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Quem dá mais? Procura-se uma cidade no interior de São Paulo

3. NOTAS PARA A COMPREENSÃO DE UM CONJUNTO DE AÇÕES POLÍTCAS

3.3. A negociação para instalação da Nisshinbo do Brasil: uma ação para pensar o

3.3.1. Quem dá mais? Procura-se uma cidade no interior de São Paulo

“Neste instante, saiu daqui um empresário, levando para São Paulo toda a documentação informativa necessária para que um grupo japonês instale na cidade a maior indústria da região. O ramo é o têxtil, o capital é muito grande, o número de

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novos empregos será mais de mil. Da capital esses documentos irão diretamente de avião para Tóquio”.

A informação veio do sr. Nilo Torres Salema, secretário da Prefeitura Municipal, responsável pela remessa dos valiosos papeis. Foi a terça-feira à tarde, antes de chegar a confirmação. José Nantala Badue, correspondente deste jornal na cidade, diria mais tarde que a empresa é a Nishin Spinning Company Ltda., com sede em Tóquio, que mobilizará mais de mil operários na fabricação de tecidos. A decisão final, que coroou os entendimentos, partiu do prefeito Hafiz Abi Chedid, do vicê- prefeito Mauro Del Rolo e do presidente da Câmara Municipal, Celio Lenim. Eles estiveram reunidos, semana passada, durante vários dias, com os diretores da empresa japonesa.

O município cederá uma área de 200 mil m², instalações de infra-estrutura (água, esgoto, rede telefônica, etc), acesso rodoviário e muitas outras facilidades. O levantamento topográfico ficará a cargo da empresa.

Os japoneses são exigentes. Quiseram (e levaram) um levantamento completo das condições socio-economico e educacionais do município e da região, para prevenir-se com vistas ao futuro. “Um deles segredou-nos que precisa de uma estimativa da população estudantil, dos cursos técnicos e universitários, a fim de eles próprios tecerem um quadro de disponibilidade de mão-de-obra especializada nos próximos anos” - disse o secretário da Prefeitura. (FOLHA DE SÃO PAULO, 1972, p. 21).

Missão japonesa visitou Salto

Encontra-se em nosso País uma Missão Japonesa da Cooperação Industrial de Maquinarias e Aparelhos Elétricos, procedente de Osaka, Japão. Seus membros são administradores elétricos no país do Sol Nascente e sua vinda ao Brasil é patrocinada pelo governo japonês e tem como objetivo ver e discutir com as autoridades competentes e representantes da indústria, as probabilidades de investimentos no Brasil, Argentina e Peru, além de verificar a possibilidade da empresa coletiva e a cooperação técnica.

Terminando o almoço os visitantes foram levados a conhecer diversos locais da cidade, inclusive um terreno que a Prefeitura está em condições de doar a qualquer indústria japonesa que queira se instalar em Salto. Na Prefeitura Municipal, os visitantes tomaram conhecimento da lei municipal que oferece inúmeras vantagens para a instalação de novas indústrias, sendo-lhes entregue um relatório completo sobre a cidade, além de mapas e gráficos. (CRUZEIRO DO SUL, 1971a, p. 04).

Essas duas matérias apresentam, de uma maneira geral, o interesse na aplicação de capital no interior do estado de São Paulo, por parte dos empresários japoneses e a intenção em facilitar a aplicação de capital do exterior, por parte dos gestores municipais. Como meu objetivo aqui é mais mostrar a ação dos agentes políticos municipais relacionada à industrialização, friso a maneira pela qual os empresários são recebidos pelos agentes políticos. Embora, segundo a matéria, a equipe da gestão executiva do município de Bragança Paulista tenha se demonstrado amistosa a Nishin Spinning Company Ltda., esta não instalou sua indústria têxtil naquela cidade, mesmo com a prefeitura apresentando a disponibilidade de uma área de 200 mil m², serviço de água, esgoto, rede telefônica e acesso rodoviário. (FOLHA DE SÃO PAULO, 1972, p. 21).

