• Nenhum resultado encontrado

Mais do que o tradicional “estado da arte”, entendido como ponto de situação

dos conhecimentos gerais sobre um determinado tema ou metodologia, que ficará feito

mais à frente

147

, o que se pretende com este apartado é delinear o quadro historiográfico

mais imediato da investigação. O que obrigará a uma referência primeira à

historiografia portuguesa (ao medievalismo em geral, à história agrária medieval e,

muito particularmente, ao estudo da Alta Idade Média); mas também ao inevitável

enquadramento do presente trabalho na historiografia espanhola: o único caminho para

que possamos evitar o anacronismo crasso que seria entender a realidade portucalense

como especificamente portuguesa, e sobretudo a via mais cómoda para a integração do

nosso trabalho num horizonte de problemáticas especificamente hispânicas e

genericamente europeias que a historiografia espanhola leva já bem mais desenvolvidas.

O medievalismo português enfrenta hoje, em bloco, com a investigação sobre a

Idade Média tardia incluída, claras manifestações de crise. Como notaram recentemente

B. V. e Sousa e S. Boissellier: «Après quelque euphorie, le temps est maintenant à

l’appréhension»

148

. De resto, uma crise que fora já prevista há quase 25 anos por A. L.

de C. Homem, A. A. Andrade e L. C. Amaral, tendo em vista as condições

institucionais de enquadramento da produção historiográfica portuguesa que então

começavam a desenhar-se

149

; e que, tendo-se agravado nos últimos anos, explicam o

“pessimismo” que o primeiro autor manteve num balanço mais recente (de 2001), em

que já se refere especificamente à «relativa ‘perda de velocidade’ da história rural»

(contrastando com a investigação sobre história urbana)

150

, bem como o prognóstico

147 V. infra Parte I, §1. 148

SOUSA; BOISSELLIER, 2006 – «Pour un bilan…»: 226.

149 HOMEM; ANDRADE; AMARAL, 1988 – «Por onde vem…»: 137-38. Vale a pena recordar aqui o

parágrafo final deste balanço: «Cenário apocalíptico? A concretizar-se, forçosamente? Esperemos que não. De outro modo plausível será que daqui a vinte anos, quando alguém, nesta ou em qualquer outra revista, proceder ao balanço do medievalismo do fim do milénio, bem possa afirmar que a última década do século XX deixou perder o que, em tal matéria, tanto custara a erguer na penúltima e na antepenúltima. O que, se acontecer, será mau. Muito mau» (ibidem, p. 138).

150 HOMEM, 2001 – «O Medievismo em Liberdade…»: 187 (história agrária) e 206 (“pessimismo”). O

autor não deixa, contudo, de reconhecer os significativos progressos registados pelo medievalismo português ao longo da década de 1990 (ibidem, p. 207).

74

com que o último autor encara os próximos anos num recentíssimo balanço da história

rural medieval portuguesa

151

.

De resto, se exceptuarmos um pequeno conjunto de obras, que se contam quase

pelos dedos de uma mão, como notou S. Conde, são praticamente inexistentes os

trabalhos de história rural no medievalismo português anterior aos anos 1940-1950

152

.

Percebe-se assim porque «coube (…) a um geógrafo, Orlando Ribeiro, não só o

pioneirismo na abordagem económica e social das temáticas rurais e urbanas, mas

também o mérito de ter compreendido e sublinhado, pela primeira vez entre nós, a

relevância dos factores antrópicos e da dimensão histórica no estudo dos fenómenos

espaciais»

153

. Os anos 1960 iniciam uma viragem importante, com a publicação de

trabalhos basilares, mas são sobretudo as décadas de 1980 e, já em menor medida, de

1990 a assistir ao progresso assinalável dos estudos de história rural que todos os

balanços historiográficos reconhecem, com destaque para os trabalhos centrados na

análise monográfica de senhorios (laicos e sobretudo eclesiásticos) e de regiões

154

.

Ainda que uma recente, e lapidar, afirmação de J. Mattoso, a propósito da falta de

151

«(…) it is important to state that the multiple contingencies besetting our national universities – the almost exclusive territory for the production of medieval rural history – do not augur for a peaceful future» (AMARAL, 2011 – «Half a century…»: 321).

