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A voz do amicus curiae no processo civil brasileiro

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Academic year: 2021

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TAINAN MARTINS DE CARVALHO

A VOZ DO AMICUS CURIAE NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO

Tubarão 2017

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TAINAN MARTINS DE CARVALHO

A VOZ DO AMICUS CURIAE NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e Sociedade

Orientador: Prof. Zulmar Duarte de Oliveira Júnior, Esp.

Tubarão 2017

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Dedico este trabalho à minha família, que desde meu nascimento foi o impulso para meu sucesso pessoal e profissional.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha família que é e sempre será inspiração diária para mim, pelo apoio e amor incondicional que me é dado todos os dias.

Agradeço aos meus amigos Bianca, Mônica, Emanuel e Taiane, que tornam meus dias mais fáceis e felizes, que torceram por mim e me apoiaram durante o todo esse período para que eu conseguisse finalizar o trabalho.

Agradeço à minha amiga Tainah, que estudou comigo todos esses anos e foi essencial para o meu crescimento acadêmico e pessoal, agradeço pelo seu apoio, atenção, amor, carinho e cuidado durante essa etapa tão importante da minha vida.

Agradeço ao meu orientador Zulmar, que sempre mostrou-se preocupado com o meu aprendizado em Processo Civil e que me auxiliou desde o princípio até a data de hoje, sendo a presença deste essencial para a realização do presente estudo.

Em suma, agradeço a todas as pessoas que de alguma forma agregaram para minha formação acadêmica.

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RESUMO

O presente trabalho tem como principal objetivo demonstrar qual a voz do amicus curiae no processo civil brasileiro, isto é, em que medida seus pareceres e esclarecimentos levados ao processo são importantes e considerados para fim de julgamento judicial. Para isso, quanto ao nível, o trabalho adota o método exploratório, quanto à abordagem foi adotada a técnica quantitativa e quanto ao procedimento na coleta de dados o sistema adotado foi o bibliográfico, utilizando o referencial publicado na literatura brasileira, bem como artigos científicos e acórdãos dos tribunais. A fim de trazer mais segurança jurídica às decisões judiciais, o legislador traz para o ordenamento jurídico a figura do amigo da corte, terceiro interveniente que tutela um interesse institucional por meio de prestação de informações úteis e esclarecimentos necessários dados em juízo para que uma decisão de mais qualidade seja tomada pelo juiz. Após a análise do conteúdo explanado, o resultado do presente estudo é que o amicus curiae tem voz ativa no processo civil e no ordenamento jurídico brasileiro, haja vista sua capacidade de propiciar uma maior discussão sobre o objeto do litígio, democratizando o debate e aumentando o coeficiente de legitimidade da decisão que será proferida pelo magistrado ao final de seu julgamento, podendo tomar como base a atuação do amigo da corte no processo e o que sua intervenção é capaz de agregar ao mesmo.

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ABSTRACT

The main purpose of this paper is to demonstrate the voice of the amicus curiae in the Brazilian civil process, that is, in what measures its opinions and clarifications in the process are important and considered for the purpose of judicial judgment. In order to do this, in terms of the level, the paper adopted the exploratory method, as for the approach was adopted the quantitative technique and as for the procedure in data collection the adopted system was the bibliographical, using the referential published in the Brazilian literature, as well as scientific articles and court judgments. In order to bring more legal certainty to judicial decisions, the legislature brought to the legal system the figure of the friend of the court, third party intervening to protect an institutional interest through the provision of useful information and necessary clarifications given in court so that a more qualified decision is taken by the judge. After analyzing the content explained, the result of the present study is that the amicus curiae has an active voice in the civil process and in the Brazilian legal system, given its ability to provide further discussion of the subject-matter of the dispute, democratizing the debate and increasing the coefficient of legitimacy of the decision that will be pronounced by the magistrate at the end of his trial, being able to take as base the action of the friend of the court in the process and what its intervention is able to add to the same.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 9

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA ... 9

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ... 10 1.3 JUSTIFICATIVA ... 10 1.4 OBJETIVOS ... 12 1.4.1 Objetivo geral ... 12 1.4.2 Objetivos específicos ... 12 1.5 DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO ... 12

1.5.1 Procedimento de coleta de dados ... 13

1.5.2 Análise de dados ... 13

1.6 ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS ... 13

2 PARTES E TERCEIROS NO PROCESSO ... 14

2.1 ANÁLISE DE TODAS AS FORMAS DE INTERVENÇÃO ... 16

2.1.1 Assistência ... 17

2.1.2 Denunciação da lide ... 19

2.1.3 Chamamento ao processo ... 20

2.1.4 Incidente de desconsideração da personalidade jurídica ... 22

2.1.5 Coisa julgada nas modalidades de intervenção ... 23

3 AMICUS CURIAE ... 24

3.1 ORIGEM DO INSTITUTO ... 24

3.2 DEFINIÇÃO E OBJETIVO ... 26

3.3 PREVISÃO LEGAL ... 26

3.4 REQUISITOS OBJETIVOS PARA ADMISSÃO DO INSTITUTO ... 27

3.4.1 Relevância da matéria ... 27

3.4.2 Especificidade do tema objeto da demanda ... 28

3.4.3 Repercussão social da controvérsia ... 28

3.5 REPRESENTATIVIDADE ADEQUADA ... 29

3.6 INTERESSE INSTITUCIONAL ... 29

3.7 INTERVENÇÃO PROVOCADA E ESPONTÂNEA ... 30

3.8 O AMICUS CURIAE DIANTE DE OUTROS SUJEITOS DO PROCESSO ... 31

3.8.1 Ministério público – custos legis ... 31

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3.9 HIPÓTESES DE CABIMENTO NO DIREITO BRASILEIRO ... 34

3.9.1 Comissão de valores mobiliários ... 34

3.9.2 Conselho administrativo de defesa econômica ... 34

3.9.3 Ordem dos advogados do Brasil ... 35

3.9.4 Instituto nacional da propriedade industrial ... 36

3.9.5 Pessoas jurídicas de direito público ... 36

3.9.6 Processo administrativo federal ... 37

3.9.7 Incidente de uniformização de jurisprudência perante os juizados especiais federais ... 37

3.9.8 Súmula vinculante do STF ... 37

3.9.9 Repercussão geral pelo STF no julgamento do recurso extraordinário ... 37

3.9.10 Controle de constitucionalidade concentrado ... 38

3.9.11 Controle de constitucionalidade difuso ... 38

3.9.12 Mandado de segurança ... 39

3.9.13 Juizados especiais ... 39

4 PODERES DO AMICUS CURIAE ... 40

4.1 INICIATIVA DA INTERVENÇÃO ... 41

4.2 PODER DE RECORRIBILIDADE ... 41

4.2.1 Decisão que solicita ou admite a intervenção do instituto ... 41

4.2.2 Embargos de declaração ... 42

4.2.3 Incidente de resolução de demandas repetitivas ... 42

4.3 ENFRENTAMENTO DAS RAZÕES APRESENTADAS PELO AMICUS CURIAE . 43 4.4 SUSTENTAÇÃO ORAL ... 44

5 CONCLUSÃO ... 46

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1 INTRODUÇÃO

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA

Há muito fala-se em meios e/ou métodos para que as decisões proferidas pelos magistrados tenham maior segurança jurídica e efetividade. Isto é, a busca pela decisão satisfatória e correta, isenta de vícios ou influências, desde muito tempo é objeto de estudo pelos doutrinadores processualistas.

O Novo Código de Processo Civil, em seu artigo 138, trouxe ao ordenamento jurídico brasileiro a figura do amicus curiae. Esta figura, por sua vez, traz consigo justamente a ideia de que um terceiro alheio àquela causa possa intervir em um processo judicial a fim de que a decisão prolatada ao final do mesmo alcance a justiça e o melhor resultado a uma coletividade, e não apenas as partes envolvidas ativamente na lide.

