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Flexibilização e desregulamentação do trabalho no mercado de trabalho brasileiro

4 PENSANDO A ESCELSA ENERGIAS DO BRASIL NA ATUALIDADE

4.2 Fatores intervenientes para se pensar a empresa na atualidade

4.2.2 Flexibilização e desregulamentação do trabalho no mercado de trabalho brasileiro

Antes dessa exposição achamos importante o esclarecimento dos sentidos que estamos dando aos conceitos de desregulamentação e flexibilização.

A desregulamentação do trabalho é “o processo pelo qual os direitos trabalhistas são derrogados, perdendo a regulamentação. A desregulamentação, na verdade, é um tipo de flexibilização promovida pela legislação [...] de acordo com a realidade econômica e produtiva (SIQUEIRA NETO, 1996, p.334). Sendo assim a desregulamentação é pensada nesta dissertação como as ações de eliminação de leis e direitos instituídos que regulam o mercado, as condições e as relações de trabalho (KREIN, 2001).

Já a flexibilização é pensada pela presente pesquisa sob duas óticas.

A primeira está situada na relação desse processo com os direitos trabalhistas. Dessa forma, a flexibilização é vista como a depressão desses direitos, com a finalidade de redução de custos e como uma outra forma de regulação, por meio da criação de novas regras.

A segunda ótica, pela qual estamos pensando a flexibilização, se situa no âmbito do processo de gestão. Dessa maneira, a flexibilização é colocada na presente pesquisa como uma prática de gestão do trabalho utilizada pelas empresas no sentido de facilitar os ajustes que têm que fazer diante de um quadro marcado pela instabilidade econômica, pelo aumento da competitividade e por outros padrões tecnológicos e de estratégias de negócios.

Feita essas considerações passemos a discussão de algumas especificidades do processo de flexibilização do trabalho e das mudanças da legislação brasileira, para que possamos delinear algumas características dessa configuração do trabalho instituída no Brasil a partir de 1990, uma vez que essa é fundamental para pensarmos a Escelsa – Energias do Brasil na atualidade.

4.2.2.1 Flexibilização e desregulamentação dos direitos trabalhistas

A flexibilidade dos direitos trabalhistas pode variar de acordo com os fins, forma e objeto (SIQUEIRA NETO, 1996).

Quanto aos fins ela pode ser de proteção (iniciativas de adaptação em benefício do trabalhador), de adaptação (adequação das normas legais a novas circunstâncias instituídas no contexto, por meio da negociação coletiva mediante uma valoração global do que é mais conveniente ao trabalhador) e de desregulamentação (derrogação de benefícios trabalhistas) (SIQUEIRA NETO, 1996).

Quanto à forma pela qual é instituída, segundo Krein (2001), a flexibilização pode acontecer: a) a partir do poder discricionário da empresa ao impor de forma unilateral uma nova regulamentação; b) pelas mudanças institucionais via ação do Estado; c) pela negociação direta entre os atores sociais (contrato coletivo ou pacto social); ou d) pela re-interpretação do direito existente, através do Poder Judiciário. Quanto ao objeto, a flexibilização pode ser interna (ao modificar aspectos de uma relação preexistente que subsiste, como o horário, a jornada e as condições de trabalho) e externa (questão ligadas à entrada e saída do mercado de trabalho) (SIQUEIRA NETO,1996).

Segundo Siqueira Neto (1996) a manifestação da flexibilidade na entrada do mercado de trabalho pode ocorrer por meio de medidas como: ações de cunho legislativo incentivando o trabalho part-time; os ingressos diferenciados ao trabalho para os jovens; a multiplicação de possibilidades de trabalho precário e temporário; a redução de tutela do direito do trabalho das categorias sociais menos protegidas; e a expansão das lógicas privatistas na oferta e na demanda de trabalho. Já a

flexibilidade na saída do mercado de trabalho “está assegurada pela legislação sobre a limitação do campo de aplicação e o rigor da tutela contra a despedida individual e por uma nova legitimação das reduções de pessoal” (SIQUEIRA NETO, 1996, p.336).

Historicamente, como vimos anteriormente, é a partir dos anos 90 com a abertura comercial e a emergência do pensamento político neoliberal que as teses de flexibilização e desregulamentação dos direitos trabalhistas começam a vigorar com mais ênfase.

A retórica concentrava-se no anacronismo e na desfuncionalidade da legislação trabalhista ainda proveniente da era Vargas. Para muitos analistas do sistema de relações de trabalho, para os empresários, para o governo e para algumas lideranças sindicais, aquela legislação não acompanhava o passo das transformações econômicas e produtivas necessárias ao ajuste competitivo do país. O caminho da “modernidade” passava pelas agressivas reformas no âmbito das privatizações, da previdência, da desregulamentação dos mercados econômico e de trabalho (COSTA, 2005, p.120-121).

Para Dedecca (2006) a flexibilização a partir 1990 teve bastante influência das grandes empresas internacionais, já que essas aproveitaram a liberalização econômica para integrar às plantas brasileiras seus sistemas de redes internacionais. Além disso, segundo o autor, essas empresas aproveitaram os altos índices de desemprego na época para pressionar os sindicatos a aceitarem práticas como: remuneração por resultados (participação em lucros e em resultados), jornada de trabalho flexível (banco de horas), enxugamento das estruturas de cargos e salários, redução dos salários, trabalho aos domingos etc.

Instituídas essas práticas via negociação, os governos foram encaminhando mudanças na regulação com o objetivo de dar sustentação aos acordos coletivos. Ao aceitarem a flexibilização a partir dos acordos e os chancelarem posteriormente, a ação dos governos deu combustível para novas demandas de flexibilização de outros direitos (DEDECCA, 2006).

Dessa forma, segundo Dedecca (2006, p.12):

As inovações adotadas nas relações de trabalho durante os anos 90, como o banco de horas e a participação nos lucros e resultados, em um contexto de elevado desemprego, ampliaram o grau de flexibilidade dos contratos de trabalho, provocando tanto a redução da proteção social quanto uma desvalorização dos rendimentos do trabalho. As características da baixa renda

e da precariedade que historicamente acompanharam o processo de construção do mercado brasileiro de trabalho foram reiteradas, colocando em risco o próprio sistema de proteção social existente. Tais inovações abriram espaço para mudanças na regulação pública do contrato de trabalho, permitindo que de um modelo de natureza despótica se migrasse para um outro de natureza despótica-hegemônica, com características daquele em processo de construção nos países desenvolvidos, porém com muito maior flexibilidade.

Krein (2001) agrupa as ações tomadas a partir da “década” neoliberal, e que contribuem para aprofundar a flexibilização na determinação do uso do trabalho, nas seguintes categorias:

1. Alocação e gestão da mão de obra: com a introdução do contrato por prazo determinado, do contrato por tempo parcial, da suspensão do contrato, da lei de cooperativas profissionais, da ampliação da contratação temporária, da denúncia da convenção 158 da OIT;

2. Flexibilização da remuneração: por meio da regulamentação da participação