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A infecção latente de plantas por patógenos tem sido reconhecida há muitos anos e é freqüentemente considerada como um dos mais altos níveis de parasitismo, uma vez que o hospedeiro e o parasita coexistem com mínimo dano ao hospedeiro. Agrios (1988) definiu infecção latente como o estágio em que um hospedeiro é infectado com um patógeno mas não apresenta sintomas de doença, e persiste até que sinais ou sintomas estão prontos a aparecer por condições nutricionais ou pelo estágio de maturidade do hospedeiro ou patógeno (Cerkauskas, 1988; Agostini et ai., 1992; Viret & Petrini, 1994). Portanto, todos os patógenos, exceto tipos necrofilicos, tem um período latente em que se ramificam no tecido hospedeiro e começam a causar mudanças na fisiologia deste.

Segundo Sinclair (1991 ), a infecção latente pode ser reconhecida como um tipo de tolerância ou resistência a certos patógenos, onde o parasita encontra o ambiente interno impróprio para crescimento e multiplicação, e resulta de um processo de coevolução entre plantas e patógenos. Tal coevolução permitiria a maior acumulação

de resistência e aptidão gênica no hospedeiro e vários parasitas, onde a alta susceptibilidade individual de plantas, e a alta virulência dos patógenos senam eliminadas no início do processo evolutivo. Este tipo de infecção é importante na epidemiologia e controle de doenças de plantas e também na obtenção de resistência ou tolerância a um patógeno.

Segundo Rodriguez & Redman (1997), fungos endofiticos não elicitam sintomas significativos de doença, mas mantém os mecanismos bioquímicos e genéticos requeridos para a infecção e a colonização de plantas hospedeiras. Segundo os autores, há 4 classes de fungos endofiticos de acordo com o comportamento no tecido vegetal: 1) Fungos que crescem ativamente dentro do tecido hospedeiro, resultando em extensa colonização (White Jr. & Morrow, 1990); 2) Fungos que crescem ativamente dentro do hospedeiro, mas apenas colonizam áreas limitadas do tecido vegetal; 3) Fungos que crescem muito mal dentro do hospedeiro, em função de respostas deste, ficando quiescentes até a senescência do hospedeiro; 4) Fungos que crescem muito mal dentro do hospedeiro, mas permanecem metabolicamente ativos.

Rotineiramente a identificação de fungos endofiticos envolve esterilização superficial de tecidos hospedeiros. Porém, isto não define a extensão de colonização do tecido ou a atividade metabólica do endofitico. Independente do tipo de classe, qualquer endófito pode manter suas bases bioquímicas e genéticas necessárias para infectar tecidos vegetais. A principal diferença entre as classes, é que o fungo que coloniza extensivamente o hospedeiro, deve evitar ou é imune ao sistema de defesa da planta. Assim, tais fungos são funcionalmente equivalentes aos patógenos com interação compatível com o hospedeiro (que desenvolvem a doença) mas não elicitam sintomas de doença. Por outro lado, os tipos 3 e 4 são idênticos funcionalmente aos patógenos que mantém uma interação incompatível com o hospedeiro (Rodriguez & Redman, 1997).

Diversas espécies de Colletrotrichum são considerados patógenos latentes porque induzem lesões em tecidos vegetais senescentes. É possível que os patógenos latentes estejam atualmente em estágios evolutivos transitórios entre patógenos virulentos e aqueles endófitos ou saprófitos. Por outro lado, patógenos latentes podem ser saprófitas sofisticados que tem desenvolvido um mecanismo para evitar competição

no solo, colonizando parcialmente tecidos vegetais antes da senescência do hospedeiro. Na verdade, a colonização restrita do hospedeiro antes da senescência deste, pode ter pouco ou nenhum impacto no desempenho do hospedeiro. Este tipo de interação pode favorecer o patógeno latente significativamente na competição com fungos saprofiticos, que são incapazes de colonizar tecidos vegetais não senescentes.

Em gramíneas, algumas vezes a patogenicidade está relacionada com a fase sexual de fungos pertencentes a família Clavicipitaceae. Neste caso, Sinclair propôs em 1991, o termo endófito clavicipitáceo anamorfo, para o fungo mutualista, e endófito clavicipitáceo teleomorfo para o patogênico. Na gramínea Festuca arundinacea var. genuina Scheb., Bacon et al. ( 1977) encontraram um fungo endofitico muito semelhante ao patógeno Epichloe typhina. Entretanto, baseados em dados de sequenciamento, Gleen et al. (1996) diferenciaram tais classes, e criaram um novo gênero, Neothyphodium, sendo este endófito atualmente designado de N. coenophialum (Schardl & Phillips, 1997). Usando regiões ITS-1, White Jr. & Reddy (1998) conseguiram a separação de espécies endofiticas e epibióticas de Epichloe e criaram o gênero Parepichloe para os epibióticos.

Segundo Kuo & Hoch (1996b) quando o fungo Phyllosticta ampelicida infecta tecidos de videira ainda em crescimento (imaturos), os sintomas de doença são expressados como lesões necróticas. Quando infecta tecidos que já cessaram o crescimento (maduros), as hifas fúngicas são limitadas ao endofitismo assintomático, ou seja, não são capazes de desencadear a doença e servem apenas como fonte de inóculo. Kuo & Hoch ( 1996b) sugerem que o mesmo fenômeno possa acontecer com outras espécies do gênero encontradas como endofiticas de culturas que são normalmente patogênicas, e mesmo com outros fungos como Phomopsis, Diplodia natalensis e Botrytis cinerea.

Alguns fungos são capazes de expressar todos os estilos de vida, como por exemplo Colletotrichum magna. Tal espécie é patogênica em uma variedade de cucurbitáceas, um saprofítico em material vegetal e como endofitico de tomate (Freeman & Rodriguez, 1993). Segundo Rodriguez & Redman (1997), especula-se que dependendo do estágio da dinâmica do ecossistema e da estrutura da comunidade,

fungos como C. magna, podem comumente transitar entre pontes fisiológicas de patogenicidade, endofitismo, saprofitismo e dormência. Se situações como esta forem comumente relatadas, isto pode sugerir que a ciassificação destes organismos em categorias restritas é, na verdade, irreal e reflete uma falta de conhecimento científico.

Sendo assim, quando microrganismos endofiticos são isolados, pode-se estar isolando também patógenos latentes destes hospedeiros. Segundo Azevedo (1998), é muito dificil estabelecer um limite entre microrganismos endofiticos e patogênicos latentes, sendo que muitos endófítos são estreitamente relacionados com patógenos. Tal situação foi relatada por Glienke (1995) quando o fungo Guignardia citrica,pa, conhecido como patógeno de citros, foi isolado de forma endofltica destes hospedeiros.