Para que o objetivo da intervenção do amicus curiae seja alcançado, o mesmo viabiliza e proporciona um amplo debate entre as partes e o juiz, acerca do assunto pautado na ação. Sendo assim, ele não deve ser visto apenas como um terceiro, e sim como um instituto processual que permite e viabiliza um maior debate sobre a questão apresentada na lide, aumentando o coeficiente de legitimidade da decisão a ser proferida na decisão judicial. Ademais, cumpre ressaltar que, o amicus curiae não recebe encargos processuais devido à sua intervenção no processo, pois o mesmo não possui interesse direto no objeto da lide. Pois, como já fora dito, o mesmo se faz presente para ampliar a interpretação do juiz de forma horizontal. Porém, esse novo método de intervenção trazido pela lei 13.105/2015 deixa muitas dúvidas e questionamentos quanto a sua aplicabilidade no processo civil, bem como a extensão de seus poderes, quem pode atuar como Amicus Curiae, qual a força da sua intervenção, entre outros.

Para descrever a situação problema do presente trabalho de conclusão de curso, é primordial a compreensão sobre o que é e como o Amicus Curiae está disposto no Código de Processo Civil. Para não adentrar no mérito da questão, mas de forma a deixar claro o conceito, vale destacar que o Amicus Curiae é um terceiro interveniente, que por meio de uma intervenção provocada ou espontânea busca levar informações ou prestar esclarecimentos sobre determinada matéria a fim de que o magistrado consiga observar o objeto pautado naquela lide de forma mais clara e lógica, elaborando assim um melhor e mais seguro convencimento.

Tal intervenção tem como base um interesse institucional de uma sociedade, ou seja, o chamado amigo da corte tem como principal escopo evitar que decisões afetem de forma

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negativa uma coletividade que não integra o polo ativo ou passivo da lide, mas que seria de alguma forma afetada pela decisão judicial proferida.

Para integrar essa figura ao Novo Código de Processo Civil, o legislador, entendendo ser este um terceiro em relação ao processo, o enquadrou no Título III do mesmo, que trata da Intervenção de Terceiros. Dessa forma, o Amicus Curiae encontra-se ao lado das demais formas de Intervenção de Terceiros, quais sejam: Assistência, Denunciação da Lide, Chamamento ao Processo e Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica.

Conceituado o objeto do trabalho e em qual lugar da lei o mesmo encontra respaldo, cumpre aqui destacar a problemática do presente tema. Como já foi dito, o Amicus Curiae viabiliza a intervenção no processo para que um interesse institucional seja protegido. Conforme defende Bueno (2012, p. 469):

O interesse institucional, destarte, tem o condão de dar rendimento à temática relacionada ao amicus curiae, colocando em relevo a intensidade e a qualidade do que o move para dentro do processo e que define o seu agir, a sua ‘função processual’. O ‘ser’ amicus curiae, destarte, só tem sentido dessa perspectiva de análise. É esse seu interesse que o distingue dos demais sujeitos do processo, dos demais terceiros, de todos aqueles que, a qualquer título, podem pretender intervir em processo alheio. O seu interesse, por definição, sobrepaira o das partes.

Porém, para tanto, ele necessita ter voz dentro do processo, tanto para prestar seus esclarecimentos e trazer informações pertinentes endereçadas ao juiz sobre o objeto da lide, quanto para recorrer, requisitar a produção de provas e afins. A partir desse pensamento, de que o amicus curiae precisa de espaço e força dentro do processo, para cumprir sua função precípua e servir ao Poder Judiciário de forma eficiente, é que surgem os questionamentos quanto ao limite de seus poderes e sua aplicabilidade prática.

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Qual a voz do amicus curiae no processo civil brasileiro?

1.3 JUSTIFICATIVA

Um estudo aprofundado sobre o tema apresentado no presente projeto de pesquisa jurídica é de suma importância para a melhor compreensão desse novo instituto que é o amicus curiae trazido pelo Novo Código de Processo Civil. Por tratar-se de uma novidade, visto que

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este somente fez-se presente de forma expressa no ordenamento jurídico brasileiro no ano de 2015, muitas dúvidas e especulações são diariamente produzidas em relação ao mesmo.

Para exemplificar alguns dos questionamentos, cumpre aqui transcrever a base legal do amicus curiae, qual seja, o artigo 138 do Código de Processo Civil, e a partir dele, destacá-los.

Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.

§ 1o A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência nem

autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a oposição de embargos de declaração

e a hipótese do § 3o.

§ 2o Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção,

definir os poderes do amicus curiae.

§ 3o O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de

demandas repetitivas (BRASIL, 2017a, p. 377).

O caput do referido artigo, deixa certo que a figura do Amicus Curiae somente poderá fazer-se presente no processo quando, por exemplo, a pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada que tenha representatividade adequada. Porém, qual o significado da chamada representatividade adequada? Quais os requisitos para tanto?

Ademais, o § 2º do referido texto legal defende a ideia de que cabe ao juiz ou relator da causa definir os poderes do Amicus Curiae. Entretanto, qual a extensão dos poderes do amigo da corte?

Sob o mesmo prisma, os §1º e §3º do mesmo trazem a possibilidade de recorribilidade do Amicus Curiae, deixando expresso o seu poder de recorrer de embargos de declaração e do incidente de resolução de demandas repetitivas. Partindo dessa previsão legal, indaga-se: a definição dos poderes realizada pelo juiz não engloba a recorribilidade? Até onde esse poder de recorribilidade pode chegar para que ele continue sendo considerado imparcial pelas partes e pelo magistrado? E o recurso cabível para a negativa da sua intervenção?

Questionamentos como esses acima formulados, instigam um estudo aprofundado sobre o referido tema, com o intuito de esclarecer qual a força da voz do Amicus Curiae dentro e fora do Processo Civil Brasileiro. Assim sendo, para que o mesmo consiga cumprir o seu papel no poder judiciário, é necessário o conhecimento deste instituto pelos acadêmicos e operadores do direito.

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1.4 OBJETIVOS

A seguir serão apresentados os objetivos geral e específicos do trabalho.

1.4.1 Objetivo geral

Analisar a função prática do amicus curiae e qual a sua voz no processo civil brasileiro.

1.4.2 Objetivos específicos

a) indicar qual a origem do amicus curiae, desde o direito estrangeiro, trazendo-o para o direito nacional até o momento em que o mesmo se fez presente no Código de Processo Civil;

b) descrever o que é amicus curiae e quais as hipóteses de cabimento da intervenção do mesmo;

c) comparar o amicus curiae com as demais formas de intervenção de terceiro, para, dessa forma, mostrar suas peculiaridades e diferenças;

d) explicar quais os requisitos necessários para que alguém possa intervir em determinado processo na qualidade de amicus curiae;

e) mostrar os poderes e limitações dados ao amicus curiae pelo legislador;

1.5 DESENVOLVIMENTO METODOLÓGICO

Quanto ao nível da pesquisa, a técnica adotada foi a exploratória, para Köche (1997, apud, LEONEL; MOTTA, 2007, p. 63), esta tem o objetivo de “desencadear um processo de investigação que identifique a natureza do fenômeno e aponte as características essenciais das variáveis que se quer estudar”.

Quanto à abordagem, a técnica utilizada foi a qualitativa, para Leonel e Motta (2007) esse tipo de pesquisa tem como principal objetivo entender e conhecer o entendimento dos sujeitos que pesquisam o mesmo assunto, isto é, que abordam a problemática objeto do trabalho.

Quanto ao procedimento na coleta de dados, a pesquisa classifica-se como bibliográfica. Esse tipo de procedimento, como aduzem Leonel e Motta (2007, p. 67) “se

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desenvolve tentando explicar um problema a partir das teorias publicadas em diversos tipos de fontes: livros, artigos, manuais, enciclopédias, anais, meios eletrônicos, etc”.

1.5.1 Procedimento de coleta de dados

Conforme exposto acima, a pesquisa bibliográfica tem como base a pesquisa em livros, artigos, meios eletrônicos e afins. Portanto, deduz-se que a coleta de dados para o presente estudo deu-se sob forma de pesquisa sobre livros de autores nacionais, jurisprudências do país e artigos científicos publicados em revistas jurídicas.

1.5.2 Análise de dados

O presente estudo tem como forma de abordagem, uma análise qualitativa. Como já dito, essa modalidade de abordagem tem como fundamento a possibilidade de conhecer e entender os mais variados entendimentos e visões sobre a questão que se debruça o presente estudo (LEONEL; MOTTA, 2007).

