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5 A CRISE ECONÔMICA NO PARADIGMA PÓS-KEYNESIANO

5.1 O PARADIGMA PÓS-KEYNESIANO

5.3.2 Emprego e Políticas Econômicas

É bem conhecido um dos elementos centrais de base metodológica presente no paradigma keynesiano acerca do funcionamento da economia monetária da produção: a incerteza. Sendo assim, se houvesse conhecimento pleno do futuro não haveria razão para que as firmas reservassem uma parcela dos lucros; ao contrário, elas poderiam investir todo esse valor e então haveria pleno emprego. Em um mundo de incertezas, no entanto, sempre haverá um movimento de resguardar-se. Daí a importância dos gastos do governo, que através de seu alto consumo tem a possibilidade de estimular um sistema claudicante:

The 1929-33 experience indicates that the size of government must be large enough to offset the effect on profits of a drop of investment to about 10 percent of its full-employment level. This implies that government must be at least the same order of magnitude as investment. A government whose spending is at least 16 percent and perhaps as high as 20 percent of prosperity GNP is necessary to protect the economy against a catastrophic decline in investment and profits. (MINSKY, 1986, p. 332).

Hyman Minsky, economista norte-americano, é um dos mais importantes autores pós- keynesianos, foi um teórico da ação governamental com a finalidade de impedir as recessões

ou depressões, ou estimular a economia a alcançar um desempenho que conduza ao pleno- emprego. Ele destacou a noção do Grande Governo, que, sinteticamente, significa que, para uma ação eficaz, o governo deve ser grande o suficiente para que suas políticas impactem onde for necessário. Além da eficácia, a eficiência é importante para que os períodos de crise não peguem também o governo em um estado de endividamento que obstrua sua capacidade de ação. Com a elevação e difusão de seus efeitos, as políticas monetária, tributária e fiscal afetam a propensão a consumir e a liquidez da economia.

A preferência pela liquidez, que orienta o comportamento dos agentes, leva à consideração de que é o gasto, e não a poupança, o responsável por gerar mais produção e emprego. Se uma sociedade deseja manter o pleno emprego (ausência de qualquer capacidade ociosa), precisa preencher a lacuna existente entre o consumo e a produção através do investimento. Se a decisão for por poupar mais, as empresas venderão menos e não terão incentivos para o investimento. Uma decisão em poupar hoje não implica em uma opção por consumir amanhã. Na pior das hipóteses as empresas podem ser fechadas e isso gerará aumento da poupança. Em outras palavras: poupança e investimento podem igualar-se sem que exista uma situação de pleno emprego.

A redução de investimentos como forma de proteção gerará mais desemprego involuntário. Isto não significa que os trabalhadores não aceitem trabalhar por determinado salário, mas, sim, que as vagas de emprego são cortadas em virtude da ação de proteção adotada pelos proprietários dos meios de produção quando o cenário econômico torna-se nebuloso. E essa decisão é tomada como reação quase reflexa – se todos fazem o mesmo – então, independentemente da existência ou não de sindicatos, contratos rígidos, salário mínimo etc. As empresas existem para gerar lucro, não empregos.

As expectativas negativas fazem com que a economia arrefeça e se as expectativas assim se consolidam esse estado pode se prolongar indefinidamente. Em um contexto orientado pela inatividade do Estado existe a tendência de agravamento da instabilidade, pois através do controle da demanda o governo pode limitar as flutuações. A política de gastos do governo deveria seguir o princípio “dinheiro barato, gasto inteligente”. As empresas públicas ou dependentes do poder público podem ser utilizadas para ajudar a manter o gasto total em um

nível elevado e a noção de dinheiro barato vai nesse mesmo sentido: funcionar como estímulo ao investimento privado. No entanto, as contas governamentais habituais deveriam manter-se com superavit (SKIDESLKY, 2009).

Nessa perspectiva, o foco deve ser colocado sobre o direcionamento dos recursos públicos. De nada adianta reduzir juros ou aumentar o nível de gastos se eles não forem alocados para estímulo e aumento da capacidade produtiva. Os projetos de investimento precisam ser discriminados com a finalidade de priorizar aqueles que servirão de suporte para a elaboração de outros projetos (infraestrutura, por exemplo).

Também precisam ser discriminados os investimentos externos entre aqueles destinados a entrar no circuito produtivo e aqueles destinados à especulação (HAWKINS; TORR, 2001). Os fluxos de recursos entre os países afetam as economias na proporção do nível de internacionalização dos setores. Quanto maior for esta integração, mais suscetíveis estão às flutuações internacionais. Desse modo, o resultado interno depende também das expectativas formadas nos países com os quais os setores econômicos se relacionam.

O mau desempenho da economia leva as pessoas a tentarem se proteger, a irem em busca dos ativos mais líquidos e evitar gastos. Isso repercute nas empresas que não conseguem vender a quantidade planejada e precisam reduzir sua atividade. Essa situação conduzirá ao desemprego e pobreza, que, ao contrário do que afirma a abordagem econômica convencional, não são gerados devido à rigidez em preços e salários, sindicatos fortes ou imperfeições de mercado.

Nesses momentos o governo deveria intervir ativamente para estimular a economia e evitar que essa situação se propague. A doutrina do laissez-faire, se aplicada, só faria agravar o estado de penúria da população sem gerar os benefícios apregoados por seus defensores: a eliminação dos ineficientes e o avanço para uma economia mais robusta (DAVIDSON, 2011).

À diferença dos empresários, os governos não realizam seus investimentos com a perspectiva de um lucro que compense os gastos. As políticas governamentais buscam garantir emprego e renda para a população, o que repercutirá em outros setores gerando estímulos para mais

contratações. Essa iniciativa é realizada em favor da economia como um todo e não em detrimento do setor privado, o qual não deve ser visto como um concorrente (KEYNES, 1996).

Além disso, a resistência do sistema bancário em conceder crédito e financiamento pode ser contornada pela intervenção da autoridade monetária incentivando ou concedendo a liquidez demandada pelos agentes dispostos ao consumo. Por isso, a moeda e a liquidez afetam o nível de emprego e a produção13. Nem a curto, nem a longo prazo, a moeda é neutra.

Outra questão importante é o uso de políticas governamentais no sentido de reduzir a desigualdade e garantir um determinado nível de renda para a população. Os conflitos entre os diferentes grupos de profissionais, e desses com os contratantes, geram os diferentes níveis salariais, indicando que as políticas são importantes para a limitação dessas diferenças e na implementação de políticas redistributivas (KING, 2002).

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