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2. INTRODUÇÃO

2.4. Enfermagem no Município de Campinas

O município de Campinas, localizado no interior do estado de São Paulo, com uma população de 1.164.098. Considerada uma região metropolitana rica em indústrias (IBGE, 2015).

O SUS de Campinas está dividido em cinco distritos de saúde para atender aproximadamente 200.000 habitantes, e cada distrito possui uma Vigilância em Saúde (SMC, 2015).

Composta por sessenta e quatro Unidades Básicas de Saúde, responsáveis pela atenção básica e média complexidade. Distribuídos da seguinte forma, um Centro de Saúde para cada 20.000 habitantes, com atuação de equipe multiprofissionais (SMC, 2015).

Possui duas Unidades de Referência com atendimento especializado. E este atendimento também é prestado pelo Hospital e Maternidade Dr. Celso Pierro (PUC-Campinas) e Hospital das Clínicas da UNICAMP. Existem diversos Centros de Apoio Psicossocial, entre outros Centros de Referência (SMC, 2015). O Serviço de Pronto Atendimento é composto por quatro unidades e um Serviço de Atendimento Médico de Urgência (SAMU). Também consta o Pronto Socorro do Hospital Mario Gatti e um Pronto Socorro do Complexo

Hospitalar Ouro Verde (SMC, 2015). A Secretária Municipal de Campinas (SMC) possui convênio e contratos com serviços como Pronto Socorro do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Centro de Atenção Integral da Saúde da Mulher (CAISM), Maternidade de Campinas e Pontifícia Universidade Católica (PUC-Campinas) (SMC, 2015).

Consta ainda um Laboratório Municipal, Serviço de Atendimento Domiciliar, Botica, Casa de Oficina, Centro de Convivência, Centro de Educação dos Trabalhadores de Saúde, Farmácia Popular, entre outros (SMC, 2015).

O governo de Campinas em 1970 com recursos próprios estruturou os serviços de saúde, firmando a democratização da atenção médica, a extensão de cobertura com instalação de redes básicas de atenção à saúde; a atenção integral e a participação comunitária (SILVA et al. 2001).

Na década de 1970, para a contratação dos funcionários de enfermagem se exigia ser alfabetizado, ser morador da área de cobertura, ter um certo conhecimento sobre saúde. Isso se estendeu até 1986, quando se iniciaram os concursos públicos (NICIOLI, 2000).

Surge então uma rede de Posto Comunitário de Saúde (PCS) na periferia da cidade e em áreas rurais, que desenvolviam programas Materno- Infantil, atendimentos a crônicos e grupo de riscos, como Saúde Mental, Saúde Bucal, Vacinação e Controle da Hipertensão Arterial (SILVA et al. 2001).

Quem atuava nestes postos eram médicos e auxiliares de saúde, estes auxiliares não possuíam formação específica em saúde e tinham treinamento em serviço. Havia participação comunitária nas avaliações do trabalho executados nestes postos (SILVA et al. 2001).

Em 1977, alguns municípios, incluindo Campinas estavam em um movimento para elaborar modelos alternativos de atenção à saúde, iniciando projetos pilotos, e Campinas foi sede de alguns, constituindo a Reforma Sanitária (NASCIMENTO; NOZAWA, 2004).

Em 1978, ocorreu um Encontro Municipal de Saúde da Região Sudeste, com participação de 61 municípios, dentre esses Campinas, para a

discussão de modelos de saúde vigorados no Brasil, com gastos ocultos e internações desnecessárias (SILVA et al. 2001).

Também neste ano, se caracterizou a política de saúde de Campinas pela democratização da atenção médica e a extensão da cobertura, com instalação de redes básicas de atenção à saúde, queriam a hierarquização dos níveis de atenção da medicina integral e participação comunitária (NASCIMENTO; NOZAWA, 2004).

Houve um convênio entre a Secretária de Saúde do Estado de São Paulo e a Prefeitura de Campinas para incorporar os serviços de promoção e recuperação da saúde, devido a Lei 6.229/1975 do Sistema Nacional de Saúde, iniciando a regionalização em saúde (SILVA et al. 2001).

Em 1979, a aplicação da vacina BCG4 era realizada apenas por

enfermeiras. Com o crescimento dos PCS, e ampliação da porta de entrada do Sistema de Saúde, a Secretária Municipal de Saúde (SMS) aumentou o número de enfermeiras para equilibrar com o número de agentes e PCS (NASCIMENTO; NOZAWA, 2004).

