• Nenhum resultado encontrado

I Encontro Nacional de Educação do Partido dos Trabalhadores (I ENEd/PT)

O I Encontro Nacional de Educação do Partido dos Trabalhadores foi realizado nos dias 3, 4 e 5 de março de 1989, ou seja, 9 (nove) anos após a criação oficial do Partido. O encontro serviu para que fosse elaborada uma política educacional para o Partido que desse resposta aos “ inúmeros desafios com que temos nos defrontado tanto ao nível da luta de massas como no plano institucional”. (DIRETÓRIO NACIONAL PT, apud, LIMA, 2004, p. 29)

A pauta do encontro contemplou seis itens:

1) estabelecer os princípios e propostas do partido para a educação brasileira; 2) possuir elementos que subsidiassem as discussões quanto à elaboração de uma proposta de uma nova LDB; 3) estabelecer uma proposta para o estabelecimento de um Plano Nacional de Educação; 4) estabelecer propostas educacionais para as novas Constituições Estaduais; 5)estabelecer planos municipais de educação e

discutir as Leis Orgânicas Municipais; 6) estabelecer as propostas educacionais no Programa de Ação de Governo (PAG). Eram discussões necessárias para a organização da educação brasileira, já que a Constituição havia sido promulgada desde o ano anterior, mas as diretrizes específicas para a educação ainda não se encontravam definidas. (LIMA, 2004, p. 33)

A partir das discussões realizadas no I Encontro, a comissão organizadora publicou o relatório final, documento que sintetizava as idéias debatidas e os encaminhamentos propostos. No que se refere às propostas educacionais do partido, merecem destaque os seguintes itens:

1- proposta de uma política educacional própria para que seus militantes participassem dos movimentos sociais, discutindo, aprendendo e ensinando sem ferir sua independência e autonomia;

2- proposta construída a partir da avaliação da situação educacional vigente, o que apontou, entre outras coisas, para a necessidade da construção de uma escola pública, popular e democrática. (DIRETÓRIO NACIONAL PT, apud, LIMA, T. P. P., 2004, p. 44);

3- a preocupação com a educação infantil, que deveria ser vista como “um espaço de capacitação da criança para a escolarização regular que, ao mesmo tempo, atenda à necessidade dos pais que trabalham.” (DIRETÓRIO NACIONAL PT, apud, LIMA, T. P. P., 2004, p. 44);

4- o ensino público, gratuito e voltado para os interesses necessidades do trabalhador, onde a escola pudesse ser vista e utilizada como um espaço de construção coletiva de saberes; não apenas onde todos tivessem acesso, mas onde todos pudessem participar de sua construção.

O I Encontro serviu, ainda, para que o partido pudesse se posicionar a respeito da elaboração e aprovação do texto da LDB, do Plano Nacional de Educação, Constituições Estaduais e Leis Orgânicas e o Plano Alternativo de Governo.

Em relação a LDB, toda a discussão orientou-se pela importância do partido marcar posição e participar ativamente do seu processo de elaboração. Tomando como ponto inicial o atendimento as demandas da classe trabalhadora, alguns itens puderam ser discutidos, todavia a discussão foi considerada inconclusa e o partido sugeriu que outros encontros fossem realizados para que suas propostas pudessem ser finalizadas. De forma geral, a preocupação com uma educação pública e popular, gratuita e de qualidade esteve presente ao longo de toda a discussão.

Sobre o Plano Nacional de Educação, embora a idéia inicial fosse a de buscar elaborar um Plano, a equipe responsável não apresentou um texto definitivo. Entre as questões debatidas, o partido entendia que deveria haver uma reformulação ou rompimento com a concepção de educação ora apresentada (tradicional ou bancária); além disso propunha-se um Plano Nacional de Educação que contemplasse as diversas correntes e concepções educacionais do partido; propunha, ainda, a eliminação do ensino privado e intervenção nas experiências de educação não-formal; o não pagamento da dívida externa; evitar o envio de “pacotes educacionais” para a escola; e a construção da unidade partidária, necessária para que tais projetos se concretizassem. No que tange a gestão da educação, a participação da sociedade deveria ser garantida por meio da atuação dos conselhos, garantia da ação sindical nas escolas e garantia de discussões sobre prática pedagógica com professores e servidores; eleições para diretores; manutenção de fóruns de discussão sobre educação entre setores organizados da sociedade civil; construção de uma prática educacional que atendesse os interesses dos trabalhadores; reconhecimento das escolas comunitárias como demonstração das lutas populares por educação; e direcionamento de verbas para auxiliar em seu funcionamento. O currículo deveria contemplar questões da classe trabalhadora, assim como garantir a participação da sociedade civil nas discussões e determinações dos conteúdos curriculares; existência de um currículo mínimo nacional; projeto pedagógico vinculado à

vida produtiva; e as pesquisas científicas deveriam ser fomentadas. O currículo do ensino técnico-profissionalizante deveria levar em conta a realidade da região onde estivesse inserido o curso; a formação técnica e politécnica. Em relação à formação de professores, a proposta consistia em assegurar espaços de reflexão e troca de experiências onde docentes compreendessem a realidade e a necessidade de superá-la a partir de sua prática social. (LIMA, 2004, p. 66-72)

Em relação às Constituições Estaduais e Leis Orgânicas, as discussões refletiam o que havia sido proposto nos outros grupos. Preocupações com educação popular, participação social, educação e trabalho, foram também contemplados por esse grupo.

O Plano Alternativo de Governo do PT, no que se refere à educação, trazia propostas de democratização do acesso e permanência, democratização da gestão e melhoria da qualidade de ensino.

Um dos pontos que merece ser destacado no texto desse GT foi a posição tomada pelo partido em relação à municipalização do ensino. A maior parte dos integrantes do partido foi contrária a tese de municipalização, embora houvesse uma corrente que se posicionava a favor, por entender que a municipalização poderia trazer benefícios pedagógicos, via diminuição do aparato burocrático. Todavia, era grande a preocupação de muitos integrantes do Partido com o fato de que a municipalização somente transferiria para os municípios o mesmo aparato burocrático, agravado pelo favoritismo que prevalecia nas instâncias locais.

Podemos considerar que prevaleceu a tese contrária a municipalização, em função não somente da recusa a esta política de maneira geral, mas, e principalmente, pela forma diferenciada como a educação municipal foi conduzida nos últimos anos. A opção pela criação de redes de ensino fundamentais nos municípios foi a resposta dada às políticas de transferências de responsabilidades impostas pelos governos estaduais – via convênios de parceria.

Em síntese, pode-se concluir que no 1 º ENED/ PT “a preocupação com a escola pública e democrática para os trabalhadores que ajudasse na construção de uma sociedade socialista permeou todo o discurso” (LIMA, 2004, p. 77). Para o PT, a educação não era a única responsável pela superação dos problemas na estrutura da sociedade, contudo, era instrumento essencial para construção de uma nova ordem social

2.3.2 - II Encontro Nacional de Educação do Partido dos Trabalhadores (II