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4 PENSANDO A ESCELSA ENERGIAS DO BRASIL NA ATUALIDADE

4.2 Fatores intervenientes para se pensar a empresa na atualidade

4.2.1 A transição das formas de atuação das empresas e do modelo de intervenção do Estado

4.2.1.2 A emergência do projeto neoliberal

Com a forte influência de organizações multilaterais e sob as pressões da forte recessão econômica e da desaceleração da economia, a partir de 1980, foram criadas as bases para que a política neoliberal29 permeasse as decisões sobre o enxugamento do Estado e ao incentivo de investimentos necessários em infra- estrutura.

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Segundo Alves (2000, p.114), política neoliberal “é um processo complexo de medidas de reforma da economia e do Estado capitalista no Brasil, capazes de propiciar uma transição à nova hegemonia do capitalismo monopolista no país, um novo padrão de desenvolvimento capitalista no Brasil, vinculado a um modelo de inserção dependente da economia brasileira em relação à mundialização do capital. [...] As principais características da política neoliberal no Brasil, cujo estabelecimento é perseguido desde o governo Collor, são a liberalização comercial e o novo impulso no processo de privatização, reestruturação das políticas sociais, desregulamentação e flexibilização das relações trabalhistas, austeridade no gasto público etc.”.

O que se pode chamar de modelo econômico neoliberal brasileiro se fundamenta através do estabelecimento de mudanças em, pelo menos, quatro dimensões estruturais, a saber: 1) relação capital/trabalho30; 2) relação entre as distintas frações do capital; 3) inserção internacional (econômico-financeira) do país e 4) estrutura e funcionamento do Estado (FILGUEIRAS, 2007).

Para Pochman, (2000), a partir de 1990 uma série de “efeitos combinados” – políticas de contenção limitadoras do crescimento econômico; restrição à regulação pública dos mercados e redução do papel do Estado; abertura comercial abrupta; taxas de juros elevadas; sobrevalorização cambial – proporcionou a construção e manutenção de um cenário desfavorável ao comportamento geral do mercado de trabalho nacional, que se viu num estágio de ampla desregulamentação no qual havia o imperativo da “flexibilização com a finalidade de fortalecer uma regulação privada das relações de trabalho” (KREIN, 2001, p.3).

Sendo assim, o aprofundamento da flexibilização das relações de trabalho deve ser pensado na sua relação com a atual fase de acumulação capitalista, marcada pela globalização da economia, desregulação comercial e financeira, emergência de novos padrões de produção com as inovações tecnológicas e organizacionais, bem como pelo elevado desemprego (KREIN, 2001).

Qualquer sistema de regulação social do trabalho segundo Dedecca (1999 apud KREIN, 2001) é construído com o intuito de reduzir o desequilíbrio presente na relação capital-trabalho.

Como afirmou Marx, no capitalismo existem alguns que possuem o capital dinheiro, o qual lhes dá a possibilidade de comprar ou não força de trabalho necessária ao processo de acumulação. Por outro lado, existem muitos que, por não deterem o capital dinheiro, são obrigados a vender recorrentemente sua força de trabalho. Esta situação de desigualdade torna a relação de trabalho via mercado uma relação claramente assimétrica. A regulação social permitiu reduzir essa assimetria, retirando dos capitalistas e das empresas o poder irrestrito na contratação de força de trabalho. Foram a política social e a negociação coletiva as bases do processo de regulação (Dedecca, apud Krein, 2001)

Conforme Krein (2001) a partir do pós-guerra essa regulação é materializada por meio de práticas situadas, dentre outros espaços, no âmbito da ampliação da ação do Estado, das quais podemos destacar: a) criação de leis que regulam o mercado

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de trabalho, tais como a proibição do trabalho infantil, a restrição do trabalho das mulheres em certas situações, o sistema de aposentadoria, a garantia de renda em situações de desemprego, as restrições ao uso do trabalho em certas situações de periculosidade e insalubridade, o seguro desemprego, o direito de representação coletiva dos trabalhadores no local de trabalho, o direito de greve, o direito de organização sindical e negociação coletiva etc.; b) introdução de políticas sociais, que ampliam a renda e o bem-estar do conjunto da sociedade (saúde, educação, transporte coletivo etc.) e que garantem a sobrevivência das pessoas em situações de doença, desemprego, invalidez e velhice, sem estarem necessariamente vendendo a sua força de trabalho.

Cria-se um sistema de proteção social, possibilitando que o trabalhador não se submeta a “qualquer” condição de trabalho para prover a sobrevivência de sua família. Assim, a instituição da previdência social, do seguro-desemprego, das políticas sociais e de uma legislação de proteção ao trabalhador e suas entidades de classe tiveram peso decisivo na conformação de um mercado de trabalho mais homogêneo e de uma relação capital e trabalho menos assimétrica (KREIN, 2001, p.10).

Todo esse quadro atual, marcado, dentre outras características, por uma ação menos incisiva do Estado e novas relações entre empresas e destas com o mercado, Estado, sindicatos, clientes etc., coloca em xeque, segundo Abramo (2000) duas idéias centrais do padrão de regulação construído no pós-guerra: a) os mercados de trabalho não podem receber o mesmo tratamento dos outros mercados devido à sua função social de gerar renda para a manutenção da grande maioria dos lares – o que vem enfatizar um dos princípios básicos e fundadores da Organização Internacional do Trabalho (OIT), ou seja, a noção de que o trabalho não é uma mercadoria; b) os mercados de trabalho são marcados por desequilíbrios estruturais (entre capital e trabalho), onde o lado mais débil desta relação (os que vendem a sua força de trabalho) necessita de uma proteção especial.

Nesse sentido, segundo Abramo e Leite (1998) o processo de globalização e de reestruturação produtiva, juntamente com as teses neoliberais, promoveram um profundo golpe no arranjo econômico e social implementado pelo Estado de Bem- Estar.

Através de políticas ditadas pelos organismos internacionais, as formas de regulação assumidas pelo Estado a partir do pós-guerra vêm sendo sistematicamente desmontadas, dando lugar a um processo de desregulação

em que o mercado passa a assumir o papel central na relação entre os vários atores sociais (ABRAMO e LEITE, 1998, p.3)

Visto isso, discutiremos adiante algumas características da configuração assumida pelo trabalho no mercado brasileiro após a incorporação de algumas teses neoliberais a partir o ano de 1990, mais precisamente durante e depois da gestão do presidente Fernando Collor de Mello.

4.2.2 Flexibilização e desregulamentação do trabalho no mercado