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ENCONTRO COM OS ARTISTAS

No documento Museu e escola : espaços de sentidos (páginas 102-107)

5 O SETOR EDUCATIVO DO MAES

5.2 ENCONTRO COM OS ARTISTAS

O encontro aconteceu no auditório do MAES, no sábado, 26/04/2014 - às 15h, organizado pelo educativo do museu, com a presença dos artistas Heidi Lieberman e Bruno Zorzal, e mediada pelo curador da mostra Lobo Pasolini, dentro do projeto Ciclo de Palestras sugerido pelo museu. Iniciou-se com a apresentação de Renan Andrade (coordenador do educativo), que fez um breve histórico biográfico e acadêmico dos artistas. Contou com presença da filha de Heidi, Rosa Nina Lieberman e um bom número de participantes. O auditório, que comporta 40 pessoas, ficou cheio. As fotografias abaixo destacam esse encontro.

O curador iniciou a conversa e perguntou a Heidi: Como foi criar obras para a exposição com o título “Meu país tropical”? Heidi agradeceu o convite e falou que, no ano de 2014, em que se comemora o ano Alemanha – Brasil, foi um honra ser convidada para participar da mostra. Relatou que, para sua produção, utiliza diversificados materiais e quis expressar por meio da cor - do colorido, a alegria que o Brasil tem. A “Maria Bahia” representa a mulher brasileira, que tem muita sabedoria, é bonita e enfeitada. Criou uma série começando pela “Maria Blues”. Pode-se visualizar abaixo as obras citadas

Figura 18 – Encontro com os artistas no MAES, 2014

Figura 19 - À esquerda: “Maria Blues” (2013/14) de Heidi Liebermann, acrílico sobre tela, 82 x 102 cm. À direita: “Maria Bahia”(2014) de Heidi Liebermann, acrílico sobre tela, 82 x 102 cm.

Fonte: Acervo do autor

Heidi reiterou que sua pintura é bem gestual, e que não planeja nada, começa com uma tela em branco, que segue para uma pintura abstrata (base-fundo) e que a figuração vai surgindo, crescendo, que não tem receita para as cores, pois pinta com o que sente, puro sentimento, intuição. Em sua obra, o político é abordado de forma sutil, o estético é mais forte. No quadro instalação “Pedrinho”, Heidi comenta que isso aparece com maior força, como se pode apreciar, na figura 20 a seguir.

Heidi foi questionada por Carla Borba sobre a “Sala dos Milagres”. Carla relatou que, no dia da abertura da exposição, ficou por alguns instantes na sala observando a reação do público e ficou impressionada em ver como o espaço causou estranhamento. Sobre esse espaço da exposição, Heidi disse que gostaria muito de saber o que as pessoas acharam da obra, o que pensavam. Cogitou-se colocar um gravador para captar as narrativas do público nesse espaço.

Nessa sala, Heidi disse que quis retratar a religião e o misticismo; a religião para ela é muito forte no Brasil, diferente da Alemanha onde a religião não interfere na vida das pessoas. Tem a presença da religião católica, da umbanda (influência da Barra do Jucu), onde as pessoas levam flores para Iemanjá. A palavra “Shalom” é uma influência do mundo árabe, sua religião é o judaísmo. A presença da “Barbie”

Figura 20 - Pedrinho (2010/2014) de Heidi Liebermann, acrílico sobre lona, dupla face, 155 x 187 cm

Fonte:

faz uma alusão ao consumo. Sala sincrética - uma mistura de vivências e influências pessoais e do cotidiano.

Questionaram a artista quanto ao uso da escrita em suas produções. Heidi revelou que esse ato é a poética de suas obras, diz que a tela pede a escrita, escreve frases de que gosta, frases que são fantásticas para ela. A presença do Modernismo não poderia faltar nesse país tropical, com a obra “That is the question Oswald”.

Em seguida, perguntaram à artista sobre a tela “Se essa rua fosse minha”, em que retrata a brincadeira amarelinha, e a artista falou que essa brincadeira fez parte de sua infância, tem uma ligação ao “Pedro-Pedrinho”. Heidi questionou que hoje em dia as crianças já não brincam na rua e declarou que tem a criança como uma “canção de amor”. A seguir pode-se visualizar as obras citadas nesse diálogo entre Heidi e os participantes do encontro.

Figura 21 – Instalação Doce Amargo – A sala dos milagres (2014), técnica mista sobre tela, gesso, isopor, plástico, colagem.

Sua filha Rosa Nina pediu que Heidi falasse um pouco sobre os materiais utilizados, sobre o uso da “lona de caminhão”. Heidi relatou que, em seu processo criativo, gosta muito de usar materiais e suportes diversificados. O uso da lona de caminhão pode representar as coisas vividas, que já se passaram, muitos caminhos percorridos, palavras. Exemplificou que pegou uma lona de caminhão que tinha palavra Manaus, essa palavra foi o ponto de partida para sua inspiração. Heidi declarou ter muita facilidade com a figuração, com as “formas perfeitas”, mas disse “a perfeição mata a vida”. Quando observa que seu trabalho está ficando muito perfeito, não gosta. Gosta da liberdade, de jogar cores, fica como uma criança pintando. Disse que “a perfeição encerra”. Gosta mesmo de aproveitar as imperfeições, pois, com elas, sempre tem mais ideias, ideias novas. Por último, questionaram a artista quando considera um trabalho finalizado. Ela respondeu que “quando percebe que está tudo dito, tudo sentido, aí o quadro está finalizado”. Esse encontro foi significativo, pois promoveu reflexões sobre o processo criativo dos artistas; entretanto, o MAES, infelizmente, não se preparou para a filmagem e fotografia do evento. Questionei o responsável pelo setor educativo, sobre os registros do referido evento, e ele declarou não ter conseguido parcerias para a filmagem e que o equipamento do museu estava com defeito. Nessa perspectiva,

Figura 22 - À esquerda: “That is the question, Oswald” de Heidi Liebermann (2013-14), acrílico sobre tela, 130 x150 cm. À direita: “Se essa rua fosse minha” (2014) de Heidi Liebermann, técnica

mista sobre lona, 36 x 43 cm.

percebe-se, com pesar, o impedimento de que esse capítulo importante da História do museu fosse registrado e também que, em tempos vindouros, outros pudessem ter acesso, inclusive outros pesquisadores pudessem conhecê-lo e utilizá-lo em suas investigações.

No documento Museu e escola : espaços de sentidos (páginas 102-107)