sendo 241 residentes na freguesia da Feteira (4,9%)23.

sinistrados da Feteira – naturais e residentes – abrangidos pela Lei especial americana. . Adelaide da Silva Furtado; Alfredo de Faria (Maria Leonor Dutra, Anselmo Francisco

de Faria e Maria Natália Dutra de Faria); António Caldeira da Silva (Maria Adelaide Goulart e José Eduíno da Silva); António da Rosa Sousa (Durvalina Silveira Medeiros); António de

Faria (Maria Alice Faria, João António de Faria e Urbano Manuel Faria); António de Vargas

(Nisa Mendonça); António Furtado Fortuna (Filomena da Rosa Ferreira e Marcelino da Rosa Fortuna); António Moitoso (Virgínia de Faria); António Silveira dos Santos (Teresa da Glória de Faria e Hélder António Faria dos Santos); António Silveira Dutra (Zulmira de Lourdes, Humberto Silveira Dutra, Alfredo Faria Dutra e José António de Faria Dutra); Artur Serpa;

Dinis Melo da Silva (Maria Bernardete da Costa e Urânia Maria Costa da Silva); Domingos Ferreira de Matos (Elvira da Conceição Matos e Maria da Conceição Ferreira de Matos); Eduíno Vargas Brum (Maria Alice da Fonte, Silvino de Vargas Brum, Maria Albertina Brum,

Rogério Herculano da Fonte Brum e Aldina Maria Brum); Estulano Garcia (Irene Leonor Pires, Manuel Estulano Garcia e Maria de Lourdes Pires Garcia); Faustino Cordeiro (Filomena do Coração de Jesus Pereira, Manuel Leonardo Cordeiro, Cândido Manuel Cordeiro, José Domingos Cordeiro e Maria da Glória Pereira); Filomena do Céu da Silva; Francisco de Melo Furtado;

Francisco de Vargas Dias (Fernanda Amélia Pinheiro, Maria e José Eduíno); Francisco Iná- cio de Lemos (Maria da Glória Garcia, José Francisco de Lemos, Albertina Garcia de Lemos,

Albertina Garcia de Lemos e Mário Garcia de Lemos); Francisco Inácio Furtado (Natália da Silva Lopes Furtado, Maria Celeste Lopes Furtado e Alda Maria Lopes Furtado); Francisco José

Fernandes (Maria Amélia, Maria Lídia Fernandes, Maria Amélia Fernandes e Olga Maria Dutra

Fernandes); Francisco Pereira Matos Júnior (Margarida Miguel, Maria Margarida Garcia de Matos, Alda Maria Garcia de Matos, Flávia Maria Garcia de Matos, Maria Manuela Garcia de Matos, Ana Maria Garcia de Matos e Rita Maria de Matos); Francisco Silveira de Sousa (Rita Oliveira, Maria Albertina de Sousa, Manuel Fernando de Sousa, Maria Alexandrina de Sousa, António Silveira de Sousa e Carlos Manuel de Sousa); Franklin Carlos da Silva (Maria Palmira da Silva); Frederico Silveira dos Santos (Maria de Lurdes de Vargas); Humberto Serafim da

Silva (Maria Manuela da Silva Garcia); Isauro Jerónimo de Faria (Idalina Moniz de Carvalho

e Ilda Moniz Tavares); João António de Faria (Zélia Garcia Peixoto, Maria da Glória de Faria, Manuel António de Faria e Maria de Fátima Peixoto de Faria); João Garcia Luís (Ester Lúcia da Terra Oliveira e António Luís Oliveira Garcia); João Paulo da Rosa Silva; João Victorino 23 Cf. Carlos Lobão, A Geração do Vulcão, Horta, Associação dos Antigos Alunos do Liceu da Horta, 2009.

