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CAPÍTULO 5: AÇÕES EM FAVOR DAS ÁGUAS DO RIBEIRÃO SANTA MARIA

5.2 As ações de Educação Ambiental como socialização de saberes e empoderamento dos

5.2.1 Oficinas de sensibilização

No que tange às atividades de Educação Ambiental, a partir das oficinas de sensibilização, os dados obtidos dos participantes deixam claro que a relação dos seres humanos com o ambiente em muito se explica por meio da cultura, ou seja, por meio de nossas práticas cotidianas, nosso estilo de vida. Nossas relações com o mundo envolvem

nossos sentimentos com o mundo e com os outros, pois o que sentimos e percebemos tem influência em nossas práticas cotidianas, em nossas relações, percepções e experiências.

Nossos sentimentos pelo ambiente se acham abarcados, interligados, imbricados com a nossa forma de viver, pelo que Bartolomé Ruiz (2006, p. 186) chama de estilo de vida, conceituado por ele de “universo simbólico-valorativo” como um elo ético, um referencial subjetivo, afetivo entre as pessoas e o lugar ou ambiente físico. A este conceito incluímos a expressão usada por Brandão (2005, p. 130) “...causa da vida; uma causa que toma o próprio ambiente como também o lugar da experiência da vida humana, isto é, da sociedade”, ligando todos os laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiente material; destacando a amplitude, a variedade e a intensidade do entrelaçamento dos seres humanos com o meio em que vive.

Difícil mensurar a intensidade de sentimento pelo município, um bairro, um rua, o ribeirão e/ou uma nascente ou mesmo uma quadra ou outro objeto considerado importante. Nesse sentido, o que foi expresso pelos participantes da pesquisa como sentimento pode ser visto como ponto de partida para estabelecer um elo afetivo capaz de fortalecer vínculos com o município ou motivar a participação nas atividades de práticas sociais coletivas.

No que concerne aos sentimentos dos participantes com relação aos problemas, estes parecem envolver a relação das pessoas que vivem no Novo Gama com o ambiente local. De acordo com o entender da relação com natureza dos participantes, relatado no diário de campo no decorrer das oficinas, foram elencados alguns fatores que influenciaram as mudanças socioambientais ocorridas no decorrer do tempo no Novo Gama, quais sejam: a lembrança do passado de infância onde havia um ambiente mais preservado com matas e nascentes onde tomavam banho e realizavam outras atividades familiares. Nos relatos dos participantes das oficinas podemos perceber um pouco destes sentimentos.

“Escolhi o Jardim Lago Azul pelo fato de ser rodeado de nascentes, leitos de vários rios e também por sua população. O nome Jardim Lago Azul se originou de um lago cuja a água era bem cristalina e por volta de 1990 três pessoas morreram afogadas, a partir daí as pessoas começaram a destruir, jogando lixos, aterrando e nisso hoje em dia, o lugar que era bonito por natureza, virou uma erosão, o nome dado hoje é “buracão”. Enfim escolhi para mostrar que o Lago Azul já foi um lugar bonito, mas hoje em dia o homem o destruiu” (APA).

“O Boa Vista, onde passei parte da minha infância e onde resido até hoje. Em suas ruas joguei bola, biloca, corri atrás de pipas, enfim, fiz amizades que duram até hoje. A minha residência fica em frente a uma mata na qual nasce uma bica, uma nascente, onde minha mãe lavou minhas roupas na minha infância” (ZAB).

A apreensão do mundo manifestada pelos sentimentos de pertencimento e ligação é revelada pelos participantes partir da análise dos dados. A maioria declarou gostar do lugar em que vive no Novo Gama. Ainda de acordo com as respostas, pôde-se inferir sobre uma possível intensidade desse sentimento, seguido de admirar a paisagem, ter amigos ou ter parentes no local, ou de gostar do Novo Gama ou do bairro em que mora porque é o lugar em que vive.

“Gosto do Setor de Chácaras Vale das Andorinhas, porque eu passei boa parte da minha infância lá. Meus avôs têm uma chácara no Vale das Andorinhas e eu vou pra lá quase todo fim de semana. Na chácara tem uma nascente também e toda água utilizada na casa vem da nascente. É um lugar muito bom, me traz ótimas recordações” (NSR).

