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Parte II Estágio Pedagógico em Contexto do 1.º Ciclo do Ensino Básico

2.1 Enquadramento Teórico do 1.º Ciclo do Ensino Básico

Nos anos setenta, Portugal passou por mudanças políticas, sociais e económicas, advindas do fim do regime ditatorial. Com o surgimento da Constituição da República Portuguesa, em 1976, originaram-se transformações no âmbito da educação, na medida em que, o princípio da universalidade, obrigatoriedade e gratuitidade do ensino básico foi colocado em vigor.

Em 1986 Portugal integra-se na Comunidade Económica Europeia, atualmente designada por União Europeia, pelo que surgem progressos tanto a nível económico como a nível social. Neste mesmo ano é aprovada a Lei de Bases do Sistema Educativo que estabelece o alargamento a nove anos da escolaridade obrigatória e define um conjunto de apoios educativos, de forma a proporcionar o êxito escolar (Decreto-Lei n.º 55/2009).

É neste contexto que surge a necessidade de analisar o termo escolaridade básica. Segundo Pires et al (1989), a escolaridade é uma atividade educativa que pressupõe um plano, designado de currículo, que visa a sua ordenação e, também, uma certificação dos conhecimentos apreendidos, isto é, a aprendizagem. O adjetivo básico, por sua vez, é um conceito dinâmico, evolutivo e relativo. “Ler, escrever e contar é o primeiro paradigma de conceito de básico” (Pires et al, 1989, p. 15). Todavia, o conceito de escolaridade básica vai se alargando no tempo, resultando na modificação e amplificação dos conteúdos curriculares.

Atendendo à OCP do 1.º CEB,

o ensino básico constitui-se como a etapa da escolaridade em que se concretiza, de forma mais ampla, o princípio democrático que informa todo o sistema educativo e contribui por sua vez, decisivamente, para aprofundar a democratização da sociedade, numa perspectiva de desenvolvimento e de progresso, quer promovendo a realização individual de todos os cidadãos, em harmonia com os valores da solidariedade social, quer preparando-os para uma intervenção útil e responsável na comunidade (Ministério da Educação, 2004, p.11).

O ensino básico engloba três ciclos que compreendem níveis de exigência diferentes. No que diz respeito ao 1.º ciclo, este abrange os quatro primeiros anos de escolaridade, orientados por um único professor, e distingue-se pelo seu caráter globalizante. Já o 2.º ciclo

comporta dois anos de escolaridade e está organizado por várias áreas disciplinares desenvolvidas por vários professores. O 3.º ciclo, por sua vez, integra três anos de escolaridade, organizados por diferentes disciplinas e áreas vocacionais, a cargo de vários professores.

Na OCP estão patentes três objetivos gerais, destinados aos três ciclos anteriormente explicitados (ver quadro 1).

Quadro 1. Objetivos Gerais do Ensino Básico

Tendo em conta que o estágio pedagógico ocorreu numa turma do 1.º CEB, importa especificar o modo como está organizado o currículo. O plano curricular do 1.º ciclo divide- se entre áreas curriculares disciplinares, áreas curriculares não disciplinares, áreas curriculares disciplinares de frequência facultativa e atividades de enriquecimento (ver figura 2).

Figura 2. Componentes do Currículo do 1.º Ciclo do Ensino Básico

Principais objetivos do ensino básico

 Criar as condições para o desenvolvimento global e harmonioso da personalidade, mediante a descoberta progressiva de interesses, aptidões e capacidades que proporcionem uma formação pessoal, na sua dupla dimensão individual e social.

 Proporcionar a aquisição e domínio de saberes, instrumentos, capacidades, atitudes e valores indispensáveis a uma escolha esclarecida das vias escolares ou profissionais subsequentes.  Desenvolver valores, atitudes e práticas que contribuam para a formação de cidadãos

conscientes e participativos numa sociedade democrática (Ministério da Educação, 2004, p.13).

Plano Curricular do 1.º Ciclo do Ensino Básico

Áreas curriculares disciplinares

Áreas curriculares não disciplinares

Áreas curriculares não disciplinares de frequência facultativa  Língua Portuguesa  Matemática  Estudo do Meio  Expressões: artísticas e físico-motoras.  Área de Projeto  Estudo Acompanhado  Formação Cívica

 Educação Moral e Religiosa

O currículo assume, assim, um papel relevante e “sendo um conjunto de aprendizagens consideradas socialmente desejáveis e necessárias num dado tempo e sociedade, que a instituição escola tem a responsabilidade de assegurar, a sua operacionalização implica o estabelecimento de programas de acção” (Roldão, 2009, p.33). As várias componentes do currículo do 1.º CEB, explícitas no esquema anterior, têm como finalidade última a educação para a cidadania, através de “experiências de aprendizagem activas, significativas, diversificadas, integradas e socializadoras que garantam, efectivamente, o direito ao sucesso escolar de cada aluno” (Ministério da Educação, 2004, p.23).Os professores, na promoção destas experiências de aprendizagem, devem considerar diversas estratégias de ação. Deste modo, para que haja sucesso escolar, estes profissionais devem acompanhar e avaliar cada aluno, facultando a igualdade de oportunidades.

Atendendo ao Despacho n.º 5306/2012, o desenvolvimento do ensino deve reger-se por metas curriculares que definem os conhecimentos e as capacidades essenciais que os alunos devem adquirir ao longo da escolaridade obrigatória. Ao conhecer as metas que deve atingir, o professor pode adaptar a sua prática profissional, selecionando as melhores estratégias de ensino.

Para cada disciplina e para cada etapa, devem identificar-se, de forma clara: os conteúdos fundamentais que devem ser ensinados aos alunos; a ordenação sequencial ou hierárquica dos conteúdos ao longo das várias etapas de escolaridade; os conhecimentos e capacidades a adquirir e a desenvolver pelos alunos; os padrões/níveis esperados de desempenho dos alunos que permitam avaliar o cumprimento dos objetivos (Despacho n.º 5306/2012).

As metas curriculares surgem então como um quadro de referência que auxilia os professores do ensino básico na organização do processo educativo, em prol do melhoramento do desempenho dos alunos.

Em forma de síntese, o ensino básico deve assegurar a todos os indivíduos a sua formação global, promovendo o raciocínio, o espírito crítico, a apreensão de valores sociais e o desenvolvimento da autonomia, da cidadania e da democracia, num ambiente harmonioso e facilitador de aprendizagens significativas e enriquecedoras.