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Parte III Estágio Pedagógico em Contexto de Educação Pré-Escolar

3.4 Prática Pedagógica na I Sala dos Três Anos

3.4.3.5 A Cor Verde / Época Natalícia

No planeamento do tempo pedagógico o educador deve ter em conta o contexto em que está inserido. As épocas festivas são momentos que devem fazer parte da planificação do processo educativo, permitindo a ligação entre o que as crianças vivenciam no seio familiar, na comunidade e nos infantários. Tendo em conta que se estava a aproximar o Natal, a planificação abarcou um conjunto de atividade referentes a esta época festiva, todavia, não deixei de parte a exploração das cores. O educador, apesar de adaptar o seu plano às quadras festivas, não deve esquecer a intencionalidade do seu trabalho pedagógico. Neste caso, optei por interligar o Natal com a abordagem da cor verde.

De forma a introduzir a temática, optei por ler uma história animada, intitulada “Feliz Natal, Penélope!”. Através desta história foi possível explorar os vários elementos que fazem parte desta quadra, entre os quais, a árvore de natal, os enfeites, os presentes e o Pai Natal. Mais uma vez tive em consideração as potencialidades das histórias. Estas além de promoverem a imaginação das crianças, facilitam a abordagem da leitura e da escrita, uma vez que o gosto pelo conteúdo dos livros irá aumentar a disponibilidade da criança para apreender o código linguístico (Albuquerque, 2000).

Com a finalidade de tornar a história mais atrativa recorri a um fantoche alusivo à personagem principal. Através deste material pude fazer o reconto da história, explorando os vários elementos natalícios. O fantoche surge, então, como um recurso significativo que auxilia o educador a contar histórias e a torná-las apelativas para as crianças. Através deste recurso, as personagens ganham vida, facto que promove o desenvolvimento da imaginação, da criatividade e da oralidade. “O Fantoche aparece com um amigo, como um conhecido, como alguém que gostaria de conhecer aqueles meninos, etc. Basta criar alguma expectativa e o desejo de o conhecer aparece…” (Costa & Baganha, 1991, p. 75). É este “amigo” que ajuda as crianças a dialogarem e a realizarem gestos e expressões, sendo envolvidas num momento onde a fantasia e a realidade se cruzam.

Durante este momento o grupo revelou-se atento e motivado e algumas crianças pediram para voltar a partes específicas da história, como o aparecimento do Pai Natal, aspeto que evidencia a sua implicação.

Um dos acontecimentos da história dizia respeito aos enfeites, pelo que, expliquei ao grupo que era necessário enfeitar a sala de acordo com a época. Assim sendo, nesta semana de prática pedagógica as crianças realizaram vários trabalhos de expressão plástica, utilizando diferentes técnicas e materiais. É de salientar que a realização de técnicas de expressão plástica não corresponde a um ato isolado, pois está intimamente relacionada com o desenvolvimento motor, psíquico e intelectual da criança” (Andrea, 2005, p. 35).

Primeiramente, através de um trabalho cooperativo, o grupo construiu a árvore de natal com um material reciclável, o jornal. As crianças tiveram a tarefa de amarrotar várias folhas de jornal e de pincelá-las com tinta verde e vermelha. Esta atividade teve o intuito de desenvolver a motricidade, através do ato de amarrotar e pincelar, a identificação das cores e a cooperação. A maior parte das crianças revelou grande implicação nesta atividade, pedindo para realizar o trabalho mais do que uma vez.

Outro dos trabalhos realizados permitiu o contato com dois materiais diferentes, o algodão e as rolhas. As crianças decoraram um boneco de neve recorrendo à colagem de algodão e de pedaços de papel de veludo e à carimbagem, utilizando as rolhas. Nesta atividade foi possível orientar as crianças para a colagem dentro e fora dos limites, permitindo o desenvolvimento da capacidade da organização.

