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Enquadramento legislativo

Capítulo III Análise reflexiva a quatro dimensões

3.3 Dimensão institucional

3.3.2 Enquadramento legislativo

O regime geral de gestão de resíduos é definido pelo Decreto-Lei nº 178/2006 de 5 de Setembro, que transpôs para o ordenamento jurídico nacional a Directiva 2006/12/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 5 de Abril e a Directiva 91/6897CEE, do Conselho, de 12 de Dezembro. O Decreto-Lei nº 178/2006 foi alterado pelo Decreto-Lei n.º 173/2008, de 26 de Agosto, pela Lei n.º 64-A/2008, de 31 de Dezembro; pelo Decreto- Lei n.º 183/2009, de 10 de Agosto (artigos 57.º e 59.º) e, mais recentemente, pelo Decreto-Lei nº 73/2011, de 17 de Junho, que transpôs a Directiva nº 2008/98/CE e procedeu à sua republicação.

No preâmbulo do Decreto-Lei nº 178/2006 pode ler-se: «(…) consagrar agora no ordenamento jurídico nacional um conjunto de princípios rectores da maior importância. É o que se verifica relativamente à noção de auto-suficiência, ao princípio da prevenção, à prevalência da valorização dos resíduos sobre a sua eliminação e, no âmbito daquela, ao estabelecimento de uma preferência tendencial pela reutilização sobre a reciclagem e de uma preferência tendencial da reciclagem sobre a recuperação energética.»

Ainda no preâmbulo, é enfatizado: «(…) consciência cada vez mais clara de que a responsabilidade pela gestão dos resíduos deve ser partilhada pelo todo da colectividade: do produtor de um bem ao cidadão consumidor, do produtor do resíduo ao detentor, dos operadores de gestão às autoridades administrativas reguladoras. (…) a afirmação crescente do princípio do poluidor-pagador tem vindo a determinar a responsabilização prioritária dos produtores de bens de consumo, dos produtores de resíduos e dos detentores.»

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As alterações ao regime geral de gestão de resíduos, introduzidas pelo Decreto-Lei nº 73/2011, visaram designadamente, para além da transposição da Directiva 2008/98/CE (Directiva Quadro Resíduos), clarificar conceitos e definições.

O Decreto-Lei, na sua actual redacção, identifica os seguintes princípios gerais da gestão dos resíduos:

Princípio da auto-suficência e da proximidade: As operações de tratamento devem decorrer em instalações adequadas com recurso às tecnologias e métodos apropriados para assegurar um nível elevado de protecção do ambiente e da saúde pública, preferencialmente em território nacional e obedecendo a critérios de proximidade.

Princípio da responsabilidade pela gestão: a responsabilidade pela gestão dos resíduos, incluindo os respectivos custos, cabe ao produtor inicial dos resíduos, sem prejuízo de poder ser imputada, na totalidade ou em parte, ao produtor do produto que deu origem aos resíduos e partilhada pelos distribuidores desse produto se tal decorrer de legislação específica aplicável.

Princípio da protecção da saúde humana e do ambiente: constitui objectivo prioritário da política de gestão de resíduos evitar e reduzir os riscos para a saúde humana e para o ambiente, garantindo que a produção, a recolha e transporte, o armazenamento preliminar e o tratamento de resíduos sejam realizados recorrendo a processos ou métodos que não sejam susceptíveis de gerar efeitos adversos sobre o ambiente, nomeadamente poluição da água, do ar, do solo, afectação da fauna ou da flora, ruído ou odores ou danos em quaisquer locais de interesse e na paisagem.

Princípio da hierarquia dos resíduos: a política e a legislação em matéria de resíduos devem respeitar a seguinte ordem de prioridades no que se refere às opções de prevenção e gestão de resíduos:

(a) Prevenção e redução;

(b) Preparação para a reutilização; (c) Reciclagem;

(d) Outros tipos de valorização; (e) Eliminação.

No caso de fluxos específicos de resíduos, a ordem de prioridades estabelecida pode não ser observada desde que as opções adoptadas se justifiquem pela aplicação do conceito de ciclo de vida aos impactes globais da produção e gestão dos resíduos em causa.

Princípio da responsabilidade do cidadão: contribuição dos cidadãos através da adopção de comportamentos de carácter preventivo em matéria de práticas de produção de resíduos, bem como de práticas que facilitem a respectiva reutilização e valorização. Princípio da regulação da gestão de resíduos: a gestão de resíduos é realizada de acordo com a legislação aplicável, com os critérios fixados nos instrumentos regulamentares e de planeamento, sendo proibida a realização de operações de armazenagem, tratamento, valorização e eliminação de resíduos não licenciadas; são, também, proibidos o abandono de resíduos, a incineração de resíduos no mar e a sua

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injecção no solo, a queima a céu aberto, bem como a descarga em locais não licenciados para realização de tratamento de resíduos.

