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CAPÍTULO 5: AÇÕES EM FAVOR DAS ÁGUAS DO RIBEIRÃO SANTA MARIA

5.2 As ações de Educação Ambiental como socialização de saberes e empoderamento dos

5.2.3 Encontro de Educação Ambiental

Buscando atender aos objetivos deste trabalho, sobre identificar como ações de Educação Ambiental poderiam contribuir para melhorar a percepção dos moradores sobre o ribeirão como um bem comum, foi realizado no dia 11 de outubro de 2014, o Primeiro encontro de Educação Ambiental do Novo Gama.

A finalidade do encontro foi ouvir a comunidade e refletir juntos sobre o que fazer para mudar as práticas cotidianas com o meio ambiente no Novo Gama, discutir possíveis ações para minimizar os níveis de degradação das nascentes do ribeirão Santa Maria, buscando preservar e valorizar água como elemento fundamental para a vida.

A dinâmica do encontro contou com uma demonstração de práticas de preservação por meio do cuidado com os rios e ribeirões e das matas ciliares, com a consequente preservação de da água potável; uma exposição de fotografias retratando a localidade e o ribeirão como fonte de prazer, no passado, e como fonte de degradação e poluição, no presente. Estas atividades revelaram-se de fundamental importância para a sensibilização dos presentes. Como resultado desta atividade obteve-se noções mais claras sobre a realidade local, permitindo ir além do que os atores envolvidos explicitaram por meio dos instrumentos da pesquisa – as entrevistas e os questionários.

O encontro reforçou a perspectiva do meio ambiente como o espaço e âmbito social, bem de uso comum do povo, sobre o qual se edifica a essencial e sadia qualidade de vida por meio de sua sustentabilidade. Valorizou a Educação Ambiental como um componente essencial e permanente da educação comunitária formadora e geradora de conhecimento e respeito à natureza, que deve estar presente em todos os domínios da coletividade, de forma articulada com as realidades socioambientais nas diversas cadeias e redes da sociedade.

Nesse contexto, o encontro reavivou, acendeu as discussões dos problemas ambientais com suas diversas implicações e consequências econômicas, éticas, culturais e sociais para a comunidade, inserindo-os na agenda política dos seguimentos sociais, na busca por condições de vida melhor e de um ambiente mais saudável.

Figura 12 – Encontro de Educação Ambiental, outubro de 2014

Fonte: Arquivos SERPAJUS

Com relação à história da comunidade com o ribeirão, um morador relatou a morte de uma jovem de 22 anos por afogamento, ocorrido no ano de 1986, no clube Guaíra que havia no ribeirão. Detalhou que a vítima foi tragada pelas águas da cachoeira e arrastada para um labirinto debaixo das rochas, impedindo que seus amigos conseguissem retirá-la com vida, tamanho era o volume das suas águas. Fatos como esse demonstram a forte vazão do ribeirão. Incidentes por afogamento sem maiores gravidades eram comuns ocorrer naquela época. Também era comum naquele tempo dezenas de pessoas se reunirem para compartilhar momentos de prazer que os banhos nas límpidas águas lhes proporcionavam, conforme as fotos.

Figura 13 – Fotos do Ribeirão Santa Maria nos anos 80 e 90

As evidências desses fatos ocorridos a pouco mais de duas décadas nos dão a dimensão do quanto os impactos decorrentes das ações humanas foram determinantes para a degradação e diminuição das águas do Ribeirão Santa Maria, que regrediram em quantidade e qualidade. Considerando os níveis atuais de vazão das águas do ribeirão, fatos como esses são passados.

Depois de quase duas décadas de intensas agressões oriundas dos diversos setores da sociedade, o início do trabalho visando à proteção/recuperação das nascentes, com participação das comunidades, servirá de incentivo para a própria comunidade preservar seus recursos hídricos, também será o começo de uma aproximação entre a comunidade, os poderes públicos locais e a Universidade.

Do ponto de vista qualitativo o encontro foi bem sucedido, tendo em vista alguns aspectos positivos que contribuíram para a sensibilização da comunidade, sobretudo nas intervenções sobre as condições de degradação que assolam os mananciais que compõe a teia hídrica do Novo Gama em toda a sua extensão. Também foram utilizadas fotos do Ribeirão Santa Maria, indicando as condições em que o ribeirão se encontra após ser submetido ao processo de degradação. As imagens visualizadas por meio de vídeo e das fotos expostas no mural fizeram emergir uma inquietação frente aos problemas ali evidenciados e que tanto infelicitam a comunidade. Nessa proposta, o que está em pausa é a implantação de boas práticas, aliadas ao desejo de recuperar as áreas de preservação permanente nessa sub-bacia hidrográfica, que de certo contribuirá para revitalização e conservação dos mananciais hídricos.

