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ESCOLA DA TERRA NO ESPÍRITO SANTO

No documento ESCOLA DA TERRA CAPIXABA NA BACIA DO RIO DOCE (páginas 121-127)

ESPECÍFICOS

3. O ESCOLA DA TERRA CAPIXABA

3.3 ESCOLA DA TERRA NO ESPÍRITO SANTO

O Programa de Educação do Campo/Ufes, responsável pela execução, do Escola da Terra Capixaba, utiliza-se de sua experiência acumulada na formação de professores que se remete aos anos de 1990. Ciente da diversidade que compõe o Campo no Espírito Santo e das suas especificidades, o Programa de Educação do Campo/Ufes ativa sua rede de parcerias, construída ao longo dos anos de sua atuação na formação de professores, nos municípios e entidades governamentais e não governamentais, pautado no tripé da pesquisa, extensão e ensino.

O programa Escola da Terra Capixaba estabeleceu parcerias formais com: MEC, Secadi, Fnde, Sedu, Undime, Secretarias municipais, MST, Mepes, Ifes, Raceffaes, MPA, Comunidades Indígenas, Quilombolas, Pomeranas, Comissão Nacional do Povo e Comunidades Tradicionais (CNPCT), Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadores Rurais (STRs), Comitê Estadual de Educação do Campo do Estado do Espírito Santo e muitas outras não formais,

que foram organizados na primeira oferta (2015-2016) em quatro Polos de Educação de Formação Continuada de Professores da Educação do Campo compostos por 55 munícipios. são eles: Regional Centro Serrano, Regional Norte, Regional Central e Regional Sul, conforme descrito na Quadro 3.

Quadro 3 Distribuição de Munícipios Participantes do Escola da Terra Capixaba por Regional na Primeira Oferta (2015-2016).

Regional Munícipios Parceiro Coordenador da Regional Centro

Serrano

Afonso Claudio, Cariacica, Conceição do Castelo, Domingos Martins, Fundão, Guarapari, Itarana, Laranja da Terra, Marechal Floriano, Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá, Santa Teresa, Viana

Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Centro Serrano no munícipio de Santa Maria de Jetibá/ES

coordenado pela professora Dr. Kátia Castor Gonçalves

Norte Água Doce do Norte, Águia Branca, Barra de São Francisco, Conceição da Barra, Ecoporanga, Jaguaré, Mantenópolis, Montanha, Nova Venécia, Pedro Canário, Pinheiros, Ponto Belo, São Mateus, Vila Pavão

Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Montanha no munícipio de Montanha/ES coordenado pelo professor Ms. Francesco Susanno

Central Alto Rio Novo, Aracruz, Baixo Guandu, Colatina, Governador Lindemberg, Ibiraçu, Linhares, Marilândia, Pancas, São

Domingos do Norte, Vila Valério

Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Itapina no munícipio de Colatina/ES coordenado pelo professor Dr. Rogério Omar Caliari Sul Alegre, Alfredo Chaves, Anchieta, Apiacá,

Atílio Vivacqua, Bom Jesus do Norte, Divino de São Lourenço, Ibatiba, Ibitirama, Irupi, Itapemirim, Jerônimo Monteiro, Mimoso do Sul, Muqui, Rio Novo do Sul, Vargem Alta

Centro de Formação do Movimento de Educação Promocional do espírito Santo (Mepes) no munícipio de Piúma/ES coordenado pela professora Dr. Janinha Gerke

Fonte: Arquivo do autor.

A opção por organizar, no Espírito Santo, o Escola da Terra em regionais visou a aproximar o programa das comunidades, facilitando a

interiorização e a integração das culturas locais à proposta formativa. A presença de uma coordenação descentralizada da universidade potencializou os diálogos e ações locais. O coordenador regional contava com sua própria equipe de professores pesquisadores que, em sua maioria, possuía envolvimento com a Educação do Campo e com as comunidades. Essa estruturação contribuiu para dinamizar as relações no Escola da Terra de forma que as demandas locais eram mais facilmente percebidas e atendidas, e o programa ganhou velocidade para superar, na maioria das vezes, os desafios encontrados.

Na segunda oferta (2017-2018), em função da restrição orçamentária imposta ao programa, uma redução de 70% em relação aos recursos disponibilizados na primeira oferta, o número de regionais foi reduzido para três e o de munícipios para 24, listados no Quadro 4.

Quadro 4 Distribuição de Munícipios Participantes do Escola da Terra Capixaba por Regional na Segunda Oferta (2017-2018).

Regional Munícipios Parceiro Coordenador da Regional Norte Boa Esperança, Conceição da Barra

Jaguaré, Nova Venécia, São Mateus, Vila Pavão

Universidade Federal do Espírito Santo – Campus São Mateus no munícipio de São Mateus/ES

coordenado pelo professor Dr. Damian Sánchers

Central Águia Branca, Alto Rio Novo, Baixo Guandu, Governador Lindemberg, Itaguaçu, Laranja da Terra, Linhares, Marilândia, Pancas, São Domingos do Norte, Rio Bananal

Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Itapina no munícipio de Colatina/ES coordenado pelo professor Dr. Rogério Omar Caliari

Sul Anchieta, Cariacica, Domingos Martins, Iúna, Santa Maria de Jetibá, Viana, Mucurici

Universidade Federal do Espírito Santo – Campus Alegre no munícipio de Alegre/ES, coordenado pela professora Dr. Helen Moura Pessoa Brandão

Mesmo diante da redução dos recursos, a organização por regional foi mantida, reduzida, em verdade, na segunda oferta, em função de que essa proposição visa à superação da lógica da hierarquização do saber entre a universidade e as comunidades. Não era a Universidade a detentora da “verdade” do programa, não era a capital do Estado (Vitória), onde está a sede da Universidade Federal, a emanadora do saber. Ao contrário, foram as comunidades que se autorregularam quanto aos tempos e espaços para a formação. Coube à Universidade, por meio da equipe central do Escola da Terra Capixaba, propor o tema gerador, “Água”, e às comunidades a adoção de formas de trabalho que atendessem às suas demandas e expectativas.

