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CAPÍTULO I – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

3. A Empatia

3.1. Conceito e desenvolvimento de Empatia

A empatia é um estado emocional que depende da capacidade de um indivíduo se colocar no lugar do outro, de compreender os seus pensamentos, sentimentos e comportamentos (Silva, 2011). Não significa sentir pelo outro, mas sentir com o outro. Embora não seja uma característica exclusiva da espécie humana, ela é mais desenvolvida nos seres humanos do que nos outros animais (Bjorklund, 1997) e expressa-se na capacidade de captar sinais emocionais nos outros, o que se traduz numa competência inata (Motta, Falcone, Clark & Manhaes, 2006).

A empatia é importante no desenvolvimento das competências interpessoais e na melhoria da qualidade das relações, uma vez que promove comportamentos em prol de outra pessoa (Denham, 1998). Ela está positivamente relacionada com o comportamento pró-social (Schaffer, Clarck & Jeglic, 2009), a aceitação pelos pares (Warden & Mackinnon, 2003), a saúde mental (Beyers & Loeber, 2003), a resolução de conflitos (McPherson Frantz & Janoff-Bulman, 2000) e a diminuição do comportamento agressivo (Miller & Eisenberg, 1988).

São diferentes os fatores que influenciam o desenvolvimento da empatia. Destacam-se os fatores internos, como, por exemplo, fatores genéticos, neurológicos e temperamentais, e os fatores externos ou de socialização, como a imitação, as práticas parentais e o relacionamento entre pais e filho (McDonald & Messinger, 2011).

A empatia assume um papel social importante na prevenção de diversos problemas comportamentais e de desenvolvimento de transtornos de personalidade (Justo, Carvalho & Kristensen, 2014). Estudos sobre o desenvolvimento da empatia observam mudanças significativas na capacidade empática nos primeiros anos de vida da criança (Knafo, Zahn-Waxler, Hulle, Robinson & Rhee, 2008), pelo que o seu desenvolvimento depende primariamente das condições de socialização da criança em contexto familiar (Garcia, 2001), contudo, o desenvolvimento empático ocorre num

continuum (Goldstein & Michaels, 1985) e a entrada da criança na escola assume-se

como um momento crucial para o desenvolvimento integral da criança, incluindo da empatia (Del Prette & Del Prette, 2003).

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3.2. A importância de ensinar a Empatia na sala de aula

Conforme realçam Decety e Sveltova (2012), a capacidade de partilhar e compreender os estados afetivos do outro é fundamental para a vida em sociedade, sendo a empatia um constructo bastante complexo que se traduz em sentimentos de preocupação e no conhecimento emocional do outro. Ou seja, é crucial para o convívio em sociedade porque promove a compaixão, a benevolência e a tolerância, além de ser um elemento indispensável para o desenvolvimento infantil saudável e feliz (Motta et al, 2006). Desta forma, aqui, a escola, pelas funções que lhe competem, não só educativa, mas também social, nomeadamente ao proporcionar uma educação integral e que proporcione o desenvolvimento global do indivíduo, deve trabalhar com ele o seu desenvolvimento físico, cognitivo, mas também o seu desenvolvimento afetivo e emocional. Portanto, compreendemos

“a educação como um processo-chave para o desenvolvimento de sujeitos autónomos, responsáveis consigo mesmos e com os outros e comprometidos com a construção de uma sociedade democrática, há que lançar um olhar muito mais cuidadoso e intencional às relações que se estabelecem entre as pessoas, entre as pessoas e as instituições educativas, entre as instituições educativas e o local, entre o local e o global. É nessa imensa tessitura de relações que uma educação comprometida com a transformação do mundo se ancora” (Costa, 2016, p. 35).

Assim sendo, acredita-se que a escola pode assumir um papel relevante, explicando e trabalhando com os seus alunos a importância de se criar uma relação empática com o outro, bem como os efeitos positivos que a mesma acarreta para o seu desenvolvimento emocional, como por exemplo: a validação dos sentimentos do outro, a sensação de alívio, a diminuição da tensão, a disposição para partilhar os sucessos ou os fracassos, o estabelecimento e o fortalecimento de vínculos de amizade, aumento da autoestima e a criação de um canal de comunicação entre duas pessoas, bem como a diminuição de sentimentos de menor-valia, culpa ou vergonha (Del Prette & Del Prette, 2001 citados por Garcia-Serpa, 2001; Del Prette & Del Prette, 2017). Conforme afirma Costa (2016, p. 35) “quanto mais ricas e diversificadas forem nossas interações e quanto mais qualificada for a reflexão acerca dessas interações, maior a capacidade das pessoas de compreender, de se relacionar e intervir no mundo”.

A promoção das habilidades empáticas pode ser defendida como um objetivo pertinente à função social da escola (Del Prette & Del Prette, 2003). Não é difícil identificar,

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segundo Pavarino (2004), que comportamentos empáticos ocorrem com baixa frequência, ou mesmo não ocorrem, porque o contexto escolar não cria orientações nesse sentido. Ao contrário, o que se verifica, na maioria das escolas, passa pela promoção frequente de estímulos que favorecem comportamentos competitivos e agressivos (Pavarino, Del Prette & Del Prett, 2005). Mas, sendo a educação uma tarefa de todos numa sociedade, não só é importante desenvolver a capacidade de dialogar, cooperar, refletir criticamente, comunicar-se e participar, como é essencial desenvolver uma competência como a empatia (Costa, 2016).

Contudo, é sabido que a empatia se assume como um elemento fundamental para o desenvolvimento sociocognitivo infantil e os fatores ambientais – práticas educativas, em particular – desempenham um papel importante no processo de desenvolvimento da empatia (Motta et al., 2006). Nesta ordem de ideias, para se construir um processo educativo que promova o desenvolvimento da empatia é necessário, no entender de Costa (2016), desconstruir a ideia de que a educação é uma preparação, isto é, de que é um processo exclusivamente comprometido com a aquisição de conhecimentos e habilidades a serem aplicados no futuro, na vida adulta. O ser humano interage com os seus semelhantes, aprende e relaciona-se com eles, pelo que o desenvolvimento desta competência:

“depende de uma ambiência que promova múltiplas interações, possibilidades de diálogo, de reflexão, de construção coletiva entre pessoas diferentes. Para isso precisamos baixar os muros das escolas, articular os itinerários de nossas crianças e jovens aos bens culturais das cidades, descentralizar os recursos, estimular a livre manifestação de ideias e formas de expressão e promover o encontro e a convivência de todos no espaço público” (Costa, 2016, p. 37).

Assim, torna-se evidente e premente a necessidade de promoção de programas/projetos e de estratégias, em contexto de sala de aula, que visem o desenvolvimento da empatia (Justo et al., 2014) e de outras competências emocionais porque, como salienta Pavarino

et al. (2005), um contexto favorável ao desenvolvimento infantil envolve,

necessariamente, práticas e valores de não-violência contra a criança ou pela criança. Aliás, Motta et al. (2006), no seu estudo, conclui que as práticas educativas favorecem o desenvolvimento da empatia em crianças e a escola tem que ter consciência e conhecimento deste facto.

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