O grupo teve, também, a oportunidade de experienciar outra técnica de expressão plástica, a técnica do sopro. Durante este trabalho, que deu origem às botas de natal, algumas crianças evidenciaram dificuldades no sopro, pelo que, surgiram algumas adaptações. Torna- se fundamental adequar o plano a cada criança e às dificuldades que patenteia, possibilitando o seu desenvolvimento harmonioso. Nesta caso, permiti que as crianças decidissem o modo como queriam realizar o seu trabalho, possibilitando o desenvolvimento da iniciativa e da autonomia. Algumas crianças recorreram ao próprio instrumento disponibilizado, a palhinha, para fazer rabiscos e outras pintaram com os dedos. De facto, a pintura com os dedos é uma atividade que as crianças devem ter a oportunidade de experienciar, pois é espontânea, libertadora e criadora. Através desta técnica as crianças encontram os limites do seu corpo e retiram prazer do movimento (Leite & Malpique, 1986). Segundo Andrea (2005) a pintura com os dedos “anula tabus, atinge o prazer sensorial, táctil e visual. Favorece a exploração das cores e a experiência das misturas” (pp. 39-40).

No geral, as crianças revelaram entusiasmo no momento da execução da técnica do sopro. À medida que os seus colegas realizavam os trabalhos, algumas crianças dirigiam-se até à mesa, alertando os adultos que ainda não o tinham feito e observando a técnica com curiosidade.

Numa outra atividade de expressão plástica, a execução da coroa de natal, as crianças pintaram a sua mão e decalcaram-na numa cartolina. Como já foi referido anteriormente, uma das crianças negava-se a tocar em alguns materiais, como as tintas. No entanto, devido ao incentivo e apoio da equipa pedagógica da sala, a criança deixou que pintássemos a sua mão. É de conhecimento comum que as crianças possuem determinados medos, pelo que, os educadores devem procurar colmatá-los utilizando diferentes estratégias. Segundo Portugal (1998) “durante os primeiros anos de vida a criança tem uma propensão especial para ter medo de estímulos discrepantes com a sua experiência normal” (p.110). Assim, a tarefa do educador é respeitar as ansiedades das crianças, ajudando-as a encontrar mecanismos de defesa para lidar com situações adversas.

Todas estas atividades de expressão plástica foram desenvolvidas em pequenos grupos, possibilitando um apoio individualizado a cada criança. Esta proximidade levou-me a constatar que a maior parte das crianças evidenciou bem-estar e implicação durante as várias atividades de expressão plástica (ver figura 50).

Figura 50. Registo fotográfico das atividades de expressão plástica

No âmbito da abordagem à época natalícia, participei, juntamente com as estagiárias da sala de transição I e da II sala dos três anos, na dramatização de uma história de natal. A dramatização baseou-se na história “O trenó novo do Pai Natal” de Nuno Caravela e sofreu algumas alterações, com o intuito de tornar-se adequada à faixa etária das crianças (Apêndice 16).

Sabendo que o trabalho cooperativo entre equipa pedagógica é benéfico, tanto para as educadoras como para as crianças, planificámos esta atividade promovendo a interação de vários grupos de crianças do infantário. Como já foi mencionado anteriormente, o educador não deve restringir o trabalho pedagógico à sua sala e à sua equipa pedagógica. A colaboração e a partilha de ideias, saberes e materiais pedagógicos entre os educadores deve

ser uma constante nas instituições educativas, promovendo o melhoramento de todo o processo educativo.

Na organização desta atividade tivemos em conta não só os interesses das crianças pelas histórias e dramatizações como, também, o apetrechamento do infantário. Este necessitava de um biombo de fantoches, pelo que decidimos construí-lo recorrendo a materiais de desperdício e a recursos diversos, entre os quais, cartão, tintas, folhas de esponja e papel autocolante. A construção deste biombo, além de reforçar o nosso trabalho cooperativo, foi ao encontro do subtema do projeto educativo do infantário, ou seja, o consumismo, tópico que se relaciona diretamente com a reutilização.

