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CAPÍTULO 1: A SEGURANÇA E A DEFESA

2.2. Enquadramento Legal

A denominação Forças e Serviços de Segurança (FSS) é utilizada em vários diplomas legais, nomeadamente na Constituição da República Portuguesa e na Lei de Segurança Interna.

O artigo 25.º da LSI designa por Forças e Serviços de Segurança: “(…) organismos públicos, [que] estão exclusivamente ao serviço do povo português, são rigorosamente apartidários e concorrem para garantir a segurança interna”. No n.º 2 do mesmo artigo são elencados cinco organismos que exercem funções de segurança interna, nomeadamente a Polícia de Segurança Pública, a Guarda Nacional Republicana, a Polícia Judiciária, o

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Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e o Serviço de Informações de Segurança.

Exercem ainda funções de segurança, tal como previsto no n.º 3, a AMN e o Sistema da Autoridade Aeronáutica26, com as respetivas atribuições no âmbito dos espaços marítimo e aéreo, especialmente o controlo das fronteiras.

São estes atores que detêm a competência de desenvolver a atividade de segurança interna, tal como decorre da CRP e da LSI. Vejamos sucintamente os referidos atores.

A PSP, conforme estabelecido na sua Lei Orgânica, é uma força de segurança, uniformizada e armada, com natureza de serviço público, dotada de autonomia administrativa e dependente do membro do Ministro da Administração Interna, com jurisdição para todo o território nacional. As atribuições normalmente prosseguidas pela PSP estão previstas no artigo 3.º n.º 2 do referido diploma legal, destacando-se ainda atribuições especiais constantes do artigo 3.º n.º 3, designadamente o licenciamento, controlo e fiscalização do fabrico, armazenamento, comercialização, uso e transporte de armas, munições e substâncias explosivas e equiparadas que não pertençam ou se destinem às Forças Armadas e demais Forças e Serviços de Segurança; O licenciamento, controlo e fiscalização das atividades de segurança privada e respetiva formação, em cooperação com as demais Forças e Serviços de Segurança e com a Inspeção Geral da Administração Interna; Garantir a segurança pessoal dos membros dos órgãos de soberania e de altas entidades nacionais ou estrangeiras, bem como de outros cidadãos, quando sujeitos a situação de ameaça relevante e assegurar o ponto de contacto permanente para intercâmbio internacional de informações relativas aos fenómenos de violência associada ao desporto.

A GNR é uma força de segurança de natureza militar, constituída em um corpo especial e dotada de autonomia administrativa, ligada ao Ministério da Defesa e ao Ministério da Administração Interna. Prossegue as atribuições previstas no artigo 3.º da Lei Orgânica, ou seja, a GNR executa fundamentalmente as típicas missões de polícia, na situação de normalidade

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democrática, bem como prossegue atribuições de missões militares no âmbito da defesa nacional, cooperando com as Forças Armadas.

Assim, a PSP e a GNR são forças de segurança com atribuições de polícia administrativa geral e específica, incluindo de ordem pública, bem como de polícia judiciária e investigação criminal.

Estabelece o Estatuto do Pessoal da Polícia Marítima, o DL n.º 248/95, de 21 de setembro e o Sistema da Autoridade Marítima, o DL n.º 43/2002, de 02 de março, que a Polícia Marítima é uma força policial armada e uniformizada, dotada de competência especializada nas áreas e matérias legalmente atribuídas ao SAM. Garante e fiscaliza o cumprimento das leis e regulamentos nos espaços integrantes do Domínio Público Marítimo, áreas portuárias, espaços balneares, águas interiores sob jurisdição da Autoridade Marítima Nacional e demais espaços marítimos. O pessoal da PM é considerado Órgão de Polícia Criminal para efeitos de aplicação da legislação processual penal.

Tal como acontece na PSP e na GNR, a Polícia Marítima é uma força de segurança, ainda que pertencente ao Ministério da Defesa, prosseguindo atribuições de matéria de investigação criminal na sua área de competência e jurisdição.

Conforme refere (Raposo (2006, p.49) “tanto a Polícia Judiciária como o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras – que revestem natureza policial -, devem ser qualificados como verdadeiros e próprios serviços de segurança”.

Vejamos, de seguida, estes serviços de segurança.

A natureza, missão e atribuição da PJ, estão previstas na sua Lei Orgânica, Lei n.º 37/2008, de 06 de agosto, e na Lei de Organização da Investigação Criminal27 (LOIC). A PJ deve coadjuvar as autoridades judiciárias na investigação e desenvolver ações de prevenção, deteção e investigação da sua competência ou que lhe sejam cometidas pelas autoridades judiciárias competentes. A PJ é um serviço central da administração direta do Estado, dotado de autonomia administrativa e organizado hierarquicamente na dependência do Ministério da Justiça.

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Salienta-se então que à PJ foi atribuído de forma direta e explicitamente a coadjuvação das autoridades judiciárias, tendo aquela um caráter eminentemente de polícia de investigação criminal.

Em relação ao SEF, trata-se de um serviço de segurança, organizado hierarquicamente, dependente do Ministério da Administração Interna, dotado de autonomia administrativa e que tem por objetivos fundamentais controlar a circulação de pessoas nas fronteiras, a permanência e atividades de estrangeiros em território nacional; Atua, nos termos da lei processual penal, enquanto Órgão de Polícia Criminal, sob a direção e em dependência funcional da autoridade judiciária competente, tal como previsto na Lei Orgânica do SEF, DL n.º 252/2000, de 16 de outubro.