Com a Reforma Sanitária em 1980, buscando Ações Integradas de Saúde, Campinas, com 31 Centros de Saúde, estava realizando concursos públicos para a contratação e se planejava de modo descentralizado em três regiões (SILVA et al. 2001).

A SMS em 1982, realizou um projeto Pró Assistência, com enfoque na integração de seus serviços com dois hospitais universitários UNICAMP e PUC-Campinas e com os serviços estaduais, tentaram solucionar a racionalização da assistência, iniciando com a rede integrada e hierarquizada de atenção à saúde (NASCIMENTO; NOZAWA, 2004).

Os Centros de Saúde eram imóveis alugados, com instalações precárias, os auxiliares de saúde pública eram selecionados na comunidade, não possuíam formação na área de saúde e eram treinados através da prática

4 Bacilo de Calmette e Guérin, vacina para prevenir as formas graves da tuberculose, como a

desenvolvida pelos médicos, que também faziam a supervisão. As enfermeiras selecionavam os auxiliares de saúde pública e trabalhavam na organização do trabalho dos PCS (NASCIMENTO; NOZAWA, 2004).

As enfermeiras estabeleceram em 1983 suas atribuições e queriam profissionalizar os auxiliares de saúde pública em auxiliares de enfermagem, e formar uma coordenadoria de enfermagem, que até então estava subordinada administrativamente ao Serviço Médico. Encontrou-se resistência dos profissionais pertencentes a equipe de saúde dos PCS, na entrada das enfermeiras no processo de trabalho, que ficava com a supervisão das atividades técnicas desenvolvidas pelos auxiliares de saúde pública (NASCIMENTO; NOZAWA, 2004).

Criou-se neste ano o Serviço de Enfermagem na SMS. Ocorreu a padronização das condutas de curativos, sala de vacina e esterilização, organizou-se as áreas programáticas, atribuições das enfermeiras, dos auxiliares de saúde pública e dos médicos dentro dos programas (NASCIMENTO; NOZAWA, 2004).

Com a aprovação da Lei do Exercício Profissional da Enfermagem, em 1986, os serviços de saúde tiveram dez anos para capacitar os profissionais que exerciam a atividade de enfermagem. A SMS desenvolveu um programa de educação em serviço, o Projeto Larga Escala (PLE)5, com participação das

enfermeiras no ensino e supervisão dos auxiliares de saúde em formação, que treinariam estes ao cargo de auxiliar de enfermagem (SILVA et al. 2001).

Em 1987 se elaborou e implantou o PLE, as enfermeiras tiveram um importante papel na argumentação política e necessidades técnicas da formação

5 De acordo com Pezzato (2001, p. 8-9), o projeto Larga Escala, "surgiu, na década de 80, na

área da saúde, como uma proposta que trazia o pressuposto de buscar concretizar o ideário da reforma sanitária. Sua proposta pedagógica era qualificar os trabalhadores de nível elementar e médio, inseridos nos serviços de saúde que não possuíam qualificação específica. Esses trabalhadores representavam a maioria dos profissionais empregados nos serviços de saúde [...] A implementação do projeto ocorreu descentralizadamente nos Estados, e sua execução era atribuição da rede básica de saúde e Centros Formadores ou Escolas Técnicas. O corpo docente era composto por trabalhadores com formação universitária que atuavam nos serviços, prestando assistência à população. Desta maneira, esses profissionais desempenhavam simultaneamente as tarefas de assistência e docência. Tal proposta, que iniciou com os profissionais da enfermagem, teve grande impacto nas políticas de saúde.

dos auxiliares de enfermagem. Também houve modificações no Sistema de Saúde, formou-se o primeiro grupo interinstitucional de Vigilância Epidemiológica, constituído por enfermeira, médico, visitadora sanitária e auxiliar de enfermagem; municipalizou-se o serviço de saúde da Secretaria Estadual e tiveram parceria com a UNICAMP para especialização em saúde pública (NASCIMENTO; NOZAWA, 2004).

A PMC realizou convênio com o Sistema Único e Descentralizado de Saúde, em 1987, visando a municipalização dos Serviços de Saúde. Em 1989, a SMS amplia a rede de serviços, reforma a gestão e o modelo dos serviços de saúde, adotando como porta de entrada do Sistema de Saúde a Atenção Básica, com vista na resolução compatível com o modelo de Atenção Integral à Saúde (NASCIMENTO; NOZAWA, 2004).

