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3 REFERENCIAL METODOLÓGICO

3.2 ENCONTRO COM O SER PESQUISADO-CUIDADO

Esta fase foi determinante para o sucesso da aplicação do método de pesquisa-cuidado, pois foi o momento da interação, em que como pesquisadora- cuidadora desvelei o que desejava pesquisar e tomei decisões conjuntas com o ser cuidado a partir das necessidades levantadas e validadas por ambos.

O local escolhido para a realização do estudo foi a unidade de cardiologia, incluindo a UTI e enfermaria de um hospital infantil de grande porte na cidade de Curitiba, com especialidades exclusivas no atendimento de crianças e adolescentes, com serviços de alta complexidade, localizada na região leste do Estado do Paraná, dispondo de 345 leitos. O hospital conta com 45 enfermeiros, 120 técnicos e 345 auxiliares de enfermagem. A escolha deu-se por se tratar da única instituição no município de Curitiba considerada de referência em cirurgia cardíaca pediátrica, além de ser uma instituição que busca nas ações humanizadas de saúde o cuidado solidário.

Participaram desse estudo 10 mães que acompanhavam seus filhos internados, seguindo os seguintes critérios de inclusão: que tivessem filho no pós- operatório de cirurgia cardíaca para correção de defeito cardíaco congênito e que aceitassem participar da pesquisa-cuidado. A escolha desses sujeitos levou em conta a peculiaridade exigida no cuidado de enfermagem a esta população, que vivencia as especificidades do processo de transição de saúde-doença, tornando-se co-participante de todo este processo, sendo, dessa forma, entendida como extensão do filho e alvo dos cuidados de enfermagem.

Tratando desse tema, percebe-se a relevância no direcionamento da prática, ao compreender o significado dessa experiência, valorizando o cuidado como instrumento de enfermagem, com caráter humanista e solidário. A partir da concordância das mães em participar da pesquisa, estas foram informadas sobre os

objetivos do estudo e do direito de desistência no decorrer da pesquisa, quando então assinaram o Termo de Consentimento Informado Livre e Esclarecido (APÊNDICE I).

O número inicial de sujeitos definido para a realização do estudo era de 15 mães, porém o número de 10 mães foi definido à medida que as informações foram sendo saturadas, ficando, dessa forma, condicionado à compreensão do fenômeno investigado, ou seja, quando se iniciou a repetição dos discursos, não tendo surgido novas informações.

Para o levantamento das informações foi utilizada a entrevista semi- estruturada, tendo como questão de pesquisa: o que significa para você ter um filho com doença no coração de nascença, que fez uma cirurgia e está/esteve internado na UTI? Essa questão envolve o ser mãe, doença cardíaca congênita do filho e hospitalização. Constou do instrumento a coleta de informações sócio-demográficas, como identificação (preservada por pseudônimos), idade, procedência, escolaridade, ocupação, renda familiar e dados referentes à internação como tempo de permanência, internações anteriores, diagnóstico médico, cirurgia realizada. Na segunda parte do instrumento, constou a pergunta aberta, a partir da questão norteadora e questões complementares, cujos depoimentos foram gravados em fita cassete e na terceira parte, dados de observação do entrevistador, como, por exemplo, expressões corporais, tom de voz, choro (APÊNDICE II).

A opção pela entrevista semi-estruturada ocorreu pela flexibilidade que o modelo permite ao combinar questões fechadas e abertas no transcorrer do discurso, favorecendo a liberdade de expressão. Ela pode ser usada quando o pesquisador necessita focar vários tópicos, sendo função do entrevistador encorajar o ser pesquisado a falar livremente sobre todos os itens elencados. Esse processo relacional gerou informações de pesquisa, as quais foram rigorosamente registradas para assegurar a integralidade e fidedignidade das informações apreendidas. A estratégia foi a de encontros pré-agendados, em local que permitisse a privacidade e possibilitasse a apreensão.

A entrevista envolve “um processo informal e interativo entre pesquisador e cliente exigindo questões abertas, que não transforme o ser em objeto ou redutível

a métodos científicos, mas apelam para os modos de compreensão mais sutis e compreensíveis, sobre o fenômeno” (ZAGONEL, 1999a, p.92). Essas questões objetivam desvelar a experiência compreensiva da pessoa sobre o fenômeno.

A entrevista é utilizada pelo enfermeiro para coletar os discursos a respeito do cliente, como os aspectos culturais, sociais, econômicos, psicológicos e de saúde-doença; procura fazer emergir a consciência que a cliente tem do mundo, mediante sua compreensão.

Para a entrada no campo, não encontrei dificuldades, já que o hospital referido na pesquisa é também meu local de trabalho. Para o agendamento das entrevistas eu conversava com as mães, explicava os objetivos da pesquisa e as convidava para participar. As facilidades encontradas foram o imediato consentimento das mães em participar, a receptividade da equipe de enfermagem no campo e seu apoio para com o cuidado ao filho enquanto a mãe se ausentava para a entrevista. As mães, em sua maioria, não queriam ficar muito tempo longe dos filhos, sentindo-se ansiosas após certo tempo do decorrer da entrevista, o que não impediu que os dados fossem coletados de forma satisfatória.

Ainda nesta etapa, foram atendidos os princípios éticos, de acordo com a Resolução 196/96 (BRASIL, 1996). Os quatro princípios considerados na pesquisa foram: o de autonomia, que permite ao ser pesquisado liberdade para agir, podendo decidir por participar ou encerrar a participação sem qualquer coação; o de beneficência, pelo qual o indivíduo deve sentir-se bem ao colaborar, percebendo-se como partícipe da melhoria da qualidade da sua vida ou de outros; o da não- maleficiência, pelo qual assegura-se que em circunstância alguma o sujeito da pesquisa venha a sofrer algum tipo de dano e o da justiça, que traduz o respeito na relação com o outro, na ausência de preconceitos e intervenções (TURATO, 2003).

Em atendimento à legislação vigente, este projeto foi enviado ao Comitê de Ética da instituição hospitalar desse estudo, sendo aprovado sob o número 0361-06 (ANEXO B). Somente após receber o parecer de aprovação é que o estudo teve início.

3.3 ESTABELECIMENTO DAS CONEXÕES DA PESQUISA, TEORIA E PRÁTICA