• Nenhum resultado encontrado

No presente capítulo apresentam-se alguns aspetos legislativos e outras disposições daí derivadas ou relacionadas com o tema da Tese e com os objetivos que com a elaboração da mesma se pretende. Dentro dos princípios já enunciados procurar-se-á apresentar as situações relacionadas com a legislação portuguesa e cabo-verdiana realçando-se, sempre que necessário, as diferenças evidenciadas.

3.1 Legislação em Portugal

Em Portugal, o quadro legal de controlo da qualidade da água destinada ao consumo humano em Portugal, é fixado pelo Decreto-Lei n.º 306/2007, de 27 de agosto, com as alterações introduzidas pelo Decreto Lei n.º 152/2017, de 7 de dezembro, que veio estabelecer novas obrigações para as entidades gestoras (EG), para as autoridades de saúde (AS) e para a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), esta enquanto autoridade competente para a coordenação e fiscalização da aplicação do regime legal em causa.

Mais explicitamente, no nº 4 do artigo 14º-A do Decreto-Lei nº 152/2017, de 07 de dezembro considera-se que deverá ser estabelecido um regime da qualidade da água destinada ao consumo humano e o enquadramento legal para o exercício de Vigilância Sanitária da Água destinada ao Consumo Humano à custa de:

o proteger a saúde humana dos efeitos nocivos resultantes da eventual contaminação a água e,

o assegurar a disponibilização tendencialmente universal de água salubre, limpa e desejavelmente equilibrada na sua composição.

No mesmo Decreto-Lei (nº 4 do 5 º artigo), indica-se, também, que as Entidades gestoras deverão, a partir de janeiro de 2019, efetuar a Avaliação de Risco para todas ou parte das zonas de abastecimento ou dos pontos de entrega, realizando, para esse efeito, programas de controlo de qualidade para 2020 (conforme nº 4 do Artigo 5º) baseados na implementação de estratégias de avaliação e gestão de riscos para o controlo da qualidade da água para consumo humano, adotando uma abordagem preventiva ao longo de todo o sistema de abastecimento público, desde a origem até ao consumidor, através da implementação em cada sistema, de Planos de Segurança da Água (PSA), é recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), nas Guidelines for Drinking Water Quality

(GDWQ) publicados em 2004.

Nesse sentido e previamente, é indicado que as Entidades Gestoras dos sistemas de abastecimento publico devem submeter à Autoridade de Saúde um pedido de parecer sobre a severidade dos perigos que pretendem aplicar na matriz de Avaliação do Risco, situações que não estavam consagradas no Decreto-Lei nº 306/2007, de 27 de agosto.

Também e por intermédio do Artigo 8.º deste último diploma, ficaram estabelecidas novas obrigações – não consideradas anteriormente, que vêm introduzir alterações nos seguintes requisitos:

45

o Aprovação do PCQA suportado por uma avaliação do risco, por zona de abastecimento (ZA) ou ponto de entrega (PE), submetida à ERSAR nos termos do artigo 14.º-A e Anexo II do diploma, com entrada em vigor nos PCQA do ano 2023, e opcionalmente a partir dos PCQA de 2020;

o Submissão de pedido de parecer à AS/ERSAR sobre a severidade dos perigos a aplicar na matriz de risco da avaliação do risco, nos termos do artigo 14.º-A do diploma;

o Implementação de um programa de monitorização operacional, nos termos da Parte A do Anexo II do diploma, cujos resultados devem suportar a avaliação do risco submetida à ERSAR.

3.2 Legislação em Cabo Verde

No mesmo âmbito e em Cabo Verde, os aspetos legislativos mais relevantes relacionados com aspetos de interesse para o presente trabalho são evidenciados no Decreto- Legislativo nº3/2015, de 19 de outubro e no Decreto-Regulamentar nº 5/2017, de 6 de novembro.

Em relação ao primeiro destes documentos, salientam-se os seguintes artigos:

• Artigo 26º (Qualidade da água), onde se atribui que o município deverá assegurar, em articulação com outros serviços competentes do Estado, o tratamento e a qualidade de água do respetivo sistema de abastecimento público, cumprindo as normas emitidas pelas autoridades competentes nesta matéria;

