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Emanuel Dimas de Melo Pimenta | A construção do homem e da arquitetura contemporânea diante

No documento 2480_2011_0_13.pdf (3.042Mb) (páginas 152-169)

da desmaterialização da cultura

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Resumo

Emanuel Dimas de Melo Pimenta apropria-se do termo cunhado por René Berger, denominado, Teleantropos, para tecer uma série de reflexões acerca da natureza transdiciplinar e transensorial que descrevem nossa cultura na passagem para o terceiro milênio, claramente relacionado à arquitetura, que como afirma é provavelmente uma das atividades mais controversas da humanidade, algumas vezes classificada como arte, outras como ciência e é sem dúvida um dos modelos transdiciplinares mais antigos do planeta.

Com o surgimento das tecnologias de telepresença, da Realidade Virtual, do Ciberespaço, que desencadearam a dimensão da interatividade, a ideia fundamental desenvolvida por Pimenta neste trabalho é a formação do que entendemos por representação enquanto processamentos transensoriais diretamente relacionados à percepção espacial, então modificada pelas novas tecnologias. Afirma ainda que em arquitetura mutações iconológicas são produtos do menor uso de alguns sentidos e da

intensificação na utilização de outros, o que veio a chamar de “outputs sensoriais”, como a estrutura do conhecimento foi profundamente alterada, as estruturas de território e poder também o foram, e encontram-se no campo de atuação da arquitetura e do urbanismo e por isto, escolhemos o autor para a proposta de investigação de nossa pesquisa a respeito de um projeto contemporâneo para nossa sociedade.

“Clone do pensamento, a arquitetura transforma-se – diante deste novo modelo iconológico - na representação não linear de complexos sinápticos. Arquitetura como índice imediato do inconsciente. rquitetura como prótese viva da própria inteligência.” (PIMENTA, 1999)

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Introdução

Em seu primeiro livro, Tapas- a impermanência das coisas e das ideias (1985), Emanuel Pimenta, estrutura este trabalho com colagens, são letras e tamanhos diferentes em um mesmo texto, construindo volumes como nas partituras de Cage, com quem trabalhou em outros projetos, também é notável a ascendência de Pignatari, através da reprodução do poema “Organismo”; além dos cortes de quadrinhos, imagens de partituras musicais, plantas de edifícios, todos exercem a função de signos gráficos, trata-se de um prenúncio de outros trabalhos do autor.

O livro resgata em sua estrutura as concepções de McLuhan em “O meio é a mass-agem”, acerca da ação da mídia na segunda metade do século XX e que influenciaram diversos pensadores deste período, como Buckminster Füller, John Cage, Décio Pignatari, pesquisadores importantes ao trabalho de Pimenta.

“O homem eletrônico retira o ser humano da vivência histórica linear, conscientizando- a nele, assim como fazendo surgir um “tempo vertical”, criando novas relações que o remetem a um universo vivencial sintático e sinergético, em função de um gestalt que é outra ilusão”. (PIMENTA, 1985)

Em 1991, em seu livro Virtual Architecture, Pimenta apresenta projetos desenvolvidos em computador, são estruturas ativas ou sinergéticas, onde desenvolve um de seus conceitos primordiais, a desprogramação. Em 1989, em Tóquio um destes sistemas desprogramacionais, abrigaria 300 mil pessoas em diversos locais construídos com sistemas sinergéticos reprogramáveis e desprogramáveis.

Há alguns anos Pimenta elabora o Projeto denominado, Máquina dos Sentidos, apresentado no encontro Arte e Tecnologia, em São Paulo em 1995, no qual constrói uma investigação que procura despertar a apreensão dos espaços arquitetônicos por todos os nossos sentidos, já que vivemos imersos há séculos na lógica escrita, linear e visual, que resultou em uma composição unidirecional de nosso saber. Pimenta pensa em retomar um espaço holístico, codificado nos cinco sentidos, advindo desta dimensão interativa que os meios digitais acrescentaram a nossa cultura.

