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4.2 Regressões

4.2.1 Emissões

A tabela 4 mostra os resultados das regressões que têm como variável dependente as emissões de gases de efeito estufa, tanto do escopo 1 (primeira e terceira colunas) quando dos escopos 1 e 2 somados (segunda e quarta colunas), para a amostra de 431 empresas observadas entre 2006 e 2009. Enquanto as duas primeiras colunas comparam as emissões das empresas sediadas nas diferentes regiões relativamente às emissões das empresas europeias, as duas últimas comparam as emissões das empresas norte-americanas relativamente às emissões das demais empresas do mundo.

Os modelos apresentaram um poder explicativo (R2) de 0.332014, 0.329185, 0.291515 e 0.283498 respectivamente. Como explica Gujarati (2006, p.176), o “R2 mede a proporção da

variação da variável dependente explicada pelos regressores”, ou seja, os resultados indicaram que as variáveis empregadas no modelo explicaram cerca de 30% das emissões das empresas.

A significância geral do modelo, como descreve Gujarati (2006, p.210), pode ser testada pela utilização de um teste F, cuja hipótese nula pressupõe que todos os coeficientes angulares das variáveis independentes são simultaneamente iguais a zero. Nos modelos mostrados na tabela 4, pode-se perceber a rejeição dessa hipótese e, portanto, conclui-se que nem todos os coeficientes angulares das variáveis independentes são simultaneamente iguais a zero, indicando que os modelos são significantes.

Tabela 4 - Resultados da análise da influência de regiões e setores sobre as emissões de gases de efeito estufa, escopos 1 e 2, entre 2006 e 2009, para 431 empresas

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4

Emissões1(1) Emissões12(2) Emissões1 Emissões12

Constante 42.7912 46.1765 23.9606 26.0913

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4

Emissões1(1) Emissões12(2) Emissões1 Emissões12

Seguros -28.9873 -31.6750 -24.3397 -26.4270

R2-ajustado 0.332014 0.329185 0.291515 0.283498

F 27.76234 27.42244 17.25738 26.24957

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4

Emissões1(1) Emissões12(2) Emissões1 Emissões12

(7.6e-131)*** (2.4e-129)*** (1.6e-112)*** (1.6e-108)***

Fonte: a autora. Todos os modelos são constituídos por um painel balanceado de 431 empresas observadas ao longo do período 2006-2009 e são estimados pelo método dos mínimos quadrados ordinário com erros-padrão robustos a heterocedasticidade e autocorrelação dos erros do modelo. Os símbolos *,** e *** denotam significância estatística aos níveis de 10%, 5% e 1% respectivamente. (1) Emissões1 indicam as emissões do escopo 1 da empresa e no período t. (2) Emissões12 indicam as emissões somadas dos escopo 1 e 2 da empresa e no período t.

Nos dois primeiros modelos, a variável que indica se um país é signatário do Protocolo de Quioto, é estatisticamente significante a 1% e tem relação inversa com a variável dependente, indicando que as empresas sediadas em países signatários apresentam menores emissões comparativamente às empresas sediadas em países não-signatários. Ao se analisar os modelos que comparam as empresas norte-americanas às empresas dos demais países (modelos 3 e 4), é possível confirmar que as empresas norte-americanas têm emissões significantemente (ao nível de 10%) superiores quando se consideram escopo 1 e escopo 2 somados. Esse resultado não permite rejeitar a hipótese H1B, segundo a qual as empresas norte-americanas emitem maiores volumes de gases de efeito estufa do que as empresas dos outros países. Em termos de política internacional, isso reforça a necessidade do comprometimento norte-americano na adoção de medidas de redução de emissões.

A variável que indica se um país está listado no Anexo I também foi estatisticamente significante ao nível de 10% nos dois primeiros modelos e os coeficientes são positivos, mostrando que as empresas sediadas em países desenvolvidos (pertencentes ao Anexo I do Protocolo de Quioto) emitem mais gases de efeito estufa do que as empresas sediadas em países em desenvolvimento, sendo esse resultado compatível com a hipótese H1A. Embora tanto a hipótese quanto o resultado possam inicialmente parecer óbvios, deve-se lembrar que as emissões das empresas representam apenas parte das emissões de um país. No Brasil, por exemplo, constatou-se no Segundo Inventário Brasileiro de Emissões de Gases de Efeito Estufa, que as emissões do país cresceram cerca de 60% entre 1990 e 2005 e que 61% das emissões são originadas a partir da mudança no uso da terra e florestas. A indústria representa 3% das emissões totais do país (BRASIL, 2011). Desta forma, seria possível supor que as emissões dos países desenvolvidos são superiores devido à quantidade de industrias que, somadas, responderiam por um volume maior de emissões de gases de efeito estufa. Os resultados das regressões mostram, no entanto, que as emissões, em média, de empresa sediadas em países desenvolvidos, são superiores as emissões das empresas sediadas em países que estão fora do Anexo I.