• Artigo 185º (Garantia da qualidade) e a fim de garantir a qualidade da água distribuída e sem prejuízo de outras estabelecidas por lei, regulamento ou determinação do Regulador Técnico, constituem obrigações da entidade gestora:

o Submeter à aprovação do organismo competente um programa aprovado qualidade que deve respeitar os requisitos regulamentares, incluindo os pontos de amostragem, bem como as credenciais dos laboratórios que efetuam as análises;

o Efetuar a verificação da qualidade da água, de acordo com o programa aprovado nos termos da alínea anterior pelo organismo competente, com vista à demostração da sua conformidade com a norma de qualidade da água para consumo humano, utilizando para o efeito os métodos analíticos de referência estabelecidos por regulamento;

o Informar a Autoridade de Saúde e o Regulador Técnico, esta sendo a entidade administrativa, por lei, da regulação técnica do setor da água e saneamento, das situações de incumprimento dos valores paramétricos estabelecidos por regulamento e de outras situações que comportem risco para a saúde humana, logo que delas tenha conhecimento.

Não há qualquer consideração ou apontamento relativos a situações em que se deva considerar a necessidade de avaliação de riscos ou a sua consideração na definição do programa de controlo. Apenas e só, e como já referenciado atrás de tal ser realizado na medida do possível.

46

No Decreto-Regulamentar nº 5/2017, de 6 de novembro e em conformidade com o disposto no artigo 177º do Código de Água e Saneamento (CAS) aprovado pelo Decreto- Legislativo nº3/2015, de 9 de outubro, o regime de qualidade da água destinada ao consumo humano visa proteger a saúde humana dos efeitos nocivos da eventual contaminação dessa água e assegurar a disponibilidade tendencialmente universal de água salubre, limpa e desejavelmente equilibrada na sua composição.

O Código da Água e Saneamento, o qual teve por base o quadro político, institucional e jurídico do setor da água e do saneamento em vigor em Cabo Verde, e foi precedido da elaboração de um “Gap analysis” com identificação das principais lacunas, sobreposições e contradições tendo presente as necessidades atuais e futuras do setor e as melhores práticas internacionais neste domínio, bem como o envolvimento e a recolha de opiniões e pareceres dos principais intervenientes do setor, nas diferentes fases da sua elaboração.

O novo Código de Água e Saneamento (CAS) visa criar um regime jurídico disciplinador do setor, coerente e claro, de fácil consulta e aplicação, complementado por um enquadramento institucional com completa separação de funções com a recente criação da Agência Nacional de Água e Saneamento (ANAS) e do Conselho Nacional da Água e Saneamento (CNAS), através da Lei n.º 46/VIII/2013, de 17 de setembro, e Lei n.º 45/ VIII/2013, de 17 de setembro, respetivamente, seguido ainda da empresarialização do setor.

Com particular realce, destacam-se os dois seguintes artigos:

• Artigo 16º, nº 2, em que as entidades gestoras de controlo da qualidade deverão assegurar a implementação e realização dos Programas de Controlo da Qualidade da Água (PCQA), de acordo com o estabelecido no artigo 19º, isto é, com a frequência mínima de amostragem e da análise indicadas e nas condições indicadas nos anexos IV e VII do referido diploma, do qual fazem parte integrante; • Artigo 27º, nº3, quando verifique na qualidade da água distribuída um perigo potencial, ou real, para a saúde humana, a Autoridade de Saúde deve notificar o Regulador Técnico e a entidade responsável pelo sistema de abastecimento, das medidas a serem adotadas, podendo ainda determinar a suspensão da distribuição da água enquanto persistirem os fatores de perigos.

Neste Decreto são, também, estabelecidos os critérios e as normas que definem os requisitos essenciais de qualidade da água destinada ao consumo humano, bem como os sistemas de controlo, o regime sancionatório e medidas de proteção, com vista a proteger a saúde humana dos efeitos adversos resultantes da eventual contaminação da água.

3.3 As Normas ISO

3.3.1 ISO 24512

O objetivo da presente Norma é fornecer, às partes interessadas relevantes, recomendações para avaliação e a melhoria do serviço aos utilizadores, assim como para o aperfeiçoamento da gestão das organizações dos serviços da água, em coerência com os objetivos globais estabelecidos pelas autoridades competentes e pelas organizações

47

internacionais intergovernamentais atrás mencionadas. Esta Norma destina-se a facilitar o diálogo entre as partes interessadas, permitindo-lhes desenvolver uma compreensão partilhada das funções e das tarefas relacionadas com as organizações dos serviços de água.

A presente Norma fornece recomendações para a gestão e para a avaliação do desempenho do serviço de abastecimento público de água.

A presente norma é aplicável a qualquer organização do serviço de abastecimento público de água, independentemente de a sua propriedade e a sua exploração serem públicas ou privadas. Não privilegia qualquer modelo de propriedade ou de exploração, independentemente do seu nível de desenvolvimento (por exemplo: sistemas locais, redes de distribuição, instalações de tratamento).