Assim sendo, cumpre esclarecer que o tema a ser estudado tem uma análise contextual, através da interpretação de conteúdos expostos em livros e afins.

1.6 ESTRUTURA DOS CAPÍTULOS

O primeiro capítulo está dividido em dois momentos, o primeiro é a exposição do conceito e definição do que são partes e do que são terceiros no processo. O segundo momento é a explicação sobre as modalidades de intervenção de terceiro.

O segundo capítulo trata especificamente sobre o amicus curiae, como sua origem, definição, formas de intervenção, hipóteses de cabimento, etc.

O terceiro e último capítulo trata dos poderes do amicus curiae e qual a extensão dos mesmos dentro do processo.

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2 PARTES E TERCEIROS NO PROCESSO

Conforme fora explanado nos tópicos anteriores, o amicus curiae está expresso no título III, capítulo V, da novel legislação processual civil. E sendo assim, verifica-se que o mesmo está positivado sistematicamente como modalidade de intervenção de terceiros. Porém, antes de adentrar no mérito e características do instituto, cumpre primeiramente destacar o que são partes e o que são terceiros no processo civil.

O conceito de parte pode ser subdividido sob dois prismas: o conceito de parte legítima para integrar a lide e o conceito puramente processual, sem observar se a mesma é capaz e/ou legítima para litigar. No tocante à legitimidade, parte é a pessoa titular da relação jurídica, podendo demandar em juízo o que entender ser seu direito (GRECO, 2003).

Já no plano do conceito processual, tem-se a capacidade processual, que apresenta três importantes aspectos: a capacidade de ser parte; a capacidade de estar em juízo e a capacidade postulatória. O primeiro aspecto, que é a capacidade de ser parte, diz respeito à condição de uma pessoa física ou jurídica ter direitos e obrigações, observada a lei civil. Já a capacidade de estar em juízo pressupõe que essa pessoa esteja no exercício de seus direitos, ou seja, é a capacidade de fato. Por fim, para ajuizar uma ação, além de capacidade processual e capacidade de estar em juízo, a parte precisa estar devidamente representada por um advogado habilitado para tanto1, isso é o que chamamos de capacidade postulatória (GRECO, 2003).

Em poucas palavras, capacidade processual é quando uma pessoa maior e capaz pode estar em juízo, por si só (ALVIM, 2012). Isto é, uma pessoa que possui capacidade civil pode ser parte num litígio.

A composição de uma lide dá-se, portanto, para além do magistrado, com a presença de dois sujeitos interessados na causa, qual seja, autor e réu, que apresentam argumentos e provas em prol de uma decisão favorável para si. O conceito de parte nesse contexto é processual. Nesse sentido, o autor torna-se parte desde que o mesmo realiza a propositura da ação e o réu vira parte a partir do momento que o mesmo é citado para integrar a lide (CARNEIRO, 2008).

Conforme o exposto, subtrai-se que a formação de uma relação jurídica processual simples se dá com uma pessoa no polo ativo, chamada de autor, e uma pessoa no polo passivo, chamada de réu. Porém, é possível que haja uma pluralidade de pessoas nesses polos,

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dependendo ser o objeto da demanda interesse de duas ou mais pessoas. Nesses casos, em que por afinidade ou conexão de fatos ou de direitos, duas pessoas podem estar em juízo – ocupando o mesmo polo – tutelando seus direitos, ocorre o litisconsórcio (CARNEIRO, 2008).

Por fim, no tocante ao conceito de parte, defende Chiovenda (2000, p. 278), que o mesmo está ligado ao conceito da relação processual e que “parte é aquele que demanda em seu próprio nome (ou em cujo nome é demandada) a atuação duma vontade da lei, e aquele em face de quem essa atuação é demandada”.

Por outro lado, segundo Didier (2007), o terceiro pode ser determinado por exclusão, confrontando-o com o conceito de parte. Dessa forma, tem-se que terceiro é todo aquele que integra a lide, ainda que este nada peça no processo ou nada possa ser exigido do mesmo.

Segundo Bueno (2001 apud CARNEIRO, 2008), para que se possa diferenciar quem é parte e quem é terceiro em um determinado processo, é importante observar o momento anterior à intervenção. Segundo este autor, verificando quem pediu e em face de quem foi pedido, momento anterior a intervenção, é possível constatar a legitimação ou não de outrem para atuar na lide como terceiro.

Verificada a legitimidade ou não de uma pessoa alheia ao processo, passará a integrá-lo como terceiro, é de suma importância lembrar qual a finalidade deste no litígio. Um terceiro que ingressa em determinada lide evita o ajuizamento de um processo autônomo, sendo que pode tutelar seus direitos dentro da relação jurídica já constituída. Dito isso, pode-se dizer que a intervenção de terceiros é incidental, porque acontece dentro de um processo em curso, consagrando a economia processual. Ademais, a intervenção de um terceiro no processo também traz segurança jurídica, porque evita decisões conflitantes.

Para que os terceiros ingressem ao processo, é importante ressaltar a divisão doutrinária que existe acerca das formas de intervenção, que são duas: a intervenção espontânea e a intervenção provocada.

A intervenção espontânea diz respeito ao terceiro que tem a iniciativa de integrar o processo, mas que não faz parte da relação processual, como é o caso da assistência e do amicus curiae.

Já a intervenção provocada não é de iniciativa do terceiro integrar a lide e sim de iniciativa de uma das partes do processo, que chama um terceiro alheio ao mesmo para integrá-lo. Esse tipo de intervenção é o que ocorre na denunciação da lide, no chamamento ao processo e no incidente de desconsideração da personalidade jurídica e, também, no amicus curiae, sendo

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este último considerado uma figura híbrida, pois a sua intervenção no processo pode ser tanto espontânea como provocada.

2.1 ANÁLISE DE TODAS AS FORMAS DE INTERVENÇÃO

Com o objetivo de demonstrar as peculiaridades do amicus curiae frente às outras modalidades de intervenção de terceiros, é de suma importância a exposição das mesmas. No antigo código eram previstas cinco delas: assistência, oposição, nomeação à autoria, denunciação da lide e chamamento ao processo. Porém, o novo código modificou em grande parte essa disposição, como será exposto a seguir.

Algumas dessas modalidades continuam previstas no ordenamento jurídico, quais sejam: a assistência, a denunciação da lide e o chamamento ao processo, que serão explanadas mais adiante. Por outro lado, a oposição e a nomeação, à autoria não mais estão previstas no Código de Processo Civil vigente no país.

A oposição, que consistia em uma nova ação ajuizada pelo terceiro contra as partes originárias do processo (GONÇALVES, 2014), deixou de ser considerada uma forma de intervenção de terceiros e passou a ser um procedimento especial, previsto no artigo 682 e seguintes do Código de Processo Civil, mas está fundamentalmente com as mesmas previsões, alterando-se apenas a sua natureza jurídica, já que no tocante à procedimento não houve muitas mudanças (NEVES, 2016).

A nomeação à autoria, que nada mais era do que uma correção do polo passivo da demanda, onde a parte ré originária demandava em juízo a sua substituição pelo verdadeiro legitimado na ação (GONÇALVES, 2014), também deixou de fazer parte do rol das intervenções de terceiro, e tal fenômeno passou a ser disciplinado no artigo 339 do Código de Processo Civil. No referido artigo, está disposto que o réu, não entendendo ser parte legítima no processo, deve indicar em preliminar de ilegitimidade da parte o sujeito passivo que deve integrar a lide em seu lugar – sempre que souber – sob pena de ser obrigado a arcar com as despesas processuais e eventuais prejuízos causados ao autor devido à falta de indicação.

Superadas as modalidades de intervenção, retiradas do rol de intervenção de terceiros no atual código, duas outras formas de intervenção passaram a integrar o referido rol, quais sejam: o incidente de desconsideração da personalidade jurídica e o amicus curiae, que serão devidamente estudados no presente trabalho.