“Escolhi o Lunabel 3A pelo fato de morar lá e conhecer o bairro e todas as suas qualidades e defeitos” (GPR).

“O Pedregal perto das paradas 12/13, remete a minha infância e adolescência, quando o ribeirão era local de diversão e também de trabalho” (TSA).

“Gosto do Loteamento Tropical porque minha vó mora lá, por que antes havia uma bica, tem algumas chácaras e árvores em todo local” (INN).

O sentimento de topofilia relaciona ao prazer, à sensação de beleza, ao contato físico com o lugar, ao sentir do ar, água e terra, por ser um ambiente de convívio com entes queridos, um espaço que proporciona algumas satisfações que estão enraizadas na cultura, como afirma (TUAN, 1980, p. 4). Algumas expressões sobre este sentimento estão demonstradas abaixo.

“O Pedregal perto das paradas 12/13, remete a minha infância e adolescência, quando o ribeirão era local de diversão e também de trabalho” (TSA).

“Gosto do Loteamento Tropical porque minha vó mora lá, por que antes havia uma bica, tem algumas chácaras e árvores em todo local” (INN).

A maioria dos participantes não expressam sentimentos que os liguem de fato à realidade em crise. A reflexão pouco esclarece acerca de objetivos de participação em atividades, os sentimentos demonstrados nada emitem sobre uma possível inserção dos participantes em alguma atividade por mudança da realidade. Segundo Macedo (2006, p. 133), o “diário de campo permite que nos situemos melhor nos meandros e nas nuanças” dos dados. Sob esta ótica, a análise dos dados do diário de campo nos permitiu inferir que pouco se conhece da realidade. Do ponto de vista de busca de um novo modo de viver, observa-se clara indefinição de interesse por mudanças, o que nos permite concluir que as informações denotam que os participantes parecem ter escolhido os locais e se referido a eles de forma aleatória. Tal vez esse comportamento se deva ao fato de que são jovens e não possuam nenhum engajamento social na comunidade onde moram ou identificação com o município. Quanto às categorias que podemos estabelecer, de acordo com Tuan (1980) são as seguintes:

lugar como lar, tátil e sobrevivência. Dentre estas, o lugar como lar, teve maior representação.

Nossa compreensão do mundo e sensibilidade não são imunes aos processos socioambientais que nos cercam. Nossa percepção da realidade ocorre quando buscamos questioná-la, para descobrir o que ainda não sabemos e compreender o que não compreendemos, “Aquilo que nos é familiar nos encoraja a compreensão. A compreensão é possível apenas quando nós retemos o respeito pela outridade do outro que nós procuramos conhecer” (Grün, 2009, p. 182). Nossos conhecimentos e sensibilidade são interindividuais, decorrem da percepção e do engajamento do sujeito com mundo frente à realidade que nos rodeia. Nesse sentido, cumpre realçar que é dentro dessa lógica complexa, abarcada pelo todo que nos envolve e a partir do pouco ou do muito que compreendemos, que podemos lançar nossos olhares, estabelecer nossas relações e construir nossas cumplicidades e compromissos sobre a posição que ocupamos no ambiente onde vivemos.

De acordo com a percepção dos participantes das oficinas, no que se refere aos problemas ambientais do Novo Gama, pôde-se estabelecer três categorias/formas de analisá- los: o que temos, relacionada à caracterização das condições ambientais locais ; o que precisamos, associada ao processo da compreensão da realidade guiada pelos princípios da unidade e complexidade da natureza, expresso por Morin (1998, p. ), aliada à responsabilidade de cada um na utilização do espaço onde vive, para uma nova forma de convivência com o lugar e os outros seres, para, assim, fortalecer o sentimento de cidadania da comunidade, minimizar os impactos dos usos e dos abusos decorrentes das ações humanas sobre o meio ambiente local. Por fim, o que podemos fazer, designando as ações a médio e longo prazo visando enfrentar os problemas causados pelas práticas diárias, a partir da elaboração de um Plano de Ação compartilhado pelos sujeitos envolvidos na pesquisa (Tabela 5).

