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5. RESULTADOS

5.3. O ENFOQUE LEGAL DADO À QUESTÃO DAS INFORMAÇÕES SOBRE

5.3. O ENFOQUE LEGAL DADO À QUESTÃO DAS INFORMAÇÕES SOBRE

problemas ambientais oriundos da crescente geração de resíduos urbanos e industriais, estabelecendo como objetivos principais:

 A proteção da saúde humana e do meio ambiente dos potenciais perigos da destinação de resíduos;

 Conservação de recursos naturais e de energia;

 Redução da geração de resíduos;

 Assegurar que os resíduos tenham uma destinação ambientalmente adequada.

A África do Sul tem a obrigação exigida pela Constituição de proteger o meio ambiente e evitar a degradação ecológica, e o faz por meio da edição de normas que todos têm a obrigação de cumprir. O Ato nº 59 de 2008 sobre Resíduos (do inglês, Act nº 59 - National Environmental Management: Waste Act, 2008) publica os requisitos mínimos para que qualquer pessoa exerça uma atividade que produza resíduos ou que os gerencia o faça em conformidade com os princípios de proteção da saúde humana e o meio ambiente (África do Sul, 2008). Isto inclui a armazenagem de resíduos, transporte, processamento, incluindo pessoas que realizam a reutilização ou reciclagem do lixo.

As legislações internacionais analisadas apresentaram diferentes modelos para a gestão das informações sobre os resíduos, inclusive os perigosos. Os modelos podem requerer a apresentação de planos de gestão e gerenciamento ou a obrigatoriedade do poder público de apresentar os resultados obtidos da aplicação da lei, o que acarreta no retorno da informação da geração do resíduo pelo gerador, sua classificação e o destino dado pelo destinador. As Tabelas 5 e 6 abaixo apresentam um resumo destas previsões legais e os atores envolvidos, para cada um dos países estudados.

Tabela 5 - Modelo de gestão da informação nos países estudados

País Modelo de gestão da informação

União Europeia

Sistema centralizado; recepção de dados dos Estados-Membros;

publicação frequente de estatísticas e relatório trienal.

Espanha

Sistema centralizado; recepção de dados dos arquivos cronológicos das empresas que operam com resíduos perigosos; publicação anual de relatório nacional.

Estados Unidos

Sistema centralizado; recepção de formulários contendo os resultados do ano-base anterior das atividades que operam com resíduos perigosos;

prestação de contas anual ao Congresso.

África do Sul

Sistema centralizado; recepção de dados dos sistemas provinciais de resíduos sólidos; publicação anual de relatório nacional.

Fonte: Elaboração própria. Compilação a partir de (UE, União Europeia, 2008) (África do Sul, 2008) (ESPANHA, 2011) (EPA, Environmental Protection Agency, 2011b).

Tabela 6 - Atores envolvidos no fluxo de informação sobre resíduos dos países estudados

País Atores envolvidos

União Europeia

Agência Europeia de Meio Ambiente, EUROSTAT, autoridades ambientais competentes dos Estados-Membros.

Espanha

Comunidades Autônomas, Entidades Locais, pessoas físicas e jurídicas registradas como geradores, transportadoras e empresas de tratamento de resíduos (recicladores, recuperadores, incineradores e aterros).

Estados Unidos

Estados, Agência de Proteção Ambiental, indústria e grandes geradores de resíduos, recicladores, incineradores e aterros.

África do Sul

Províncias, governos locais, atividades determinadas como obrigadas a

prestarem informações sobre a geração de resíduos, recicladores, incineradores e aterros.

Fonte: Elaboração própria. Compilação a partir de (UE, União Europeia, 2008) (África do Sul, 2008) (ESPANHA, 2011) (EPA, Environmental Protection Agency, 2011b).

Todas as legislações analisadas incluem a criação de um sistema de informação sobre resíduos sólidos, uma característica comum presente na Agenda 21 (UN, United Nations, 1992), que define os “Sistemas de Informações Ambientais” como sendo “sistemas de dados que facilitam sua armazenagem, recuperação, manipulação, transformação, comparação e exibição gráfica.” São usados por planejadores em diversos níveis como uma “ferramenta para avaliar o impacto de eventos naturais sobre atividades já existentes ou planejadas”.

A União Europeia criou Centro Temático Europeu sobre Consumo e Produção Sustentáveis, responsável por manter uma base de dados sobre resíduos sólidos desde 1997, chamada WasteBase10. Na WasteBase é possível

10 Disponível em: http://scp.eionet.europa.eu/facts/wastebase/quantities/index_html. Acessado em 01 de outubro de 2013.

encontrar informações sobre a geração de resíduos sólidos urbanos a partir de 1980. A partir de 1992, por força da Diretiva 91/689/CEE, de 12 de Dezembro de 1991, os países passaram a informar dados sobre a geração e destinação de mais tipos de resíduos, como resíduos da mineração, dos serviços públicos de saneamento, industriais, construção e demolição, dentre outros.