Machado (Maria Rodrigues do Espírito Santo, Maria Honorina Rodrigues Machado, Maria do

Espírito Santo Rodrigues Machado e Luís Manuel Rodrigues Machado); Jorge Silveira Dutra (Maria Alice de Freitas Dutra, Jorge, Maria e José); José de Ávila Pereira (Ângela dos Anjos Pimentel, Claudino Ávila Pereira e Maria Ângela Pereira); José Bettencourt da Rosa (Ana Ermelinda da Silva e José Carlos da Silva Bettencourt Rosa); José da Faria (Lucília Natália de Andrade e Maria Teresinha Andrade Faria e Maria de Lurdes Andrade Faria); José Dutra

de Faria (Maria de Lourdes Dutra de Faria, José Dutra de Faria, Mariano Dutra de Faria e

Guilherme Dutra de Faria); José Garcia Rei (Maria Lúcia da Silva); José Goulart de Oliveira (Rosa da Glória dos Santos e Rosa Maria dos Santos Oliveira); José Januário de Sousa (Maria dos Anjos Leal de Sousa e Lina Maria Leal de Sousa); José Jerónimo Dutra (Maria Evange‑ lina da Rosa Dutra e Arnaldo José Dutra); José Manuel Amaral Brum; José Melo da Silveira (Maria Lourdes Contente, Fernando Manuel Contente Silveira, Noélia Maria Contente Melo da Silveira e Maria Margarida Contente Melo da Silveira); José Pereira da Silva (Serafina Alice Faria, Isauro Manuel da Silva e José Alberto da Silva); José Silveira Filipe (Maria Amélia dos Santos e Olga Maria dos Santos Filipe); José Vitorino Rodrigues Machado; Leonor Filipe

Fernandes (Balbina de Lurdes Fernandes); Lídia Clementina da Costa; Lourenço Alves de Freitas Júnior (Maria Ferreira Dias Pimentel e Manuel Dias de Freitas); Lúcia da Conceição da Rosa; Luís Gonzaga Fontes (Ana Emília Dutra e Luís Dutra Fontes); José Silveira Peixoto

(Maria Natália de Oliveira Bettencourt, José Emídio Bettencourt Peixoto e Maria de Fátima Bettencourt Peixoto); Luís Silveira de Melo (Luísa Clementina de Simas); Manuel Alvernaz

Bulcão Simas; Manuel da Silva Furtado; Manuel Dias Machado; Manuel Dutra (Isabel

da Glória de Faria e António de Faria Dutra); Manuel Faria dos Santos (Ana Alice Furtado e Isauro); Manuel Francisco da Silva (Maria Teresinha Bettencourt Rodrigues, Ilídio Manuel Bettencourt da Silva e Vítor Manuel); Manuel Francisco da Silva (Palmira Alice da Silva);

Manuel Inácio Maciel (Águeda Hortense Goulart Maciel e Fernando Manuel Goulart Maciel); Manuel Inácio Martins da Silva (Maria Medeiros da Silva, Manuel Medeiros da Silva e António

Manuel Medeiros da Silva); Manuel José da Silva (Rosa da Conceição Silva e Maria de Jesus Silveira da Silva); Manuel José da Silva (Maria Luísa Terra); Manuel José Dutra (Lúcia Au‑ rora da Silva, Manuel Ilídio da Silva Dutra e Margarida Maria da Silva Dutra); Manuel Pereira

Contente (Austília de Lourdes Contente e Vítor Manuel Contente); Manuel Silva de Escobar

(Ana Zulmira Pereira de Escobar); Manuel Silveira Luís; Maria Alice da Silva (Maria Natália da Silva Rocha); Maria da Estrela Melo Silva; Maria de Fátima Cipriano; Maria Hortense

Garcia; Maria Valentina de Aguiar; Norberto Alvarino Jorge (Senhorinha Correia Garcia

e Maria Goreti Garcia Jorge); Raul Silveira Filipe (Adélia Etelvina da Silva, Manuel e José);

Sérgio Gonçalves Jr. (Maria Laudelina de Oliveira); Tomás Bettencourt da Rosa (Maria de

Lurdes Melo)24.

3. O sustentO ecOnómicO

3.1. DO amanhO Da terra

“Qual a razão por que não reina nos campos e nas eiras aquela alegria que tanto caracte‑ rizava os nossos precedentes? / Sabe‑se: a falta de trigo. / Que meios se devem empregar para preservar as searas dos males que a invadem? / A quem compete pedimos que se

empenhe fervorosamente por tal assunto. Correspondente”1.

Desde o povoamento que o esforço de sucessivas gerações de colonos fizeram da agricultura e da criação de gado as duas fontes de riqueza dos Açores, de que dependiam o comércio e a in‑ dústria, isto é, o espaço insular foi sendo gradualmente transformado, domesticado, passando‑se de uma paisagem selvagem e inculta a uma paisagem de terrenos de pastagem e de cultura de cereais, certamente em atenção à vocação do solo, bem como às condições amenas de um clima húmido.