Conforme exposto, depois de algumas alterações, o Código de Processo Civil conta com a presença de cinco modalidades de intervenção de terceiros: assistência, denunciação da

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lide, chamamento ao processo, incidente de desconsideração da personalidade jurídica e amicus curiae.

2.1.1 Assistência

O instituto da assistência foi de forma elogiável, inserido no rol das intervenções de terceiro previstas no novo código. Isso porque, no antigo, a assistência localizava-se na seção do litisconsórcio de maneira desorganizada. Agora, no entanto, o legislador, além de inseri-la no rol das intervenções, cuidou de tratar da assistência dividindo-a em três seções: disposições comuns, assistência simples e assistência litisconsorcial.

Assistência é a modalidade de intervenção em que um terceiro ajuda/auxilia o assistido, com o intuito de que este seja o vencedor da demanda (PANTALEÃO, 2016).

Tal modalidade de intervenção é admitida em qualquer tempo e grau de jurisdição, sendo que o assistente recebe o processo no estado em que este encontrar-se. Ademais, o instituto dar-se-á no processo de conhecimento, no cumprimento de sentença/processo de execução e por fim, no procedimento sumário, sendo vedada a utilização dessa modalidade nas causas dos Juizados Especiais, lei 9.099/1995 (PANTALEÃO, 2016).

Via de regra, o pedido de assistência é realizado por meio de petição simples direcionada ao juiz, sendo seu ingresso ou não na lide decidido através de decisão interlocutória recorrível por agravo de instrumento, conforme artigo 1015 do Código de Processo Civil.

Após o pedido de ingresso, as partes têm o prazo de quinze dias para apresentar impugnação, caso entendam que o terceiro não possui interesse jurídico para a intervenção. Havendo impugnação, o juiz, sem suspender o processo, decidirá pelo ingresso ou não do terceiro nos próprios autos. Caso não haja apresentação de impugnação e não seja caso de rejeição liminar, o juiz irá deferir o ingresso do terceiro como assistente (PANTALEÃO, 2016). Superadas as disposições gerais sobre o instituto da assistência, convém agora salientar as diferenças e peculiaridades da assistência simples e da assistência litisconsorcial.

Conforme Souza (2017), assistente simples é aquele que tem o objetivo de auxiliar o assistido com a finalidade de que este vença a lide, sem atuar na defesa de direito próprio, porém, contendo um interesse jurídico. Neste caso, existe uma relação jurídica entre o assistente e o assistido, não havendo vínculo entre o assistente e o adversário do assistido.

O artigo 121 do código de processo civil, dispõe que o assistente simples fica sujeito aos mesmos ônus processuais que o assistido. Segundo Cunha (2017), o litisconsorte simples

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“deve agir como auxiliar do assistido, não podendo praticar atos que sejam incompatíveis com a vontade deste, ou que a contrariem”.

O parágrafo único do artigo supramencionado dispõe que em caso de omissão ou revelia do assistido, o assistente será considerado seu substituto processual. Ou seja, tanto a omissão quanto à revelia não impede a atuação do assistente no processo.

Entretanto, no tocante à omissão do assistido, deve-se lembrar que não é toda e qualquer omissão que autorizam o seguimento da atuação do assistente no processo. Existem dois tipos de omissão - a negocial e a contumacial. Se a omissão for negocial, o assistente não pode contrariar a vontade do assistido, como é o caso, por exemplo, de o assistido expressamente manifestar vontade de não recorrer, nesse caso, o assistente não pode recorrer em seu lugar, pois estaria contrariando a sua vontade. Já se a omissão for contumacial, o assiste tem a liberdade de atuar livremente em favor do assistido. Portanto, conclui-se que as omissões referidas no texto da norma são contumaciais e não negociais (CUNHA, 2017).

Como já dito, é requisito da assistência que o terceiro interessado em intervir no processo tenha um interesse jurídico que deve ser demonstrado. Tal requisito, expressamente previsto no caput do artigo 119 do código de processo civil leva a constatação de que a assistência é uma intervenção típica.

Portanto, em suma, vale dizer que o assistente simples atua em nome próprio no processo para defender direito de outrem, porém, tem sua atuação limitada às vontades do assistido (CUNHA, 2017).

A assistência litisconsorcial conta com um terceiro, ele além de auxiliar o assistido para que este tenha sentença favorável, possui um direito próprio a ser defendido naquela demanda. Dessa forma, nesse tipo de assistência, há uma relação entre o direito do assistido e do assistente que vai de encontro ao do adversário do assistido (SOUZA, 2017).

Essa modalidade é figura próxima ao do litisconsórcio unitário, pois o assistente litisconsorcial tem legitimidade para agir em relação à sua situação. A sua própria pretensão poderia ter sido deduzida em juízo contra o adversário do assistido e será julgada pela sentença (PANTALEÃO, 2016, p. 1048).

No caso de omissão ou revelia do assistido, o assistente litisconsorcial, por seguir as regras do litisconsórcio unitário, conforme Gonçalves (2014, p. 200), litisconsórcio unitário é “aquele em que a sentença forçosamente há de ser a mesma para todos os litisconsortes, sendo juridicamente impossível que venha a ser diferente”, não fica impedido de continuar atuando

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no processo, ou seja, seus poderes e faculdades processuais não são afetados quando o assistido for omisso ou revel.

Cumpre ainda destacar que essa assistência litisconsorcial é facultativa ulterior, pois o mesmo atua da mesma forma que a parte originária no processo (CUNHA, 2017). Conforme Medina (2016, p. 229), “aquele que poderia ter figurado desde o início do processo, em litisconsórcio unitário e facultativo poderá ingressar no mesmo posteriormente, através da assistência litisconsorcial. Nesse caso, embora formado ulteriormente, haverá litisconsórcio unitário”.

Como já dito, o assistente litisconsorcial não segue a sorte do assistido, ou seja, não está sujeito às vontades deste. De acordo com Cunha (2017, p. 1) “qualquer omissão da parte originária, seja ela negocial ou não, é irrelevante, não interferindo na atuação do assistente litisconsorcial, pois este não tem seus poderes limitados à vontade do seu litisconsorte”.

No tocante a questão recursal, tendo em vista o que foi exposto acima, pode-se dizer que quando o assistido não interpor recurso no prazo legalmente previsto, é possível a interposição do mesmo por parte do assistente.

2.1.2 Denunciação da lide

A denunciação da lide é uma forma de intervenção de terceiros, que permite a existência de uma lide eventual dentro da lide principal. Isso porque, qualquer uma das partes originárias do processo, autor ou réu, podem chamar ao processo um terceiro com vistas a garantir o direito de regresso contra a pessoa denunciada no caso de eventual sucumbência do denunciante no processo principal.

O instituto torna possível a autor e réu de um processo exercer uma ação incidental de garantia justificada em razão do litígio e da possibilidade de uma superveniente diminuição de seu patrimônio caso se torne vencido (SANTOS, 2016, p. 1064).

Sendo assim, essas duas lides serão processadas ao mesmo tempo e julgadas pela mesma sentença, visando vangloriar o princípio da economia processual (PANTALEÃO, 2016).

O artigo 125 do código de processo civil elenca as hipóteses em que a denunciação da lide é permitida, quais sejam no caso de evicção, ou no caso de pessoa que esteja obrigada por lei ou contrato à indenização em ação de regresso.

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No tocante ao procedimento dessa modalidade de intervenção, autor ou réu podem requere-la na petição inicial e contestação, respectivamente. Caso eles não a promovam neste prazo estipulado, ou caso o juiz indefira a denunciação, cabe ainda o exercício do direito de regresso por meio de uma ação autônoma (PANTALEÃO, 2016).

Vale destacar que o denunciado pode denunciar somente um terceiro à lide e este não tem direito de denunciar uma outra pessoa depois. Conclui-se, portanto, no tocante a esse assunto, que em um processo podem haver quatro denunciações da lide, uma por cada parte originária e uma por cada denunciado.

Nessa forma de intervenção, existe também a possibilidade de cumprimento de sentença direto contra o denunciado, obedecendo o limite da condenação do mesmo na ação regressiva. Dessa forma, optou o legislador por observar a economia processual, aproveitando o mesmo processo para satisfação de um direito reconhecido (PANTALEÃO, 2016).