155 “Resgatando Arlindo Machado, se trata menos de avaliar estratégias semióticas do que determinar o nascimento (o renascimento, seria melhor dizer) de uma arte, ou pelo menos de um sistema expressivo, em que a dimensão heurística passa a ser o dado fundamental (1992: 54). O que importa aqui é o tratamento de profissionais de diversas áreas para através da arquitetura, pensarmos nas possibilidades de apreensão espacial globalizadora, hipersinestésica, no universo das tecnologias eletrônicas e digitais”. (DUARTE, 1999)

Das Folies, projeto realizado em 1990, que possuía como proposta básica a discussão da imaterialidade das imagens eletrônicas concretizando-se na materialidade arquitetônica, que reuniu cinco arquitetos que participaram da exposição Deconstrutivista realizada por Philhip Johnson no MoMA, Nova York, em 1988: Rem Koolhaas, Zaha Hadid, Peter Eisenman, Coop Himmelblau e Bernard Tschumi, até o caso de Woiksed, proposta de Emanuel Pimenta, onde a arquitetura é construída baseada na lógica dos computadores e que existe enquanto permanecerem ligados, mas não esvanece sua fruição, em outro lugar, mediada por outra máquina; as Folies ainda possuem um lugar geográfico fixo e Woiksed não tem dimensões geométricas ou geográficas, mas topológicas, entre links das redes digitais de informações, em que engloba o mundo todo e não está em lugar algum. São diversas as investigações que vislumbram no esvaecimento do suporte físico e no surgimento de novos significados possibilitados por meios digitais correspondências com teorias de filósofos contemporâneos como Jacques Derrida e Gilles Deleuze.

Muitos pesquisadores, entre eles, Pimenta, apontam neste processo de deslocamento das verdades históricas, a partir da segunda metade do século XX, em diversas áreas do conhecimento, iniciado por tais filósofos, a abertura para novas possibilidades criativas e de expansão das relações humanas, a desmaterialização e a amplificação dos territórios da arquitetura.

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Sobre o Autor 48

Emanuel Dimas de Melo Pimenta é arquiteto e urbanista, compositor de música erudita contemporânea. Recebeu o prêmio Destaque de Marketing em 1977, pela Associação Brasileira de Marketing; o prêmio APCA em 1986, pela Associação Paulista de Críticos de Arte; e o prêmio Lac Maggiore em 1994, pelo Governo Regional da Lombardia, Associação Internacional de Críticos de Arte, UNESCO, em Paris, considerando-o um dos mais representativos artistas multimedia. É membro do Tribunal Europeu do Ambiente, em Bruxelas, onde tem atuado como diretor desde 1995. É, ainda, membro ativo da academia de Ciências de Nova York, da Sociedade Americana para o progresso da Ciência, em Washington DC, da AIVAC- Association Internationale pour La Video dans les Arts et La Culture, em Locarno, e membro fundador da International Society for the Interdisciplinary Study of Symmetry- ISIS Symmetry, com sede em Budapeste.

Estudou, entre outros, com Hans Joachim Koellreuter, Eduardo Corona, Eduardo Kneese de Mello, Décio Pignatari, Holger Czukai e Roti Nielba Turin. Trabalhou junto a John Cage, de 1985 até sua morte em 1992. É compositor para Merce Cunningham, em Nova York, desde 1985. É também compositor para a Appels Dance Company de Nova York, desde 1990. As suas composições têm sido executadas em diversos países por importantes músicos como John Cage, David Tudor, Takehisa Kosugi, Maurizio Barbetti, John Tilbury, Martha Mooke, John DS Adams, Michael Pugliese e o Manhattan Quartet entre outros. É membro do Conselho Editorial da RISK ARTE OGGI, em Milão. Tem sido convidado, como professor e conferencista, por diversas instituições, entre as quais a Universidade de Nova York, de Lisboa, de Lausanne, de São Paulo, de Tsukuba, a Fundação Calouste Gulbenkian de Lisboa, a Fundação Monte Veritá em Locarno e o Instituto de Tecnologia Technion de Haifa. Os seus trabalhos estão incluídos na Enciclopédia Universalis, no Slonisnky Baker’s Art Dictionary e no All Music Guide- The expert’s guide to the best CDs. Tem os seus trabalhos, papers, livros, projetos de arquitetura e compact discs publicados em