A partir de 2006, o Centro de Dados sobre Resíduos (Environmental Data Centre on Waste) passou a ser administrado pela EUROSTAT, responsável pela elaboração e divulgação das estatísticas, a partir das informações enviadas pelos Estados-Membros.

O Capítulo VI da lei espanhola apresenta a seção das informações sobre resíduos. Em seu art. 39, a lei espanhola prevê a criação do “Registro de producción y gestión de resíduos”, o equivalente a um cadastro de geração e gestão de resíduos, de abrangência nacional, e que deve ser desenvolvido conjuntamente com as Comunidades Autônomas (ESPANHA, 2011).

Nos Estados Unidos da América, a Agência de Proteção Ambiental (EPA) realiza a gestão dos resíduos industriais e dos resíduos perigosos por meio de um sistema declaratório, cujo indivíduo administrado deve seguir uma metodologia de qualificação e quantificação dos resíduos sólidos, inclusive os perigosos, e ainda prestar informações sobre ações de não geração e de redução de resíduos perigosos. Cada instalação de tratamento, armazenamento ou disposição de resíduos sólidos, deve possuir uma permissão, condicionada ao atendimento dos padrões estabelecidos (EPA, Environmental Protection Agency, 2012a).

Em 2006, O Departamento Sul-Africano de Assuntos Ambientais (do inglês, South African Department of Environmental Affairs - DEA) desenvolveu e implementou o Sistema de Informação de Resíduos Sul-Africano (do inglês, South African Waste Information System - SAWIS). O sistema, que permite a comunicação por parte dos operadores de resíduos sobre as quantidades mensais de resíduos em geral e perigosos depositados em aterros, tratados e reprocessados, foi projetado para ''apoiar a melhoria da gestão integrada de resíduos na África do Sul através da divulgação e uso de informações confiáveis

sobre os resíduos, assim assegurar a proteção do ambiente e da saúde humana'' (África do Sul, 2012).

A Tabela 7 apresenta algumas diretrizes previstas nas legislações de resíduos sólidos dos países estudados.

Tabela 7 - Diretrizes legais relativas às informações sobre resíduos sólidos

País Diretrizes legais

União Europeia

Elaboração de um plano de gestão de resíduos pelas autoridades competentes dos Estados-Membros;

Exigência aos Estados-Membros, até 12 de dezembro de 2013, de programa de prevenção de resíduos integrado ao plano de gestão;

Criação de um sistema de partilha de informações sobre as melhores práticas relativas à prevenção de resíduos;

Elaboração de orientações destinadas a assistir os Estados-Membros na preparação dos programas;

Autorização prévia de instalações onde ocorrem as operações de tratamento de resíduos;

Exigência da prestação de informes tri-anuais pelos Estados-Membros;

Prestação de informação pelos estabelecimentos ou empresas que procedam ao tratamento, transporte, coleta ou comércio de resíduos;

Determina a utilização de um sistema harmonizado de classificação e designação dos resíduos (Lista Europeia de Resíduos);

Convida a Agência Europeia de Meio Ambiente a incluir no seu relatório anual uma revisão dos progressos alcançados relativamente ao cumprimento e à aplicação dos programas de prevenção de resíduos.

Espanha

Planos de gestão de resíduos sólidos em níveis nacional, das Comunidades Autônomas e das Entidades Locais;

Autorização prévia de instalações onde ocorrem as operações de tratamento de resíduos;

Criação do “Registro de producción y gestión de resíduos”, o equivalente a um cadastro de geração e gestão de resíduos, de abrangência nacional, e que deve ser desenvolvido conjuntamente com as Comunidades Autônomas;

Manutenção pelas pessoas físicas e jurídicas de um Arquivo cronológico sobre as operações com resíduos sólidos;

Prestação de contas anual pelos operadores de resíduos sólidos;

Publicação trienal sobre os resultados da implementação da Diretiva 2008/98/CE.