A denunciação da lide é uma faculdade das partes, no entanto, essa faculdade processual pode acarretar um prejuízo ao denunciante que acaba por ter a lide principal julgada procedente em seu favor. Nessa hipótese, o denunciante deverá arcar com as despesas da demanda que provocou contra o denunciado (SANTOS, 2016).

Santos (2016) lembra que tanto o denunciante quanto denunciado pode escolher qual posição processual deseja ocupar após a intervenção. Isso porque, no caso de o autor ser o denunciante, é faculdade do denunciado atuar como seu litisconsorte ou não, podendo este apenas atuar em sua defesa ou atuar na defesa do denunciante.

Por outro lado, quando o denunciante for o réu, existem dois possíveis caminhos: à revelia ou a confissão por parte do denunciado dos fatos alegados pelo autor na exordial. Nesses dois casos, o denunciado tem a faculdade de não mais prosseguir com sua defesa, restringindo sua atuação no processo à ação regressiva.

Superada a hipótese de o denunciante ser vencedor na ação principal – em que a denunciação restará prejudicada – importante também observar a hipótese de quando o denunciante é vencido na ação principal, hipótese essa em que, segundo o artigo 129 do código de processo civil, o juiz vai passar a julgar a denunciação da lide (MEDINA, 2016)

2.1.3 Chamamento ao processo

Essa modalidade de intervenção já prevista no código de 1973 e mantida pelo novo, traz para o réu, no processo de conhecimento, a possibilidade de ampliar o polo passivo da

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demanda, quando ocorrer alguma das três hipóteses previstas no artigo 130 do código de processo civil observando o princípio da economia processual (PANTALEÃO, 2016).

Já no chamamento ao processo, o réu da ação principal convoca para a disputa judicial pessoa que, tem, juntamente com ele, uma obrigação perante o autor da demanda principal, seja como fiador, seja como coobrigado solidário pela dívida aforada (MEDINA, 2016, p. 236).

Nessa modalidade, é garantida ao réu a faculdade de, conforme descreve Carneiro (2008, p. 161) “fazer citar os coobrigados a fim de que estes ingressem na relação jurídica processual como seus litisconsortes”. Diferente da denunciação da lide, neste caso, o réu requer em juízo a citação de um terceiro porque este, supostamente, também deve ao autor da demanda, tendo que integrar o polo passivo como litisconsorte (CARNEIRO, 2008).

Ainda sobre o ingresso deste terceiro no processo, o prazo para a citação do chamado é de trinta dias quando o mesmo residir na mesma comarca, caso resida em comarca diversa, o prazo passa a ser de trinta para sessenta dias (SANTOS, 2016).

Como já dito, o réu possui a faculdade e não a obrigação de requerer a citação de um terceiro que entenda também ser obrigado naquela demanda. Portanto, nada impede que, posteriormente, o réu ajuíze uma ação autônoma para cobrar do devedor principal ou codevedores o que lhe for de direito, através do direito regressivo (CARNEIRO, 2008).

Caso o magistrado entenda correto o chamamento ao processo e o terceiro passe a integrar o polo passivo da lide como litisconsorte, ficando também obrigado pelo débito em questão, a sentença formará título executivo em favor do credor, contra qualquer um dos réus condenados e não necessariamente em favor daquele que chamou o terceiro ao processo, chamante. Para que este faça uso do título executivo formado pela sentença, ele deve ter quitado a dívida, e então, está autorizado a cobrar o que lhe for de direito do outro devedor condenado por meio do seu direito de regresso utilizando o título executivo previamente formado (MEDINA, 2016).

Por fim, pode-se dizer que o chamamento ao processo é um instituto que permite que na mesma relação processual e na mesma ação terceiros que também assumiram a obrigação sejam responsabilizados, mesmo que não acionados originariamente pelo autor (BUENO, 2004).

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2.1.4 Incidente de desconsideração da personalidade jurídica

Para tratar dessa nova ferramenta trazida pelo código de processo civil em seu artigo 133 e seguintes, mas já existente na lei civil– artigo 50 – consumerista – artigo 28 – e tributária – artigo 116 – além de outras leis, é preciso lembrar que a pessoa jurídica possui personalidade jurídica diferente da dos seus sócios, já que aquela possui obrigações, direitos e patrimônios próprios (SANTOS, 2016).

Porém, vale dizer que o novo código regulou o procedimento desse incidente, ato que não foi realizado pelas leis que já o previam, como as supracitadas. Isto é, antes existia a previsão do incidente, hoje existe também o seu procedimento com a inserção deste instituto no mesmo.

É por meio desse incidente, portanto, que pode ser instaurado em todas as fases do processo de conhecimento, cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial, a pedido da parte ou do ministério público, que o juiz vai investigar, com direito a contraditório prévio da parte contrária, se ocorreu alguma das situações descritas nos artigos supramencionados (PANTALEÃO, 2016).

Verificada a referida ocorrência, é possível que o patrimônio do sócio passe a pertencer à sociedade, a fim de que o mesmo seja atingido e responda pelas obrigações e deveres contraídos pela sociedade. Além disso, deferida a desconsideração da personalidade jurídica, os sócios, além de passarem a ter responsabilização pessoal pela sociedade, vão passar a integrar o polo passivo da lide, motivo que explica o porquê de o referido incidente estar hoje inserido no rol de intervenção de terceiros do código de processo civil (PANTALEÃO, 2016). Devido a essa inclusão, a ação autônoma unicamente para este fim se torna dispensável, visando a celeridade processual (SANTOS, 2016).

Por outro lado, o código também trouxe em seu texto a possibilidade da desconsideração inversa da personalidade jurídica. Nessa modalidade, é o patrimônio da sociedade que é atingido, a fim de sanar eventual inadimplência contraída pelo sócio administrador da mesma.

O legislador, ao prever o procedimento do incidente no Novo Código, segundo Gajardoni (2017) garante que “os sócios e/ou a sociedade potencialmente atingidos pela decisão devem ser previamente ouvidos a respeito, admitindo-se a produção de provas a bem da comprovação de que não houve abuso de personalidade ou ocultação patrimonial”.

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Cumpre salientar que o novo código tratou de cuidar da parte procedimental da desconsideração da personalidade jurídica, não elencando os pressupostos para tanto, deixando tal tarefa para o direito material, de acordo com as especificidades de cada ramo do direito.

No que diz respeito a parte procedimental, portanto, a instauração do incidente suspende o processo, e como ato subsequente, há a citação dos sócios ou da pessoa jurídica para manifestação no prazo de quinze dias. O juiz deverá decidir o incidente por meio de parecer interlocutória, recorrível por agravo de instrumento, ou no caso de o incidente ser instaurado no tribunal, recorrível por agravo interno (SANTOS, 2016). Como consequência do deferimento de desconsideração da personalidade jurídica, conforme Santos (2016, p. 1071) tem-se a “ineficácia, em relação ao requerente, da alienação ou oneração de bens havida em fraude de execução”.

Finalmente, tem-se que o deferimento do pedido de desconsideração da personalidade jurídica acarreta a retificação do polo passivo da demanda, além de alterar a responsabilidade patrimonial sobre o objeto que se discute na demanda. Por isso, deve-se ter em mente a necessidade de um contraditório daquele que possa vir a ter seus bens atingidos, para que este participe do diálogo processual, obedecendo os ditames legais e garantindo um processo justo à todas as partes envolvidas no mesmo (PINHO; FONSECA, 2016).

2.1.5 Coisa julgada nas modalidades de intervenção

Conforme Souza (2017, p. 1) “coisa julgada representa a estabilidade daquilo que se decidiu entre as mesmas partes”, ou seja, a parte dispositiva da sentença, a que concede ou declara um direito a alguém, não pode ser rediscutida em uma futura ação, é imutável.

Dito isto, enfatiza-se que somente autor e réu ficam vinculados aos efeitos da coisa julgada (SOUZA, 2017). Isto é, os terceiros que ingressam no processo não são alcançados pelos efeitos da coisa julgada após a decisão dada pelo magistrado, conforme aduz o artigo 506 do código de processo civil, “a sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros” (BRASIL, 2017a, p. 418).

