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A discussão sobre o enquadramento teórico subjacente à divulgação voluntária de informação sobre capital intelectual ainda é recente. Diversas teorias foram adoptadas a partir da literatura de relatórios sociais e ambientais (Bozzolan et al., 2003; Guthrie et al., 2004).

Podem ser identificados uma multiplicidade de motivos que conduzem as empresas a divulgarem informação sem ser imposta por qualquer regulamentação, isto é, existem várias motivações para o relato voluntário. A divulgação de informação sobre a maioria dos itens que pode compor o capital intelectual ocorre de forma voluntária e é uma prática crescente entre as empresas, nos dias de hoje, uma vez que essa é uma forma das empresas responderem a mudanças estruturais, assim como manter uma interacção mais transparente com os seus stakeholders.

Para Guthrie et al. (2007) existem numerosos incentivos para que as empresas divulguem o seu capital intelectual. O principal incentivo, em consonância com o principio “o que é medido é gerido”, é tornar visível o invisível (Cooper e Sherer, 1984).

Os incentivos à divulgação de informação sobre capital intelectual, segundo Guthrie et al. (1999) podem ser decompostos nos relacionados com a envolvente externa que influencia a empresa e nos relacionados com as actividades externas da empresa (Figura 3-1).

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Figura 3-1: Incentivos para medir e divulgar o capital intelectual

Fonte: Guthrie et al. (2007)

Estas motivações externas e internas são consistentes com algumas teorias que alguns autores utilizam para explicitar as motivações para a divulgação de informação e entre essas diversas teorias podem ser destacadas a teoria da agência, a teoria da sinalização, a teoria da legitimidade e a teoria dos stakeholders.

A teoria da legitimidade e a teoria dos stakeholders são derivadas da teoria político- económica e ambas vêem a inclusão de informações no relatório de gestão como tendo uma base social e política, assim como por razões económicas (Gray et al., 1995).

A teoria dos stakeholders pretende que a gestão de uma organização se envolva, e divulgue as actividades que são esperadas pelos stakeholders (Clarkson, 1995; Guthrie et al., 2004) e que os stakeholders têm o direito de serem informados sobre como as actividades da organização os podem afectar (Vergauwen e Alem, 2005). A perspectiva ética da teoria dos stakeholders argumenta que os stakeholders mais fracos têm de ser

Divulgação do capital intelectual

Transparência Tornar visível o invisivel

Externo

Dependência

dos recursos Stakeholders

Construção de imagem e reputação Distribuição/ coordenação de recursos Melhoria da produção / eficiência Motivação Interno

47 compensados pela informação que maiores e mais poderosos stakeholders tenham obtido em reuniões privadas (Holland, 2001).

O fornecimento de informações de gestão pode ser vista como um elemento para obter o apoio e aprovação dos stakeholders (por exemplo, a confiança dos empregados (Meer- Kooistra e Zijlstra, 2001)), ou distrair a sua oposição e desaprovação (Gray et al., 1995). Portanto, os stakeholders necessitam de informações sobre os activos relevantes das empresas, e elevados níveis de capital intelectual exigem elevados níveis de divulgação voluntária de informação nos relatórios anuais. Os stakeholders precisam de comunicar ao mercado como a empresa utiliza o seu capital intelectual para gerar valor (Meer- Kooistra e Zijlstra, 2001; Mouritsen et al., 2004).

A teoria da sinalização é uma teoria mais relacionada com os mercados e investimentos e pode ser utilizada para explicar a divulgação de informação sobre capital intelectual. Geralmente os administradores reconhecem que uma empresa pode obter benefícios económicos a partir de uma política de divulgação eficaz (Williams, 2001). A teoria da sinalização propõe que a organização tentará dar sinal positivo aos investidores através do mecanismo de relatórios anuais (Oliveira et al., 2006).

Divulgações voluntárias de capital intelectual podem permitir aos investidores e outros stakeholders avaliar melhor as capacidades da empresa de criar riqueza, permitir uma avaliação mais precisa da empresa e diminuir a sua percepção de risco (Botosan, 1997; Williams, 2001; Meer-Kooistra e Zijlstra, 2001). Por conseguinte, as taxas de juros e custo de capital da empresa podem cair (Mouritsen et al., 2004; Vergauwen e Alem, 2005). Portanto, a administração nas empresas com elevados níveis de capital intelectual será motivada para sinalizar ao mercado nos seus relatórios anuais, as informações positivas sobre os activos intangíveis. Pelo contrário, no entanto, Meer- Kooistra e Zijlstra (2001) e Williams (2001) sugerem que as empresas com alto níveis de desempenho do capital intelectual estariam relutantes em divulgar informações sobre o capital intelectual por causa de uma possível ameaça para a vantagem competitiva de uma empresa.

Com a transição para economia global assente no conhecimento, as demonstrações financeiras convencionais são cada vez menos adequadas e os investidores estão agora exigindo um conjunto mais diversificado de informações de fácil utilização (por

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exemplo, despesas de investigação e desenvolvimento, a satisfação do cliente (Bukh, 2003)), a experiência de gestão e quota de mercado (Eccles et al., 2001). Essa informação ajuda a proporcionar uma visão mais transparente da empresa (Meer- Kooistra e Zijlstra, 2001), e auxilia os utilizadores a tomar decisões (Beattie e Pratt, 2002; Vergauwen e Alem, 2005). Empresas com elevados níveis de capital intelectual podem incluir divulgações de capital intelectual nos seus relatórios anuais, a fim de satisfazer as exigências de informação dos investidores actuais e potenciais e, portanto, manter ou atrair recursos valiosos.

É de referir, por outro lado, dois possíveis obstáculos importantes para a divulgação voluntária de informação sobre capital intelectual. Os elevados custos de desenvolvimento e divulgação de medidas de capital intelectual (Abdolmohammadi, 2005), mais o potencial para a divulgação de elementos de vantagem competitiva e, portanto, com danos nos retornos futuros (Williams, 2001; Bozzolan et al., 2003), pode superar completamente quaisquer benefícios que revertam para a empresa através da divulgação voluntária de informação sobre capital intelectual. São necessários mais estudos para confirmar a aplicabilidade de qualquer uma destas motivações e/ou desincentivos. A pesquisa futura poderia, então, consistir em entrevistas em profundidade com os membros das organizações a fim de explicar as razões pelas quais essa relação pode ou não existir, e se esses motivos são os mesmos que os identificados por Meer-Kooistra e Zijlstra (2001), Williams (2001) e Abdolmohammadi (2005).

Pelo exposto pode-se afirmar que não é apenas uma teoria que consegue explicar por si só as motivações inerentes à divulgação voluntária de informação, sendo assim necessária a sua articulação para a explicação deste fenómeno. As teorias não competem umas com as outras mas complementam-se sendo certo que, em determinados contextos, algumas destas teorias prevalecerão sobre as outras.

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