48 Fonte: Breve Biobibliografia, transcrita do livro Teleantropos, de Emanuel Dimas de Melo Pimenta, 1999.

157 Inglaterra, Estados Unidos, Japão, Holanda, Portugal, Brasil, Alemanha, Suíça, Hungria, Itália e Espanha.

Desenvolve projetos de arquitetura, urbanismo e música contemporânea utilizando tecnologias de Realidade Virtual e ciberespaço. Na década de 80, cria o termo “arquitetura virtual”. Na primeira metade da década de 90 tem o seu site lançado pela ASA Art and Technology (http://www.asa-art.com/edmp/edmp1htm). Em 1996 criou com o apoio da Fundação para a Computação Científica Nacional, o museu virtual Earth’s Collection (http://www.rccn.pt/museu/).

Nesse mesmo ano lança em Perugia, Itália, com o apoio da Fundação para a Computação Científica Nacional, o site Joseph Beuys Project (http://www.rccn.pt/museu/beuys/beuys1.htm) e participa em Lisboa com René Berger (na Suíça), Philippe Quéau (em França) e Bernard Allien (nos Estados Unidos) em uma das primeiras vídeo conferências MBONE em tempo real na internet. É ainda em 1996, convidado a participar da formação da Université du Futur, junto a René Berger, Basarab Nicolescu, Pierre Lévy e Edgar Morin entre outros (http://siisg1.epfl.ch/UF/). Em 1997 e 1998 foi curador para a exposição Arquitetura Virtual, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Em 1999 realiza o trabalho de curadoria para o setor de arquitetura virtual da Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo, Fundação Bienal de São Paulo.

Cultura e Sociedade no Pensamento de Emanuel Dimas de Melo Pimenta

Para Pimenta uma reflexão sobre arquitetura manifesta-se na reflexão sobre o ambiente, buscando o aporte do significado resgatado pela Inteligência Artificial, afirma que:

“O termo “ambiente” foi, originalmente, produto da montagem das palavras “ambi”, que tem a sua origem no grego amphi, que significa “em torno de” e que passou para o latim significando “ambos”; e do sufixo “ente”- que lança a sua raiz etimológica no indo- europeu ant- que significava “sopro”.

158 Isto é: “ambiente” significaria, em última instância, tudo o que compõe uma coisa. A ideia de sopro “em torno” de algo”. (PIMENTA, 1999)

Pimenta prossegue em sua investigação declarando que as palavras “cultura” e “environment” possuem um sentido etimológico semelhante ao de ambiente.

“Cultura resgata no indo- europeu Kwol a sua provável semente etimológica. Kwol significava uma ideia de andar em torno de alguma coisa- mesmo ssentido do gredo amphi!”

“Conceitos que cercam o seu objeto”.

“Sopro que cerca a sua presa”.

“Um contínuo processo de busca e descoberta”. (PIMENTA, 1999)

Pimenta sustenta que a regulação da morte, na figura da sepultura, ficou convencionada como cultura, instaurando uma espécie de espelho humano que condiciona o estabelecimento preciso do outro e o corte temporal da vida.