Estados Unidos

da América

A execução do Ato sobre Disposição de Resíduos Sólidos é feita somente pela Agência de Proteção Ambiental;

Os Estados podem realizar seus próprios programas de resíduos perigosos, mas que devem ser previamente aprovados pela Agência de Proteção Ambiental;

Planos de resíduos sólidos estaduais e regionais elaborados a partir de guias federais;

Condução de inventários de resíduos perigosos pelos Estados, nos termos elaborados pela Administração Federal;

Autorização prévia de instalações onde ocorrem as operações de tratamento de resíduos e aterros;

Manutenção de registro sobre a geração, classificação e tipologia de resíduos perigosos pelos geradores;

Envio anual de relatório, pela EPA, ao Congresso e à Presidência sobre os programas, ações e problemas enfrentados durante o ano fiscal na gestão dos

resíduos sólidos;

África do Sul

A existência de um plano estratégico nacional ao qual todos estão obrigados a se submeter (força de lei);

Gestão adequada dos resíduos como principal estratégia (prevenção ainda é incipiente);

Previsão de um sistema nacional de informação sobre resíduos (WIS);

Os sistemas de informação sobre resíduos das províncias devem, ao menos, exigir as mesmas informações presentes no sistema nacional;

Autorização prévia de instalações onde ocorrem as operações de tratamento de resíduos;

Nomeação de uma pessoa responsável exclusivamente pelos resíduos em uma província;

Desenvolvimento de planos de gerenciamento integrado de resíduos nacional, provinciais e municipais e plano de gerenciamento de resíduos industriais;

Fonte: Elaboração própria. Compilação a partir de (UE, União Europeia, 2008) (África do Sul, 2008) (ESPANHA, 2011) (EPA, Environmental Protection Agency, 2011b).

Quando se trata de resíduos perigosos, o controle sobre os geradores e operadores é feito de modo mais rígido, mediante exigência de licenças ambientais específicas e manutenção de registros das operações com resíduos perigosos.

Na União Europeia, os Estados-Membros devem exigir que todos os estabelecimentos ou empresas que procedam ao tratamento de resíduos obtenham uma licença da autoridade competente. Esta licença é o equivalente brasileiro do licenciamento ambiental, e deve ser concedida mediante um estudo que contenha uma análise de risco ambiental da atividade. A licença emitida deverá conter uma série de informações, tais como os tipos e quantidades de resíduos tratados, os destinos e métodos utilizados na destinação destes resíduos, e os requisitos técnicos da operacionalização do processo de tratamento (UE, União Europeia, 2008).

Além dos estabelecimentos e empresas acima elencados, alguns geradores de resíduos perigosos (exceto os domiciliares) e os estabelecimentos e empresas que procedem, como atividade profissional, à coleta ou transporte de resíduos perigosos ou que agem na qualidade de comerciantes ou compradores de resíduos perigosos devem manter um registro cronológico da quantidade, natureza e origem dos resíduos e, se relevante, do destino, frequência de recolha, modo de transporte e método de tratamento previsto no

que diz respeito aos resíduos, e facultar essas informações às autoridades competentes, a pedido destas (UE, União Europeia, 2008).

Na Espanha, as pessoas físicas ou jurídicas registradas como geradoras ou possuidoras de resíduos sólidos, bem como as transportadoras e as empresas de tratamento de resíduos devem manter um arquivo físico ou telemático onde se recolha por ordem cronológica a quantidade, natureza, origem, destino e método de tratamento dos resíduos; quando ocorrer, se registrará também o meio de transporte e a frequência de coleta. Este arquivo é tratado na lei como Arquivo cronológico. Neste Arquivo cronológico devem ser guardados todos os documentos de comprovação das operações efetuadas com os resíduos gerados ou dispostos, e estas informações devem ser mantidas por durante, pelo menos, três anos (ESPANHA, 2011).

As pessoas físicas ou jurídicas que tiverem obtido uma autorização para funcionamento de uma instalação de tratamento de resíduos devem enviar anualmente às Comunidades Autônomas e, no caso de resíduos de competência municipal, às Entidades Locais, uma memória resumida das informações contidas em seu Arquivo cronológico com o conteúdo previsto na lei. Somente as empresas que estejam cadastradas e que prestem informações aos registros das Comunidades Autônomas são consideradas regulares perante a lei (ESPANHA, 2011).

Nos Estados Unidos da América, os geradores e transportadores de resíduos perigosos devem manter um registro que identifique as quantidades de resíduos perigosos gerada, os contaminantes existentes e a destinação dada. O uso da rotulagem adequada para o transporte e o armazenamento deve ser rigorosamente seguido, e a transferência de resíduos perigosos só pode ocorrer mediante a obtenção de permissão e declaração em sistema de manifesto de cargas quando ocorrer o transporte (EUA; Estados Unidos da América, 2002).

A partir desses registros, os geradores e transportadores devem enviar um relatório à agência local da EPA, em um prazo máximo de até dois anos, com todas as informações sobre quantidade, tipologia e destinação dada aos resíduos. Devem ainda informar as medidas de prevenção tomadas para reduzir

a quantidade de resíduo gerado, dentre outras exigências previstas no escopo dos programas de prevenção e minimização de resíduos (EUA; Estados Unidos da América, 2002).