Constitui um dos principais objetivos desta Norma relaciona-se com a construção de infraestruturas e instalações que se destinam principalmente ao fornecimento de água para o consumo humano aos utilizadores do serviço, mas muitas organizações podem abastecer o utilizador, não só por ligação direta, mas também por outros meios (por exemplo: camiões-cisterna ou garrafas). De forma geral, os objetivos sociais do serviço são promover a saúde pública e o desenvolvimento económico e social, protegendo ao mesmo tempo o ambiente.

Aplica-se unicamente aos serviços fornecidos até, e incluindo, ao ponto de entrega ao utilizador (que pode ser diferente do ponto de utilização ou de consumo).

A função das organizações é fornecer água para o consumo humano para satisfazer as necessidades da sociedade civil, de atividades urbanas e industriais, ou para outras utilizações. O fornecimento de água para o consumo humano é considerado uma atividade básica da qual a sociedade depende e que tem, em consequência, um papel social e de bem-estar público. O fornecimento de água para o consumo humano envolve a captação de água no ambiente e a construção de infraestruturas para uma duração de vida que se estende por várias gerações. Isso sugere que se faça intervir também o aspeto equidade intergeração nos critérios de avaliação do serviço. Assim, as organizações do serviço de abastecimento público de água independentemente do seu proprietário, têm, por natureza, carácter público e serão submetidos a uma política e um controlo públicos.

A água para o consumo humano deve ser adequada para o consumo humano direto e satisfazer os requisitos locais de qualidade da água para esse fim, independentemente das outras utilizações dadas à água fornecida. Devem ser realizados todos os esforços para essa qualidade seja sempre atingida, em qualquer momento. Sendo esse é um pressuposto geral, os utilizadores devem ser especificamente avisados quando as normas da qualidade da água para o consumo humano não respeitadas.

3.3.1 ISO 31000

A ISO 31000 é aplicável a todas as organizações, independentemente do tipo, dimensão, atividade e localização e cobre todos os tipos de risco. Foi desenvolvida para uma variedade de partes interessadas e destina-se a ser usada por qualquer individuo que participe na gestão do risco, e não apenas pelos gestores dedicados ao risco.

48

Tal como todas as normas ISO são reavaliadas a cada cinco anos, garantindo que se mantenham relevantes e ferramentas úteis para o mercado. Uma versão revista da ISO 31000 foi publicada em 2018 considerando a evolução do mercado e os novos desafios que os negócios e as organizações enfrentam desde a primeira edição em 2009. Um exemplo disto é a crescente complexidade dos sistemas económicos e dos fatores dos riscos emergentes como as moedas digitais, que apresentam novos e diferentes tipos de risco às organizações numa escala internacional.

A Norma ISO 31000:2018 tem um maior foco na orientação estratégica que a versão de 2009 e coloca maior enfase tanto no envolvimento da gestão de topo como na integração da gestão do risco na organização. Isto inclui o requisito do estabelecimento duma declaração ou política que confirme o compromisso com a gestão do risco, a atribuição de autoridade, responsabilidade e responsabilização aos níveis apropriados da organização, e assegurando que os recursos necessários são disponibilizados à gestão do risco.

A norma agora revista requer que a gestão do risco seja parte da estrutura, processos, objetivos, estratégia e atividades da organização. Coloca um maior enfoque na criação de valor como o fator chave da gestão do risco e inclui outros princípios relacionados como a melhoria contínua, o envolvimento das partes interessadas, a sua personalização à organização e a consideração dos fatores humanos e culturais.

O conteúdo foi aperfeiçoado no sentido de refletir um modelo de sistemas abertos que troca informação com regularidade com o seu ambiente externo, no sentido de se adaptar a um leque mais alargado de necessidades e contextos.

O objetivo chave é tornar as coisas mais claras e simples, usando linguagem clara na definição dos fundamentos da gestão do risco, de uma forma que o leitor possa compreendê-los de forma simples.

A terminologia é agora mais concisa, com alguns termos a transitarem para o ISO Guide 73 – Risk management - Vocabulary, que lida especificamente com a terminologia da gestão do risco e é para ser usado em conjunto com a ISO 31000. Já se iniciaram os trabalhos numa norma de terminologia e num guia de implementação no sentido de melhorar a compreensão e aplicação da norma.

49

4. CASOS DE ESTUDO

Documentos relacionados