152 CONDE, 2000 – Uma paisagem…, I: 11. Aos trabalhos assinalados pelo autor, da autoria de Alberto

Sampaio, A. Costa Lobo e Jaime Cortesão (ibidem, p. 11, nt. 2), devemos acrescentar, como notou L. C. Amaral, os nomes de Gama Barros, entre os historiadores, já que a sua História da Administração Pública… «despite its markedly positivist and institutional imprint, included hundreds of pages on population and social groups, types of property and status, agriculture, hunting and fishing, rural industries, etc.» (AMARAL, 2011 – «Half a century…»: 306); bem como os de etnógrafos como José Leite de Vasconcelos ou Jorge Dias, filólogos como Joseph-Maria Piel (ou Manuel Paiva Boléo, acrescentamos nós) e, claro, o do geógrafo Orlando Ribeiro, e desde logo a sua obra maior (publicada inicialmente em 1945): Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico…, tal como um conjunto muito amplo de artigos dispersos por vários volumes dos seus Opúsculos, com destaque para os volumes III, IV e VI. Dispensamo-nos de citar aqui as obras de cada um destes autores, cujos títulos podem ser facilmente encontrados no catálogo de uma qualquer biblioteca universitária.

153 CONDE, 2000 – Uma paisagem…, I: 11.

154

São já alguns os balanços da história rural portuguesa. Para uma cronologia especificamente medieval, v. HOMEM; ANDRADE; AMARAL, 1988 – «Por onde vem…»: maxime 122-27 (ainda útil) e o recentíssimo texto da autoria do último destes autores: AMARAL, 2011 – «Half a century…». Para um arco cronológico amplo, que não deixa de incluir a Idade Média, v. COELHO, 2000 – «Balanço sobre a história rural…». Para uma muito sucinta panorâmica da história rural portuguesa em geral, até meados do século XX, v. ainda: NETO, 2007 – «A historiografia rural…»: 251 e ss. A importância dos dois géneros referidos no texto é ressaltada por M. H. COELHO, 2000 – «Balanço sobre a história rural…»: 28 e ss. e L. C. AMARAL, 2011 – «Half a century…»: 315 e ss. O mesmo cenário verifica-se no medievalismo espanhol (em particular no estudo dos séculos XI a XV): «Por esa via [dos estudos de domínios monásticos], las investigaciones fueron profundizando en el conocimiento de distintas sociedades regionales, en el de su instalación en el espacio, en el de la conformación de los señoríos y otras células de encuadramiento social, en el de la historia rural en su conjunto», do que resultou «una historia, integradora o más a menudo parcial, basada en el análisis regional y en la atención a las relaciones campo-ciudad» (GARCÍA DE CORTÁZAR, 1999 – «Glosa de un balance…»: 822).

75

seguidores à altura do livro de A. H. de O. Marques sobre a “questão cerealífera” no

Portugal tardo-medieval (publicado em 1962)

155

, nos deva fazer reflectir sobre o

optimismo porventura excessivo destes balanços

156

. Sobretudo no que aos últimos anos

(de desaceleração, como ficou dito) diz respeito

157

. Aliás, também a propósito da

investigação recente sobre o período moderno emerge a imagem de uma história rural

com inúmeras limitações, que M. S. Neto entende não tanto como sintoma de atraso

mas de retrocesso mesmo, ao longo dos anos mais recentes

158

.

Independentemente do maior ou menor optimismo com que encaramos a

investigação portuguesa em história rural medieval ao longo das últimas décadas,

parece-nos justa a avaliação que L. C. Amaral faz do estado da arte no balanço recente a

que nos vimos referindo:

«It seems clear that the work undertaken, though undoubtedly important,

showed a number of gaps in the early nineteen nineties. From theoretical and

155 MARQUES, 1978 – Introdução à História da Agricultura…

156

«Em suma, a obra de Oliveira Marques eleva-se a um nível em tudo comparável à dos melhores medievalistas franceses de então, como March Bloch ou Georges Duby. Continuando sempre a preferir modelos alemães ou anglo-saxónicos, Oliveira Marques preenchia plenamente os requisitos de uma historiografia moderna, aparecendo como um inesperado e esplêndido fruto nascido num verdadeiro deserto. Era, de facto, a primeira investigação portuguesa em História Rural, a área que revolucionou a medievalística europeia durante o após-guerra. Diga-se, em abono da verdade, que não foram muitos os seus seguidores e que este campo de investigação continua, com algumas excepções, pouco mais do que maninho depois de tão promissora inauguração» (MATTOSO, 2007 – «Perspectiva de um medievalista…»: 172). Talvez o autor devesse ter aludido especificamente à “história agrária”, de que o trabalho de A. H. de O. Marques constitui de facto um marco ainda muito isolado no medievalismo português, e não à “história rural” lato sensu, que conta, apesar de tudo, com um corpo de trabalhos não despiciendo na nossa historiografia.