A equipe central ficou com a tarefa da organização administrativa, o acompanhamento do curso, a proposição (inicial) de materiais bibliográficos de referência e a organização e realização dos seminários que tinham como finalidade compartilhar de experiências relatadas e/ou vivenciadas durante a formação, além de apoio pedagógico.

Nesse sentido, o Programa Escola da Terra assume os pressupostos da Pedagogia da Alternância, praticada pelas Escolas Famílias Agrícolas há cinco décadas e que tem no Mepes seu principal fomentador. A autogestão, a auto- organização, a construção coletiva, os estudos em grupo, o tempo escola e o tempo comunidade, as ações de aplicação e a socialização de resultados foram apoios pedagógicos utilizados nessa formação.

Das 180 horas do Programa, metade (90h) deveria ser presencial, no que é conhecido como “tempo universidade”. Esse tempo/espaço se caracteriza por encontros coletivos nos locais de atendimento preestabelecidos pelos munícipios em diálogo com tutores e cursistas. Os encontros se realizaram em escolas, centros comunitários, associações, cooperativas, centros culturais, igrejas, residências, praças. Não importava o lugar e sim a motivação do encontro, discutir a Educação do Campo na, para, com a Comunidade.

Na outra metade da formação (90h), os cursistas desenvolviam atividades de leitura, estudos e pesquisas independentes ou em grupo, tendo o referencial teórico-metodológico proposto pelo Programa Escola da Terra Capixaba, por meio de cadernos-síntese que tinham como objetivo provocar a

discussão inicial, o apoio pedagógico-metodológico. O curso também exigiu acesso à internet, já que os trabalhos são armazenados remotamente em plataforma on-line, bem como os materiais disponibilizados para compartilhamento e leitura, conforme o quadro 5.

Quadro 5 Distribuição dos Módulos e Ementas e Carga Horária do Curso de Aperfeiçoamento Escola da Terra 1ª e 2ª Ofertas (2015-2016/2017-2018)

Módulo Ementa Carga Horária

Módulo I Introdução à Educação do

Campo

Introdução à Educação do Campo

Concepções e conceitos de Educação do Campo (povos, territórios, saberes da terra, sustentabilidade, agroecologia). Questões sobre campesinato (dimensões sociais, políticas e

econômicas do campo brasileiro) Culturas campesinas

Educação do campo como direito humano no contexto da política desenvolvimento com igualdade social.

Movimentos sociais do campo Histórias e lutas pela Educação do Campo Políticas de Educação do Campo (diretrizes e programas

oficiais) 60 horas Módulo II Interculturalidade, Iterdisciplinaridade e Inclusão na Educação do Campo.

Interculturalidade, interdisciplinaridade e educação do campo: aspectos teóricos e práticos

Práticas inclusivas na Educação do Campo Educação e linguagens na Educação do Campo (Língua Materna; Artes; Imagens; Parcerias entre Museus e Escolas;

Etnomatemática; Educação Física) Geografia e História na Educação do Campo Ciências da Natureza na Educação do Campo

60 horas Modulo III Práticas Pedagógicas em Educação do Campo

Trabalho como princípio educativo Pesquisa como princípio educativo

Concepções de desenvolvimento e aprendizagem que subsidiam a Educação do Campo

Organização do trabalho pedagógico, práticas pedagógicas em sala de aula e na comunidade

Práticas pedagógicas em classes multisseriadas. Planejamento e avaliação

O Projeto Político Pedagógico como articulador do trabalho da comunidade escolar: interculturalidade/

Interdisciplinaridade/ Campesinato

Organização curricular da Educação do Campo: formação por área de conhecimento e interdisciplinaridade

Escola do Campo e gestão democrática

60 horas

Fonte: Projeto de Extensão Escola da Terra (2014).

A partir do tema gerador “Água como fonte de vida e sustentabilidade”, potencializado pela tragédia criminosa do rompimento da barragem em Marina/MG, que poluiu a calha do Rio Doce com os rejeitos de minérios outrora lá represados, ocorrida no final de 2015, até hoje (2019) sem recuperação e sem punição aos culpados, as comunidades passaram a discutir a água e ações que repensam o seu uso de forma a incluir o tema no dia a dia das

comunidades de forma a lançar “luz” a essa problemática. Por vezes o óbvio não parece visível, por isso a importância de trazer a água como tema gerador de debates e discussões. Por mais clara que pareça a relevância da água em nossas vidas, há invisibilidade dessa questão pela abundância de práticas abusivas e irresponsáveis.

O grande objetivo dos debates, dos estudos e das discussões é a construção coletiva (universidade/sistemas de ensino/escolas/comunidades) de projetos pedagógicos específicos às realidades locais, que se propõem tratar situações-problema, que valorizem as culturas e que resgatem a qualidade do ensino sem negar as identidades e que possibilitem o reconhecimento das diferenças e da diversidade como podemos sintetizar no esquema a seguir.

Esquema da Proposta do Curso Escola da Terra Capixaba

Fonte: Esquema organizado pelo autor.

O próximo capítulo irá traçar um perfil do cursista, suas impressões sobre o Programa Escola da Terra Capixaba. Busca descrever as vivências experimentadas durante a pesquisa e, por fim, responde aos objetivos propostos no início deste trabalho.

No documento ESCOLA DA TERRA CAPIXABA NA BACIA DO RIO DOCE (páginas 121-127)