Figura 14 – Imagens de degradação do Ribeirão Santa Maria a partir de 2000

A partir do encontro emergiu a possibilidade de implementação, pelo coletivo, de uma proposta de Educação Ambiental nas escolas e na comunidade, envolvendo os diversos segmentos sociais, em parceria com a sociedade organizada, poderes públicos municipais e estaduais, com metodologia formativa e emancipatória, objetivando contribuir com o empoderamento das pessoas, por meio da socialização do saber e da ação coletiva a partir da concepção de coletivos de educadores ambientais.

Figura 15 – Nascente do Ribeirão Santa Maria, outubro de 2014

Fonte: Arquivo SERPAJUS

A proposta de construção de um projeto de intervenção física para a recuperação das nascentes do ribeirão Santa Maria, partindo de seu tributário - o Ribeirão Paiva, ocorreu por solicitação da Primeira Promotoria de Justiça do Novo Gama, em decorrência das visitas às nascentes dos ribeirões Santa Maria e Paiva, realizadas no dia 07 de outubro, pelo pesquisador e Primeira Promotoria do Novo Gama, data em que esta solicitou do pesquisador a construção de uma proposta de intervenção no local.

Em atendimento à solicitação do Ministério Público, o SERPAJUS, no dia 10 de outubro, apresentou o projeto pela revitalização das nascentes do Ribeirão Paiva, por meio de ações integradas de Educação Ambiental, em parceria entre os poderes públicos locais, as escolas mais próximas da área, a comunidade e entidades não governamentais, prevendo a retirada do lixo, plantio de mudas e a transformação do local em um parque. O referido projeto se consolidou como desdobramento do Primeiro Encontro de Educação Ambiental

realizado no Pedregal e a inclusão dos diversos parceiros a partir do projeto de revitalização do Ribeirão Paiva.

Figura 16 - Encontro com professores do Projeto Ribeirão Paiva, novembro 2014

Fonte: Arquivos do SERPAJUS

Entretanto, sabemos em uma sociedade onde distintos interesses afloram a inclusão de aliados dos mais distintos grupos que constituem a sociedade nas decisões coletivas é de vital importância para o sucesso das intervenções.

Desse modo o processo de conservação e/ou restabelecimento ambiental que imaginamos envolveu a inclusão dos diversos grupos de pessoas que vivem no local para buscar saber o que e o como fazer para contribuir para modificar a realidade socioambiental. Esse engajamento se faz vital tanto na formação quanto na formulação de políticas públicas para o meio ambiente, sobretudo na concepção dos valores que fundamentam as decisões, uma vez que são as decisões que afetam a qualidade ambiental, social e cultural.

Como em todo desenrolar de um processo essencialmente pedagógico ninguém se conscientiza ou se liberta sozinho, isolado, separado dos demais, mas por meio de ações e reflexões coletivas em que, para Freire (2007, p. 167), “A adesão verdadeira é a coincidência livre de opções. Não pode verificar-se a não ser na intercomunicação dos homens, mediatizados pela realidade”, em que as ações e reflexões são filtradas e inseridas dentro do processo para empreender novas ações, esta reunião foi realizada no auditório do Fórum do Novo Gama.

Figura17 - Reunião com secretários e vereadores, novembro de 2014

Fonte: Arquivo do SERPAJUS

O objetivo central desses encontros foi integrar os participantes nas agendas de trabalho por meio de uma dinâmica participativa com vistas a dar viabilidade ao projeto, com as parceiras com a Secretaria de Educação, os professores e funcionários das escolas, vereadores e secretários municipais.

5.2.4 Roda de conversa

Com o intuito de compreender melhor o processo histórico de lutas da população do Pedregal pela conquista da água e pela preservação do Ribeirão Santa Maria como a fonte vital, ao mesmo tempo obter subsídios acerca de como a população tem se relacionado com o ribeirão, foi realizada no dia 25 de outubro de 2014, na residência do pesquisador, uma roda de conversa, a qual contou com a presença de quatro participantes do “Movimento Água para Todos”, realizado pela Universidade de Brasília e a população do Pedregal, nos anos de 1986 a 1988, na luta coletiva pela implantação da água tratada para essa população, apoiado pelo Decanato de Extensão da Universidade de Brasília, na época, sediado no Novo Gama.

Entretanto um dado que não podemos omitir é que a roda de conversa não atendeu aos objetivos para os quais foi pensada, em virtude do seu esvaziamento.

(As informações supracitadas podem ser acessadas no vídeo-documentário realizado pela Universidade de Brasília sobre o “Movimento - Programa Água para Todos” – www.youtube.com/watch).