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Emergência do sistema implementado

No documento Auto-organização em sistemas de sinais (páginas 78-84)

3. Desenvolvimento e experimentação do sistema de sinais

3.4. Projecto

3.4.2. Emergência do sistema implementado

Apesar das hipóteses anteriormente consideradas para o sistema de sinais possibilitarem a definição de múltiplos percursos, não cumprem em extensão o princípio de focalização no sistema e não na forma, porque determinam à priori percursos, que limitam, embora de uma forma mais livre do que os sistemas convencionais, a possibilidade de escolha. Por outro lado por serem estruturalmente complexas e resultarem em sistemas de grandes dimensões entram em contradição com os princípios atrás expostos de economia e de redução dos impactos visuais e apresentam-se como soluções vocacionadas para espaços amplos, por exemplo parques naturais, visto a informação prestada ser espacialmente abrangente, e deste modo inviável tendo em conta o espaço de experimentação seleccionado.

Tendo como ideias enquadradoras os conceitos atrás aflorados de modelo baseado em mecanismos que promovam a “evaporação” de um sinal, e de um modelo paramétrico, evolui-se para um novo sistema que congrega-se os dois modelos, e superasse os problemas atrás referidos.

O contributo conceptual do sinal cadavre exquis advém da ideia da rotação do sinal, que permite modificar a informação apresentada através da sua manipulação. Tendo em conta este contributo e com o objectivo de assegurar a ligeireza do sistema, optou-se pelo desenvolvimento de uma solução mais compacta, o que conduziu à ideia de um sistema baseado em “cartões” de pequenas dimensões (a que doravante se chamarão peças elementares) com informação impressa que possibilite, através da sua utilização/disposição, sugerir percursos preferenciais e comunicar graus de interesse que cada obra desperta, de acordo com os princípios operativos na relação do sistema com o utilizador atrás expostos. A sugestão dos percursos preferenciais adoptou uma nova estratégia, abandonou-se a

representação esquemática do percurso em favor da representação de um símbolo de orientação. Esta estratégia permite conferir ao utilizador um maior grau de liberdade, passando a sua contribuição a ser efectuada não sobre a escolha entre um conjunto de percursos pré-definidos, mas sobre a sugestão de uma orientação de deslocação, relacionada com o espaço onde está inserido.

A opção pelo símbolo, por outro lado, possibilita uma comunicação directa, ou seja, o sinal deixa de orientar de forma indirecta pela representação do percurso a efectuar e consequente criação de um mapa mental nos utilizadores (como o era no caso do sinal

cadavre exquis) para passar a orientar de forma directa pela indicação expressa de uma

direcção. A opção pelo símbolo possibilita igualmente a abstracção do sistema, ou seja, a criação de um sistema que não depende do espaço (o que era o caso no sinal cadavre exquis onde o espaço estava representado) e que deste modo pode ser adaptado a diferentes locais. De forma a comunicar o grau de interesse que cada utilizador tem por cada uma das obras de arte foi necessário diferenciar as peças elementares de forma a que a sua utilização reflicta a apreciação crítica das obras de arte (princípio de stigmergia)198. Assim foram definidas as 3 seguintes tipologias:

- pouco ou nenhum interesse; - interesse;

- muito interesse.

Estas três tipologias deverão ser distinguidas pelo nível de intensidade do sinal a representar na peça elementar (por questões de simplificação e integração optar-se-á pela sobreposição no mesmo sinal de duas informações, orientação e nível de interesse).

A dinâmica de feedback (positivo e negativo), que é o contributo conceptual do modelo

“evaporação”, foi trazida pela opção por um material com características de

198 Igualmente baseado no trabalho de Ramos, V., Fernandes, C., e Rosa, A. (2005) Social Cognitive Maps,

Swarm Collective Perception and Distributed Search on Dynamic Landscapes [internet] disponível em: < http://alfa.ist.utl.pt/~cvrm/staff/vramos/Vramos-BMM.pdf > [acedido 15 de Fevereiro, 2005], tomamos em consideração o impacto do ambiente, que no caso do sistema de sinais, será o interesse do utilizador face à obra de arte. Assim especificaram-se três níveis (muito interesse, interesse, pouco ou nenhum interesse).

semi-transparência. Esta característica permite, por um lado, a leitura da sequência sobreposta de peças elementares (feedback positivo), e por outro, um efeito de opacidade progressiva, possibilitando a simulação da “evaporação” (feedback negativo).

Fig. 34

Na figura 34 estão representadas as primeiras peças elementares desenhadas:

(A) sinal com margem difusa, em que a intensidade dos registos é variável, com uma zona forte central e zonas mais fracas à sua volta;

(B) sinal sem margem difusa, que, apesar de inicialmente ter sido considerado pouco interessante, se revelou mais viável nas simulações efectuadas.

Na sequência dos desenhos exploratórios realizados, desenvolveram-se várias hipóteses de peças elementares com a inscrição de um sinal que pela sua disposição no cartão sugeria uma orientação (figura 35). Em (A) e (B) peças elementares com sinal difuso. De (C) a (H) peças elementares com sinal não difuso. De (D) a (F) peças elementares com sinais em negativo. De (A) a (F) peças elementares baseadas no conceito de sobreposição de sinais

semitransparentes. Em (G) e (H) peças elementares baseadas no conceito de sobreposição de sinais opacos.

Fig. 35

Tendo em vista a utilização das peças elementares respeitando o princípio da topologia em rede, ou seja que o sistema esteja disponível ao utilizador em locais previamente estabelecidos (nós), foi desenvolvido um dispositivo (a que doravante se chamará bloco elementar) que possibilita o armazenamento das peças elementares e que é suporte da interacção indirecta (princípio da stigmergia) entre os utilizadores, permitindo diferentes possibilidades de disposição das peças elementares (princípio da informação da deslocação e da informação do grau de interesse). Na figura 36, em (A), a zona central entre os dois reservatórios permite o encaixe do bloco elementar no suporte existente no Museu, e em (B) está representada a planificação da peça. O sistema de fixação idealizado recorrerá ao velcro.

Fig. 36 - Em (A) perspectiva do bloco elementar onde se podem visualizar as zonas de armazenamento (volume posterior), interacção (volume anterior) e encaixe (parte entre os dois volumes). Em (B) a planificação do bloco elementar tendo em conta a produção em cartão microcanelado ou em polipropileno.

Na figura 37, os primeiros desenhos de síntese (A) revelaram um bloco elementar com grande capacidade de armazenamento que permitia, dada a disposição dos conjuntos de peças numa sequência perpendicular ao eixo de visão, uma boa separação das tipologias facilitando a exactidão e a precisão do utilizador. Os segundos desenhos de síntese (B) apresentam uma solução que permite que o sistema seja mais compacto. No entanto a colocação das tipologias numa sequência paralela ao eixo de visão, dificulta a diferenciação entre os conjuntos de peças e consequentemente a recolha no processo de utilização. Este problema foi ultrapassado através da colocação de uma faixa lateral com informação impressa de classificação dos reservatórios (princípio da tolerância ao erro). Esta faixa tinha igualmente uma função decorativa, tornando o objecto mais orgânico, e uma função estruturante, ajudando a estabilizar o bloco elementar.

Fig. 37 - Em (A) e (B) estão definidos 3 reservatórios de armazenamento, sendo cada destinado a uma das tipologias das peças elementares.

No documento Auto-organização em sistemas de sinais (páginas 78-84)

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