Entretanto, há uma exceção a essa regra quando trata-se de assistência simples. Isso porque, no artigo 123 do código de processo civil está disposto que o assistente simples não poderá discutir a justiça da decisão em processo posterior, salvo no caso das duas hipóteses elencadas nos incisos do artigo mencionado.

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3 AMICUS CURIAE

3.1 ORIGEM DO INSTITUTO

O Amicus Curiae tem origem no direito romano, com a figura do consilliarius romano, atuando como um colaborador neutro dos magistrados, buscando esclarecer questões que não eram somente jurídicas, auxiliando o juiz na tomada de decisões e sendo fiel ao mesmo (BUENO, 2012).

Segundo Criscuoli (1973 apud BUENO, 2012) foi a partir dessa atuação no direito romano que o direito inglês incorporou a figura do instituto, adaptando-o as suas necessidades. No início da sua atuação no direito inglês, o amicus curiae era representado por uma figura pública, mais especificamente o attorney general, com o objetivo de atualizar leis e precedentes que não eram de conhecimento dos magistrados. Segundo Bueno (2012, p. 115) a função do attorney general é “aquela exercida pelo Procurador-Geral da República e pelo Advogado-Geral da União”.

Como exemplo dessa atuação, no ano de 1686, Sir George Treby, membro do parlamento, atuou como amicus curiae informando com detalhes sobre a alteração de uma lei específica. Ademais, em 1736, tem-se outro exemplo da atuação do instituto, no caso Coxe vs. Philips, onde o amicus alertou o magistrado de que a referida ação era fraudulenta (BUENO, 2012).

O que a doutrina sublinha a respeito das primeiras manifestações do instituto no direito inglês é que os tribunais possuíam ampla liberdade (discretion) para admitir a participação do amicus e, consequentemente, para definir as possibilidades e os limites de sua atuação concreta (BUENO, 2012, p. 115).

Além de grande liberdade dos tribunais, como citado acima, os litigantes também contavam com a mesma para controlar e reger seus processos como melhor lhe satisfaziam, o que também contribuiu para um grande desenvolvimento do instituto no direito inglês. Ademais, cumpre destacar que com o passar do tempo a participação do amicus passou a ter mais justificativas, por se tratar de um terceiro que podia auxiliar os magistrados nas questões que não eram de seu conhecimento (BUENO, 2012).

No direito inglês atual, a atuação do instituto está restrita, portanto, aos casos em que o attorney general atua com o objetivo de tutelar os interesses da coroa inglesa.

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Já no direito norte-americano, a figura teve sua primeira aparição no ano de 1812, no caso The Schooner Exchange vs. McFadden, em que o attorney general foi chamado para participar do processo com o objetivo de que o mesmo desse seu parecer sobre o objeto da causa, questões relativas à marinha (BUENO, 2012).

Diante disso, verifica-se que o papel do amicus era exercido por um ente público. Porém, de forma gradativa, a jurisprudência norte-americana passou a admitir que particulares desempenhassem esse papel, visando tutelar interesses privados. Com isso, a quantidade de intervenção do amicus aumentou, e no ano de 1938 a suprema corte americana regulou a intervenção do mesmo (BUENO, 2012).

Já no Brasil, conforme Gajardoni et al. (2015) a resolução n. 390, de 17 de novembro de 2004 do conselho da Justiça Federal em seu artigo 23 § 1º trouxe a expressão amicus curiae. Porém, somente com a entrada em vigor da lei n. 9868 de 10 de novembro de 1999, em seu artigo 7º § 2º, é que o instituto ganhou uma grande visibilidade, admitindo a sua intervenção nos casos das ações direta de constitucionalidade e ação declaratória de constitucionalidade, através de órgãos e entidades (MAGALHÃES, 2011).

Apesar do caput do artigo acima citado trazer que não cabe intervenção de terceiros na ação direta de inconstitucionalidade, o seu parágrafo segundo permite uma abertura, no sentido de que determinadas entidades podem integrar a lide como terceiros intervenientes (BUENO, 2012).

Isso porque, também é possível que a pessoa responsável pelo julgamento da referida ação possa buscar meio de esclarecer algumas questões sobre o assunto pautado na mesma, a fim de tomar uma decisão com um maior coeficiente de legitimidade.

Bueno (2012, p. 155), entende que o terceiro a que refere-se o artigo 7o § 2o da lei 9.868/1999 deve ser entendido no sentido de que “o que se busca é a produção de melhor decisão jurisdicional, realizada, na medida do necessário, uma instrução quanto a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de dada norma”.

Partindo da premissa de que o amicus teve sua primeira aparição significativa no ordenamento brasileiro com a entrada em vigor da referida lei, e que desde então a sua intervenção tem sido cada vez mais vista no ordenamento jurídico brasileiro, acertou o legislador quando previu expressamente a possibilidade de intervenção do mesmo no processo civil brasileiro.

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3.2 DEFINIÇÃO E OBJETIVO

Amicus Curiae é uma expressão latina, segundo Bueno (2012), referida por Paulo Rónai, que significa amigo da cúria, ou seja, da justiça. Após a sua admissão no processo, o amigo da corte não se torna parte, mas sim um auxiliar do juízo, e é também em razão disso que o instituto se diferencia bastante das outras modalidades de intervenção de terceiros.

Segundo Neves (2012 apud LIMA, 2014, p. 19), o amicus curiae “contribui com a qualidade da decisão dando sua versão a respeito da matéria discutida”. Em outras palavras, o amigo visa ampliar a discussão sobre o objeto da demanda, viabilizando um maior conhecimento sobre o assunto, tendo como consequência uma decisão mais acertada e com um maior coeficiente de legitimidade por parte do magistrado. Isto é, a legitimidade da decisão é alcançada devido ao papel exercido pelo amicus, que agrega conhecimento ao debate que acontece no processo.

3.3 PREVISÃO LEGAL

Conforme descrito no tópico que versa sobre a origem do instituto, conclui-se que este já contava com algumas previsões legais no ordenamento jurídico brasileiro. Contudo, com a entrada em vigor do novo código de processo civil, este passou a ter uma previsão geral, aplicável a qualquer processo que não vede a sua intervenção.

Dessa forma, o legislador optou por inseri-lo no Título III - intervenção de terceiros, do Livro III - dos sujeitos do processo, e no artigo 138 do código de processo civil.

Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.

§ 1o A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência nem autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a oposição de embargos de declaração e a hipótese do § 3o.

§ 2o Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os poderes do amicus curiae.

§ 3o O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas repetitivas (BRASIL, 2017a, p. 377).

Devido à posição que o amigo da corte ocupa dentro do código, tem-se que a natureza jurídica do mesmo é de um terceiro interveniente.

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Entretanto, apesar de estar inserido no título das intervenções de terceiros, o amigo possui peculiaridades e características próprias, podendo dizer que este é um terceiro sui generis2, já que, como poderá ser constatado ao longo do presente trabalho, o mesmo difere muito das outras modalidades de intervenção aqui já explanadas (LIMA, 2014).

3.4 REQUISITOS OBJETIVOS PARA ADMISSÃO DO INSTITUTO

Tendo em vista a importância da intervenção do amicus no processo, o legislador pontuou alguns aspectos que devem ser observados de forma alternativa, para admitir sua atuação, quais sejam: relevância da matéria, especificidade do tema objeto da demanda e repercussão social da controvérsia.

Sobre o assunto, entende Caetano (2016, p. 1200), que os referidos aspectos:

[...] possuem razão de existir, inclusive para não se permitir desregrado tumulto processual, com a participação de aventureiros, de quem vise mera questão pessoal e de toda sorte de pessoa que almejem interesses escusos ou simples envolvimento midiático, sem real interesse e possibilidade de auxiliar na correta resolução do caso concreto.

3.4.1 Relevância da matéria

Este requisito objetivo impõe a ideia de que a matéria pautada no processo deve ser relevante, e primordial é a matéria que transcende o interesse das partes. Conforme Donizetti (2016a, p. 342), “a matéria discutida em juízo deve extravasar o âmbito das relações firmadas entre os litigantes”.