Como já lembrei, a localização geográfica da Feteira propiciou um “modelo económico agro‑pastoril variado” assente na produção de pão, carne e laticínios, o que permitiu desenvolver uma agricultura assente numa produção diversificada que ia ao encontro da dieta mediterrânica certamente do agrado da maioria das populações que se fixaram na ilha – pão, vinho, vegetais, fruta a que naturalmente se associou peixe e outros produtos do mar, e que se tornaram impor‑ tantes na alimentação dos seus habitantes.

Deste modo, a principal característica desta agricultura resultou de se ter sabido conjugar, ao mesmo tempo, uma produção para a subsistência ou autoabastecimento e para a exportação. Assim, o trigo tornou‑se num produto fundamental tanto para a dieta das populações como um produto a exportar para a ilha do Pico, para o reino e para as praças do norte de África. De salientar, que o predomínio de certas culturas como o pastel e a laranja visavam os mercados externos e que foram variando ao longo do tempo de acordo com as necessidades dos países consumidores. A respeito da produção de pastel, na Feteira, João Soares Albergaria escreveu, em 1822, que “fez a sua antiga riqueza”2.

Logo, como em outras localidades dos Açores, a configuração do espaço e a composição dos terrenos determinaram a história da freguesia, indo desde a atividade piscatória à existência de terras aráveis e férteis, propícias à cerealicultura, ao milho, à criação de gado, à produção de batata‑doce e branca – inglesa – e de banana.

Tal como na maioria das freguesias faialenses, quando se analisa a paisagem rural da fre‑ guesia da Feteira, apesar da diversidade da área cultivada, os cereais, primeiro o trigo, depois o milho, são os elementos dominantes, considerados as subsistências alimentares mais básicas, o que faria da Feteira, uma das áreas de maior fertilidade de trigo na ilha do Faial, no século 1 “PELO CAMPO, Feteira, 22 de julho”, O Telégrafo, 1901, julho 23 (4 631), p. 1.

2 João Soares Albergaria, “Corografia Açórica ou descrição física, política e histórica dos Açores” [1822], in Mário Viana [coord.], História da Ilha […], p. 239 [238‑245].

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XVIII3, e como se podem ver nos mapas de produção elaborados pela administração do concelho da Horta. Por exemplo, no de 1885, nota‑se que à cabeça estava a freguesia dos Cedros tanto na produção de milho – 1 011 200 litros – como na de trigo – 421 litros – logo seguida da Feteira com 842 700 e 421 000 respetivamente, embora a sua área de cultivo seja inferior à dos Cedros. Esta situação permite afirmar que a Feteira era uma das freguesias mais produtivas.

No entanto, ao longo dos séculos a ilha do Faial foi deficitária tanto na produção de trigo como de milho, o que ocasionou fomes cíclicas, uma vez que o pão se tornara o elemento essencial e fundamental da alimentação4. A esterilidade agrícola resultava, regra geral, das condições clima‑ téricas adversas – temporais violentos, abundantes chuvas5, nevoeiros6 e estiagens prolongadas –, da falta de braços decorrente da emigração, geralmente clandestina ou de salto ou embarque por alto7, e da profusão de pragas, como alude o correspondente da freguesia do semanário O

Faialense. No primeiro caso, destacava os estragos provocados, pelo temporal de 15 de fevereiro

de 1889, “nos trigais e tremoçais. As batatas já têm queima. Houve já a colheita da fava, sendo escassa em alguns sítios8; no segundo, depois de referir que haviam principiado as ceifas e as debulhas deixava um lamento muito comum também aos correspondentes de outras freguesias: “Os lavradores têm lutado com muitas dificuldades por falta de trabalhadores. Isto vai mau, muito mau! Os rapazes partem incessantemente para as longínquas paragens da América e daqui a pouco não há quem dê um dia de trabalho!”9

Note‑se que o correspondente alude, por vezes, que a escassez de milho levava a que os

amigos do alheio não tivessem qualquer rebuço em apropriar‑se de um meio de subsistência de

que certamente também tinham necessidade: ”Roubaram há pouco tempo à Sr.ª Francisca Emília de Vargas, da Travessa de S. Pedro, 10 alqueires de milho. Foi na ocasião que esta Sr.ª tinha ido visitar um seu parente”10. Ou então como se escrevia no jornal a Discussão a propósito de uma onda de assaltos que, em 1894, mereceu a atenção do respetivo articulista: “Nos últimos tempos tem‑se cometidos vários furtos em terras e hortas, principalmente em milho, abóbora e melancias, destruindo barbaramente nas hortas esta última fruta, o que denota um espírito de perversidade em quem pratica tais atos!”11