Diversas atividades, como vigilância epidemiológica e programa de vacinação, executadas nos Centros de Saúde da rede estadual passaram a ser desenvolvidas nas unidades municipais, no final da década de 80 e início da década de 90. Com a composição de 38 Centros de Saúde atendiam de acordo com a área programática da criança, adulto e mulher, faziam visitas domiciliares e grupos educativos. Organizaram os níveis de supervisão por regiões e gerência local. As enfermeiras tornaram-se agentes estratégicas para a qualificação do nível elementar e médio e para a gerência dos serviços locais e distritais, sendo assim necessitou uma maior contratação de enfermeiras (SILVA et al. 2001).

Nesta época, a coordenadora do Serviço de Enfermagem da SMS, discutia implementação da política de saúde, tentando implantar na área da enfermagem. Focando nos recursos humanos, para a expansão do cargo e qualificação dos profissionais. Foi feito o primeiro concurso público da PMC, com novos cargos para enfermeiros, e conforme ocorria a contratação, estas eram treinadas pela equipe da SMS para desenvolvimento de seu trabalho (NASCIMENTO; NOZAWA, 2004).

O PLE legitimou o trabalho das enfermeiras, organizando suas práticas e dos auxiliares. No final de 1989, um grupo de enfermeiras desenvolveu um documento instituindo as atribuições das enfermeiras na SMS, definindo suas

funções na assistência direta ao usuário, tornando o cuidado de sua responsabilidade (NASCIMENTO; NOZAWA, 2004).

Em 2001, foi implantado no município o projeto Paidéia de Saúde da Família que propunha:

[...] reconstruir o modo como pensamos e trabalhamos em saúde. Reformular a clínica tomada não apenas a doença, mas o sujeito enfermo [...] ampliar as práticas de promoção à saúde, articular-se em equipes interdisciplinares, ampliar os espaços em que se atende [...] cuidar das pessoas, pensando-as inseridas em redes sociais (CAMPOS, 2005, p.154).

Sendo assim, os serviços deveriam se organizar da seguinte maneira: clínica ampliada das ações de saúde coletiva no nível local, para aumentar a resolução dos problemas de saúde, desenvolvendo um trabalho que foca o coletivo; Cadastro de saúde da população e vinculação de famílias à equipe local de referência (CAMPOS, 2005).

O método Paidéia é considerado uma metodologia para a educação de indivíduos, possibilitando a estes analisar e intervir, constituído de valores e critérios para criticar a política e a gestão (CAMPOS, 2006).

Por volta do ano 2000, havia um Projeto de Qualificação das Práticas de Enfermagem em Campinas, desenvolvida por diversos profissionais do Centro de Educação dos Trabalhadores da Saúde, que tinha o objetivo de qualificar esses profissionais, focado no modelo usuário-centrado (ZUZA, 2003). Segundo Zuza (2003), no período de 1992 a 1997, a maioria dos profissionais enfermeiros desenvolviam ações administrativas e cuidados individuais. Havendo diversificação das áreas de atuação e a Secretária de Saúde tinha interesse que os enfermeiros realizassem cuidados individuais e coletivos à saúde dos usuários.

Atualmente encontramos a enfermeira inserida em diversas áreas, administrativo, assistencial, social, educativo entre outras, buscando um mesmo objetivo que é a saúde, o cuidado em saúde.

De acordo com a tabela 1, houve um aumento numérico gradativo da contratação da enfermagem na SMC, mostrando a importância da enfermagem para a reorganização do modelo de saúde (NASCIMENTO; NOZAWA, 2004).

Podemos também verificar que tivemos alguns picos de aumento desta categoria, como em 1992 após a aprovação do SUS e nos últimos 15 anos, entre 2001 a 2015 após a implantação do Paidéia-Saúde da Família no município.

Tabela 1: Números de Enfermeiras Contratadas pela Secretária Municipal de Saúde de Campinas Ano N Enfermeiras 1977 03 1987 15 1988 17 1992 90 1995 139 1998 223 2001 265 2015 554

Fonte: Silva et al (2001); Nascimento; Nozawa (2004); SMC (2015)

Em 2011, Campinas passou por uma crise política que atingiu o setor saúde, onde o convênio existente com o Hospital Cândido Ferreira, que contribuía com grande número de profissionais distribuídos na atenção à saúde, se rompeu, depois de muitas discussões e intervenção do Ministério Público, ocasionando uma deficiência de profissionais que foram e estão sendo repostos pelos concursos públicos (DORIGAN, 2013).

Existe uma necessidade da enfermagem no modelo em que Campinas presta assistência, e vemos que o número destes profissionais é crescente, mesmo assim não contempla a necessidade apresentada pelo município. Vemos e ouvimos a falta destes profissionais e equipes desfalcadas.