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1. ITAPETININGA: UMA NARRATIVA DA FUNDAÇÃO À "BUSCA PELA

1.5. O problema da energia elétrica

1.5.1. Empresa de Eletricidade Sul Paulista

Na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, em 1938:

Em convocação pela Assembleia Geral Extraordinária (publicados em diário oficial do Estado), participaram de uma sessão na assembleia legislativa os acionistas da empresa José Giorgi de Eletricidade. A presidência da mesa foi assumida por Jorge Giorge, principal acionista da empresa (à mesa estava também Júlio Volponi, como secretário, também acionista da empresa). Giorgi fez considerações sobre o decreto de lei n 825, de novembro de 38 [DECRETO-LEI Nº 852, DE 11 DE NOVEMBRO DE 1938]. O argumento de Giorgi segue na justificativa de que a empresa se destinou aos trabalhos de aproveitamento de quedas d'águas na região antes da constituição de 1937, argumento que não estaria sujeita (a empresa) ao decreto em questão.

Giorgi apresenta como solução, para continuidade da atividade da empresa na região sem prejuízo e discordância com a lei, a alteração dos Estatutos Sociais, que regulam a aplicação do decreto (?). A assembleia acatou as considerações, concluindo a necessidade de alteração do Estatuto “especialmente com referência às ações com direito e voto e a nacionalidade dos membros da Diretoria e como estivessem presentes de todos os acionistas os quais já estavam, em tempo útil, cientes de que esta assembleia trataria, eventualmente, da alteração dos estatutos, passou-se a discutir os pontos e termos dessas alterações.

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Em assembleia, decidiu-se pela demissão do gerente Francisco Zanelli, com Orlando Giorgi assumindo seu cargo no primeiro de janeiro do ano posterior. Assim, procedeu-se as modificações dos Estatutos Sociais, substituindo os artigos 4, 5 e 6, respectivamente, da seguinte maneira:

1a - A sociedade será administrada por três diretores, brasileiros com mandatos de um ano, e com os respectivos cargos distribuídos pela seguinte designação: Presidente, Superintendente, e Gerente.

2a - Em observância ao que dispõe o decreto-lei n. 852 de 11 de novembro de 1937, só as ações nominativas conferem direito a voto. Estas somente poderão pertencer a brasileiros ou a sociedades organizadas da forma prescrita pelo referido decreto-lei para poderem ser titulares de ações nominativas. Cada ação nominativa confere ao seu titular tantos votos quantos forem os lotes de 200 (duzentas) ações, nominativas ou não, que o mesmo possuir. As ações ao portados, por si, não têm direito a voto. 3 a - Para efeito de verificação e atribuição de votos e do disposto no artigo 136 do Decreto 434 de 4-7-1891, cada titular de ação deverá, no mínimo três dias antes da assembleia, depositar na caixa social e mediante recibo, as ações que possuir. Isso foi aprovado unanimemente pelos integrantes da assembleia legislativa. Após a aprovação por votos, o diretor demissionário (que estava no cargo desde o início da empresa) o Superintendente agradece o diretor, em nome da Sociedade, pelo afastamento “como o elevado propósito de atender com presteza e acatamento devido o intuito de nacionalização que orienta a atual legislação neste campo da atividade industrial”. (SÃO PAULO, 1938, p. 56 – grifo nosso).

Jorge Giorge, como era conhecido Giuseppe Giorgi, que presidiu a mesa da Assembleia Geral Extraordinária da Câmara dos Deputados Estaduais de São Paulo, foi um engenheiro italiano que fundou a Empresa de Eletricidade Sul Paulista juntamente com a construção de uma Usina Hidrelétrica em Turvinho (UHT) na altura de São Miguel Arcanjo. Com o objetivo de produzir e distribuir energia elétrica para o município de Itapetininga, a Empresa de Eletricidade Sul Paulista inaugura a iluminação elétrica na cidade no ano de 1912 e, até o ano de 1978, “a empresa permaneceu nas mãos da família Giorgi, ampliando sua capacidade geradora”, até ser vendida à Companhia Paulista de Energia Elétrica no referido ano (CPFL).