3 A costa de freguesia era considerada a melhor “para dar trigo, milho, cevada e aveia”. Era visível a existência de várias debulhadoras em diferentes pontos da Feteira “semanas a fio”. A esta dinâmica agrícola associam‑se a construção de sete moinhos. Os dois que ainda conhecemos, mas já em adiantado estado de degradação eram de pertença de José de Sousa Melo, à Cruz da Portela, construído cerca de 1960 e desativado em 1968; e de António Pilão (Lombega), construído cerca de 1939 e desativado em 1985, no Algar.

4 Na freguesia da Feteira, certamente como nas outras freguesias rurais, o pão e bolo de milho constituíam a base da alimentação.

5 “O vento voltou ao norte, / Até faias arrancou; / Depois da perca já feita, / O vento norte abrandou /”, Armando Cortes‑Rodrigues, Cancioneiro Geral

dos Açores, 2 vol., Angra do Heroísmo, Secretaria Regional da Educação e Cultura/Direção Regional dos Assuntos Culturais, 1982, p. 364.

6 O Faialense, 1888, julho 15 (51), p. 3: “Até que enfim, reapareceram os belos dias que tanto se desejavam, porque o persistente nevoeiro e chuva que caiu em dias da semana passada, causou bastante desânimo nos lavradores, a ponto de dizerem que este ano não haveria trigo, para pagar as rendas e foros. / Efetivamente, os trigos sofreram bastante avaria, notando‑se em vários lugares o quererem grelar. / Felizmente os dias vão correndo melhores, e se não houver alterações brevemente principiarão as ceifas e debulhas, trabalhos estes os mais alegres e divertidos dos nossos camponeses. 7 Sobre o assunto, veja‑se Florêncio Terra, Água de Verão, Ponta Delgada Signo, 1987, pp. 71‑75. Escreve sobre a fuga de alguns jovens da Feteira,

a partir do Pesqueiro Raso. Em 1894, sobre este assunto, podia ler‑se no jornal O Atlântico, março 25 (1 633), p. 3: “Quando serão castigados os administradores do concelho do distrito, implicados nos sujos casos de emigração clandestina?”.

8 “FREGUESIAS RURAIS, Feteira, março, 6 de 1889”, O Faialense, 1889, março (9) pp. 2‑3: “O temporal do dia 15 do mês transato causou muitos estragos nos trigais e tremoçais. As batatas já têm queima”; “Na minha última correspondência, disse que os batatais de tarde estavam muito prome‑ tedores, mas já foram prejudicados, em consequência do tempo ter corrido chuvoso. / Os tremoçais também sofreram avaria”, “Freguesias Rurais. Feteira. Julho 18 de 1888”, O Faialense, 1888, julho 22 (52), p. 3.

9 “FREGUESIAS RURAIS. Feteira”, Ibidem, 1889, julho 21 (52), pp. 2‑3. 10 Idem.

Quanto às pragas, verificamos que, na sessão da Câmara da Horta de 14 de maio de 1914, o agrónomo distrital informava a vereação que em alguns terrenos das freguesias da cidade, Fla‑ mengos, Feteira e Castelo Branco as culturas estavam efetivamente, a ser muito prejudicadas por larvas diversas, sobretudo por uma espécie que reputava de indígena, e que para combater este mal havia indicado que se fizessem diversos trabalhos e aplicações de adubos químicos, sem no entanto referir quais. Adiantava ainda que a Circunscrição Agrícola do Sul estava a realizar um estudo entomológico sobre o assunto e que igual estudo se estava a realizar pela secção da Horta daquela Circunscrição. Na sequência desta informação, deliberou a vereação aguardar pelas conclusões do estudo para então tomar as providências que o caso reclamava.