A partir desta primeira reflexão afirma que “todo o universo da cultura passa, então, a revelar-se uma questão especular”. (PIMENTA, 1999). Afinal o reconhecimento do outro é preponderante para a estruturação dos códigos de linguagem. Assim, “a cultura material adquire uma dimensão virtual”. (PIMENTA, 1999). Ou seja, é determinada por um processo especular, imaterial, como diz. “Lewis Carroll através do espelho”. (PIMENTA, 1999)

Pimenta enxerga no surgimento das tecnologias de telepresença uma realidade que não se limita a ideia de projeção, mas que desencadeia o desenvolvimento criativo.

Como nos diz, Edward Hall, nos anos 50, estabelece o conceito de proxemia, como o “estudo da utilização do espaço pelo ser humano enquanto elaboração cultural particular - incluindo hábitos territoriais”. (PIMENTA, 1999)

159 E, citando René Berger “àquilo que durante milênios ocupou o espaço próximo, ao que Edward Hall deu o nome de proxêmico”, se opõe atualmente a seres humanos que transitam à distância.

A este fenômeno René Berger chamou de teleproxêmico ou teleproximidade.

“Estar próximo, à distância. Estar distante embora próximo”. (PIMENTA, 1999)

Fenômeno que evidencia o tempo real.

“Em 1794, Berére de Vieuzac, também conhecido como poeta da guilhotina, anunciava à Assembleia Francesa que através desta invenção (o telégrafo) as distâncias entre os locais desaparecem!”

“Menos de um século depois, surgia o telefone- palavra criada em 1840, antes mesmo do nascimento de Alexander Graham Bell, para designar um instrumento musical- que viria representar o tempo real para pelo menos, um dos nossos sentidos”. (PIMENTA, 1999)

Embora o ponto de mutação, como nos diz Pimenta, tenha se manifestado apenas no final do século XX, seu presságio já se encontrava na fala de Victor Hugo, quando afirmava que “todas as histórias são a história do passado. A história da revolução é a história do futuro. A revolução conquistou por antecipação... Há no que ela nos trouxe mais terra prometida que terra conquistada e, à medida que uma das suas conquistas feitas antecipadamente entra no domínio humano, um novo aspecto da revolução revelar-se- á.” (PIMENTA, 1999).

O surgimento do tempo real promoveu a sensação de constante revolução. “O ser humano, ainda previsível e hierárquico do século XIX, deu lugar ao ser humano criativo, turbulento e interativo da passagem do milênio”. (PIMENTA, 1999)

A mudança global acabou com a ideia de iconologia enquanto fenômeno estável e alterou profundamente a estrutura do conhecimento.

160 As palavras “pessoa” e “personalidade” surgiram do latim personae, como nos diz Pimenta, nome dado a uma máscara para amplificar o som emitido pelos atores, per sonare.

Desta máscara acústica surgiu a palavra personagem e as expressões, personalidade e pessoa são referências topológicas segundo o autor.

Segundo Freud, como nos fala Pimenta, personalidade seria um conjunto especializado, uma estrutura plástica relativamente estável de patterns neuronais.

Porém este modelo torna-se volátil, primeiro identificado como ego, posteriormente a montagem especializada de conjuntos neuronais aconteceria desde a concepção do indivíduo, poderia ser nomeado como um processo transbiológico.

Entretanto mentalidade, como nos assegura Pimenta está relacionado ao complexo mental coletivo e não a um determinado personagem, sugere que um modelo para a conceituação de mentalidade é a concepção de uma formação plástica de atratores sinápticos, seriam “pregnância”, ou forma e estabilidade de uma percepção para uma realidade, lembrando a Teoria das Catástrofes de René Thom.

Personalidade estaria para as estruturas neuronais como mentalidade para os complexos sinápticos.

A Teoria das Catástrofes é formada por dois conceitos fundamentais, pregnância e saliência de um campo. Saliência pode ser entendida como a zona de sintonia fina de um espectro sensorial.

Como afirma Pimenta, uma dobradura de campo que é um forte potencial de ocorrências.

Qualquer atividade realizada pelo homem em termos de percepção é constituída por dobraduras de campo.