Nesta atividade contemplámos dois domínios da área de expressão e comunicação, nomeadamente, a expressão dramática e a expressão musical. Primeiramente, realizámos a dramatização utilizando diversos fantoches e cenários de forma a promover a atenção e o entusiamo do grupo. Tivemos em consideração a colocação da voz, pelo que, cada personagem era caraterizada por uma voz específica e atrativa. Um dos aspetos que mais cativou as crianças foi o acompanhamento da dramatização com várias músicas natalícias. Neste momento, as crianças bateram palmas, evidenciando entusiamo e alegria. No final da peça, colocámos a música da Opereta de Natal de José Carlos Godinho, intitulada “É Natal!”, cantámos e utilizámos vários gestos, pedindo à plateia que se juntasse a nós (ver figura 51).

Figura 51. Registo fotográfico da dramatização “O trenó novo do Pai Natal”

Na última semana de prática pedagógica planifiquei uma atividade de grande grupo respeitante ao domínio da expressão musical. Esta atividade privilegiou a dança livre e a dança orientada e possibilitou o manuseamento de um instrumento musical, a pandeireta, feita com pratos de plástico e guizos. Segundo Sousa (1980) a utilização de instrumentos musicais para acompanhar uma canção atribui-lhe um relevo grande e colorido. Numa primeira fase as crianças exploraram livremente o instrumento e, de seguida, realizaram

alguns ritmos orientados. É, ainda, de salientar que estas atividades coletivas permitem às crianças o desenvolvimento da comunicação e a socialização com os seus colegas, libertando- as de alguns constrangimentos como o medo, a timidez e o desejo de serem admiradas (Sousa, 1980). No geral, todas as crianças evidenciaram entusiasmo e implicação na exploração do instrumento musical.

3.4.4 Envolvimento da Família e da Comunidade

A relação de cooperação que o educador estabelece com a restante equipa pedagógica e com a família das crianças são aspetos a ter em conta no processo educativo que se desenvolve na EPE (Ministério da Educação, 1997).

As relações de colaboração entre o pessoal docente e não docente influenciam as situações de aprendizagem propostas às crianças, tornando-as enriquecedoras e significativas. Neste sentido, é necessário que haja diálogo, partilha e momentos de reflexão entre toda a equipa para que a qualidade da educação seja visível. Durante o estágio interagi com toda a equipa pedagógica e cooperei em algumas das atividades que se desenrolaram no infantário, como, por exemplo, na Festa de Natal. Na fase anterior à festa disponibilizei algum tempo da minha prática para treinar a letra e a coreografia da música de natal com as crianças e, no próprio dia, apesar de já não me encontrar em estágio, disponibilizei-me para acompanhar e orientar o grupo.

A qualidade da educação também é determinada pela relação que se estabelece entre a instituição educativa e as famílias. O educador cria parcerias com os pais, pois compreende que estes são os principais contribuintes para o bem-estar das crianças. Por sua vez, os pais necessitam de estabelecer uma relação de confiança com os educadores, para que se sintam seguros quando deixam os seus filhos na instituição de infância.

Ambos, pais e educadores, ganham mais segurança nos seus esforços mútuos no sentido de facilitarem a transição entre a casa e o infantário, e pais e educadores com diferentes crenças sobre a educação infantil, os cuidados e as primeiras aprendizagens, muitas vezes alargam a sua percepção do que é possível (Post & Hohmann, 2011, p. 329).

Esta relação traz benefícios tanto para os educadores como para os pais, na medida em que ambos trocam informações sobre as crianças, sobre os seus sentimentos, comportamentos, interesses e necessidades, adaptando as suas ações em prol do seu bem-

estar. Partindo deste conhecimento, o meu estágio contemplou atividades destinadas à equipa pedagógica e às famílias das crianças.