157

Esta desaceleração da investigação sobre a Idade Média em Portugal é tanto mais grave quanto a historiografia sobre a Alta Idade Média, depois do sopro de inspiração nacionalista das décadas de 1930/40-1960, não chegou sequer a conhecer o boom verificado no estudo da Idade Média tardia ao longo das décadas de 1970-1990. Também em Espanha, onde o altimedievalismo conheceu outra prosperidade no último quartel do século XX (tenha-se em mente as várias e importantíssimas teses regionais defendidas nos anos 1990), é já possível identificar uma desacelaração (ao menos ao nível da qualidade) nestas décadas iniciais do século XXI, segundo J. Á. GARCÍA DE CORTÁZAR, 2007 – «La historiografia de tema…»: 84-85, que o mesmo autor sinalizava já num balanço historiográfico anterior como sendo particularmente visível no plano da inovação metodológica: «(...) parece que, después de mediados de los ãnos ochenta, la intensidad de la curiosidad y la tensión del método se desaceleran» (GARCÍA DE CORTÁZAR, 1999 – «Glosa de un balance…»: 824). Uma desaceleração que se estende de forma bem marcada ao plano da edição de fontes (mais precisamente de fontes diplomáticas), logo a partir de 1995 mas sobretudo depois de 2000, como demonstrou L. J. FORTÚN PÉREZ DE CIRIZA, 2007 – «La edición de fuentes...»: 23-24.

158 «Constituindo, embora, um tema incontornável para o historiador modernista, atendendo ao peso da

agricultura na sociedade do Antigo Regime, a história rural, como campo historiográfico «autónomo», não está, no entanto, desde há alguns anos, na agenda da historiografia portuguesa. São indicadores desta situação a ausência de uma associação de história rural ou de uma revista expressamente dedicada a esta área. As Histórias de Portugal e outras obras da área da história económica, editadas ao longo da última década, integram sínteses relativas a vários aspectos da vida rural, mas não existe uma obra especialmente dedicada a este tema, construída com base nos resultados da investigação produzida nos últimos anos» (NETO, 2007 – «A historiografia rural…»: 271-72).

76

conceptual points of view, Portuguese research has fed almost exclusively on

what had been received from abroad, mainly from France and, on a secondary

level, from neighbouring Spain. With regard to methodology, however,

adaptation to Portuguese documental realities has imposed greater

originality»; «From one perspective, the stock themes of rural history in

general have been addressed by Portuguese researchers – local settlement, its

geography and density and growth rates; the occupation and organization of

the territory; the installation of power, especially noble, and its projection into

the countryside; the construction of the agrarian landscape and agricultural

production; social groups and their (vertical and horizontal) relations; the

rights and impositions of landlords, rents; etc. When, however, we map the

studies done in various areas and regions, we find major omissions and

imbalances, thematic, geographical and chronological. We possess, at present,

very different levels of knowledge about the varied landscapes that make up

this country. In respect of theoretical and conceptual issues, we remain

enormously indebted to foreign contributions, though our reverence for alien

models has given enormous impetus to internationalization of Portuguese

research, and this has been very positive»

159

.

Em suma, se o cenário é hoje pouco animador para a história medieval em geral,

a verdade é que a investigação em história rural ficou marcada por uma evidente

desaceleração que já leva mais de uma década e por significativas lacunas que teimam

em persistir. Parece-nos particularmente importante sublinhar, entre as que o autor

refere, o défice de reflexão teórica, conceptual e metodológica na nossa historiografia; o

que explica a tentativa de dedicar uma parte importante deste trabalho à concepção e

aplicação de uma metodologia específica de análise da morfologia das diversas

unidades espaciais referidas na documentação escrita.