Quadro 2 - Problemas socioambientais do Novo Gama e proposições

HIERARQUIA

DAS AÇÕES CARACTERIZAÇÃO E PROPOSIÇÕES

O QUE TEMOS

Poluição, devastação, lixo, desmatamento, descaso, sociedade, queimadas, erosões, abandono, degradação, desinteresse, ignorância, destruição, falta de consciência, precariedade, falta de saneamento, falta de coleta de lixo, indiferença.

O QUE

PRECISAMOS Ação, atitude, compromisso, mudança, união da população, vontade, participação, preservação da natureza, bom governo, colaboração, investimento na educação, conscientização da população, reciclagem, cobrança das autoridades, não jogar lixo em vias públicas, fiscalização, cuidado.

O QUE PODEMOS

FAZER

Interesse, colaboração, união, cidadania, respeito, preservação, atitude, consciência, compromisso, amor, política pública, ação, revitalização, conscientização da população, valorização, empenho, reciclagem do lixo, educação ambiental, atitude e começar a cuidar do nosso município e da natureza.

Uma primeira observação que se pode fazer ao analisarmos o quadro acima é que para a execução de qualquer atividade, seja de pesquisa, de recuperação ou de uso sustentável, é necessário que haja um plano elaborado e aprovado para garantir a execução das ações do planejamento, haja vista, no Novo Gama, as relações dos seres humanos com a natureza interferirem negativamente no processo ecossistêmico local. As justificativas para isso, segundo os participantes, são diversas, como diversos são os objetivos explicitados a partir de conceitos como: degradar, educar, colaborar, preservar e amor. Estes conceitos inserem-se no que Macedo (2006, p.137) designa como “as partes da experiência que nos parecem possuir significado cognitivos, afetivos e conotativos”, por se referirem aos sentimentos dos participantes relacionados ao ambiente, preconizando preocupação com a escassez hídrica para atendimento às necessidades dos habitantes locais, principalmente a necessidade de integração desses habitantes com o ambiente habitado, como a causa principal das degradações atuais neste espaço do Entorno Sul do Distrito Federal.

No que tange ao processo de ocupação desta região, a pesquisa apontou vários pontos negativos, como a falta de consciência, falta de políticas públicas para disciplinar adequadamente a ocupação e o uso do solo como forma de deter a expansão urbana desordenada, falta de educação e consciência como fator determinante para a omissão do estado na orientação e fiscalização das áreas de preservação permanentes no Novo Gama, a ausência de coleta seletiva para a reciclagem o lixo como uma evidente despreocupação dos governantes com o bem estar e os bens da coletividade.

Esses problemas foram apontados como não sendo de ordem natural, mas decorrentes de uma construção histórica, cultural, social e política que, de certo modo, encontra respaldo na inação da população em reagir por seus direitos e construir caminhos necessários para mudar as relações.

Essas concepções transpareceram nas discussões, evidenciando a ausência de organização da população para solucionar tais problemas, como também a necessidade de formulação e execução de políticas públicas de Educação Ambiental a partir de um plano de ação para a revitalização da microbacia hidrográfica do Ribeirão Santa Maria, como foram elencadas pelos participantes das oficinas.

As oficinas, como recurso metodológico, além de proporcionar aos participantes uma visão da complexidade dos problemas que afetam o ecossistema local, contribuíram efetivamente para promover a participação nas ações planejadas de caráter social e educacional, nas audiências públicas e nos mutirões.

5.2.2 Aulas-passeio

Com o intuito de mostrar a realidade, sensibilizar os participantes sobre a problemática da degradação ambiental das áreas de recarga dos mananciais de água que abastece o Novo Gama, enquanto o lugar onde vivem a maioria dos participantes, foram realizadas as aulas- passeio, saídas de campo às nascentes do Ribeirão Santa Maria e de seu tributário, o Ribeirão Paiva. As aulas-passeio foram parte do planejamento coletivo definido com vistas a subsidiar os envolvidos na elaboração do cronograma de atividades de intervenção física nas áreas das referidas nascentes.

As aulas-passeio foram desenvolvidas de forma integrada às atividades de Educação Ambiental, como instrumento de formação para a transformação da realidade e não apenas como atividade complementar de atividades educativas. As mesmas constituíram-se em um potencial educativo-cultural interativo com vistas a integrar os envolvidos nas atividades por mudanças socioambientais na comunidade, qualificando-os, inclusive, para participarem das soluções dos problemas ambientais locais. Com esses objetivos as aulas se inseriram nos objetivos de mobilizar e sensibilizar os segmentos participantes, no sentido de promover a integração dos distintos grupos: alunos, professores, pais e comunidades nas atividades educativas com os demais participantes, os setores da administração pública e privada local, buscando integrá-los com a complexidade das questões que afetam as águas e a população.