131 E no caso do município de Salto, o que chama atenção é o fato de que a matéria apresenta a disponibilidade da prefeitura municipal em doar um terreno para “qualquer indústria japonesa que queira se instalar em Salto” (CRUZEIRO DO SUL, 1971a, p. 04), evidenciando um interesse para a instalação de indústrias naquele município, o que permite considerar que este interesse não era, evidentemente, uma especificidade das gestões de Itapetininga naquele período. Os fatores que favoreceram a instalação da indústria têxtil em Itapetininga, dentre Americana (município em que os empresários cogitaram a instalação da indústria) e Bragança Paulista, como afirmou a matéria no Jornal Aparecida do Sul, foram, foram:

[...] plano diretor, moderno sistema de abastecimento de água, oferta de terrenos e incentivos fiscais com base em leis municipais, fartura de energia elétrica, proximidade da capital, amplas comunicações, vias asfaltadas e ferrovias, facilidade de mão de obra, mais a receptividade encontrada dentre o povo através consultas e a constante atenção dispensada pelo prefeito Walter Tufik Curi. (APARECIDA DO SUL, 1972).

No caso de Itapetininga, que iniciou, após “a efetivação de seu Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, uma fase agressiva na busca da industrialização municipal” (APARECIDA DO SUL, 1972 – grifo nosso), como afirmou o texto jornalístico que apresentou dados sobre o potencial industrial do município, a figura do ex-prefeito Walter Tufik Curi é crucial para compreender os “esforços” para a consolidação dessa “nova fase”:

Dentre os entendimentos mantidos por um dos grandes prefeitos que Itapetininga já teve, estava a importante firma japonesa, com sede em Tóquim Nisshin Spinnig Co. Ltda., que decidiu-se pela implantação de uma indústria têxtil em Itapetininga, a funcionar dentro de um ano, proporcionando logo de início 300 novos empregos. Para estabelecer os últimos detalhes e providências, estiveram na última quinta-feira nesta cidade, reunindo se com a Imprensa e autoridades no Gabinete do Prefeito Walter T. Curi, os senhores K Kanegaei, Diretor da Nisshin Spinning, S Fujihira, Superintendente da Howa do Brasil e Procurador no Brasil da Nisshin, T Miyake Diretor da Cibram S/A e o advogado H. Sat, todos ligados ao empreendimento de nosso Município. (APARECIDA DO SUL, 1972b).

Fundada no Japão em 1907, a Nisshin Spinning Company Ltda., é uma sociedade anônima com sede em Tóquio. Em 1972, tinha um faturamento anual de 1 bilhão e 500 milhões de cruzeiros51 (CRUZEIRO DO SUL, 1972, p. 14). Para a decisão de sua fixação em

Itapetininga, os técnicos da empresa da Nisshin Spinning Company Ltda selecionaram o terreno, dentre os apresentados pela equipe executiva de Walrter Tufik Curi, para sua instalação. (APARECIDA DO SUL, 1972b). A partir da primeira visita ao município de

51 Aproximadamente R$ 6.829.978.781,04, de acordo com a atualização de valor INCC/FGV para novembro de

132 Itapetininga, responsáveis pela Nisshin Spinning Company Ltda se reuniram com uma “certa frequência” com o ex-prefeito municipal para acertar detalhes sobre para a instalação de uma indústria têxtil no município. A confirmação oficial da instalação da Nisshin Ssinpinnng em Itapetininga ocorreu nos últimos meses do mandato de Walter Tufik Curi, que afirmou ser “um presente de natal” para a cidade (TRIBUNA POPULAR, 1973b). No entanto, antes dessa oficialização, o ex-prefeito participou de uma audiência com o ex-governador Laudo Natel e diretores da empresa do Japão e, por fim, antes de encerrar seu mandato recebeu a visita dos diretores da Nisshin Spinning Corporation.

José Roberto de Siquira Filho, ex-chefe de gabinete de Walter Tufik Curi exerceu um papel fundamental na “busca por indústrias” para instalação em Itapetininga (APARECIDA DO SUL, 1972b) e principalmente na negociação para a instalação da Nisshin Spinning Company. A oficialização do documento de escritura para a doação de aproximadamente 200.000 m² à empresa japonesa acontece em março de 1973, já na gestão executiva de Darcy

Figura 8 - Visita dos diretores da Nisshin Spinning Co. em Itapetininga. O ex-prefeito Walter Tufick Curi, o segundo da esquerda para a direita com diretores, técnicos da empresa e seu chefe de gabinete. Fonte: Jornal Aparecida do Sul, 1972.

133 Pereira de Moraes (TRIBUNA POPULAR, 1973b). Neste mesmo período, a Nisshin Spinning Company passa a denominar-se Nisshinbo do Brasil Industria Textil Ltda. Lavrado no cartório do 1º ofício pelo procurador da empresa em São Paulo, Seigui Fujihara e pelo ex- chefe de gabinete da gestão anterior, José Roberto de Siquira Filho, que assume o cargo de assessor de diretoria da Nisshinbo do Brasil.