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ENERGIA, POBREZA E DESENVOLVIMENTO

No documento Brasília - DF, Novembro de 2021 (páginas 24-28)

A tríade energia, pobreza e desenvolvimento denota a importância e a necessidade de ações de planejamento. O acesso a formas modernas de energia é um pré-requisito essencial para superar a pobreza, promover o crescimento econômico, expandir as oportunidades de emprego, apoiar a prestação de serviços sociais e, em geral, promover o desenvolvimento humano (JOHANSSON et al., 2012); (GONZÁLEZ-EGUINO, 2015).

No mundo, quatro em cada cinco pessoas sem eletricidade vivem em áreas rurais em países em desenvolvimento. A energia elétrica permite a existência e aprimoramento de serviços comunitários como escolas e postos de saúde; melhoramento da produtividade com o uso de bombas de irrigação, armazenamento e transformação de produtos, acesso a mercados e informações e aumento da produtividade mediante o uso de equipamentos, etc.

(JOHANSSON et al., 2012);(KAYGUSUZ, 2011).

As taxas de pobreza e problemas energéticos tendem a ser maiores em áreas rurais remotas do que em áreas mais acessíveis. Esse vínculo entre pobreza e falta de energia se conhece como “nexo energia-pobreza” porque as poucas oportunidades de produtividade, de meios de subsistência e melhoramento das condições de vida resultam em um círculo vicioso de pobreza e falta de energia elétrica que dificultam a construção de capital social e humano com maior geração de renda (JOHANSSON et al., 2012).

Um quinto da população mundial (quase 1,3 bilhão de pessoas) não têm acesso à eletricidade e aproximadamente 2,6 bilhões usam a madeira como única fonte de energia, principalmente nas áreas rurais. Somado a isso, outros milhões que têm acesso à energia elétrica são incapazes de atender às suas necessidades básicas porque não podem pagar pelo serviço (GONZÁLEZ-EGUINO, 2015).

A Pobreza energética é definida pela falta de escolha no acesso adequado, acessível, confiável, de alta qualidade, seguro e ambiental de serviços de energia para o desenvolvimento econômico e humano. A pobreza e a desigualdade no mundo também se refletem em altos níveis de pobreza energética e desigualdades no consumo de energia. Na maioria dos países, a biomassa é a principal fonte de combustível usada para atender as necessidades, contudo não é a mais adequada nem é a mais barata: geralmente é apenas a única opção (GONZÁLEZ-EGUINO, 2015).

O acesso à energia elétrica é também um insumo essencial para alcançar a maioria dos ODM, que são uma referência de progresso contra a pobreza. As Nações Unidas estabeleceram 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para alcançar o desenvolvimento sustentável (UNITED NATIONS, 2021);(GONZÁLEZ-EGUINO, 2015).

Os ODS possuem fortes interdependências, e por esse motivo não tem como excluir um de outro porque trabalham juntos. A educação constrói capital humano, que por sua vez promove o crescimento econômico, igualdade de gênero e redução de desigualdades.

Promover o ensino básico e fundamental de qualidade é fundamental, e está vinculado com acesso a iluminação para aulas noturnas na escola e trabalho dos alunos em casa, fornecimento constante de água e alimentos na escola, mídia educacional que aprimore o ensino e permanência dos professores nas localidades, e até a possibilidade de ensino a distância mediante o acesso à internet. Opções de energia acessíveis e confiáveis podem ampliar o escopo para empresas femininas, promovendo a geração de emprego e renda entre as mulheres. Pode liberar o tempo de meninas e mulheres de atividades de sobrevivência (coleta de lenha, coleta de água, etc.) (UNITED NATIONS, 2021);(SACHS et al., 2019).

O acesso a fontes de energias modernas inclui o uso de fontes renováveis porque o acesso à energia moderna é considerado uma condição prévia para o desenvolvimento sustentável, erradicação da pobreza e da desigualdade. A energia fornece diversos benefícios sociais, informacionais e de saúde, portanto, a eletricidade constitui a base para a satisfação das necessidades humanas fundamentais. A longo prazo o consumo de eletricidade causa um impacto positivo no índice de desenvolvimento humano. O estudo realizado em países da África subsaariana revelou que a disparidade na distribuição de renda tem um efeito negativo no acesso à eletricidade, enquanto as melhorias nos níveis de renda e no índice de desenvolvimento humano têm um impacto positivo no acesso à eletricidade (SARKODIE;

ADAMS, 2020).

