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67 1 - METODOLOGIA

A problemática em estudo teve como ponto de partida o interesse da autora sobre o assunto abordado. Ao longo do percurso profissional, enquanto enfermeira generalista considero essencial avaliar o impacto da dispneia e da fadiga nas pessoas com DPOC, na realização das suas AVD, de modo a melhorar, tanto quanto possivel, a capacidade funcional, promovendo a autonomia e melhorando a qualidade de vida destas pessoas. Ao desenvolvermos este estudo é nossa intenção contribuir para o conhecimento existente de modo a facilitar a prescrição de intervenções especializadas com o objetivo de melhorar a adaptação à condição de saúde das pessoas. O interesse e as competências desenvolvidas ao longo do Curso de Mestrado e Pós-Licenciatura em Enfermagem de Reabilitação, despelotaram o interesse em estudar a dispneia e a fadiga nas pessoas com DPOC no desempenho das AVD.

A investigação torna-se fundamental para o desenvolvimento contínuo da profissão e tomada de decisões adequadas à prestação de cuidados às pessoas. A adoção de uma atitude reflexiva e a capacidade de análise crítica potencia o profissional de saúde na prestação de cuidados, possibilitando-o tomar decisões assertivas e resolver problemas com que se debate (Martins, 2008).

Neste capítulo descrevem-se as opções metodológicas tomadas relativamente ao tipo de estudo, definem-se os objetivos, as variáveis, as hipóteses de investigação, a população e amostra, o instrumento de recolha de dados, a técnica de tratamento e análise dos dados.e, por último, os procedimentos éticos.

1.1 - TIPO DE ESTUDO

O estudo realizado insere-se no domínio de uma investigação quantitativa, do tipo descritivo-correlacional. O estudo descritivo-correlacional tem como objetivo explorar relações entre um conjunto de conceitos a fim de determinar os que estão associados (Fortin, 2009).

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Relativamente à dimensão temporal, trata-se de um estudo do tipo longitudinal, visto que a avaliação é realizada num único momento.

O estudo foi realizado com 98 pessoas com diagnóstico de DPOC, seguidas em Consulta Externa de Pneumologia de um Hospital Central, no período entre 24 de Novembro de 2016 e 26 de Janeiro de 2017.

1.2 - OBJETIVOS

De acorco com a natureza do estudo, foram definidos os seguintes objetivos: x Avaliar a severidade da dispneia e da fadiga nas pessoas com DPOC;

x Descrever as mudanças percebidas pelas pessoas com DPOC na realização das AVD em comparação ao período anterior à doença;

x Avaliar o impacto da dispneia e da fadiga nas pessoas com DPOC durante a realização das suas AVD;

x Avaliar a relação da dispneia e da fadiga durante a realização das AVD com o IMC e a OLD;

x Analisar o impacto da DPOC na qualidade de vida das pessoas em relação à dispneia e à fadiga durante a realização das AVD.

1.3 - IDENTIFICAÇÃO DAS VARIÁVEIS EM ESTUDO

Neste estudo foram definidas as seguintes variáveis independentes: x IMC;

x OLD;

x Qualidade de vida das pessoas com DPOC.

Relativamente às variáveis dependentes do estudo foram definidas duas variáveis: a dispneia e a fadiga nas pessoas com DPOC durante a realização das suas AVD.

1.4 - HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO

No presente estudos foram formuladas as seguintes hipóteses de investigação (H): x H1 – Há correlação entre o IMC e a dispneia nas pessoas com DPOC na

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x H2 – Há correlação entre o IMC e a fadiga nas pessoas com DPOC na realização das suas AVD.

x H3 - Há diferença entre a OLD e a dispneia nas pessoas com DPOC na realização das suas das AVD.

x H4 - Há diferença entre a OLD e a fadiga nas pessoas com DPOC na realização das suas das AVD.

x H5 – Há correlação entre a qualidade de vida das pessoas com DPOC e a dispneia na realização das suas AVD.

x H6 – Há correlação entre a qualidade de vida das pessoas com DPOC e a fadiga na realização das suas AVD.

1.5 - POPULAÇÃO/AMOSTRA

De modo a dar resposta aos objetivos propostos, foi selecionada uma amostra não probabilística do tipo acidental ou de conveniência, que de acordo com Fortin (2009) é constituída por indivíduos facilmente acessíveis e que respondam a critérios de inclusão precisos, sendo que os sujeitos são incluídos no estudo à medida que se apresentam e até a amostra atingir o tamanho desejado.