Dobraduras constituídas por saliências e pregnâncias são zonas topológicas instáveis, limitadas por órbitas de possibilidades são dobraduras de saltos potenciais, possibilitando o acontecimento da percepção.

161 Os saltos iconológicos podem ser compreendidos como saltos tecnológicos e como nos diz Pimenta, cada salto tecnológico significaria um salto sensorial e tudo é composto por mudanças.

“Dependendo da textura sensorial, variam as formas, ou as saliências. Assim, estabelecem-se referências primeiras para noções como individualismo, identidade, tempo, espaço, etc”. (PIMENTA, 1999)

Pimenta trabalha com a Teoria das Catástrofes para pensar uma nova percepção e iconologia.

“Na passagem para o terceiro milênio, a adoção de princípios euclidianos como axiomas fundamentais para a compreensão da arquitetura e do urbanismo enquanto código de linguagem acabava por revelar-se uma das principais barreiras para a sua própria descodificação”.

“Arquitetura e urbanismo não são apenas feitos de linhas, planos, luz ou cores, mas sim de tudo isso somado a sons, texturas, temperatura, umidade e diferentes estratégias de linguagem”.

“Mas esta é uma nova iconologia. Uma iconologia virtual”. (PIMENTA, 1999)

Quando olhamos para uma cidade do alto, temos a apreensão de uma determinada forma, quando nos aproximamos, novas formas, novas saliências são geradas.

Pimenta diz que no final do milênio os únicos habitantes que dominavam uma escala sagrada nas megacidades, eram os sem teto, os miseráveis, pois experienciavam uma escala que passava despercebida para as demais pessoas, as ações e o tempo também não eram condicionados por roteiros estereotipados.

“A imprensa dessacralizou a sociedade no Ocidente, uniformizando e estereotipando comportamentos. Por isso, praticamente tudo o que fazemos sem

162 pensar obedece a algum tipo de formato (...) tudo foi dessacralizado através de uma intensiva padronização cognitiva”. (PIMENTA, 1999)

A existência da linguagem seria explicada pelos loopings sensoriais, que representam uma quebra no eixo de simetria, permitindo-nos inventar, sonhar.

Pimenta defende que para um universo de ideias inovadoras de diversos pensadores, temos atualmente a instauração de um novo sintagma, “conjunto dinâmico de diferentes paradigmas em combinação turbulenta. Uma combinação virótica por excelência”. (PIMENTA, 1999)

As bases de nossas habilidades cognitivas estendem-se ao ambiente. Alterando nossos complexos cognitivos, alteramos nossa mentalidade, como nos fala Pimenta.

Projeto Contemporâneo / Projeto Transformador

Woiksed, o planeta virtual de Emanuel Dimas de Melo Pimenta, é um projeto de arquitetura digital, onde podemos navegar com computadores pessoais e equipamentos de imersão.

Podemos trocar informações, construir objetos, Pimenta abre novas possibilidades arquitetônicas, novas possibilidades de sensações.

A matéria- prima da arquitetura perde o vínculo concreto, compondo imagens, compondo o imaginário entre números.

A arquitetura, ao mesmo tempo arte e ciência, prioritariamente uma inscrição no espaço lida com as reordenações eletrônicas e digitais buscando novas noções de espaço, novas iconologias, portanto, nos deparamos com a busca de novas interpretações para a mutação cultural na qual vivemos, recorremos assim, especialmente aos filósofos, cientistas da segunda metade do século XX.

Derrida (1995) trabalha o sentido de Khôra a partir do Timeu de Platão, propõe variabilidades de significados, Khôra estaria apta a todas as possibilidades sem se tornar nenhuma delas.