No entanto, não são menos relevantes os desequilíbrios cronológicos: o estudo

da Alta Idade Média parece votado a uma desatenção crónica no nosso país

160

. Mesmo a

atenção prestada aos séculos IX a XII no quadro da historiografia nacionalista até à

159 AMARAL, 2011 – «Half a century…»: 314, 320.

160

Os dois mais recentes balanços da historiografia rural medieval produzida em Portugal no último meio-século demonstram à saciedade o peso dos estudos de cronologia tardo-medieva face aos escassos trabalhos que se preocuparam com o período anterior ao século XIII (COELHO, 2000 – «Balanço sobre a história rural…»; AMARAL (s.d.) – «Half a century…»: maxime 11). Ora, ambos os autores são unânimes em situar nas décadas de 1960-1980 (com destaque para esta última) o arranque de uma história rural medieval verdadeiramente estruturada do ponto de vista disciplinar, sem prejuízo dos importantes (mas pontuais) antecedentes que é possível encontrar desde a segunda metade do século XIX. Este arranque coincide com o início do fim de um paradigma historiográfico nacionalista, cuja obsessão pelo período de formação de Portugal explica um interesse evidente pelo período altimedieval. As novas gerações de historiadores, empenhadas em cortar com este paradigma por via da afirmação de novos problemas e de novos métodos, viram-se também obrigadas a um corte cronológico, que as levou para os séculos finais da Idade Média, precisamente aqueles em que começam a aparecer, é justo reconhê-lo, as fontes mais abundantes e sistemáticas que permitiam o tipo de análises de teor quantitativista que propunham as novas correntes recebidas de Espanha e França, sobretudo.

77

década de 1960 visou sempre, no essencial, o estudo das “origens” do Estado português

(quando não mesmo da Nação), e não a análise desse período em si mesmo

161

. Aliás,

num balanço historiográfico recente sobre o estudo da Idade Média portuguesa ao longo

do século XX, B. Vasconcelos e Sousa e S. Boissellier referiam-se nos seguintes termos

à atenção, ou falta dela, que tem sido dada ao período anterior ao século XII:

«Sur le plan épistémologique, se pose d'abord le problème de la répartition

chronologique des recherches (outre leur répartition régionale, déjà évoquée) :

comme un État portugais spécifique ne naît que vers 1140 (ou, au plus tôt, vers

1096), tout le haut Moyen Âge «léonais» (ou, comme partout en Ibérie,

andalou) est considéré comme de l’histoire étrangère, et suscite peu de

vocations; la disparition, avec la chute du salazarisme, des conceptions

nationalistes des origines du Portugal n’a pas beaucoup changé les orientations

historiographiques à cet égard. Tout le débat sur la féodalité portugaise a été

largement faussé, avant J. Mattoso, para l’insuffisance des recherches sur les

X

e

-XI

e

siècles. Un autre problème est le «complexe d’infériorité» par rapport à

l’Espagne : longtemps source de l’ignorance des renouvellements

historiographiques espagnols, cette attitude conduit maintenant à adopter,

parfois sans critique suffisante, comme des «modèles», les questionnements

élaborés dans le pays voisin»

162

.

O cenário que espera os investigadores deste período no nosso país é, assim,

pouco animador. Com efeito, no que respeita ao quadrante hispano-cristão do actual

território português, que se estendia sensivelmente até à bacia do Mondego, o período

aqui em análise (séculos IX a XI) não foi objecto ainda de uma análise sistemática que

permitisse delinear uma verdadeira visão de conjunto da sociedade portucalense na Alta

Idade Média

163

. É verdade que contamos já com vários estudos importantes, como os de

P. David e de A. de J. da Costa sobre a organização eclesiástica, os de J. Mattoso sobre

o monaquismo, os deste autor e de A. de A. Fernandes sobre a nobreza, os estudos de

recorte jurídico-institucionalista de autores como P. Merêa e T. de S. Soares, entre

outros, os estudos mais recentes de J. Mattoso, L. Krus e vários discípulos de ambos

161 Sobre a dimensão ideológica da história rural portuguesa, dominada até à segunda metade do século

XX pela discussão em torno das “origens rurais da nacionalidade” e pela falsa “contradição” levantada entre esse pretenso carácter e destino essencial da nação e uma expansão marítima de raiz urbana e comercial, v. SANTOS, 1998 – «A sociedade rural»: 135-141, 155-56. De qualquer forma, não se alterou substancialmente o juízo emitido em 1988 por L. C. Amaral, quando incluía o estudo da época anterior ao século XIII, «período simultaneamente de formação do reino e, em grande parte, de definição da paisagem agrária portuguesa», entre os caminhos por trilhar na história rural portuguesa (HOMEM; ANDRADE; AMARAL, 1988 – «Por onde vem…»: 127). Então como hoje.