Figura 8 – Aula-passeio na nascente do Ribeirão Santa Maria, novembro de 2014

As atividades de campo permitiram aos participantes observar os estágios diversos de conservação e de degradação do conjunto formado pelos elementos dos meios bióticos e abióticos, permitindo uma visão mais integrada destes com os aspectos socioeconômicos e institucionais. Permitiu também visualizar até que ponto esses grupos sociais entendem a água como elo entre os elementos do ambiente natural e as atividades sociais, sendo sua qualidade e quantidade o reflexo das relações homem-natureza, ou seja, de como os demais recursos ambientais estão sendo manejados pelas comunidades.

De acordo com as falas dos participantes da pesquisa, as aulas-passeio foram importantes para a sensibilização, por mostrarem a realidade de degradação dos mananciais, por proporcionar à comunidade a noção do quanto os problemas ambientais são ignorados pela maioria da população. A partir dessas aulas, houve um maior engajamento dos grupos, mas insuficiente como resposta aos objetivos de fortalecimento da identidade cultural local e soluções dos problemas ambientais existentes, como se vê a seguir.

“O meio ambiente onde vivemos está esquecido, destruído. Nós temos que acordar e fazer a mudança acontecer” (BP).

“Preservar o meio ambiente, temos que ter atitude, pensar mais no próximo” (SS).

“Ao matarmos a natureza, estamos nos suicidando” (AQ).

“Colocamos a culpa nos governos, mas na verdade a culpa é de nós mesmos, por não preservar” (JÁ).

“Respeito e solidariedade é o que precisamos” (ANI9).

Salvo as ações pontuais nas escolas, as demais ações mobilizaram um número significativo de pessoas, entidades e instituições, de forma processual, envolvendo a comunidade por um período maior que o da pesquisa, isto é, foram além dela.

Alguns participantes ressaltaram a satisfação em participar das oficinas, sem verbalizar interesse em participar efetivamente do processo. As falas a seguir retratam este assunto.

“Como é bom uma construção coletiva! Adorei a oficina” (JD). “Foi muito bom, achei muito interessante” (ANI).

A fala dos participantes ressalta que a inércia dos poderes públicos locais associada à falta de consciência ambiental da população frente á natureza de modo geral, vinculadas ao desrespeito com as águas e evidenciadas na ausência de políticas públicas com planejamento

9 ANI – Autor não identificado. As opiniões foram colhidas das anotações anônimas no Diário de Campo do pesquisador.

para proteger todo o sistema constituído pela vegetação, pelo solo, pelas rochas e pelo relevo, de forma a evitar a degradação das área que circundam as nascentes, traduz-se em comportamentos negativos que dificultam o alcance de um ambiente sem erosão e assoreamentos das nascentes.

“Consciência, a chave da mudança” (GA).

“Cuidar do meio ambiente, algo que nós não fazemos e esse projeto de conscientização deveria acontecer mais e mais.” (LA).

“A visita ao ribeirão foi ótima, apesar da quantidade de lixo, da falta de preservação e do terreno. A falta de consciência das pessoas é enorme” (ANI). “Foi uma ótima experiência e uma reflexão para que possamos ter mais consciência de que temos que preservar nosso meio ambiente” (ANI).

“Foi ótimo, ver a natureza com sua beleza, mas está sendo destruída por pessoas que não respeita. Garrafas pet, roupas e até camisinhas jogadas em um ambiente que era para ser preservado” (ANI).

“Achei um lugar muito bonito, porém achei também muito mal cuidado pela sociedade” (ANI).

“Foi uma experiência rica, conhecer e ver o Santa Maria, foi esclarecedor, me fez ver a importância da natureza preservada” (ANI).

“Quando chegamos lá deparamos com uma erosão enorme, muito lixo e pouca vegetação. Nos tempos mais antigos acho que não era assim” (ANI).