Os geradores, transportadores e as instalações de tratamento, armazenamento e disposição de resíduos perigosos devem prestar contas à EPA. Empresas e atividades que ultrapassem o limite estabelecido de geração diária ou anual de resíduos também devem prestar contas da geração e destino dado aos seus resíduos. Caso a quantidade limite não seja atendida, o operador que tiver recolhido os resíduos deverá indicar em seu formulário as quantidades discriminadas de cada um dos geradores (EPA, Environmental Protection Agency, 2011c).

Na África do Sul, o Sistema de Informação de Resíduos Sul-Africano (SAWIS) deve coletar, armazenar, analisar e gerenciar informações relativas a quantidade, tipo e classificação de resíduos gerados, armazenados, transportados, tratados, transformados, reduzidos, reusados, reciclados, recuperados e dispostos. O sistema ainda deve prever o registro das atividades de tratamento de resíduos licenciadas, dos detentores de licença para operação de gerenciamento de resíduos e dos locais onde as atividades licenciadas tomam parte (África do Sul, 2008).

É facultada às províncias a criação de sistemas de informação sobre o gerenciamento de resíduos em seu território, mas é obrigatório que estes sistemas solicitem, no mínimo, as mesmas informações que o sistema de informação nacional prevê em seu escopo (África do Sul, 2008).

O envio das informações pelos operadores de resíduos ao SAWIS permanece voluntário desde a sua implantação em 2006. Em comparação, o número de atividades que obrigatoriamente necessitam enviar seus relatórios de resíduos ao SAWIS aumentou de 25 para 46 entre 2006 e 2011 (GODFREY, SCOTT, DIFFORD, & TROIS, 2012a).

Com relação à classificação e linguagem utilizada na designação dos resíduos, todos os países utilizam normas aprovadas em nível federal ou

nacional, sendo que todos os estados ou províncias, autoridades locais e os próprios geradores e operadores de resíduos devem utilizar a mesma norma.

Na União Europeia, a classificação dos resíduos como resíduos perigosos se baseia na legislação comunitária sobre produtos químicos, em especial no que respeita à classificação das preparações como perigosas, incluindo os valores-limite de concentração dos poluentes. A Diretiva 2008/98/EC determina a utilização do sistema de classificação dos resíduos perigosos de acordo com a lista dos tipos de resíduos estabelecida pela Decisão 2000/532/CE da Comissão, que é a Lista Europeia de Resíduos, promovendo assim uma classificação harmonizada destes e assegurando uma identificação também harmonizada dos resíduos perigosos na Comunidade Europeia. A nova lei espanhola de resíduos internaliza esta Diretiva em seu ordenamento jurídico, passando a seguir a mesma classificação de resíduos prevista naquela Diretiva.

Nos Estados Unidos, a listagem dos resíduos controlados e perigosos é definida no Código Federal, subparte D - Lista de Resíduos Perigosos (EUA, Estados Unidos da América, 2011).

Na África do Sul, a listagem dos resíduos controlados e perigosos que deverão ser declarados no sistema é determinada pelo Regulamento nº 35583 de 2012, em seus Anexos 3, 4 e 5 (África do Sul, 2012).

A pesquisa realizada identificou aspectos fundamentais nas legislações nacionais dos países estudados. A Tabela 8 destaca oito características comuns sobre o fluxo de informação sobre resíduos sólidos.

Tabela 8 - Características comuns sobre as informações relativas aos resíduos sólidos Diretrizes comuns

 A elaboração de planos de gestão integrados em todas as esferas de governo e de planos de gerenciamento aos grandes geradores e indústrias.

 A manutenção de registros sobre a geração, transporte e destinação dada aos resíduos pelos operadores de resíduos e geradores.

 A centralização dos dados sobre resíduos em um sistema nacional, a partir dos dados informados às autoridades competentes locais ou estaduais/provinciais.

 Autorização prévia de instalações onde ocorrem as operações de tratamento de resíduos e exigências adicionais aos operadores de resíduos perigosos.

 Classificação de resíduos harmonizada nacionalmente e listagem de identificação e designação de resíduos.

 Penalização para aqueles que não informaram a geração ou a destinação de resíduos perigosos.

 Publicidade das informações sobre resíduos é a regra, não a exceção.

 Informes periódicos sobre a execução da lei/diretiva de resíduos enviados ao Parlamento/Congresso.

Fonte: Elaboração própria. Compilação a partir de (UE, União Europeia, 2008) (África do Sul, 2008) (ESPANHA, 2011) (EPA, Environmental Protection Agency, 2011b).

As oito diretrizes apresentadas acima podem ser analisadas e debatidas em comparação aos dispositivos legais existentes no Brasil, a fim de se conhecer semelhanças e diferenças na questão da sistematização e divulgação das informações sobre resíduos sólidos e resíduos perigosos.

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