A amostra foi constituída por 98 pessoas com o diagnóstico de DPOC, seguidas num serviço de Consulta Externa de Pneumologia de um Hospital da Região Centro, entre 24 de Novembro de 2016 e 26 de Janeiro de 2017.

A seleção dos participantes no estudo foi realizada com base em critérios de inclusão e exclusão, previamente definidos.

Assim sendo, os critérios de inclusão definidos foram: x diagnóstico de DPOC;

x idade igual ou superior a 40 anos; x sem alteração do estado mental;

x aceitar participar no estudo voluntariamente.

No presente estudo constituem critérios de exclusão a evidência de patologias/alterações do foro músculo-esquelético e/ou cerebrovascular.

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Todos os participantes do estudo reuniram estas condições, com exceção de duas pessoas, uma por ser estrangeira e outra por falta de disponibilidade.

1.6 – PROCEDIMENTO DE RECOLHA DE DADOS

O período de recolha de dados decorreu entre 24 de Novembro de 2016 e 26 de Janeiro de 2017, na Consulta Externa de Pneumologia de um Hospital da Região Centro.

A recolha de dados foi feita através da administração indireta do questionário, visto que foi preenchido pela investigadora, a partir das respostas dadas pelos participantes. O preenchimento do questionário demorou, em média, 15 minutos. A recolha de dados foi feita num gabinete na consulta externa do hospital, cedido pelo diretor de serviço, o que garantiu a confidencialidade e anonimato dos dados.

A recolha dos dados foi efetuada após o parecer positivo do Conselho de Administração e da Comissão de Ética de um Hospital da Região Centro, bem como do autor do instrumento utilizado.

1.7 - INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS

Para a recolha de dados foi construído um instrumento de caraterização da amostra (APÊNDICE I) e aplicou-se o CAT (ANEXO IV) e o PFSDQ-M (ANEXO V).

yy CAT (COPD Assessement Test)

O CAT é o instrumento recomendado pela DGS (2013) e GOLD (2016) para avaliar o impacto da doença na qualidade de vida da pessoa. É composto por 8 ítens, relacionados com a tosse, expetoração, pressão no peito, dispneia, atividades diárias, confiança, sono e níveis de energia, sendo que a pontuação varia de 0 a 5 pontos em cada ítem, totalizando no máximo 40 pontos.

Considera-se que o nível de impacto da DPOC na qualidade de vida das pessoas varia consoante o score da escala: inferior a 10 indica impacto reduzido, entre 10-20 impacto médio, entre 21-30 impacto alto e superior a 30 impacto muito alto.

Os ítens relacionados com a tosse e a expectoração têm maior poder discriminativo em pessoas com DPOC leve e os ítens relativos à pressão no peito e à confiança em sair de casa são mais discriminativos para pessoas com DPOC grave. Os demais

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ítens relacionam-se com a moderada deterioração do estado de saúde (Jones et al., 2009).

yy PFSDQ-M (Questionário sobre estado funcional e pulmonar e dispneia – modificado)

O questionário PFSDQ-M avalia as alterações que o aumento ou diminuição da intensidade e frequência da dispneia e da fadiga têm nas AVD (Repositório de instrumentos de medição e avaliação em saúde, RIMAS, 2007). Este instrumento foi traduzido e validado para a população portuguesa por Rua (2007).

Este questionário permite avaliar o impacto da dispneia e da fadiga na realização de 10 AVD, nomeadamente: “pentear/escovar o cabelo”, “vestir uma camisa”, “lavar o cabelo”, “tomar banho de chuveiro”, “levantar os braços acima da cabeça”, “preparar uma refeição ligeira”, “andar cerca de 3 metros”, andar num piso inclinado”, “andar num terreno irregular” e “subir 3 degraus”.

O PFSDQ-M é composto por três domínios: mudança de comportamento na realização das AVD em comparação ao período anterior à doença (10 ítens específicos), influência da dispneia nas AVD e influência da fadiga nas AVD (5 ítens gerais e 10 específicos para cada domínio) (Rua, 2007).