Por tudo isso, consideramos a necessidade de serem empreendidas práticas educativas que envolvam a comunidade em mudanças de atitudes e comprometimento com a melhoria da qualidade de vida, favorecendo práticas de cidadania corresponsabilizadas, que subsidiem a construção de um plano de ação ambiental entre os participantes, tendo como objetivo o desenvolvimento sustentável da localidade. Para isso, a participação da sociedade é fundamental na construção desses objetivos, por reunir atributos indispensáveis para a construção democrática. Sabemos que o processo participativo requer dos sujeitos consciência dos seus atos e engajamento em atos sociais por cidadania.

No que tange à opinião dos participantes locais sobre a participação da comunidade nos processos de preservação e recuperação das nascentes, suas falas visualizam que os problemas ambientais existentes decorrem do não planejamento participativo em âmbito local.

Figura 9 – Aula-passeio no Ribeirão Santa Maria, novembro de 2014

Fonte: Arquivos do SERPAJUS

O estudo de percepções sobre a realidade natural, nesse caso, a história ambiental do Novo Gama, permite identificar e caracterizar as distintas relações construídas pelos seres humanos neste território e pode auxiliar na formulação de políticas públicas e educacionais que visem ações sustentáveis em longo prazo.

“Foi uma experiência maravilhosa e transformadora. Porém o lixo que havia me incomodou um pouco” (ANI).

“Saber da nossa história, do que nos cerca é importante para começarmos a nos motivar para preservar” (SP).

“Foi bom ter contato com a natureza, dá pra ver também o tanto de problemas que nós causamos à natureza. Vendo a situação a gente pode estar mudando nossas atitudes” (ANI).

“Foi uma ótima experiência, pois podemos observar o que o ser humano é capaz de fazer com a natureza” (ANI).

“Foi uma ótima experiência, pois a gente pode reparar o dano que o ser humano faz e o que pode ser feito para mudar essa situação” (ANI).

“Foi muito bom, entretanto achei que quando chegasse lá encontraria um lugar mais preservado, por conta do importante papel que a nascente tem para toda a sociedade do Novo Gama e região” (ANI).

Sobre questões como essas, Freire (1987, p. 101) considera que

Sendo os homens seres em ‘situação’, se encontram enraizados em condições tempo-espaciais que os marcam e a que eles igualmente marcam. Sua tendência é refletir sobre sua própria situacionalidade, na medida em que, desafiados por ela, agem sobre ela. Esta reflexão implica, por isto mesmo,

algo mais que estar em situacionalidade, que é a sua posição fundamental. Os homens são porque estão em situação. E serão tanto mais quanto não só pesem criticamente sobre sua forma de estar, mas criticamente atuem sobre a situação em que estão.

As aulas passeio foram recursos estratégicos para despertar o reconhecimento dos problemas ambientais e aguçar a percepção das necessidades de respostas educativas coletivas ao “desafio contemporâneo de repensar as relações entre sociedade e natureza” (CARVALHO, 2001, p. 4). Elas nos permitiram verificar contradições e distanciamentos entre as ações factuais e as intenções manifestas, de parte de cada um dos sujeitos envolvidos nas ações, para não “dissociar a produção de conhecimento dos esforços feitos para levar à mudança” (BARBIER, 2007, p. 53).

Essa mudança de perspectiva modificou a ótica dos sujeitos sobre a problemática e permitiu que a realidade fosse encarada criticamente com a realização de uma ação concreta sobre a nascente do Ribeirão Paiva. Assim, diante de um contexto determinado pela insustentabilidade geradora de destruição sem precedentes, decorrentes das ações da própria comunidade, demandou-se outra percepção de mundo coadunada com uma visão de desenvolvimento sustentável mais sistêmica, que pudesse integrar uma nova compreensão de desenvolvimento social, com a preservação do meio ambiente com os grupos socais locais.

Figura 10 – Nascente do Ribeirão Paiva, novembro de 2014

As aulas-passeio tiveram o intuito de sensibilizar os participantes para construir um ambiente de saber compartilhado, confiança e comprometimento com condições de vida melhor.

Desse modo, buscou-se orientar os participantes a ultrapassarem, superarem as práticas pregressas e empreenderem mudanças nas relações com o meio em que vivem. Esse processo envolveu os diversos setores participantes, sociedade e o poder estatal, como condição essencial para a construção da epistemologia da metodologia adotada, como forma