No que concerne ao SIS, é uma entidade pública juridicamente autónoma, dotada de autonomia administrativa financeira e na direta dependência do Primeiro-Ministro. A sua missão consiste na produção sistemática de informações que participem para a proteção da Segurança Interna e a prevenção da sabotagem, do terrorismo, da espionagem (utilizando para o efeito atividades que têm por finalidade proceder à identificação e neutralização de ameaças e riscos à segurança, fomentadas por organizações ou pessoas - contrainteligência) e a prática de comportamentos que, pela sua natureza, possam alterar ou destruir o Estado de Direito Democrático, nos termos da Lei n.º 9/2007, de 19 de fevereiro.

Vejamos agora as Forças Armadas.

As Forças Armadas (FA), enquanto estrutura e braço armado do Estado português, têm como missão, por excelência, a defesa militar integrada da República portuguesa garantindo desta forma a sua independência, soberania, integridade territorial e o cumprimento dos seus compromissos no âmbito militar, ou seja, as FA são o pilar da política de Defesa Nacional, nos termos do artigo 275.º da CRP, artigo 1.º e 4.º da Lei Orgânica de Bases da Organização das Forças Armadas28 (LOBOFA) e artigo 2.º da Lei Orgânica da Marinha29, da Lei Orgânica do Exército30 e da Lei Orgânica da Força Aérea31.

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Lei Orgânica n.º 1-A/2009, de 7 de julho alterada pela Lei Orgânica n.º 6/2014, de 1 de setembro.

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As Forças Armadas, para além de prosseguirem o objetivo segurança, podem executar missões tendo em conta o objetivo bem estar, nomeadamente quando sucedam catástrofes naturais, em apoio dos serviços de proteção civil. Podem utilizar assim os seus recursos, meios e estruturas, desde que estes sejam eficientes e que não descurem a finalidade fundamental de garantir a segurança nacional e defender os interesses nacionais contra as ameaças que imponham a aplicação da coação física de elevada intensidade (Santos, 2012).

As competências e missões das FA não se esgotam na sua componente de defesa militar pura, já que, fruto da evolução das relações internacionais, as FA passaram a ter competências mais amplas e o cumprimento dos compromissos da República passaram a incorporar as missões externas para salvaguarda dos cidadãos nacionais que se encontrem no estrangeiro, bem como dos seus interesses, as missões de paz e humanitárias multilaterais e a cooperação técnico-militar quer no âmbito bilateral quer multilateral (artigo 275.º CRP, artigo 24.º LDN e artigo 4.º LOBOFA).

As missões que competem às FA desempenhar são aprovadas pelo Conselho Superior de Defesa Nacional, sob proposta do Ministro da Defesa Nacional, elaborada com base num projeto do Conselho de Chefes de Estado- Maior (artigo 4.º n.º 3 LOBOFA).

Não obstante, as FA não desempenham apenas funções no exterior e uma das suas competências com mais consensualidade no interior das fronteiras nacionais é a colaboração em missões de proteção civil e a satisfação das necessidades básicas da população, garantindo-lhe a melhoria da sua qualidade de vida, conforme já foi referido (artigo 275.º CRP e artigo 4.º LOBOFA).

A existência das FA assegura um Estado plenamente soberano, visto que não está depende da proteção de outros Estados, prosseguindo desta maneira as finalidades do Estado.

29 Decreto-Lei n.º 185/2014, de 29 de dezembro. 30 Decreto-Lei n.º 186/2014, de 29 de dezembro. 31 Decreto-Lei n.º 187/2014, de 29 de dezembro.

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As FA devem estar organizadas de forma otimizada, tendo como intento potenciar e assim rentabilizar as suas unidades, especialmente as de índole operacional que realizam operações de combate.

Nesta medida, atualmente em Portugal, as FA dividem-se por ramos, uma vez que cada ramo opera em função de uma ambiência distinta. Assim, no mar, a Marinha, em terra, o Exército e no ar, a Força Aérea.

A Marinha tem como missão contribuir para que Portugal use o mar. Assim, a Marinha prossegue as atribuições de defender e controlar as águas territoriais, as fronteiras marítimas e as ligações interterritoriais, bem como as linhas e encruzilhadas de comunicações marítimas. Controla igualmente a Zona Económica Exclusiva, defendendo os recursos biológicos marinhos e os recursos da plataforma continental pertencentes a Portugal. Realiza igualmente operações militares, como o combate à pirataria, as missões de embargo e de interdição marítima, o controlo da proliferação de armas de destruição massiva ou o resgate de cidadãos nacionais de territórios em situação de conflito; as ações de busca e salvamento marítimo, a fiscalização da pesca, o apoio à repressão de ilícitos marítimos em estreita colaboração com outros agentes do Estado (Santos, 2012).

Em relação ao ambiente terra, cabe ao exército defender, conquistar e ocupar o território nacional, preparando as forças e meios da componente operacional do sistema de forças.

Compete à Força Área defender e controlar o espaço aéreo português, realizando operações de apoio aéreo às demais operações militares inclusive dos outros ramos das FA. Realiza operações de transporte aéreo de cariz ofensivo, defensivo e de apoio. Participa nas operações de busca e salvamento (Santos, 2012).

Os três ramos das FA fazem parte de uma estrutura de elevada complexidade em vários domínios. A tendência evolutiva naturalmente conservadora, aliado ao peso logístico decorrente de equipamento e armamento tecnologicamente muito evoluídos, os quais exigem um investimento dispendioso, originam que o poder político considere não como um investimento, mas sim como uma despesa. Torna-se, deste modo, fundamental uma rigorosa política de racionalização de todos os recursos, para

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que as atribuições e missões atribuídas às FA e que haja a imprescindível e pretendida coesão em todos os seus ramos (Santos, 2012).