Os coeficientes negativos e significantes, pelo menos ao nível de 10%, de todas as regiões para as emissões de escopo 1 indicam que, no geral, as empresas das outras regiões emitem menos gases de efeito estufa em suas operações do que as empresas europeias, coerentemente com as análises anteriores nas estatísticas descritivas. O mesmo vale quando, além das emissões de escopo 1 são consideradas também as emissões indiretas (escopo 2), exceto para a Ásia, já que a falta de significância estatística para esta região indica que a diferença entre as emissões médias absolutas de empresas asiáticas e europeias é estatisticamente insignificante. Esses resultados são parcialmente coerentes com a hipótese 3, segundo a qual o nível de emissões é afetado pela região geográfica onde a empresa está sediada.

A constatação da diferença entre os níveis de emissão das empresas sediadas nas diversas regiões pode levar a diferentes suposições sobre as razões dessa diferença. Dentre essas razões, podem estar contempladas questões políticas e institucionais, como pressões internacionais, ambientes regulatórios e influências da mídia e de cientistas, como discutido por Tilio Neto (2009), Busch e Hoffman (2009) e Levy e Kolk (2002). Outra possível razão pode estar relacionada à pressão de organizações não-governamentais (GUENTHER, NOWACK e WEBER, 2010) ou de consumidores (AUTIO, HEISKEN e HEINOKEN, 2009).

Há ainda a possibilidade das influências exercidas por instituições financeiras (RICHARDSON, 2009; UNEPFI, 2006) ou do receio de resultados adversos originados pela assimetria de informações entre gestores e investidores (GRIFFIN, LONT e SUN, 2010).

Além disso, a diferença entre os níveis de emissão das regiões pode estar relacionada a variáveis omitidas nos modelos, como por exemplo, tamanho das empresas, tipos de tecnologia utilizados ou subsetores ou ainda à existência de outliers. Estudos futuros podem buscar mensurar esses fatores com o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre as causas das diferenças regionais.

Além dos países e regiões, pode-se observar que, exceto para utilities, o fator setor é significante ao nível de 1%, ou seja, o fato de uma empresa pertencer a um determinado setor tem impacto direto no seu nível de emissões. O setor de energia foi tomada como base, sendo que os resultados obtidos apontam que apenas o setor de utilities emite mais gases de efeito estufa, em média, que o setor de energia. Os demais setores têm emissões significantemente menores do que o setor de energia, como se pode verificar a partir dos coeficientes das variáveis de setor. Cabe destacar ainda que, enquanto os coeficientes dos setores estão em torno de -23 a -29, os setores de transporte e materiais diferenciam-se desse padrão. Isso indica que esses dois setores, apesar de menos poluentes que os setores de energia e utilities,

poluem mais que os demais. Esses resultados não permitem rejeitar a hipótese 4, segundo a qual o nível de emissões é afetado pelo setor ao qual a empresa pertence.

Kolk e Pinkse (2004) afirmam que o país de origem é mais importante que o setor na determinação da probabilidade de resposta ao questionário do CDP. Os resultados do presente estudo indicam que, dentre as empresas que respondem ao CDP, tanto o setor quanto a região são fatores importantes na determinação do volume de emissões de uma empresa.

A dimensão dos coeficientes das diferente variáveis associadas à cada um dos setores permite confirmar as diferenças nos níveis de emissões das setores já observados nas estatísticas descritivas. Por exemplo, os setores farmacêutico, de telecomunicações, de bens de capital, produtos para casa e alimentos, que apresentam volumes médios de emissões similares, também apresentam coeficientes próximos nas regressões, indicando estar proporcionalmente à mesma distância, em termos de volume de emissões, do setor de referência, que é o de energia.

Nenhuma das variáveis indicadoras de ano foi estatisticamente significante, indicando que não houve um fator relacionado ao ano que afetasse as emissões de todas as empresas de forma geral. Nesse contexto, é interessante ressaltar que a crise de 2008, que afetou a atividade econômica de diversos países, não teve como efeito sistemático a redução das emissões de gases de efeito estufa das empresas consideradas no estudo.

O quadro 10 resume os resultados das hipóteses relativas às emissões de gases de efeito estufa.

Quadro 10 - Resultados das hipóteses relativas às emissões de gases de efeito estufa Hipótese Resultado

H1A Compatilibilidade forte, indicando que empresas sediadas em países do Anexo I emitem mais gases de efeito estufa do que as demais empresas.

H1B Compatibilidade fraca, indicando que empresas norte-americanas emitem maiores volumes de gases de efeito estufa do que as empresas dos outros países apenas quando se consideram emissões somadas dos escopos 1 e 2

H3 Compatibilidade fraca, indicando que as empresas das outras regiões emitem menos gases de efeito estufa em suas operações do que as empresas europeias quando se consideram apenas as emissões do escopo 1. Para o caso de escopos 1 e 2 somados essa relação não se verifica para a Ásia, embora ainda se verifique para as outras regiões.

H4 Compatibilidade forte, indicando que o nível de emissões é afetado pelo setor ao qual a empresa pertence.

Fonte: a autora.