É nesta conformidade, face ao exposto, que se há de entender a preocupação das autoridades concelhias – governador civil, administração do concelho e Câmara Municipal – face à carência cerealífera, ou seja, era corrente recorrerem aos regedores e às Juntas de Paróquia para que informas‑ sem do milho existente e do necessário tanto para consumo de pessoas e animais domésticos como a quantidade calculada para a reprodução até à nova colheita, de forma a prever se seria necessário ou não a importação de milho, face a anos em que a produção era ou se previa que fosse pouco rendosa:

“Em cumprimento da circular de V. Exa sob n.º 76, de 17 de junho findo, tenho a honra de informar V. Exa. que, ouvidas as respetivas Juntas de paróquia deste Concelho, julgo haver milho necessário para consumo até à nova colheita, pois que as freguesias da Matriz, Conceição, Feteira, Castelo Branco, Praia do Norte, Cedros, Salão e Praia do Almoxarife, têm milho para o seu consumo, havendo a mais em cada uma das freguesias, da Ribeirinha e Flamengos, dezoito mil litros de milho, faltando na freguesia das Angústias dezoito mil litros”12.

Esta preocupação das autoridades é compreensível porque o milho13 ao substituir e ao ocupar as terras de trigo, passou a constituir, a partir do século XIX, devido à sua adaptação a climas húmidos e à exploração intensiva, a cultura dominante, transformando‑se na base da alimentação popular, passando também a ser usado como forragem para o gado.

Como já lembrei, a terra constituiu sempre o principal agente de fomento local, e a base do trabalho da maioria da população. A localização da freguesia numa planície à beira‑mar acabou por definir a sua fisionomia económica. Com efeito, durante séculos, a fertilidade dos campos foi determinante na produção de cereais – trigo, milho14 e cevada ‑, de leguminosas – feijão, fava, ervilha, tremoço ‑, de tuberosas – batata branca e doce, usadas tanto na alimentação de pessoas como na de animais ‑ de hortícolas – melancia, melão, abóbora, mogango, alho, pepino, couve, nabo, árvores de fruto e na criação de gado, como se pode ler nos mapas de produção “dos gé‑ neros abaixo designados no ano de …” elaborados pela Administração do Concelho da Horta, 12 BPARJJG, Administração do Concelho da Horta, “Ofício, n.º 165, de 17 de agosto de 1899, ao governador civil do distrito da Horta”.

13 Sobre a sementeira de milho, disse‑nos Manuel José dos Santos: “Na sexta‑feira santa, os antigos não faziam nada, mas mesmo nada. Diziam que nem os melros mexiam os ovos no ninho. No sábado de aleluia, depois da missa, os lavradores iam para as terras semear os milhos, levando as vacas campainhas nos pescoços”.

14 Em 1945, a Junta Geral do distrito Autónomo da Horta, atribuiu a Manuel Silveira Filipe um prémio de 400 escudos pela “melhor seara de milho”; e a Manuel Francisco da Silva Costa 600 escudos pela “maior seara de milho”, cf. BPARJJG, Junta Geral do Distrito Autónomo da Horta, “Prémios pela cultura de Milho”, 1945.

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que permite concluir que a atividade agrícola seria dominante, e que a aptidão dos solos permitiu também uma diversidade de culturas, situação corroborada por Silveira de Macedo em 1871:” Há nesta freguesia boas casas e abastados lavradores e seu solo é muito fértil de todos os géneros”15.

Todavia, é necessário referir o importante papel que coube às quintas, com as suas árvores de fruta (laranjeiras, figueiras, nespereiras, pessegueiros, pereiras e ameixieiras) e às hortas (pequenas courelas de terra) onde se cultivavam, de forma intercalada, tubérculos e produtos hortícolas, que se pode apelidar de cultura promíscua. Repare‑se que tanto as quintas como as hortas se situavam, na maioria dos casos, junto às habitações. As hortas, apesar de ocuparem um pequeno espaço dentro da superfície agrária não deixavam de ter um papel importante na economia familiar, ou na satisfação da alimentação quotidiana. Por vezes, funcionavam como complemento aos cereais, sobretudo em anos de penúria, ou então eram usados para abastecer o mercado local, sobretudo em épocas de grande produção, o que levaria o governador civil, Santa Rita, a escrever no seu Relatório de 1866: “O seu terreno é naturalmente inclinado à produção de cereais, a maior fonte de riqueza dos seus habitantes”16.

Por outro lado, apesar do predomínio dos cereais na paisagem feteirense, é notório, no pre‑ sente, o aumento da superfície agrícola afeta a pastagens permanentes que gradualmente subs‑ tituíram as terras de cultivo, situação traduzida na expressão popular: “Hoje tudo é pasto, vacas

No documento Livro Freguesia do DES da Feteira (páginas 47-56)

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