Nesse caso, o amigo deve conter um vasto e profundo conhecimento acerca da matéria, para que de fato consiga trazer informações que façam diferença no momento do julgamento realizado pelo juiz.

Nesse sentido, decidiu o Superior Tribunal de Justiça, que “o escopo da edição da norma legal viabilizadora da intervenção do amicus curiae é o de permitir ao julgador maiores elementos para a solução do conflito, que envolve, de regra, a defesa de matéria considerada de relevante interesse social” (BRASIL, 2006, p. 1).

2Significado do termo sui generis: sem semelhança com nenhum outro, único no seu gênero; original, peculiar,

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3.4.2 Especificidade do tema objeto da demanda

Da mesma forma, também não se justifica a intervenção do amicus quando a matéria debatida no processo é de amplo domínio público ou exaustivamente debatida na prática judiciária.

Isto é, o objeto da demanda deve conter particularidades, técnicas ou científicas, que exijam esclarecimentos e prestação de informações úteis ao convencimento do juiz e proferimento de futura decisão.

Sendo assim, quando o objeto do litígio tratar-se de tema específico, o amigo da corte pode contribuir para dirimir dúvidas sobre o assunto, agregar informações e esclarecer quaisquer omissões ou contradições que possam pairar sobre o tema ao longo do processo, haja vista o amplo conhecimento que detém o amigo da corte sobre o tema específico, pouco conhecido pelas partes e pelo magistrado, figura esta que, nesses casos, deve contar com a ajuda do amigo da corte para a tomada de decisão.

3.4.3 Repercussão social da controvérsia

Outro ponto importante para admissão da atuação do amicus no processo é que o objeto da lide não deve, em regra, tratar-se de assunto de cunho pessoal dos litigantes. Ou seja, a questão pautada deve envolver questões políticas, econômicas e sociais, abrangendo grandes segmentos da sociedade (CAETANO, 2016).

Sendo assim, o julgador deve se atentar não só ao aspecto jurídico da causa, mas também na repercussão e/ou reflexos que a sua decisão causará fora do processo.

Outrossim, o amigo deve representar de maneira eficaz o segmento da sociedade que seria de alguma forma afetado pela repercussão social direta ou indiretamente pela decisão prolatada.

Medina (2016, p. 246), cita um exemplo da intervenção do amicus em um caso que tenha repercussão social:

É o que pode ocorrer, por exemplo, em ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público com o intuito de determinar a cessação das atividades de uma empresa, sob o argumento de que a mesma não estaria a observar condições de funcionamento seguras, podendo vir a causar prejuízos ao meio ambiente. Nesse caso, justifica-se, a nosso ver, a manifestação de órgãos de proteção ao meio ambiente, bem como de órgãos que representem a referida atividade empresarial.

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Outro exemplo também citado por Medina (2016, p. 246) é:

Pense-se, ainda, na ação ajuizada por fabricante de medicamento contra órgão governamental responsável pela liberação da comercialização do mesmo, em que deve ser permitida a participação, como amicus curiae, de entidades relacionadas à proteção à saúde, bem como de órgãos representativos do ramo empresarial relacionado à comercialização de medicamentos etc.

Nesse sentido, Medina (2016) conclui seu pensamento defendendo que a admissão ou não de amicus curiae em determinada causa deve observar a importância do bem jurídico ali tutelado e a eventual repercussão social da decisão que for tomada.

3.5 REPRESENTATIVIDADE ADEQUADA

Para que a atuação do amigo da corte dentro de um processo justifique-se, é preciso que o mesmo represente de forma eficaz a coletividade que não tem legitimidade para atuar no processo, expondo seus interesses e direitos. Caso o mesmo não possua essa representatividade, ele não deve intervir em qualquer processo.

Porém, cumpre lembrar que ter representatividade adequada não significa dizer que o mesmo precisa ter unanimidade de opinião e interesse daqueles que ele representa (BUENO, 2012). Isto é, o amigo da corte representa um segmento da sociedade, que pode ser maioria ou minoria, buscando levar informações ao juízo que poderão influir na decisão do magistrado, decisão essa que refletirá direta ou indiretamente na coletividade representada em juízo pelo por ele.

3.6 INTERESSE INSTITUCIONAL

O que enseja a atuação do amicus curiae no processo é o chamado interesse institucional, entendido como aquele que ultrapassa os interesses de um único indivíduo. Devido a essa característica, trata-se de um interesse metaindividual, consequência de uma sociedade pluralista e democrática (BUENO, 2012).

Sendo assim, pode-se dizer que o amigo da corte atua em juízo com o objetivo de defender um interesse que não é seu, e que também pode não ter ninguém como titular, mas sim uma coletividade, que de certa forma será afetada pela decisão tomada pelo magistrado.

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O chamado “interesse institucional” autoriza o ingresso do amicus curiae em processo alheio para que a decisão a ser proferida leve em consideração as informações disponíveis sobre os impactos do que será decidido perante aqueles grupos, que estão fora do processo e que, pela intervenção aqui discutida, conseguem dele participar (BUENO, 2012, p. 116).

Por outro lado, também Bueno (2012) defende que o interesse do amicus para ingressar em determinado processo é jurídico, mas não um jurídico subjetivado – aquele que contém o assistente, por exemplo – e sim jurídico porque é previsto e tutelado pela ordem jurídica como um todo.

O interesse institucional, conteúdo, é interesse jurídico, especialmente qualificado, porque transcende o interesse individual das partes. E é jurídico no sentido de estar previsto pelo sistema, a ele pertencer, e merecedor, por isso, de especial proteção ou salvaguarda. Trata-se, inequivocamente, de ‘direito’ porque digno de tutela no plano material e, no que nos interessa mais de perto em função do objeto do presente trabalho, também no plano processual (BUENO, 2012, p. 460).

Além de jurídico, o interesse institucional também é público, isso porque transcende o interesse individual dos litigantes e, mais importante, porque transcende o interesse do próprio amicus.

Porém, cumpre salientar que quando se fala em interesse público, este não diz respeito ao interesse estatal, mas sim no sentido de que os valores representados pelo Estado devem ser observados e cumpridos.

Diante o exposto, pode-se dizer que o amicus tem uma função de legitimação da decisão a ser proferida pelo magistrado, porque leva até o mesmo as informações que não seriam obtidas de outra maneira, ou caso o fossem, seriam de maneira suficiente para ensejar um bom convencimento do juiz.

Nesse sentido, muito difere o amigo das outras formas de intervenção de terceiros elencadas pelo código de processo civil. Pois como já dito, este não tem interesse jurídico propriamente dito, ou seja, ele não atua no processo em prol de uma decisão favorável para si ou para satisfazer direito seu, que é o que acontece na assistência, na denunciação da lide e no chamamento ao processo.

3.7 INTERVENÇÃO PROVOCADA E ESPONTÂNEA

Para uma melhor compreensão da atuação do instituto no ordenamento jurídico, é de suma importância a classificação do mesmo quanto a sua forma de intervenção, se a mesma é provocada ou espontânea.

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É provocada quando o amicus intervém no processo por determinação do juiz, mesmo que a requerimento das partes. Por outro lado, é espontânea quando é iniciativa do próprio amicus intervir no processo.

No tocante à intervenção provocada, deve-se tomar cuidado para que não haja confusão entre o termo provocado e obrigatório. Isso porque obrigatória é a intimação do amicus para que este compareça no processo, mas não sua intervenção propriamente dita. Isto é, a intimação do amicus deve ser feita, mas se o mesmo entender que não há motivos para intervir, essa decisão fica a seu livre arbítrio (BUENO, 2012).

Outrossim, a intervenção provocada é no sentido que ao juiz é imposto o dever de provocar o ingresso do amigo da corte no processo. Após esse momento, não é obrigatória a intervenção do mesmo se este entender não ser o caso.

Nesse sentido, é importante pontuar:

[...] o que é ‘obrigatório’ é a intimação do amicus, é a sua provocação para ingressar no processo: é o reconhecimento formal de que ele, amicus, tem a possibilidade de se manifestar em juízo. Não há obrigatoriedade, contudo, na sua concreta manifestação em juízo. Por isso, optamos pelo nome ‘intervenção provocada’, para que não de a falsa impressão de que a intervenção é obrigatória. Ela não é (BUENO, 2012, p. 477, grifo do autor).

