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Encontro 07/11/2006 Eu posso contribuir mostrando o que eu sei?

O encontro do dia 07/11/2006 começou com Davi pedindo que o deixássemos mostrar o que havia aprendido de “dança de rua” (break). Achei muito bom esse interesse dele em participar mostrando algo que ele valorizava, fora daquele contexto, para o grupo. Importante mencionar que o break é uma dança que faz parte do movimento Hip-Hop, movimento criado por grupos negros americanos como forma de reivindicar

direitos e fazer um convite à paz. O movimento Hip-Hop envolve três formas de expressão: a pintura (grafite), a música (rap) e a dança (break). A proposta de Danilo me chamou a atenção e fiquei curiosa para vê-lo dançando. No entanto, eu não tinha em mãos, uma música cujo ritmo combinasse com a proposta dele: um rap. Mais interessante ainda, eu achei a postura deles, quando eu disse que não havia uma música que combinasse com os movimentos do break (dança de rua).

Cláudio – A gente canta! Wander – É! A gente canta!

Keila – Legal! Então mostrem para a gente!

Outros alunos também manifestaram desejo de participar. Deixei livre a participação das crianças. Tive a idéia de olhar, nos CD’s que levava comigo, alguma música que se aproximasse mais do ritmo do break. Davi, Cláudio, Wander, João e Pedro ficaram junto comigo procurando opções de música. Eles pareciam tão ansiosos em mostrar a dança que desistiram de procurar uma música para tocar. Davi foi o primeiro a ir para o centro da roda e dançar o break.

Keila – Pode ficar à vontade, Davi! Mostre para a gente o que você está aprendendo!

Isa – Eu também quero dançar!

Keila – Todo mundo vai poder! Só que vamos dançar um de cada vez? As crianças resolveram fazer pequenos grupinhos para dançar.

Keila – Me explica Wander! Tem que bater palma para acompanhar o Davi?

Cláudio – Tem que ter berimbau...tem que tocar berimbau... Keila – Tem que tocar o beimbau?

Cláudio – É, na capoeira!

Wander – Mas não é! É dança de rua! Keila – Você quer danar junto com o Davi? Wander – Eu, o Davi e o Danilo!

Na sequência, Wander e Danilo também participaram dançando. Pedi que os meninos me ensinassem alguns passos básicos. Danilo mostrou um passo que eu consegui executar. Depois ele deu um giro e eu não consegui imitar. As crianças deram risada comigo.

Figura 3 – Aluno do 1º ano dançando “break”

Enquanto Danilo e Wander continuaram dançando no centro da roda, me lembrei de uma música, “Bolacha de água e sal” (CD Pé com pé / ver Anexo 20) que talvez tivesse um ritmo mais próximo do que eles precisavam. Dei a sugestão às crianças deixando que elas decidissem se era interessante ou não.

Keila – Que vocês acham dessa? Cláudio – Essa! Essa! Essa!

Keila – Vocês acham que esse ritmo dá para fazer a dança? Alunos(as) – Dá!

Algumas crianças saíram da roda e os que iam dançar disseram que só dava para dançar com as pessoas sentadas na roda.

Keila – A roda é para todo mundo assistir? Wander – É!

Keila – Então vamos nos organizar!

Davi resolveu dançar capoeira e nós dois tentamos encontrar uma música com ritmo compatível com a dança. Sugeri a música “Lua, estrela e sol” (CD Pé com pé / Ver anexo 21). Davi pareceu ter gostado da idéia e dançou para todos. Ao final, batemos palmas. Daquele momento em diante, as criança que queriam dançar optavam por uma das

duas músicas: “Bolacha de água e sal” ou “Lua, estrela e sol”. Algumas meninas também dançaram no centro da roda, entre elas Is, Bruna e Laura. Aproveitei a música “Bolacha de água e sal” para discutir também sua letra.

Keila – Vocês viram o que fala nessa música? Quem aqui brinca na rua? Do que vocês brincam?

Wander – Tem capoeira....jogar bola... “pega-gato”.... Danilo – A gente pega estilingue e mata passarinho... Keila – E vocês acertam? Aí vocês comem?

Danilo – Não, daí limpa!

Keila – Quem prepara para você? Cláudio – Eu mesmo!

Keila – Mas você mesmo limpa?

Cláudio – Minha mãe limpa..primeiro coloca água e deixa ferver... Danilo – Eu mato galinha....os galos matam as galinhas....eu mato quatro de uma vez...

Keila – Você mata os galos?

Danilo – É porque eles matam as galinhas! Por isso eu mato os galos! Minha mãe coloca três canecões de água para jogar nos quatro! Um pra ficar na geladeira, outro para comer...

Keila – Bom, eu vi que os meninos contaram bastante coisa do que eles brincam na rua mas as meninas não falaram nada! Você brinca, Isa? Me conta....

Isa – Eu brinco de noite!

Keila – Mas do que vocês brincam na rua? Isa – Pega-pega....boneca...

Keila – Com quem você brinca?

Isa – Eu e elas (se referindo à Elisa e Laura). (...)

Moniele – Eu brincava muito na rua de noite também....eu ficava das seis horas até umas nove e meia mais ou menos....brincava de esconde- esconde, um monte de coisa também!

Professora Patrícia – Eu não brincava na rua....minha mãe trabalhava e eu vinha da escola sozinha e aí ela punha mesa para jantar...

Keila – Eu também nunca brinquei na rua porque não tinha rua...é que eu morava na chácara e naquela época não tinha outras chácaras perto...eu brincava dentro da chácara porque o espaço era grande!

Davi – Eu brinco na rua sozinho! Keila – Do que você brinca? Davi – De bola, bicicleta.... João – Eu gosto de jogar futebol!

Keila – Com quem você gosta de brincar na rua? João – Com meu irmão mais novo!

Keila – Do que vocês brincam?

João – De esconde-esconde, de tombar lata! Keila – É gostoso brincar na rua?

João – É...

Keila – Agora nesse horário de verão é gostoso, né? Demora mais para escurecer! ....e você, Julia, você brinca na rua?

Keila – Por quê?

Julia – Porque ela tem medo....porque tem muito carro... (...)

Keila – Gostei muito hoje! Vocês dançaram, conversaram! Para semana que vem podemos combinar para eu trazer a filmadora?

Alunos(as) – Pode!

As crianças revelaram inúmeras possibilidades de brincadeiras para serem realizadas na rua: jogar bola, jogar, dançar ou lutar capoeira, esconde-esconde, tombar lata, andar de bicicleta, entre outras. A participação de várias crianças na conversa mostra o entusiasmo em compartilhar, no grupo, suas preferências em termos de brincadeiras.

A sugestão de Davi, no início do encontro, de compartilhar o que havia aprendido sobre break também mostra um avanço em termos de troca de experiências no grupo e de como a música pode ser um estímulo ao diálogo sobre diversidade cultural.

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