Princípio da equivalência: o regime económico e financeiro das actividades de gestão de resíduos visa a compensação tendencial dos custos sociais e ambientais que o produtor gera à comunidade ou dos benefícios que a comunidade lhe faculta.

Princípio da responsabilidade alargada do produtor: a responsabilidade alargada do produtor consiste em atribuir, total ou parcialmente, física e ou financeiramente ao produtor do produto a responsabilidade pelos impactes ambientais e pela produção de resíduos decorrentes do processo produtivo e da posterior utilização dos respectivos produtos, bem como da sua gestão quando atingem o final de vida.

O princípio da prevenção e redução (constitui objectivo prioritário da política de gestão de resíduos evitar e reduzir a sua produção, bem como reduzir o risco para a saúde humana e para o ambiente) formulado na versão inicial do Decreto-Lei foi substituído pelo princípio da protecção da saúde humana e do ambiente, na actual redacção.

A Directiva-Quadro dos Resíduos

A evolução do quadro normativo comunitário sobre os resíduos, bem expressa na Directiva-Quadro dos Resíduos, acarreta algumas implicações, das quais se salientam:

A oportunidade e a necessidade de debate sobre a definição de resíduo;

O estabelecimento da prevenção da produção de resíduos como primeira prioridade;

A compatibilização da classificação dos resíduos com a legislação relativa a químicos, nomeadamente com o Regulamento (CE) n.º 1907/2006, relativo ao Registo, Avaliação, Autorização e Restrição de substâncias químicas (REACH); O estabelecimento de critérios para a reclassificação de resíduos como

subprodutos;

A confirmação do princípio do poluidor-pagador;

O propósito do rumo a uma ―sociedade da reciclagem‖; O estabelecimento de objectivos e metas de reciclagem; A consagração da instituição de instrumentos económicos; O reforço do princípio da responsabilidade alargada do produtor.

Salientam-se, das alterações introduzidas pelo Decreto-Lei nº 73/2011, os seguintes aspectos novos ou substancialmente reformulados:

As condições para a obtenção do fim do estatuto de resíduo; O princípio da auto-suficiência e da proximidade;

A rotulagem dos RP;

As regras para a recolha e tratamento dos bio-resíduos;

A obrigatoriedade do licenciamento do tratamento de resíduos; O registo obrigatório dos operadores de gestão de resíduos; A existência de planos e de programas;

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O planeamento da gestão de resíduos como tarefa do Estado;

O princípio da autorização prévia das operações de gestão de resíduos; A prioridade à recolha e à gestão da informação;

A participação pública através da Comissão de Acompanhamento da Gestão de Resíduos;

A criação de um adequado regime económico-financeiro.

Decorrente da obrigação de transposição da Directiva-Quadro dos Resíduos foi, ainda, incorporado pelo diploma, articulado relativo a:

Definição de bio-resíduo;

Princípio da auto-suficiência e da proximidade;

Estabelecimento de metas vinculativas para a reutilização e para a reciclagem de alguns resíduos;

Aumento do âmbito da aplicação do princípio da responsabilidade alargada do produtor;

Criação de programas de prevenção de resíduos;

Submissão dos planos de gestão de resíduos e dos programas de prevenção de resíduos à participação pública a efectuar nos termos do Decreto-Lei n.º 232/2007, de 15 de Julho, com as necessárias adaptações;

Regulamentação da colocação no mercado do composto como correctivo orgânico dos solos;

Reformulação dos regimes de licenciamento das actividades de tratamento de resíduos;

Regime jurídico dos subprodutos e do fim do estatuto de resíduo; Reformulação do sistema integrado de registo electrónico de resíduos;

Reformulação do sistema de taxas de licenciamento e de gestão de resíduos, dentro dos princípios do utilizador-pagador e do poluidor-pagador;

Enquadramento do mercado de resíduos; Actualização do regime contra-ordenacional.

Foram, também, aditados seis anexos, a saber: Anexo I, operações de eliminação; Anexo II: Operações de valorização; Anexo III: Características dos resíduos que os tornam perigosos; Anexo IV: CAE tratamento; Anexo V: Exemplos de medidas de prevenção de resíduos e Anexo VI: Conteúdo dos planos de gestão de resíduos.