Isto posto, concluir-se que a omissão do amigo da corte no sentido de intervir no processo não acarreta ao mesmo, qualquer consequência derivada da sua omissão ou de eventual sucumbência. Diferente da assistência simples, por exemplo, onde o assistente segue a sorte do assistido, ou seja, aquele está sujeito aos mesmos ônus processuais deste.

3.8 O AMICUS CURIAE DIANTE DE OUTROS SUJEITOS DO PROCESSO

Diante de todas as características, peculiaridades e objetivos traçados acerca do instituto, é possível agora comparar o mesmo com outros sujeitos do processo.

3.8.1 Ministério público – custos legis

Primeiramente, cumpre destacar que tanto o ministério público quanto o amicus curiae, não atuam em juízo tutelando interesse próprio. Isso porque o ministério público possui um interesse específico, qual seja, proteger o ordenamento jurídico, zelar pelo seu justo e correto funcionamento. Diferente do amigo da corte que não possui interesse específico, mas

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sim um interesse institucional, seja lá qual for a matéria ou objeto do mesmo, que será tutelado em juízo por meio da sua intervenção.

Alguns entes como a CVM e o CADE, por exemplo, foram criados por lei para tutelar direitos determinados, específicos, em razão do seu vasto conhecimento sobre o assunto. Dessa forma, quando esses entes atuam dentro dos processos como amicus curiae, o objetivo não é substituir ou colocar em segundo plano a atuação do custos legis – nas causas em que este é chamado para prestar pareceres – mas agregar ao debate outras maneiras de obtenção de conhecimento, criando um verdadeiro diálogo institucional (BUENO, 2012).

Apesar do interesse específico do ministério público como custos legis, entende-se que ambos institutos podem trabalhar de maneira harmônica dentro do processo, com vistas a contribuir para um bom convencimento do magistrado sobre os debates realizados.

Outrossim, cumpre salientar que o amigo da corte possui diferenças em relação ao custos legis, como por exemplo no tocante à obrigatoriedade da sua intervenção. Isso porque o amigo não é obrigado a intervir no processo se entender que não é necessário ou oportuno, já quando ministério público identifica uma situação em que a lei exija a sua atuação, o mesmo não pode se eximir e ignorar a causa, observando o princípio da legalidade. Outra diferença é que ministério público visa tutelar direitos indisponíveis, diferente do amigo da corte que tutela interesses institucionais.

3.8.2 Perito

Primeiramente, vale salientar que existe diferença entre perito e prova pericial. O perito é um auxiliar da justiça, é aquela pessoa nomeada pelo magistrado que possui conhecimento técnico acerca de assuntos não jurídicos que fazem parte do processo. Sendo assim, ele tem o objetivo de elucidar fatos, fornecendo ao juiz meios para que este forme sua convicção (BUENO, 2012).

Já a prova pericial é o mecanismo utilizado pelo perito para levar ao juiz este conhecimento, que pode influenciar no julgamento deste sobre a matéria discutida em juízo e alterar seu convencimento na hora de proferir uma decisão. Nesse sentido, confirma Bueno (2012, p. 404), que “a compreensão de um dado, de uma experiencia, de um elemento, de uma situação ‘não jurídica’ é que justifica, em cada caso concreto, a prova pericial”.

Em dado momento, o instituto pode estar relacionado à instrução do processual, e então possui semelhanças à função desempenhada pelo perito, mais precisamente, pela prova pericial. Isto é, os esclarecimentos e informações prestados pelo amigo da corte podem ter força

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probatória, a depender do convencimento do juiz, mas sua atuação no processo não deve ficar limitada a isso – como é o caso dos peritos – já que também é seu papel no processo propiciar meios para que o magistrado reconheça e concretize direitos (SANTOS, 2016).

Novamente, cumpre dizer que a intenção não é causar a substituição da figura do perito pela figura do amicus dentro do processo, mas é elogiável a ideia de que ambos os institutos têm condições de levar ao juiz informações e esclarecimentos importantes, propiciando uma decisão que melhor equilibre e solucione os conflitos de uma sociedade, consagrando o princípio da cooperação.

Porém, é importante destacar que existem muitas diferenças entre o amigo da corte e o perito. O amigo pode intervir no processo mediante sua própria iniciativa, não necessitando esperar pelo chamado do magistrado – quando este entender que é cabível, a chamada intervenção provocada – já o perito somente atua no processo mediante um chamamento do juiz para tanto (LIMA, 2014).

Outro ponto que os difere, é no tocante à remuneração pelo serviço prestado, já que o amigo da corte não recebe qualquer valor pelos esclarecimentos prestados em juízo, bem diferente do perito que exige honorários periciais para confecção do laudo pericial.

Salienta-se ainda, que o amigo da corte não tem a obrigação de ser imparcial, visto que após a sua intervenção no processo, as informações trazidas pelo mesmo vão, de alguma forma, beneficiar alguma das partes, ainda que seu interesse seja uma decisão que satisfaça um interesse institucional e não beneficiar autor ou réu, porém isso será consequência da sua intervenção. Já o perito deve agir de forma imparcial, pois este não tem interesse sobre a decisão que será futuramente prolatada, mas tão somente prestar esclarecimentos técnicos sobre o objeto da causa.

Por fim, sobre as diferenças entre o perito e o amigo da corte, é conveniente transcrever uma das mais pontuais, como nos ensina de Lima (2014, p. 87, grifo nosso):

Pode-se destacar como capital diferença o alcance da atuação dos institutos: o

desempenho do perito vislumbra o âmbito da demanda discutida, servindo como

instrumento de prova, sopesando determinado fato controvertido notado pelo magistrado e proferindo laudo técnico, ao passo que o amicus curiae serve como

intercâmbio entre a sociedade e a relação jurídica processual, ‘representando’ os

anseios da coletividade para com o processo em tela e fornecendo ao magistrado dados não jurídicos capazes de influenciar seu pensamento.

(35)

3.9 HIPÓTESES DE CABIMENTO NO DIREITO BRASILEIRO

3.9.1 Comissão de valores mobiliários

A CVM3 atua em processos que discutem o mercado de capitais, porque geralmente o magistrado não possui conhecimento vasto e claro acerca desse tema, situação na qual a CVM, exercendo o papel de amigo da corte, intervém no processo a fim de clarear o entendimento do juiz sobre questões técnicas relativas ao tema (LIMA, 2014).

Nesse sentido, já se manifestou Tavares (2014 apud LIMA, 2014, p. 29), advogando que:

A comissão de Valores Mobiliários deverá traduzir para o juiz aquelas impressões e conclusões que colheram no exame dos fatos do processo, tornando acessível ao conhecimento do magistrado aquilo que normalmente ele não poderia conseguir sozinho, ou somente o conseguiria, após um ingente esforço.

Dessa maneira, a atuação da comissão se encaixa perfeitamente nos moldes para caracterizar o amicus, visto que seu interesse é institucional, ou seja, visa proporcionar uma decisão legítima e correta com base em informações imprescindíveis para a prolação da mesma.

3.9.2 Conselho administrativo de defesa econômica

O conselho administrativo de defesa econômica – CADE4, atua nos processos em que se debate a aplicação de qualquer dispositivo desta lei (LIMA, 2014). A lei trata de formas de prevenção e de repressão quando acontece alguma infração à ordem econômica. Então, nos processos que tenham como objeto a aplicação de alguma das normas da lei, o CADE pode intervir para eventuais esclarecimentos.

O texto do referido artigo de lei trata o CADE como sendo um assistente. Porém, alguns doutrinadores como Bueno, Cabral e Didier entendem não ser o caso de assistência, já que o instituto não possui interesse próprio na lide, e sim um interesse que transcende a sua esfera jurídica, sendo assim, inviável ter sua atuação no processo chamada de assistência (LIMA, 2014).

3 Autarquia especial criada pelo art. 5o da Lei n. 6.385/76, na redação da Lei n. 10.411, de 26 de fevereiro de 2002.

Referências

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