A pobreza e fome extrema relaciona-se com o fato de combustíveis mais limpos e eletricidade reduzir gastos da renda familiar com preparo de alimentos, iluminação e aquecimento. A maior parte dos alimentos básicos (95%) precisam ser cozinhados antes de serem consumidos e de água para seu preparo. As perdas pós-colheita podem ser reduzidas por meio de preservação e resfriamento ou congelamento. Igualmente o uso de energia elétrica facilita a irrigação a fim de aumentar produção de alimentos e melhorar a nutrição.

Equipamentos elétricos podem aumentar a produtividade e possibilitar a geração de renda (UNITED NATIONS, 2021);(SACHS et al., 2019).

A mortalidade infantil e a saúde materna estão vinculadas com coleta e preparação de combustíveis tradicionais que expõe mulheres gravidas e crianças a riscos para a saúde, o fornecimento de alimentos nutritivos cozidos, ambientes aquecidos ou resfriados. O tratamento de água e seu bombeamento até casas e locais de atendimento público, reduzem a transmissão de doenças hídricas. Combustíveis e equipamentos de cozinha limpos podem reduzir a exposição de mulheres grávidas e crianças à poluição do ar interior. Permite o acesso a instalações médicas adequadas para cuidados maternos e pediátricos, incluindo serviços de laboratório, refrigeração de medicamentos, esterilização de equipamentos e salas de operação. As instalações médicas também relacionam-se com o objetivo 6 que trata de HIV / AIDS, malária e outras doenças importantes; e o acesso à mídia de educação em saúde por meio de informações e tecnologias de comunicações (JOHANSSON et al., 2012);(UNITED NATIONS, 2021); (SACHS et al., 2019).

O crescimento econômico é um pré-requisito essencial para superar a pobreza, para sustentar esse crescimento é necessário melhorar o acesso a formas mais limpas e modernas de energia e aos serviços que facilitam (JOHANSSON et al., 2012).

Na Figura 1 aparecem dois mapas, o primeiro é uma foto do Brasil tomada desde o espaço e que mostra os locais com iluminação, ou seja, com energia elétrica indicando que é maior o acesso encontra-se nas regiões Centro-Oeste, Sudeste, Sul e parte do Nordeste e falta na região Norte. Já no segundo mapa encontra-se uma ilustração do Índice de Desenvolvimento Humano – IDH no país e que mostra o baixo IDH justamente nas regiões Nordeste e Norte. Ambos os mapas coincidem em termos de desenvolvimento e acesso à energia elétrica indicando a relação existente entre energia e IDH.

Essa figura também exemplifica o nexo energia – pobreza já que regiões com menor acesso à energia elétrica dificilmente desenvolvem seu capital humano e financeiro, e por tanto, não perpassam pelo mote desenvolvimento sustentável.

Figura 1. Comparativo entre mapas da iluminação do Brasil desde o espaço e de IDH

Fonte: (Nasa, 2014 e UNDP, 2013).

O conceito de desenvolvimento sustentável é dinâmico, foi se adaptando às exigências contemporâneas de um ambiente global complexo, mas os princípios e objetivos subjacentes, bem como os problemas de sua implementação permaneceram quase inalterados. Esses objetivos estão unidos na estrutura dos ODS, que delineiam os desafios que a humanidade tem. O desenvolvimento sustentável deve fornecer uma solução em termos de atendimento das necessidades básicas humanas, integrando o desenvolvimento e proteção ambiental, alcançando a igualdade, garantindo a autodeterminação social e a diversidade cultural, e mantendo a integridade ecológica (KLARIN, 2018).

Existe a sustentabilidade fraca e a sustentabilidade forte, a fraca é uma perspectiva tecno-otimista ou tecnocêntrica que implica uma quantidade constante de recursos ao longo do tempo, embora o capital natural e o manufaturado sejam intercambiáveis. Ou seja, a redução de recursos naturais deve ser sempre equilibrada pelos recursos produzidos (extração ótima de recursos não renováveis). E a forte é uma perspectiva ecológica ou ecocêntrica, na qual existe rigorosa proteção ambiental. Para essa abordagem certos recursos naturais críticos nunca podem ser complementados ou substituídos por outras formas de recursos porque são irreversíveis, e sua perda reflete em todas as outras formas de capital

No documento Brasília - DF, Novembro de 2021 (páginas 24-28)