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Encontros com a Bacia do Rio Doce

1.8 ENCONTRO COM OS SUJEITOS DA PESQUISA

1.8.1 Encontros com a Bacia do Rio Doce

O Rio Doce tem sua nascente na Serra da Mantiqueira, no munícipio de Ressaquinha/MG. Passa a ser conhecido como Rio Doce na confluência dos rios Piranga e do Carmo nos arredores da cidade de Ponte Nova/MG. Após

percorrer, aproximadamente, 900Km chega ao distrito de Regência no munícipio de Linhares/ES, onde deságua no Oceano Atlântico.

A Bacia do Rio Doce está localizada, em sua totalidade, na Região Sudeste, especificamente nos Estados de Minas Gerais (86% da Bacia) e Espírito Santo (14% da Bacia). Abrange uma área 84.000Km², que abarca 225 municípios com 3,6 milhões de habitantes15.

O Rio Doce é fundamental para a economia do leste mineiro e noroeste capixaba. É o principal responsável pela irrigação de vastas áreas para a agricultura, pecuária e indústria, consumo doméstico e gerador de energia para as regiões.

A Mapa 1 apresenta a área de abrangência da Bacia do Rio Doce conforme população e geração de energia pelas usinas hidrelétricas instaladas ao longo do Doce.

Mapa 1 Bacia do Rio Doce conforme população e usinas hidrelétricas

15 Fonte: IBGE. Censo Demográfico 2010: Resultados do Universo – Características da População e dos

Domicílios. Rio de Janeiro: IBGE, 2010. Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br/cd/cd2010universo.asp?o=7&i=P.

Fonte: SUPERINTENDÊNCIA DE PLANEJAMENTO DE RECURSOS HIDRÍCOS (SPR), Brasília, 2016

Os principais munícipios capixabas que compõem a Bacia do Rio Doce são: Baixo Guandu, Colatina, Linhares, Marilândia, Pancas, Itaguaçu, Itarana, Santa Tereza, São Roque do Canaã, Laranja da Terra, Afonso Claudio, Águia Branca, Vila Valério, São Gabriel da Palha, São Domingos do Norte, Governador Lindemberg, Rio Bananal, Brejetuba.

O Mapa 2 Divisão Política da Bacia do Rio Doce no Espírito Santo está apresentado a seguir:

Mapa 2 Divisão Política da Bacia do Rio Doce no Espírito Santo

Fonte: SUPERINTENDÊNCIA DE PLANEJAMENTO DE RECURSOS HIDRÍCOS (SPR), Brasília, 2016

Descoberto, oficialmente, pelos colonizadores, em 13 de dezembro de 1501, o Rio Doce, em 2018, comemorou 517 anos. Ele possui 98% de sua extensão no bioma da Mata Atlântica. Sua Bacia era povoada por índios que

batizaram de “Watu16”. Com a chegada da “civilização”, deu-se o início da

exploração predatória da Bacia até os dias atuais. Os índios que ocupavam território do Doce - Botocudos, Pataxós e Krenak - eram as últimas fontes de resistência em frente ao colonizador.

O Rio Doce foi determinante para a economia da região, exploração de pedras preciosas, café, pecuária, cana-de-açúcar, extração de madeira que perpassam a história político-econômica desse rio. A substituição das aldeias por cidades e a degradação do meio ambiente são os principais responsáveis pelo uso predatório histórico dessa Bacia.

Algumas das iniciativas para a preservação da Bacia do Rio Doce foi a criação de várias unidades de conservação: dois parques de nacionais (Caparaó e Caraça); seis parques estaduais (Florestal do Rio Doce, Sete Salões, Rio Corrente, Serra da Candonga, Serra do Brigadeiro e Itacolomi), duas estações biológicas (Mata do Sossego e Caratinga); duas reservas ecológicas; dezoito APAS17, duas APES18 e duas reservas indígenas (Krenak e

Pataxó).