163 Segundo Fábio Duarte (1999) não é necessário haver uma definição formal restrita aos paradigmas tradicionais da arquitetura quando trabalhada com os meios eletrônicos, mas sim que a própria arquitetura, “quanto mais se desmaterializa no universo digital, mais se forma a cada instante absorvendo e interpretando os resultados dos diálogos homem/ máquina/espaço”. (DUARTE, 1999)

Como fala Duarte (1999) importantes questões levantadas pelo filósofo sobre a necessidade de se romper com significados a priori dos signos, com o intuito de deixá- los livres para outras constantes construções significadoras, são fundamentais para que o projeto contemporâneo se cumpra.

É crucial para Derrida romper com noções apriorísticas, como o “signo-símbolo” para abrir espaço para o “signo-possibilidade”, como argumenta Duarte.

Ao transformar-se em linguagem o signo se desloca do eixo significante/significado e abre-se a favor da ausência de significâncias prévias e possibilita a geração de outros significantes e significados.

Peirce rompe na semiótica com a ligação dicotômica entre signo/objeto, propõe que a relação seja intermediada por um interpretante, ocorrendo diversas vezes, dinamiza essa relação e obtemos diferenciadas noções de objetos e signos.

O signo é uma construção mental entre significantes e significações, para favorecer uma intelecção sígnica, passa por processos de significações. Aberta uma ligação unívoca de um objeto ou significante com um significado, propicia-se uma dinâmica do objeto, que assim como diz Duarte, não busca a exclusão de significados, mas exponenciá-los, gerando novas cadeias sígnicas.

E em nosso caso, na arquitetura, essa multiplicidade de significados é possível por deslocamentos, permutas, discursos transdisciplinares e como assegura Duarte, desdobramentos entre as naturezas das linguagens espaciais e digitais que constroem a arquitetura nos ambientes virtuais.

A mutação do século XX que eclodiu em escala planetária e aponta para um campo específico, que é a cultura.

164 A ideia de cultura assumia no final do terceiro milênio, após ter passado pelas mais variadas épocas, com diferentes significados, desde o sentido de folclore até o de conhecimento pessoal, a função de poderoso artefato cognitivo, designando um gigantesco cosmos virtual.

“O antigo cosmos representado pela informação visual da cidade, da arquitetura e dos rituais sagrados deu lugar ao cosmos virtual desenhado pelos agrupamentos humanos amarrados pela televisão, pelas redes de redes digitais, e por todos os tipos de telecomunicação”. (PIMENTA, 1999)

Como afirma Pimenta, “pela primeira vez no percurso da humanidade, um cosmos é inteiramente desmaterializado!”

Para este novo universo cósmico, não basta a informação para possuir poder, pois todos podem acedê-la, o importante passa a ser o design, o percurso, ou plano de voo na informação, como diz Pimenta.

A questão é abrir novos caminhos, descobrir novas articulações ao combinar informações sempre novas, criativamente, constituindo um caráter transdiciplinar, compondo a natureza da navegação no ciberespaço.

Nos mais diferentes aspectos da vida cotidiana “a desmaterialização da cultura material atingiu, praticamente todo o espectro comportamental humano”. (PIMENTA, 1999)

A cada dia um maior número de pessoas, transforma-se em um nômade virtual, inaugurando uma nova era civilizatória, onde a solidariedade é a condição essencial para a sobrevivência.

Como nos diz Pimenta, curiosamente, no comércio ente tribos nômades, não há o contato físico, a mercadoria comercializada será deixada em determinados pontos de referência, assim como o pagamento efetuado pelo outro lado da transação. O início do comércio na internet mostra que isto acontece.

“A arquitetura nômade é feita de panos em estruturas absolutamente desmontáveis, rearticuláveis e recriáveis. Isto é, estruturas desprogramáveis”. (PIMENTA, 1999)

165 A desmaterialização da cultura aponta para questões anteriormente defendidas por pensadores como Décio Pignatari, como a ideia de luz sólida, que nasce com o impressionismo, a fotografia, passa pelo cinema e chega aos computadores com a noção de presentificação do tempo.

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