Do ponto de vista dos interesses para o desenvolvimento econômicos na cidade, a Empresa de Eletricidade Sul Paulista tornou-se um “empecilho”23, pois ocorria com frequência a interrupção do fornecimento de energia, o que “atrapalhava na atuação de empresas presentes na cidade e impedia a chegada de novas empresas” (ISAAC, 2019). Porém, em outubro de 1958, espectadores do Cine Olana foram impedidos de assistir a um

23 O termo “empecilho” foi utilizado por um empresário do setor mineral da cidade. Para Alberto Isaac, a

Empresa Elétrica Sul Paulista foi uma “desgraça para Itapetininga”. Outros substantivos foram utilizados para tratar da relação entre a EESP e as atividades industriais em Itapetininga. Decidi por usar “empecilho” pela semelhança com outras referências sobre o assunto.

68 filme por conta da queda do fornecimento de energia elétrica, ocasionando o início de um protesto que se encerra com a queima do escritório da Empresa de Eletricidade Sul Paulista.

Porque, existia a Empresa Elétrica Sul Paulista que foi uma desgraça para Itapetininga.

Essa empresa, inclusive Júlio Prestes fazia parte da diretoria, Júlio Prestes...

Era o causador também, um dos causadores da dificuldade da instalação de empresas. Ele [Júlio Prestes] pertencia à diretoria da Empresa Elétrica Sul Paulista. Pois essa empresa era deficitária, a energia elétrica em Itapetininga era péssima, horrível. [a empresa] foi instalada em 1913 e só terminou quando ela foi queimada, em 198524. Soube disso, ou não?

Em outubro de [19]58 houve a revolta do povo contra a empresa elétrica, porque a empresa era deficitária. Todas as empresas daqui foram embora. Era a Matarazzo... a maior era a Matarazzo, Industrias Matarazzo, na Rua Alfredo Maia. (ISAAC, 2019).

A distribuição de energia elétrica no município, vista como um problema, “se arrastou” (CAMPOS, 2019) até o início da década de 1970. Com uma crise aguda no setor, na segunda metade da década de 1950, houve a instalação, pela Usinas Elétricas do Paranapanema (USELPA), de um motor de 1300 quilowatts, o que resolveu parcialmente o problema, mas provocou um aumento de 90% das tarifas do usuários e a deficiência na distribuição de energia elétrica no município foi ficando deficiente, gradativamente, até que em 1958 houve uma manifestação exigindo um contorno da situação. Neste mesmo ano, Itapetininga era a cidade, do estado de São Paulo com o menor consumo de energia “per capta”. (SÃO PAULO, 1958, p. 45). Embora no início da década de 1970 o problema da energia elétrica estivesse “resolvido”, ao nível de se iniciar uma propaganda para a instalação de novas indústrias no município de Itapetininga, a compra da Empresa de Eletricidade Sul Paulista era reivindicada por prefeitos da região.

A Cesp - Centrais Elétricas de S. Paulo - estuda a possibilidade de adquirir todo o acervo da Empresa de Eletricidade Paulista, passando a distribuir a energia neste município e nas localidades de S. Miguel Arcanjo, Sarapuí e Guareí. Esses municípios há muito que reivindicam da Cesp a negociação do acervo da concessionária local, que fornece energia elétrica há mais de 35 anos em toda essa área sulina. Recentemente, os prefeitos desses municípios, juntamente com o deputado José Ozi e o secretário do Trabalho, Ciro Albuquerque, estiveram na Capital entregando ao governo do Estado cópia do memorial, expondo também os problemas que enfrentam em decorrência da deficiência de energia elétrica. Reuniram-se também com o presidente da Cesp, Lucas Nogueira Garcez, a quem entregaram o documento original. Os prefeitos da região querem que a CESP negocie o acervo da concessionária regional - porque segundo alegam - "o deficiente serviço tem entravado o desenvolvimento dos municípios sulinos, muitos dos quais, por isso mesmo, já

24 Em entrevista, no primeiro momento, Isaac havia falado 1985. A princípio, fiquei confuso, pois o

problema do fornecimento de energia elétrica foi resolvido entre as décadas de 1950 e 1960 e Alberto Isaac falou de 1985, quando o problema já tinha sido resolvido. Mas foi um equívoco na data, como o próprio Isaac faz a correção posteriormente, citando a revolta de [19]58.

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perderam excelentes oportunidades de atrair empresas industriais.” (FOLHA DE ITAPETININGA, 1973c).

Não obstante, antes de apresentar melhor a manifestação de 1958, é mister compreender algumas questões entorno da situação da produção e distribuição de energia elétrica no Brasil, de modo que essa configuração nacional aponta algumas compreensões acerca da situação específica de Itapetininga referente a este problema.