Outra iniciativa veio com a Lei nº 9.433/1997, que estabeleceu novos princípios para a gestão de recursos hídricos, como alguns instrumentos de política setorial, conforme esquema abaixo.

Esquema de Instrumento de gestão dos recursos hídricos

16 Nome de batismo dado pelos índios Krenak ao rio que conhecemos pelo nome de Rio Doce. 17 APAS – Áreas de Proteção Ambiental

18 APES – Áreas de Proteção Especial

Plano

Enquadramento dos corpos d’água

Cobrança pelo uso da água Outorga de direito do uso da água

O Plano Integrado de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Doce (PIRH-Doce) foi elaborado entre junho de 2008 e dezembro de 2009, acompanhado sistematicamente por um Grupo de Acompanhamento Técnico (GAT), coordenado pela ANA e formado por representantes dos então 9 Comitês de Bacia Hidrográfica (CBH) dos estados do Espírito Santo e Minas Gerais, do CBH-Doce e dos órgãos gestores estaduais de recursos hídricos: Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) e Instituto Estadual do Meio Ambiente do Espírito Santo (IEMA). A participação social no processo de construção do PIRH-Doce foi de vital importância para sua legitimação. A participação ocorreu através da troca de informações durante as três rodadas de reuniões que foram realizadas em toda a Bacia, num total de 30 reuniões públicas. O processo de legitimação se concluiu com a aprovação do Plano por unanimidade pelo CBH em reunião extraordinária realizada em julho de 2010, em Governador Valadares/MG (SUPERINTENDÊNCIA DE PLANEJAMENTO DE RECURSOS HIDRÍCOS (SPR), Brasília, 2016)

Desde 1988, compõem o Singreh19 os Comitês de Bacia Hidrográfica. A

Bacia do Doce conta com dez comitês que contribuem na representação da sociedade na gestão das águas. Criado em 2002 no dia 25 de janeiro, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce tem como principais competências aprovar o Plano de Recursos Hídricos e mediar conflitos pelo uso das águas. Vale aqui destacar que o CBH não prende a limites geopolíticos. Conforme o Mapa 3, observa-se que Minas Gerais possui seis desses comitês e o Espírito Santo conta com quatro deles.

Mapa 3 Distribuição Territorial dos CHB da Bacia do Rio Doce

Fonte: SUPERINTENDÊNCIA DE PLANEJAMENTO DE RECURSOS HIDRÍCOS (SPR), Brasília, 2016

A Bacia do Rio Doce ganhou atenção especial da mídia mundial, mesmo que momentânea, após o acidente criminoso ocorrido em Mariana-MG personificado na empresa Samarco Mineração S/A. O rompimento da barragem de Marina/MG, em 2015, foi um golpe contra um rio que agoniza diante da exploração predatória, mas também trouxe à tona uma discussão sobre como estamos utilizando nossos recursos hídricos.

O desastre de proporções épicas traz ao centro do debate o conflito ancestral pela posse e uso das águas. As comunidades tradicionais da Bacia do Doce, que sempre problematizaram a utilização das águas de forma consciente, diretamente afetadas pela tragédia, são agora enxergadas a partir das compensações financeiras as quais a empresa ficou obrigada a cumprir

A preocupação social, a partir do rompimento da barragem em Mariana/MG, com a recuperação da Bacia do Doce, estreita a relação da Educação com a Sustentabilidade e o uso das águas.

Das histórias do Doce, de suas marcas deixadas ao longo do tempo, de sua calha assoreada, de suas margens desmatadas, de suas nascentes agonizantes podemos compreender e aprender com os erros e equívocos do passado e propor mudanças. Das culturas, das comunidades e povos tradicionais que vivem às suas margens podemos aprender e ensinar a preservação a sustentabilidade e o respeito ao rio.

É através da Educação que podemos potencializar o convívio harmonioso com as águas do Doce e seus 3,6 milhões de habitantes. No próximo item apresentamos os dois municípios eleitos como sujeitos da pesquisa.