162 SOUSA; BOISSELLIER, 2006 – «Pour un bilan…»: 225.

163 Note-se, a este propósito, o contraste com o Gharb al-Andalus, objecto de uma ampla e competente

síntese da autoria de C. Picard dedicada ao “Portugal muçulmano” entre os séculos VIII e XIII: PICARD, 2000 – Le Portugal musulman…

78

sobre a cultura erudita, com especial atenção aos textos historiográficos, e de A. A. do

Nascimento sobre a produção literária em geral (e a hagiografia, muito particularmente);

a que devemos acrescentar, só para a região minhota, os trabalhos basilares de C. A. F.

de Almeida, M. Barroca, L. Fontes, J. López Quiroga e outros sobre os vestígios

artísticos e arqueológicos

164

. Mas trata-se de trabalhos que têm, todos, tanto de

importantes como de especializados. Para mais, e sintomaticamente, quase nenhuma das

teses regionais que se debruçaram sobre o território português recua ao período anterior

a 1100

165

.

É verdade que apareceram já algumas (poucas) obras de maior fôlego sobre este

período, com destaque para as páginas laterais mas basilares que lhe dedicou J. Mattoso

na sua Identificação de um País

166

, para a síntese de história política devida a M. J.

Branco sobre as “etapas da relação” entre o território portucalense e o reino de León no

período que vai do Repovoamento (866) ao final o reinado de D. Afonso Henriques

(1179)

167

e para o importante estudo de L. C. Amaral sobre a afirmação da autoridade

episcopal de Braga (que, muito para além deste tema central, traça um quadro geral da

organização social do território na zona central da arquidiocese de Braga entre os

séculos IX e XI)

168

. Trata-se, contudo, de abordagens preocupadas essencialmente com o

problema da formação de Portugal, e que por isso apontam, de alguma forma, para a

frente e tendem a ressaltar neste período as linhas que prosseguirão ao longo do século

XII.

164 Uma vez mais, dispensamo-nos de citar aqui as obras de cada um destes autores, cujos títulos podem

ser encontrados na bibliografia final e, no caso de uma ou outra referência aí ausente, na completa bibliografia do já referido trabalho de L. C. AMARAL, 2007 – Formação e desenvolvimento…: 820 e ss. Note-se ainda que esta brevíssima enumeração não tem qualquer pretensão de exaustividade e deixou de fora autores e obras igualmente relevantes em cada uma das áreas enunciadas.

165

A única excepção é a que S. Boissellier dedicou ao território situado entre os rios Tejo e Guadiana, num longo período de transição entre os domínios islâmico e cristão (séculos X a XIV): BOISSELLIER, 1999 – Naissance d’une identité…

166 MATTOSO, 2001 – Identificação… – Oposição.

167

BRANCO, 1993 – «Portugal no reino de León…».

168 AMARAL, 2007 – Formação e desenvolvimento…. Escrevendo em 1998, quando este trabalho estava

ainda em preparação, J. Á. García de Cortázar observou que «un dato bien conocido por los medievalistas, el escasísimo, por no decir nulo cultivo, de la historia de esse período [a Alta Idade Média] en Portugal, constituye tanto una dificultad como un reto para el investigador. Sólo la exhaustiva recogida de fuentes de todo tipo y su cuidadosa integración y projección en el espacio están permitiendo intentar responder,en ocasiones, por primera vez para su área de estudio [diocese de Braga], a preguntas que en el ámbito español del valle del Duero han generado tantas respuestas como hemos tenido ocasión de recordar en esta exposición» (GARCÍA DE CORTÁZAR, 1998 – «Sociedad y organización social…»: 333).

79

De facto, se considerarmos que o capítulo de síntese sobre o período da

“Reconquista cristã” escrito por Â. Beirante para a Nova História de Portugal redundou

mais na acumulação de dados muito variados e tematicamente seccionados do que numa

perspectiva articulada sobre os séculos VIII a XI neste território

169

, a única visão

verdadeiramente de conjunto da sociedade portucalense neste período continua a ser o

capítulo que J. Mattoso escreveu já em 1992 para o primeiro volume da História de

Portugal que ele próprio coordenou

170

. Trata-se de um capítulo notável, pelo rigor

conceptual e pela fertilidade de muitas das propostas interpretativas avançadas (a maior

parte das quais carece ainda hoje de investigação documental e/ou arqueológica), mas

que, como o próprio autor reconhece mais do que uma vez (a propósito do quadro geral

que traça da fiscalidade senhorial ou da caracterização que faz da estrutura social do

século XI, por exemplo), assenta num corpo de dados empíricos frágil, em virtude do

recurso a fontes posteriores, que forçam a dedução apriorística da realidade deste

período a partir de desenvolvimentos ulteriores

171

.

Documentos relacionados