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ENFRENTAMENTO DAS RAZÕES APRESENTADAS PELO AMICUS CURIAE

Após sua admissão no processo, o amigo da corte conta com o prazo de 15 dias para apresentar sua manifestação escrita. Pois bem, prestada a sua ajuda, os seus argumentos devem ser analisados e enfrentados em sede de decisão judicial.

Tal necessidade de enfrentamento respeita o disposto no art. 489,§ 1º, IV do código de processo civil, isso porque caso o magistrado acolha a tese apresentada pelo amigo da corte,

esta pode servir de base para a tomada de decisões em outros processos, assegurando legitimidade em uma eventual formação de precedentes.

4.4 SUSTENTAÇÃO ORAL

Como é sabido, o amigo da corte não faz jus aos poderes inerentes às partes. No entanto, o Supremo Tribunal Federal conferiu ao mesmo a possibilidade de realizar sustentação oral, conforme sustenta a ADPF 187/DF, que aduz:

(...). Aduziu-se que, não obstante o relevo da participação do amicus curiae, como terceiro interveniente, no processo de fiscalização normativa abstrata, ele não disporia de poderes processuais que, inerentes às partes, viabilizassem o exercício de determinadas prerrogativas que se mostrassem unicamente acessíveis a elas, como o poder que assiste, ao argüente, de delimitar o objeto da demanda por ele instaurada. Afirmou-se que a intervenção do amicus curiae seria voltada a proporcionar meios que viabilizassem uma adequada resolução do litígio constitucional, sob a perspectiva de pluralização do debate, de modo a permitir que o STF venha a dispor de todos os elementos informativos necessários à resolução da controvérsia, além de conferir legitimidade às decisões proferidas pela Suprema Corte. Para tanto, o amicus curiae teria a possibilidade de exercer o direito de fazer sustentações orais, além de dispor da faculdade de submeter, ao relator da causa, propostas de requisição de informações adicionais, de designação de peritos, de convocação de audiências públicas e de recorrer da decisão que haja denegado seu pedido de admissão no processo (BRASIL, 2011, p. 1).

Porém, há entendimento do STJ no sentido de que o amigo da corte não pode realizar sustentação oral nos julgamentos de recursos repetitivos, conforme o REsp 1.205.946/SP que aduz “a Corte Especial, por maioria, em questão de ordem, deliberou que o amicus curiae não tem direito à sustentação oral”, sob o fundamento de que tem a faculdade ou não de convocá-lo (BRASIL, 2010, p. 1).

Ainda sobre esse posicionamento do STJ, Medina (2015) diz que caso o STJ entenda pela necessidade de sustentação oral, o mesmo convocará um ou alguns amici curiae para tanto, mas estes não têm o direito de realizar a sustentação, a depender da dimensão daquilo que é discutido em juízo.

Porém, para consolidar o tema, decidiu o Supremo Tribunal Federal, no RE n° 597.165, que o amigo da corte pode realizar sustentação oral, sob o argumento da pluralização do debate sobre o tema do processo, propiciando ao amicus uma maneira de intervir e conseguir mais espaço no processo, a fim de justificar sua admissão formal na causa.

Por fim, quanto aos poderes, limites e atuação do amigo da corte sob uma perspectiva geral, cumpre transcrever que “quanto maior a participação, experiência,

representatividade e conhecimento de causa do amicus curiae, maior será a repercussão jurídica de seus atos, tornando o desfecho do direito material cada vez mais vinculada àquele” (CAETANO, 2016, p. 1201).

5 CONCLUSÃO

O presente trabalho abordou uma modalidade de intervenção de terceiros, qual seja, o amicus curiae e para tanto, precisou-se abordar as outras modalidades interventivas e explicar qual a função de um terceiro no processo, diferenciando-o de parte.

Dessa forma, verificou-se que parte é quem demanda em seu próprio nome (ainda que representada) ou quem é demandado em determinado processo, e que terceiro é o sujeito que integra a lide ainda que este nada peça no processo ou nada possa ser exigido do mesmo.

Ademais, verificou-se que o amigo da corte possui peculiaridades frente às outras formas de intervenção. O interesse que move o amigo é institucional, é em prol de um segmento da sociedade que poderia sofrer os reflexos de uma decisão insegura e equivocada por parte dos magistrados, diferente do interesse que move os outros terceiros para dentro da lide.

Em um segundo momento, o trabalhou focou no estudo do instituto e constatou-se que o amicus curiae é um terceiro interveniente que tem como principal objetivo ampliar o debate sobre o objeto de um determinado litígio, através de esclarecimentos e informações trazidas pelo mesmo ao processo, tendo como consequência uma decisão judicial de mais qualidade e que traz mais segurança jurídica.

O último capítulo, por fim, tratou dos poderes do amigo da corte e de que maneira ele pode atuar para que sua função seja desempenhada de forma satisfatória. Assim, constatou- se que o legislador pré delimitou a área de atuação do amicus curiae em alguns aspectos. Isto é, a lei prevê alguns limites e também alguns poderes inerentes ao amicus. O amigo da corte tem o poder de opor embargos de declaração, de prestar sua manifestação escrita em quinze dias, de recorrer das decisões que julgam IRDR e tem o poder de requerer sua intervenção no processo, não necessitando ser chamado para tanto. Por outro lado, foi vedado ao mesmo a possibilidade de interposição de recursos, inclusive da decisão que denega a sua intervenção no processo.

Porém, o legislador também previu que o juiz definirá os poderes do amigo da corte ao longo do processo. Diante dessa premissa, tem-se que o amigo da corte pode atuar de forma vasta e contribuir muito com o julgamento a ser feito ao longo do mesmo, a depender do entendimento do magistrado, visto que analisando cada caso concreto, cabe ao mesmo conceder ao amicus mais poderes para que o mesmo possa atuar, participar ativamente do processo e ter voz, de forma a influir na decisão do magistrado.

Dessa forma, analisando a atuação do amigo da corte e seus objetivos como terceiro, conclui-se que o instituto é de suma importância e tem voz ativa no processo pois tem o poder

de contribuir muito com a qualidade das decisões judiciais, democratizando o debate judicial e tutelando direitos que não seriam observados se não fosse pela sua intervenção processual. Isso porque seus pareceres e atos realizados ao longo do processo podem servir como embasamento de uma futura decisão, ademais, podem servir como prova e evitar que decisões equivocadas sejam tomadas.

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