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1. O COMBATE À IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

2.2 Modalidades de atos de improbidade administrativa

2.2.1 Enriquecimento ilícito

As hipóteses relacionadas no art. 9° da Lei de Improbidade Administrativa disciplinam as situações que importam em enriquecimento ilícito, ou seja, como ―resultado de qualquer ação ou omissão que possibilite ao agente público ou terceiro auferir uma vantagem não prevista em lei‖ (GARCIA E ALVES, 2011, p. 282). Reflete o presente dispositivo ―as hipóteses mais evidentes e reprováveis de improbidade administrativa‖ (JUSTEN FILHO, 2009, p. 887), sendo o ―terreno onde se observa a corrupção, presa a conduta ilícita praticada em troca de certa retribuição material‖ 50

(OLIVEIRA, 2009, p. 249).

O ato de improbidade que leva ao enriquecimento ilícito é, portanto, a modalidade mais gravosa, sujeitando o agente político, em sede municipal, às penas mais severas possíveis, ainda que não haja dano ao erário. Nesse caso, além do enriquecimento consubstanciado em vantagem indevida, se exige um liame entre a atividade praticada pelo agente e o enriquecimento auferido, e ainda a consciência do agente de estar agindo ilicitamente, consubstanciando seu elemento volitivo no dolo51.

Mattos (2006) sustenta que o prejuízo à Administração tanto pode se manifestar financeiramente, como também moralmente. Conquanto haja o dever de quem se locupletou indenizar aquele que empobreceu, salienta-se que ―o simples enriquecimento à custa de

50 ―O agente age impelido por um sentimento que não lhe permite divisar a coisa pública da coisa

privada. Há um desapego com os propósitos básicos da Administração, um desvalor que dá origem à nocao de que a ‗coisa pública‘ é ‗coisa de ninguém‘. Daí, por vezes, o agente incorporar ao seu patrimônio bens e valores da Administração, com a presteza de quem o faz antes que outro faça‖ (FREYESLEBEN apud ROSA e GHIZZO NETO, 2001, p. 69).

51

De acordo com Fazzio Júnior (2001) não há modalidade para enriquecimento culposo do prefeito, ou seja, por imprudência, imperícia ou negligência, vez que nenhum chefe do executivo municipal desconhece a proibição de se enriquecer à custa do cargo ou de permitir que outrem o faça.

outrem não infringe a ordem moral, o que a infringe é o seu enriquecimento injusto‖ (GARCIA E ALVES, 2011, p. 284).

Assim ocorre na esfera municipal, pois o prefeito, como qualquer pessoa, pode acrescer-se patrimonialmente, ter lucro em seus negócios e acumular fortunas sem que importe em enriquecimento ilícito. O que não pode é beneficiar-se de vantagem ilícita decorrente do cargo que ocupa.

Delineados os pressupostos autorizadores do ressarcimento, resta a análise do artigo em pauta, in verbis:

Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente:

I - receber, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título de comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse, direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público;

II - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel ou imóvel, ou a contratação de serviços pelas entidades referidas no art. 1° por preço superior ao valor de mercado;

III - perceber vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a alienação, permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por ente estatal por preço inferior ao valor de mercado;

IV - utilizar, em obra ou serviço particular, veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados ou terceiros contratados por essas entidades;

V - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para tolerar a exploração ou a prática de jogos de azar, de lenocínio, de narcotráfico, de contrabando, de usura ou de qualquer outra atividade ilícita, ou aceitar promessa de tal vantagem;

VI - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indireta, para fazer declaração falsa sobre medição ou avaliação em obras públicas ou qualquer outro serviço, ou sobre quantidade, peso, medida, qualidade ou característica de mercadorias ou bens fornecidos a qualquer das entidades mencionadas no art. 1º desta lei;

VII - adquirir, para si ou para outrem, no exercício de mandato, cargo, emprego ou função pública, bens de qualquer natureza cujo valor seja desproporcional à evolução do patrimônio ou à renda do agente público;

VIII - aceitar emprego, comissão ou exercer atividade de consultoria ou assessoramento para pessoa física ou jurídica que tenha interesse suscetível de ser atingido ou amparado por ação ou omissão decorrente das atribuições do agente público, durante a atividade;

IX - perceber vantagem econômica para intermediar a liberação ou aplicação de verba pública de qualquer natureza;

X - receber vantagem econômica de qualquer natureza, direta ou indiretamente, para omitir ato de ofício, providência ou declaração a que esteja obrigado;

XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei;

XII - usar, em proveito próprio, bens, rendas, verbas ou valores integrantes do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei.

Imperioso destacar a possibilidade do agente auferir vantagem sem causar lesão ao erário52, entretanto, é habitual que o enriquecimento ilícito tenha como consequência jurídica também o prejuízo aos cofres públicos, ficando ―difícil imaginar uma situação onde o enriquecimento ilícito do agente não acarrete prejuízo ao erário‖ (FIGUEIREDO, 2009, p. 95- 96). Como anotado, se o agente se enriquece ilicitamente à custa do patrimônio público, logicamente esta perda deve igualmente ser recomposta, sem embargo das demais cominações legais.