A pessoa relata de quanto foi a mudança de comportamento na realização das AVD em comparação ao período anterior à doença, escolhendo para cada atividade um valor entre 0 e 10: 0 (tão ativo como sempre), 1-3 (pequena alteração), 4-6 (alteração moderada), 7-9 (alteração extrema) e 10 (abandono dessa atividade). Relativamente aos outros domínios, a pessoa relata o quanto a dispneia e a fadiga interferem nos 10 ítens específicos de AVD, escolhendo para cada atividade um valor entre 0 e 10: 0 (nenhuma interferência), 1-3 (ligeira), 4-6 (moderada), 7-9 (muita) e 10 (enorme). Posteriormente, é calculado um score parcial, que varia de 0 a 100 para cada um dos três domínios (mudança nas AVD, dispneia e fadiga), e um score total, formado pela soma dos scores parciais dos três domínios, totalizando um valor que varia de 0 a 300, sendo os valores mais altos na escala indicativos de maior limitação nas AVD. O instrumento apresenta também para a avaliação da frequência e severidade da dispneia e da fadiga 5 questões gerais que segundo a autora são de caráter informativo e qualitativo, e as suas respostas não são contabilizadas na pontuação do questionário.

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Em relação às suas propriedades psicométricas, este instrumento apresenta elevada fiabilidade, medida através da sua consistência interna. O instrumento apresenta coeficiente de α de Cronbach para cada uma das variáveis superior a 0.80 (0,84 para a dispneia e 0.93 para a fadiga). A validade de construção apresentou valores do coeficiente de correlação de Pearson (r) entre 0,38 e 0,56 com uma escala de perceção de gravidade do problema (Rua, 2007).

Selecionámos o questionário PFSDQ-M para estudar a amostra, porque nos permitia avaliar tanto a dispneia como a fadiga nas pessoas com DPOC, visto que são sintomas descritos na literatura como muito frequentes nestas pessoas e que influenciam a realização das AVD. Para além disto, o questionário encontra-se validado para a população portuguesa mas, até ao momento, tanto quanto sabemos, ainda não tinha sido aplicado em nenhum estudo português, pelo que considerámos oportuno a sua aplicação em pessoas com DPOC na realização das suas AVD.

1.8 - TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS

Após a recolha dos dados, a análise estatística dos mesmos foi efetuada através do Statistical Package for the Social Science (SPSS) versão 23.0 para Windows. O nível de significância adotado foi 0.05.

Com o intuito de averiguar se as variáveis quantitativas provinham de uma população com distribuição aproximadamente normal (p > 0,05), as mesmas foram avaliadas recorrendo ao teste Shapiro-Wilk.

Para analisar a correlação entre as variáveis quantitativas, após avaliação da sua distribuição, recorreu-se à determinação do coeficiente de correlação de Pearson (r) no caso de ocorrer normalidade (variável impacto da DPOC na qualidade de vida). Para as variáveis quantitativas que não seguiam distribuição normal (p ≤ 0,05) recorreu-se à determinação do coeficiente de correlação de Spearman (ρ) (variável IMC). Em ambos os casos avaliou-se o teste à significância de cada coeficiente de correlação obtido.

Para comparar variáveis quantitativas e qualitativas entre dois grupos independentes aplicou-se o teste paramétrico t-Student para amostras independentes, após validado o pressuposto relativo à normalidade (variável OLD).

73 1.9 – CONSIDERAÇÕES ÉTICAS

O exercício da responsabilidade profissional deve reconhecer e respeitar o caráter único e a dignidade de cada pessoa envolvida. Neste contexto, foram cumpridos os princípios da Declaração de Helsínquia, nomeadamente: preservação da saúde, dignidade, integridade, bem como o direito à autodeterminação, à privacidade e à confidencialidade da informação pessoal dos participantes.

Para a realização deste estudo foi concretizado o pedido de autorização ao Conselho de Administração e Comissão de Ética de um Hospital da Região Centro (ANEXO I), que se pronunciaram positivamente (ANEXO II e ANEXO III).

Foi solicitada a autorização para a utilização do instrumento PFSDQ-M, tendo sido favorável por parte do autor do mesmo (ANEXO VI).

O diretor de serviço e os elementos responsáveis do serviço de consulta externa de Pneumologia foram informados sobre a finalidade e objetivos do estudo, assim como os procedimentos inerentes à realização do mesmo.

Todos os participantes do estudo foram esclarecidos sobre a natureza do estudo e seus objetivos, da sua natureza voluntária, da garantia do anonimato e da confidencialidade dos dados. Foi solicitada a cada pessoa o consentimento escrito para participar no estudo e, em casos de impossibilidade, o consentimento foi solicitado ao seu representante (APÊNDICE II).

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